Produção Literaria

MENSAGEM PARA RAQUEL- Silvio Porto

Discurso proferido na Posse da nova Diretoria  da Academia de Letras de Itabuna.

 

“Non vi, sed arte! (“Não pela força, sim pela arte!”)

“As virtudes do homem e da mulher superiores são como o vento, as virtudes de um homem e de uma mulher comum são como o capim; quando vento passa o capim se curva.”

Digníssima Senhora Raquel Rocha, Presidente empossada hoje da Academia de Letras de Itabuna.

Senhoras e Senhores Acadêmicos!

Minha família, meus amigos, autoridades aqui presentes, demais convidados para esta noite memorável.

Falar neste cenáculo literário, por onde passaram e ainda frequentam proeminentes figuras do ambiente acadêmico , artístico, intelectual e político da nossa terra , não apenas dignifica, como consagra a alma. Louvo o trabalho de todos que  produzem escritos, livros, artigos, discursos e que levam com certeza  a plenitude da vida.

É uma honra para mim, desfrutar da companhia de nobres e imortais confrades e confreiras e vir até aqui dar as boas vindas a nossa querida Presidente Raquel Rocha.

Austregésilo de Athayde ao se referir a Machado de Assis, pela iniciativa de fundar a Academia Brasileira  de Letras , patrono das letras brasileiras,  disse: “ Machado escolhe uma forma de aperfeiçoamento dos valores intelectuais que são os últimos vestígios que se apagam na história tormentosa da humanidade”.

Nesta Academia , minha Presidente espero que revigore sempre a palavra Liberdade.

Ainda na obra Machadiana, encontramos: “A liberdade não morre onde restar uma folha de papel para decreta-la”.

Que o amor a liberdade seja uma bandeira firme e sempre hasteada na sua jornada nesta Academia.

Que a sua gestão seja democrática.

Democracia como um valor , uma prática diária, um princípio ético para todos independente de suas crenças, ideologias e de seus conceitos.

Aprendi o que não se registra o tempo leva. É por isso e para isso que devemos escrever o que aprendemos de nossos avós e de nossos pais.

A transmissão oral pode ficar para sempre em algumas situações, mas muita coisa pode se perder.

É considerado imortal todo aquele que fez ou faz de sua vida uma obra a ser lida, a ser seguida, a ser admirada, a ser internalizada. É objetivo da Academia de Letras de Itabuna,  manter viva, na memória de todos, a contribuição que ilustres homens e mulheres deram, no sentido de colaborar para o aperfeiçoamento da sociedade e da humanidade.

A imortalidade de uma pessoa pode estar em sua vida, em sua arte, em sua obra, em sua descendência.

Francisca Praguer Fróes, foi uma das primeiras mulheres formadas em Medicina, pioneira em todas as áreas em que atuou, principalmente na defesa dos direitos femininos. Ela dizia: “Eu sou feminista por herança e convicção”; “A inferioridade da mulher não é fisiológica, nem psicológica; ela é social.”

Jorge Calmon um imortal, disse “é o principio que faz de qualquer pessoa, letrada ou não, um imortal.”

Ele diz: “Efetivamente, há homens e mulheres  que se tornam instituições. São Poucos e poucas.  Constituem exceções.

A regra geral é o lugar comum,  que a lei da vida vai tangendo, em marcha entre o nascimento e a morte. Nessa indistinta mediania, as inteligências não brilham, o esforço não avulta, o caráter não logra atingir forma, consistência. “

É a grande planície dos homens e mulheres comuns. Vez por outra, desse solo grapiuna nasce ou surge por adoção  uma mulher guerreira e que luta pelo que acredita.

O talento, a virtude, o mérito rompem a vulgaridade e projetam um futuro promissor para todos que amam a cultura e a arte.

Raquel essa é a casa de todos confrades e confreiras vivos da Alita e mais de Sônia Maron, de Delile Oliveira, de Adonias Filho, de Telmo Padilha, de Firmino Rocha, Valdelice Pinheiro, Jorge Amado, Carlos Eduardo Passos, Gil Nunes Maia, Sosigenes Costa, Hélio Pólvora, entre outros gigantes da nossa Academia. Você sempre estará bem acompanhada, seja com exemplos ou boas lembranças.

Você hoje assume um compromisso. Um compromisso de manter viva  a arte e a cultura no sul da Bahia, na Bahia e no Brasil.

De lutar pela Liberdade!

De lutar pela Democracia!

