O Bandolim e a Lua
Cyro de Mattos
O bandolim tocava.
A cidade sonhava.
Tocava na praça.
Para as estrelas iluminadas.
Noite de verão. Tocava na noite enluarada.
Toda a cidade veio assistir. Tocava como nunca.
Valsa que encantava.
Tocou para a lua, lá no alto, enamorada.
Derramou prata em suas cordas.
Aí foi que mais tocou. Embalou a cidade na valsa. Até chegar a madrugada. Puxava a manhã em suas cores suaves. De azul, rosa, branco suas asas. Polvilhada de ouro pela cauda.
Céu de estrelas apagadas. A lua abafada pelas nuvens escuras. A chuva pesada.
O bandolim pendurado na parede do quarto.
Em silêncio, mergulhado nas trevas, nas camadas espessas pelo quarto.
As cordas mudas. Delas desciam lágrimas de prata.