PDF: Livro CONTOS & CRÔNICAS- Rilvan Batista de Santana.
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No próximo dia 10 de agosto, às 15 horas, no plenário da Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, em Salvador, o escritor e poeta Cyro de Mattos estará recebendo a Comenda Dois de Julho, a mais elevada honraria daquela Casa. A concessão da Comenda resultou do pleito proposto pelo deputado Marcelinho Veiga. A Comenda Dois de Julho foi criada para homenagear aos que engrandecem a vida com a sua obra, contribuem com a progressão da Cultura, Artes e Ciências, na Bahia e no Brasil.
Entre as personalidades que foram agraciadas com a Comenda Dois de Julho figuram os professores doutores Luís Henrique Dias Tavares e Cid Teixeira, a Iarolixá Mãe Stella de Oxóssi, o Reitor da UFBA João Carles Salles, o escritor Joaci Góes, presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, todos eles membros efetivos da Academia de Letras da Bahia. Também receberam a honraria o instrumentista Carlinhos Brown, professor doutor Albino Rubin, médium Divaldo Franco, diretor teatral Márcio Meireles, a cantora Margareth Menezes, o desportista Bobô e a baiana Marta Vasconcelos, Miss Universo.
Cyro de Mattos é autor de 65 livros pessoais, de diversos gêneros, premiado no Brasil, Portugal, Itália, México e Cuba. Primeiro Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz. Membro efetivo das Academias de Letras da Bahia, Ilhéus e Salvador. Do Pen Clube do Brasil e do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Editado também em Portugal (cinco livros), Itália (seis), França (um), Alemanha (1), Espanha (dois) e Dinamarca (um). Seus contos e poemas estão presentes em mais de quarenta antologias importantes publicadas no Brasil, França, Portugal, Estados Unidos, Rússia, Itália e Espanha. Seu livro Infância com Bicho e Pesadelo e Outras Histórias, Prêmio Internacional Casa das Américas, está sendo traduzido para o espanhol para em breve circular no continente da América Latina, numa edição do Fondo Editorial Casa de las Américas, de Havana, Cuba.
Cyro de Mattos
Para Henrique e Tica
Eram foliões
Animados no salão.
Ele de marujo,
Ela de melindrosa.
No convés do navio,
Por mares distantes,
Ao balanço dos azuis
E dos verdes ares de sol.
Na universidade então
As letras abraçavam-se
Em forma de coração
E a história os levava.
Souberam do amanhecer
Como pombos na janela,
Voavam e retornavam
Pela baía do Pontal.
Então se cale, morte.
Você nunca vai saber
De um sentimento
Que é o mais forte.
Não é frio, só aquece.
Refaz os sentidos
Exauridos da vida,
Transcende o mundo.
Seu nome é amor.
*Poema lido por Gustavo Cunha, membro da Academia de Letras de Ilhéus, em ocasião da posse de Tica Simões.
POEMA AMIGO. Para Henrique e Tica- Cyro de Mattos Read More »
DISCURSO DE POSSE NA ALI- Tica Simões Read More »
A Fundação Henrique Alves dos Reis foi forçada a ficar desativada em 1990, em razão da falta de recursos e, com isso, o município de Itabuna sofreu uma grande perda dentro do contexto cultural de seus espaços mais importantes. A Fundação era mantida com os rendimentos de 2500 arrobas de cacau que a fazenda Sempre Viva produzia anualmente. O baixo preço do produto àquela época e a carestia imposta por uma inflação galopante fizeram com que se tornasse inviável a sua manutenção. Em época mais recente, ainda como fator negativo para reativar a fundação Henrique Alves dos Reis, interferiu o advento da praga da vassoura-de-bruxa, contribuindo para a quase devastação da lavoura cacaueira.
Idealizada por dona Elvira dos Reis Moreira para perpetuar a memória do pai, coronel Henrique Alves dos Reis, desbravador e chefe político de grande influência no município, a Fundação foi instalada em 11 de setembro de 1978, mas em 10 de maio de 1974 já existia o Museu Casa Verde, que passou depois a integrar o patrimônio da instituição. Funcionava no local onde, no princípio do século XX, existia um armazém para a comercialização e depósito do cacau. Com a destruição do armazém, foi erguida em seu lugar a Casa Verde, datada de 1887, onde moraram o coronel Henrique Alves dos Reis e sua mulher, dona Cordolina Loup dos Reis, a filha Elvira e o genro, Miguel Moreira, que foi prefeito de Itabuna.