Meus agradecimentos pela oportunidade de falar para uma plateia tão distinta e culta.

Boa sorte Raquel ao lado dos confrades e confreiras:

Lurdes Bertol, nossa Vice-Presidente

Eliabe Izabel de Moraes, nossa 1°. Secretária

Maria Luisa Nora,  nossa 2°. Secretária

Gustavo Veloso, nosso 1°. Tesoureiro

Marcos Bandeira, nosso 2°. Tesoureiro

Margarida Fahel,  nossa Diretora da Revista

Sérgio Sepúlveda, nosso Diretor de Ações Culturais

Clovis Junior, nosso Diretor da Biblioteca

Heloísa Prazeres, como Diretora do Arquivo

Rafael Gama, nosso Diretor de Comunicação Social e Marketing

Gustavo Cunha, como nosso Diretor de Projetos e Pesquisas.

Raquel seja o farol da Liberdade na nossa Alita!

Deus seja louvado!

Silvio Porto de Oliveira.

Presidente da Academia de Medicina de Itabuna.

Em 20/04/2024.

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INOCÊNCIA SEM FLOR- Cyro de Mattos

Inocência sem Flor
Conto de Cyro de Mattos

A história do Brasil pode ser considerada pelo lado do negro com três pês: pão, pano, pancada. Pelo lado do indígena, entram nessa história feita de assombros nas caçadas humanas três emes: missa, miçanga, mato.
Capítulos dessa história, impregnada de usurpação e açoite, dizem que o Brasil Colonial formou uma dívida com o negro e o indígena que de tão grande nas léguas da desgraça tornou-se impagável.
Em algumas paragens desse Brasil continental, pisado pelo colonizador ávido, chegou-se ao ponto de terem desaparecido populações indígenas que viviam em perfeito entendimento com a natureza, tirando dela apenas o necessário para a sobrevivência.
Às vezes, escuto vozes que rolam dos longes nesses rastros da desgraça. Como acreditar? Houve uma mancha que envergonha. A fuga em desespero tingiu a manhã do horror na taba queimada. Por entre as sombras do que é perverso e não se apaga, remorso não existiu dos que feriram os hábitos da inocência irmanados com o verdor da mata, dizimaram a aldeia, forjaram a chacina, denominando as cenas insanas de façanhas.
Quem saberá quantos ventos na fuga de uma gente sem rumo entoaram lamentos de uma triste música? Gemidos produzidos nas entranhas da selva impenetrável? Como se nada de horror acontecesse num mundo que amanhecia cheio de passaradas, brilhos e fragrâncias.
Pasmem os céus, até hoje sentimentos que escorrem em dó e lágrima ressurgem desses rastros que machucam. Tive conhecimento que a virgindade de meninas indígenas vale pouco, muito pouco, em São Mateus, município situado nos confins do braço norte do território do Japará. Lá um homem branco compra a virgindade de uma menina indígena também com aparelho celular, peça de roupa de marca e com uma caixa de bombom.
As mães das vítimas pediram à polícia há um ano para apurar o caso. Nenhum suspeito foi preso até agora.
Doze meninas já prestaram depoimento. Elas relataram que foram exploradas sexualmente e indicaram nove homens como os autores do crime. Entre eles, há comerciantes locais, um ex-vereador, um médico chamado Pedro de Deus, um farmacêutico, dois sargentos e um açougueiro.
As vítimas vivem na periferia de São Mateus do Japará, município de baixa renda, que vive das atividades agrícolas, com base em lavouras primárias, de pouca duração, nas estações temperadas de sol e chuva. São Mateus do Japará tem quase cem por cento da população formada por gente indígena. Calcula-se que a população seja de quinze mil pessoas.
Entre as meninas exploradas, há as que foram ameaçadas pelos suspeitos. Algumas foram obrigadas a se mudar para casa de familiares, na esperança de ficarem seguras. O repórter da revista “O Planeta” ficou interessado pelo caso logo que tomou conhecimento.
Conversou com algumas dessas meninas. Criou inicial fictícia para cada uma delas, querendo com isso dificultar a identificação.
B, de 12 anos, conta que vendeu a virgindade para um vereador. O acerto, afirmou, ocorreu por meio de uma prima dela, que é também adolescente.
“Ele me levou para o quarto e tirou minha roupa. Foi a primeira vez, fiquei depois sem saber o que fazer.”
A menina informou que uma amiga dela esteve duas vezes com um comerciante.
“Na primeira vez, ela também foi obrigada. Ele deu um celular.”
Já L, de 11 anos, disse que ela e outras meninas ganharam chocolates, dinheiro e roupa de marca em troca da virgindade. Como aconteceu com as outras na primeira vez, ela foi também obrigada. Recebeu trinta reais e uma caixa de chocolates.
Outra menina, S, de 13 anos, disse que presenciou encontros de sete homens com meninas de até dez anos.
“Eu vi meninas passando aquela situação, sem poder fazer nada.” Comentou que eles sempre dão dinheiro em troca disso (da virgindade).
Ela aceitou falar ao repórter porque já tinha denunciado tudo à polícia federal. Sabia que o pior podia acontecer, mas não tinha medo de nada.
“O homem que me usou primeiro falou que se continuasse denunciando eu iria junto com ele pra cadeia.”
A mãe de S disse que, se ela abrir a boca, o homem que tirou a virgindade da filha vai mandar matar ela.
Não é difícil imaginar que a menina S tinha os olhos sumidos no rosto sem brilho, durante a entrevista que deu ao repórter de “O Planeta”.
Quase não saiu o que disse no final:
“Na primeira vez senti as coxas doloridas. A boca com um gosto de coisa ruim. Depois fiquei triste”.