O Museu Casa Verde preserva o passado da conquista e do domínio dos coronéis do cacau, um tempo áureo da civilização grapiúna visível nas peças e indumentárias dos séculos XIX e XX, pertencentes à família do Coronel Henrique Alves dos Reis. O mobiliário ali exposto é em madeira trabalhada na Áustria e em Portugal, conservando o museu um acervo constituído de mais de 2500 peças de cristais de Baracat, prata, coleções belíssimas de biscuits franceses, aparelhos de café e jantar de Limoges e da Inglaterra, conjunto de talheres de Cristophe, móveis em estilo Luís XV, bandejas, jarros, e bacias em louça chinesa, floreiras em electroprata, além de objetos pessoais; fardamentos, espadas, moedas em prata dos primeiros anos do século XX, vestidos, chapéus e leques.
Documentos valiosos sobre a memória política da cidade estão ali guardados, assim como vários números do jornal O Intransigente, um dos primeiros veículos da imprensa local, cuja primeira página do primeiro número foi impressa em seda pura.
A Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC – e o seu Centro de Documentação e Memória Regional – CEDOC – assumiram no final do século XX a administração do Museu Casa Verde, da Fundação Henrique Alves dos Reis, em Itabuna, contribuindo assim para formar, por extensão, o diálogo entre a memória, que é o lugar de onde emerge a história, e as pessoas que forem visitar um espaço formador do desenvolvimento sociocultural da comunidade baiana e, em particular, da grapiúna.
Reativar, manter e disponibilizar ao público o Museu Casa Verde, criado em 1974, significou não só preservar a memória da civilização cacaueira com o seu modo singular de vida, mas também possibilitou a construção de novos conceitos de manutenção histórico-patrimonial, em sintonia valiosa com o conhecimento autêntico do passado regional. No Museu Casa Verde percebe-se e compreende-se que ali está manifesta uma linguagem que vem do começo da civilização do cacau, formada pelos falares e fazeres no dia-a-dia, doméstico, urbano e religioso, dentro e fora da residência dos pioneiros que conquistaram a terra coberta de mata virgem.
Naquela oportunidade, a reativação do Museu Casa Verde foi, ainda, um modo eficaz de desconstituir a postura ilimitada de que modernidade e progresso, nos tempos velozes da internet, andam de mãos dadas como meios incontornáveis para a exclusão do que seja antigo. Deu-se oportunidade através de uma universidade criativa, e que se tornou uma sólida instituição cultural do Sul da Bahia, para conhecer e apreciar, pesquisar e estudar, duas mil peças de aspectos com os seus significados, significantes e elementos da natureza histórico-social, os quais servem sobretudo para a compreensão mais abrangente da Região Cacaueira Baiana e da História do Brasil.
No entanto, depois de alguns anos de proveitosa atuação, a parceria foi dissolvida. E, passados tantos anos, o Museu Casa Verde continua desativado, causando prejuízos de natureza histórico-cultural à comunidade e ao Sul da Bahia, o que é lastimável.
Cyro de Mattos
MUSEU IMPORTANTE ESQUECIDO NO SUL DA BAHIA- Cyro de Mattos Read More »
Para
Augusto Mário Ferreira
– em memória
Cidade adolescente, dos anos 50, de poucas ruas calçadas, o trem como uma coisa viva partia e chegava, trazia cargas de peixe, cordas de caju e caranguejo, coco, beiju de Água Branca; do circo pequeno com a lona furada, o maior espetáculo da terra era anunciado pelo palhaço nas pernas de pau, tinha o nariz de limão e, em pouco tempo, a garotada no coração; da lua derramando prata no areal deixado pela cheia do rio Cachoeira, onde a turma da rua de cima jogava com a da rua de baixo a partida mais disputada, dos tiradores de areia que passavam com os jumentos carregando latas de areia, as casas ribeirinhas nessa hora como que tomavam a bênção ao velho rio, ajoelhando suas fachadas; cidade ingênua, com pobreza mas sem misérias, com os dias alegres da filarmônica que no encanto do som convidava o povo na praça para voar na valsa; cidade que tropeçava na lama com as tropas que passavam suadas, os sacos de cacau no lombo, a cadência e os guizos de uma música sonante nos dias de verão, o tropeiro com o lenço na testa, o chicote silvando o ar pelas ruas esburacadas; cidade com a delícia sempre renovada dos roletes de cana do Campo da Desportiva e dos sorvetes do gringo Sussa, cuja fórmula, se dizia, vinha do Líbano e era guardada como segredo de família sob sete capas; cidade namoradeira com os casais que passavam de mãos dadas no jardim da prefeitura e, na pracinha de Santo Antônio, na Missa do Galo, trocavam bilhetes e olhares ingênuos.
Cidade que, na estrada de barro, lá se ia aos solavancos com as marinetes cheias de roceiros, fazendeiros, comerciantes, quando chegavam de Ilhéus causavam grande tumulto na pequena estação, os carregadores disputavam as bagagens que saiam pelas janelas, o “13” era preto, o “21” aleijado e o “16” cobrava um cruzado; na procissão da Sexta Feira Santa, gente rica e pobre caminhava descalça, os rostos cabisbaixos, o peito contrito, os passos arrastados com suas marcas doídas nas pedras cor de vinho, mas no sábado a Aleluia como num coro de milhões de passarinhos anunciava que Jesus renasceu, tudo era alegria, já não havia mais ofensa nem espinho; cidade sapeca quando era tempo de São João, o céu aceso com balões, bombas e fogos por todos os cantos, em qualquer casa qualquer um aparecia para rimar licor com canjica, ao pé da fogueira a emoção crepitava afoita e quente em cada peito; cidade deixando que eu acontecesse no sonho acordado com o beijo dado na primeira namorada, como torcedor do Itabuna Futebol Clube, o primeiro time profissional no interior, com meus craques inesquecíveis, Delicado, Ranulfo, Louro, Carrapeta e Bacurau.
Dessa cidade aconchegante convivem em mim todos os cheiros da vida. De manhã fresca e de mata escura. Cheiro de suor, de burro, de cacau, de fêmea, de chuva. Cheiro que me faz viver um pouco no seu imaginário, contando suas histórias, escutando suas vozes e sombras na roda do tempo, seu perfume suavizando meu ser no movimento dos dias.
Não sei, minha cidade, de imagens mais claras, belas, do que aquelas que a minha mente grava de ti, quanto mais os dias passam, faça sol ou chuva.
Cyro de Mattos
A CIDADE NA MEMÓRIA- Cyro de Mattos Read More »
Em nome das marias, quitérias, da penha silva Empoderadas, revolucionárias
Ativistas, deixem nossas meninas serem super heroínas! Pra que nasça uma joana d’arc por dia!
Como diria frida: “eu não me kahlo! “
Junto com o bonde saio pra luta e não me abalo
O grito antes preso na garganta já não me consome É pra acabar com o machismo
E não pra aniquilar os homens
Quero andar sozinha porque a escolha é minha Sem ser desrespeitada e assediada a cada esquina.”
As crescentes discussões sobre direitos, garantias e representatividade das minorias sociais revelam novos conceitos e denominações, que surgiram com o intuito de explicar as origens do tratamento desigual que certos indivíduos recebem. No que tange às questões de gênero, a misoginia é um termo oriundo da Grécia antiga que voltou à luz para conceituar as relações nocivas que ocorrem entre homens e mulheres.
Em uma breve análise do material artístico e intelectual produzido ao longo dos anos, é possível observar a forte influência dos tracos culturais misóginos, machistas e sexistas na civilização ocidental. Conforme pontuado pelo historiador e professor Leandro Karnal, durante uma palesoa realizada em 2017 pela comemoração ao dia da mulher, as estatuetas de Vênus de Willendorf e Vênus de Milo ou a pintura Vênus e Marte de Botticelli demonstram que os artistas supervalorizavam o corpo e a estética feminina, uma ideia que foi construída durante a antiguidade.