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VERBALIDADE, EDITAL E APALAVRANDRO- Ruy Póvoas

VERBALIDADE

Oh, verbo defectivo,
me valha mesmo
com seus defeitos.
Ensina-me não ter
todas as pessoas.
Algumas bastam
para um viver tranquilo.
Teu parente,
o impessoal,
é por demais arrogante
e atua sem pessoa alguma.
Diferente dele,
sou a própria pessoa
que precisa de pessoas
no meu viver em rumas.

Ruy Póvoas
13/4/24

 

EDITAL

“Va, pensiero!”
Vá, piseiro,
vá, sonâmbulo,
e acabe esta dormência.

Ultrapasse a inocência
e peça à saudade exótica
um pouco de clemência
para este viver impenitente.

A depender da resposta,
vá, pensamento,
leve também sentimento.

E me traga qualquer notícia
do arquivo sepultado
sob a laje do esquecimento.

Ruy Póvoas
11/4/24

 

APALAVANDRO

Sou eterno viajor
da estrela guia,
cuja luz é a palavra.
Nela, me envolvo,
buscando afungentar
sombras do descalabro.
Na invasão por ela provocada,
nos meandros de mim mesmo,
entro em convulsão
e nem em mim mesmo
me caibo.
Ela me carrega
pelos nove espaços do Orun,
onde se dissipa qualquer treva
e todo medo se acaba.

Ruy Póvoas
15/03/24

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PARA ANDRÉ ROSA, COM UM POUCO DA SUA POESIA SÉPIA- Baisa Nora

André, Andante, Cantabile… e a sua vontade de ir embora, de perder vínculos conosco e criá- los com” pedras e algas”. Ele quis ir com” mãos feridas e sujas de destino”, cheio de ” coragem e medo” porque “lugar algum o esperava”. E tantos o esperaram, André, tantas pessoas e tantos lugares.
Você se dizia ” duna e movediço”. E era. Quem seria capaz de segurá- lo, amigo, se você ” acatava todos os desapegos”?
” Vou- me embora: soluço e tempestade”.
Será que foi assim, André, ou seu espírito livre o fazia escapar, não admitia amarras?
Nunca mais” soluço e tempestade”. Chegou o tempo da calmaria, de estar sempre com seu sorriso meio tímido e meio sonso, com sua gentileza, este traço tão seu. Ela, a gentileza,
abrirá todas as portas e todos os braços para o aconchego.
Você chegará ao som de atabaques, mas a música será um acalanto e a letra lhe dirá: dorme, menino grande, pois os que o precederam estarão perto de você e não sairão até que você entenda que fez a passagem, que deixou muita tristeza, muita saudade, mas deixou também uma vida que fez a diferença na história da nossa Região e as melhores lembranças nos seus muitos amigos.

Baisa Nora

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ANDRÉ ROSA: NOS TRILHOS DA MEMÓRIA– Raquel Rocha

Hoje nos despedimos de uma figura inestimável não só para Ilhéus, para toda a região sul da Bahia. André Rosa, professor, pesquisador e escritor excepcional, deixa um legado profundamente enraizado na pesquisa histórica, na educação e na preservação cultural. Com uma formação sólida, adquirida através de sua graduação e pós-graduação em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz, seguidas de um mestrado e doutorado pela Universidade Federal da Bahia, onde também completou seu pós-doutorado, André se estabeleceu como uma autoridade em sua área. Ele era apaixonado por estudar, ensinar e narrar a história.