As bases sociais, políticas e econômicas ocidentais foram estabelecidas na Grécia antiga, cujo sistema sócio-político delegava à mulher uma posição secundária. No período Homérico, a unidade básica da sociedade grega era o genos, um sistema familiar que se caracterizava pela máxima autoridade concedida ao pater (patriarca) da família, que ao falecer, tinha seus poderes político, social, religioso e econômico õansmitidos ao filho mais velho.
Entretanto, no fim deste período, a população cresceu e a economia, essencialmente agrícola, decair. Houve, assim, a desintegração das comunidades gentílicas e o surgimento das cidades-Estados (ou pólis gregas), onde foi reiterada a ideia da soberania masculina.
Neste contexto, surge o termo que definiria a base psicológica dos comportamentos masculinos nocivos em relação às mulheres. Oriunda da união entre os termos gregos “miseo” e “gyne”, cujos significados são respectivamente ódio e mulheres, a palavra misoginia é usada para definir sentimentos de aversão, repulsa ou desprezo pelas mulheres e valores femininos.
A misoginia é um sentimento de aversão patológico pelo feminino, que se traduz em uma prática comportamental machista, cujas opiniões e atitudes visam o estabelecimento e a manutenção das desigualdades e da hierarquia enõe os gêneros, corroborando a crença de que os homens são superiores.
O constante estímulo de comportamentos estereotipados impacta ambos os gêneros, visto que exige amostras de uma cruel virilidade no homem e total subserviência na mulher. Quando a expectativa comportamental não ocorre, a violência eclode em uma escala ascendente de gravidade, iniciando com as piadas depreciativas, assédios, abusos, estupros e culmina com o feminicídio.
As bases misóginas do pensamento ocidental geram a banalização da violência ao feminino que se estende pelos vários aspectos da vida da mulher, como o social, o psicológico, econômico e político, tornando difícil identificar os õaços nocivos mais sutis. Desta forma, homens e mulheres reproduzem atos e expressões machistas quase que de forma inconsciente, com a mulher adotando, muitas vezes, como mecanismo de sobrevivência na cultura opressoia, uma aparente passividade que não deve ser entendida como a aceitação das situaçóes que lhe ferem a dignidade, mas sim como um mecanismo de defesa e sobrevivência.
Por um acaso você já ouviu falar que “em briga de marido e mulher são se mete a colher”? Pois essa é uma frase que explicita um dos traços da cultura brasileira, a banalização da violência de gênero.
Surgiram obras como o Segundo Sexo e Mística Feminina, respectivamente, de Simone de Beauvoir e Betty Friedan, que impulsionaram a criação de um movimento liderado por mulheres que buscava problematizar as colocações femininas na sociedade. Assim, tem-se início a luta pela emancipação, autonomia e liberdade da mulher diante das construções idealizadas da figura feminina e de feminilidade, por direitos e igualdades políticas, sociais e econômicas através do empoderamento.
Segundo Juliana Faria, jornalista e criadora do site Think Olga: “Uma mulher empoderada é uma mulher bem informada. Ela sabe dos seus direitos, entende o que é opressão e busca soluções para isso”. Desta forma, as mulheres que defendem o movimento feminista buscam a disseminacão de ideais empoderadores por todas as camadas sociais, com o acolhimento das individualidades de cada mulher e estabelecendo a união entre as diferentes correntes do movimento para seguir promovendo transformações profundas na mentalidade misógina da coletividade.
Tivemos notícia que na Câmara de Vereadores de Itabuna, no âmbito legislativo, no exercício do mandato, um dos nossos vereadores foi deselegante e agressivo contra a Primeira Dama do nosso município.
No local onde ele deveria levantar a bandeira contra a misoginia, contra o racismo e contra a homofobia, ele fez o contrário , ínfiíngindo a Lei e a Ética do seu
Mandato conferido pelo voto popular.
O termo misoginia é utilizado para se referir a expressões e comportamentos que sinalizam desprezo, repulsa, desrespeito ou ódio às mulheres.
A expressão machista utilizada fere a mulher no tocante ao gênero protegido pela lei Maria da Penha e a dignidade da pessoa humana prevista no art 140 do CPB.
Recentemente tivemos ncia exemplar atitude da Câmara de vereadores da cidade gaúcha de Montenegro no Vale do Caí.
Pela primeira vez em sua história, a cidade gaúcha de I\/tontenegro (Vale do Caí) tem um vereador cassado. Trata-se da vereadora Camila Oliveira (Republicanos), julgada pelos colegas com um placar de nove votos a zero. Motivo: em um vídeo gravado em seu gabinete na Câmara e divulgado nas redes sociais, ela chama de “cadelas” as mulheres com orientação política de esquerda.
Sione Porto, membro do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher CONSEDAMI
AS MULHERES MERECEM E DEVEM SER RESPEITADAS!- Sione Porto Read More »
Eu era aluno do curso clássico no colégio da Bahia (Central) quando escutei de meu professor Luís Henrique Dias Tavares que a Bahia e o Brasil são inseparáveis. Meu professor era um homem de estatura pequena, mas que carregava no coração um forte amor e na razão um grande saber pelos caminhos históricos da Bahia. Observara em sala de aula, naqueles idos de 1956, que essa união insuperável procedia do fato de que o Brasil exerceu sua verdadeira independência em solo baiano. Os mares da Bahia de Todos os Santos por sua vez deram seu abraço no entorno deste solo para que os baianos se libertassem do jugo do império português.
O movimento social e militar, iniciado em 19 de fevereiro de 1822 teve seu desfecho vitorioso em 2 de julho de 1823. O Dois de Julho tornou-se data importante para o povo baiano, que a festeja todos os anos com alma, força e vida. Celebra um movimento desejoso de incorporar a então provincia na unidade nacional brasileira. Um movimento assim veemente com o qual o sentimento federalista latejava verdades no espírito emancipador do povo baiano.
A independência do Brasil na Bahia não foi feita em gabinetes e salões, aconteceu nas ruas, nos campos de batalhas, com mortos e feridos. Contou com a participação decisiva do povo como protagonista. Indígenas, escravos libertos, gente humilde das classes baixas. Figuras de comando tiveram performance significativa no desenrolar da pugna. Sobressai o general Labatut como comandante de nossas forças militares no seco, enquanto Lord Cochrane foi o responsável pela guarda da Baía de Todos os Santos.
É imperioso mencionar a figura da mártir Joana Angélica, morta ao impedir que os portugueses tomassem o convento da Lapa. E a de Maria Quitéria, valorosa mulher que combateu os adversários portugueses no Recôncavo. Vestida numa farda de soldado, com a arma na mão, lutou com coragem incomum contra os portugueses na barra do Paraguaçu, em Santa Amaro e Cachoeira. Houve também Maria Felipa, uma negra catadeira de marisco, a mulher que comandou mulheres negras para seduzir os portugueses enquanto outras queimavam suas embarcações.
Fala-se que, na batalha final, João das Botas, um marinheiro português que aderiu à autoridade do príncipe Pedro, com o seu conhecimento instruiu Cachoeira, Santo Amaro e São Francisco do Conde na armação e comando dos barcos para combater a frota portuguesa. Foi singular sua atuação como trunfo na guerra.
Noutros falares, de como exatamente o corneteiro Luís Lopes tenha ficado no coração dos baianos ninguém sabe ao certo. Se a versão da história contada é verídica ou não, tudo se torna mais intrigante e ao mesmo tempo nebuloso. Sobre o assunto o que se sabe é que ele participou do conflito conhecido como a Batalha de Pirajá. Propaga-se no imaginário popular que em vez do toque de “recuar”, deu o sinal de “cavalaria avançar” e, em seguida, o de “degolar”. E quem acabou partindo em retirada foram as tropas lusitanas, imaginando que os brasileiros tinham recebido reforços.
O movimento que deflagrou a independência do Brasil na Bahia motivou a Castro Alves, o poeta mais amado dos baianos, a escrever um poema de versos magníficos. O poema “Ode ao Dois de Julho” vem expresso com o discurso eloquente, versos nas imagens candentes da esperança e da liberdade, aparecendo juntas numa só voz que evoca a peleja da treva e do clarão. O libertário construtor de uma poética solidária sobre a escravidão dos negros africanos, agora com versos incandescentes de esperança, canta a liberdade como o sentimento mais valoroso que envolve os baianos no palco do confronto. Como noiva do sol a liberdade, essa peregrina esposa do porvir, faz-se motivo de inspiração ao estro do poeta de alta voz condoreira.
Transcrevemos abaixo, como o final dessas anotações sobre O Dois de Julho, o poema do genial poeta baiano:
Ode ao Dois de Julho
Eras tu que, com os dedos ensopados
No sangue dos avós mortos na guerra,
Livre sagravas a Colúmbia terra,
Sagravas livre a nova geração!
Tu que erguias, subida na pirâmide,
Formada pelos mortos do Cabrito,
Um pedaço de gládio — no infinito…
Um trapo de bandeira — n’amplidão!…
Cyro de Mattos (Itabuna, 1939). Jornalista, advogado, contista, novelista, romancista, ensaista. Membro da cadeira 22 da Academia de Letras da Bahia. Membro das Academias de Letras de Ilhéus e Itabuna. Já publicou mais de 60 livros, de diversos gêneros, bem como organizou dez antologias e coletâneas. É também editado em Portugal, Itália, França, Espanha, Alemanha, Dinamarca, Rússia e Estados Unidos. Possui prêmios literários no Brasil e exterior, e, entre eles, o Prêmio Nacional de Ficção Afonso Arinos, da Academia Brasileira de Letras, com o livro “Os Brabos”; Prêmio Jabuti (menção honrosa), para o livro “Os Recuados”, Prêmio da APCA para o livro infantil “O Menino Camelô, Prêmio Nacional de Poesia Ribeiro Couto, com o livro “Cancioneiro do Cacau”, Prêmio Nacional de Ficção Pen Clube do Brasil para o romance “Os Ventos Gemedores” e Prêmio Nacional Cidade de Manaus, para o livro “ Histórias de Encanto e Espanto”, dez vezes primeiro lugar nos concursos literários da União Brasileira de Escritores (Rio). Obteve o segundo lugar para obra publicada no Concurso Internacional de Literatura Maestrale Marengo d’Oro, Gênova, Itália, com o livro “Cancioneiro do Cacau” e segundo lugar para obra inédita com o livro “Poemas escolhidos/Poesie scelte”. Foi um dos quatro finalistas do Prêmio Internacional de Literatura da Revista Plural, no México, com a noveleta “Coronel, Cacaueiro e Travessia”. Em 2020 recebeu o Prêmio Conjunto de Obra da Academia de Letras da Bahia e Eletrogóes. É membro do Pen Clube do Brasil. Primeiro Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz (Bahia). Premiado com a Medalha Zumbi dos Palmares pela Câmara Municipal de Salvador (2020).
A feira livre é a maior expressão de cultura popular. A feira livre tem literatura de cordel, grafiteiros, CDs e DVDs de todos os cantores, de todos os gêneros, além de DVDs de histórias infantis vendidos nas barracas: Chaves, Chapolin Colorado, Chapeuzinho Vermelho, João e Maria, Os Três Porquinhos, Pinóquio, Rapunzel, Frozen e todas as histórias dos irmãos Grimm, filmes policiais, cowboys e filmes românticos.
A feira livre do São Caetano, bairro da cidade de Itabuna, talvez, seja a maior feira livre do interior da Bahia, mais que as feiras de Alagoinhas, de Feira de Santana, de Santo Antônio de Jesus, de Vitória da Conquista, pois ela é permanente, de Segunda-feira a Domingo, inclusive, feriados e dias santos.
A feira livre do São Caetano, certamente, não é maior do que a Feira Central de Campina Grande, nem a feira livre de Caruaru, a maior feira ao ar livre do Brasil, mas tem tudo pra chegar lá.
A feira livre são-caetanense está situada numa área de mais de 20.000 m², suas bancas e barracas são distribuídas pelas ruas: Cosme Damião, São João, Potomiano, as transversais, e, a praça Dr. Simão Fiterman. Ela possui uma área coberta com estrutura de zinco e “metalon galvanizado”, onde ficam os restaurantes, os bares, os pequenos frigoríficos, os açougues, as mercearias, as barracas de farinha e, no entorno, lojas de roupa, mercados, lojas de calçado, armarinhos e oficinas de conserto e venda de celulares e acessórios eletrônicos.
Os feirantes de frutas e verduras usam ao longo das ruas para distribuir suas bancas. Ali, o fereiro encontra tomate, berinjela, abobrinha, pepino, pimentão, manga, morango, açaí, jaca, mamão, coco verde, coco seco, todo o tipo de banana, limão mirim, limão rosa, todo tipo de laranja, pera, uva, maçã, jambo, etc.
A quantidade de verduras e legumes é grande: brócolis, cará, couve, feijão, jiló, maxixe, nabo, salsa, alho, cebola, cebolinha, mostarda, taioba, salsão, repolho, espinafre, grão-de-bico, lentilha, milho verde, amendoim, quiabo, cenoura, batata doce, batatinha, aipim, inhame, rúcula, agrião, e, um sem número de verduras e legumes.
As barracas de bolo de aipim, de puba, de beiju, de milho, doces e guloseimas saciam os pirralhos. Os adultos preferem as frituras: os pasteis, os quibes, as coxinhas e batatas fritas e acarajés. Ali, na feira livre do São Caetano, não faltam sucos de acerola, de limão, de laranja, caldo de cana e água de coco.
Quando é meio-dia, os empregados de lojas e mercados vizinhos correm para os restaurantes da feira livre caetanense e existe ali uma variedade de comidas para todos os gostos e preços. Claro que no cardápio não há filé mignon assado ou à parmegiana, mas carne no feijão, farofa amanteigada, dobradinha, ensopado, carne suína, carne de carneiro, feijão tropeiro, churrasco, caldos, arroz e macarrão.
Nos dias de sábado e domingo, a frequência é de mais de 10.000 fereiros, do centro da cidade itabunense, de outros bairros, de outras cidades, de quando em vez, turistas de outros estados ou de outros países. O enxame de gente é grande. Quando a feira é pra perto, usa-se a galinhota como meio de transporte, quando a feira é levada para outros bairros ou o centro da cidade, o fereiro mais aquinhoado usa o automóvel e o pobre vai de buzu.
A partir de Sexta-feira, as entradas das ruas e as transversais são fechadas por bancas de pequenos agricultores que descem de suas roças em animais com caçuás repletos de verduras e frutas, alguns alugam camionetes porque grande é a quantidade de produtos agrícolas.
As donas xepas deixam para ir à feira livre quando restou, somente, ao feirante, sobras de verduras ou de frutas e a queda dos preços se faz necessária, segundo a “Lei da Oferta e da Procura”, os produtos não perecíveis, a exemplo de farinha, do coco verde, do coco seco, dos óleos de coco e dendê, as carnes acomodadas em frigoríficos, as carnes salgadas e alguns cereais não vão à queima, ficam para final de semana vindoura ou vendido durante a semana.
As carnes são variadas: carne fresca de boi, carne de frango in natura, frango e galinha caipira vivos, carne de porco, carne de carneiro, dobradinhas, caças, jabá e carne-de-sol, além de peixes de todas espécies, caranguejos, camarões e pitus.
Os furtos e os roubos não prosperam, embora os produtos sejam cobertos por lonas plásticas e amarrados em suas bancas com cordas de “nylon”, de segurança vulnerável. Porém, a organização do feirante mantém vários vigilantes armados que rondam a feira livre toda noite, impedindo assim, as ações de meliantes.
O fato de barracas fixas, pouco e pouco, elas são usadas como moradia e lugar de perdição, corrupção e vícios.
A feira livre são caetanense não é contemplada como deveria ser com medidas efetivas do governo municipal de saneamento (fica à beira de um canal de esgotamento sanitário), limpeza e organização: o canal urge cobertura, a limpeza deveria ser diuturna, as barracas padronizadas, fiscalização e normas duras de higiene com o objetivo de evitar os desleixos e a falta de consciência comunitária da maioria dos feirantes.
Enfim, mazelas corrigidas, a feira livre do São Caetano, bairro itabunense, é a maior e mais atrativa do interior baiano, lá tem tudo, não levará tempo, o fereiro aquinhoado irá encontrar “stands” de venda de carrinhos de bebê, de motos, de bicicletas, de automóveis, de tratores e caminhões.
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