Conheci André em 2009, durante as filmagens do meu primeiro documentário, “Nos Trilhos do Tempo”, que conta a história da esquecida ferrovia da cidade de Ilhéus, desativada em 1964. Nesse filme, André não foi apenas um entrevistado; ele foi uma voz guia que, com profundo conhecimento, conduziu a narrativa acadêmica, entrelaçando-a com as experiências de quem viveu às margens da ferrovia. Seu depoimento, feito ao lado do último vagão abandonado, ajudou a resgatar a memória da ferrovia como um símbolo de identidades e história.

André partiu cedo, aos 57 anos, no dia 07 de abril de 2024, devido a uma parada cardiorrespiratória. Mesmo partindo prematuramente, deixou um vasto legado. Suas obras incluem títulos como “Ilhéus: Tempo, Espaço e Cultura” (1999), “Família, poder e mito” (2001), “Memória e Identidade” (2005), “Morte e Gênero: estudos sobre a obra de Jorge Amado” (2012), “In Memoriam: urbanismo, literatura e morte” (2018) e a cartilha “Samba de Terreiro: memória e identidade afro-brasileira no litoral sul da Bahia” (2015), além de “Quintais do Tempo” (2012) e “Inventário do Caos” (2019), na área da literatura. Como membro da Academia de Letras de Ilhéus e do Instituto Histórico e Geográfico de Ilhéus. Membro da Academia de Letras de Ilhéus e do Instituto Histórico e Geográfico de Ilhéus.

André Rosa deixa para trás não apenas um arquivo de publicações e um impacto na comunidade acadêmica, mas também um exemplo de dedicação. Através de seu trabalho como historiador e educador, ele inspirou inúmeras pessoas a olharem para o passado com curiosidade e respeito, buscando compreender melhor as narrativas que compõem nossa identidade coletiva.

Que sua memória continue a inspirar futuras gerações a preservar e valorizar nossa rica herança cultural. Descanse em paz, André.

Raquel Rocha

07 de abril de 2024

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A ROSA DO ADEUS- Ruy Póvoas

Quatro caminhos no meu percurso, nesta existência, se cumprem no dia de hoje. O entrelace se desfaz com a morte de André Rosa. Meu amigo, meu colega, meu confrade, meu irmão de fé. A quais caminhos me refiro? Éramos parceiros na Universidade/UESC (André era professor e pesquisador); na Literatura (André era escritor e poeta); na Academia de Letras de Ilhéus (André era membro efetivo da ALI) e no exercício da prática de uma religião de matriz africana (André era Tata Cambone de Matamba, do Terreiro Tombenci Neto).

Tais viveres e fazeres nos enlaçaram por muitos anos a fio. Agora, quando Mercúrio retroage no nosso céu, Matamba mandou buscar André e Nanã Borokô o leva de volta ao seio da Mãe Terra. E como fico eu aqui? Aliás, como ficamos nós?

Cumpre volvermos as vistas para seus escritos e seus relatos de estudos e pesquisas. Cumpre mergulharmos com a atenção devida para seus versos extravasantes de intuição artística. Cumpre continuarmos zelando pela ALI, nos devidos cuidados de sustentação e lides de nossa Academia. Cumpre, especialmente a mim, continuar na luta pela conquista de lugar no mundo por partes do povo de santo.

Da última vez que nos vimos, 14 de abril deste ano, a nossa ALI vivia momentos de alegria por estarmos iniciando mais um ano de atividades acadêmicas. Vários participantes fotografaram o evento a valer. Em muitas fotos, André e eu saímos juntos. E quando a onda de sentimento amainar, voltarei àquelas fotos que ficaram, representações que são do último momento de uma caminhada que só nos deu contentamento e certeza de que estávamos no caminho certo.

Para nós, gente que pratica a fé de matriz africana, ainda veremos você na intimidade de nossos rituais, quando em breves dias, celebraremos o axexê. Você se vai enquanto criatura encarnada, mas ficará conosco, para o resto de nossas vidas. E isso é possível, sim, porque ficam conosco, seus escritos, seus poemas, seus livros, os resultados de suas atividades na ALI. Ficam, sobretudo, partes de seu axé anexado à comunidade do Terreiro Tombenci Neto.

André trouxe Rosa, por sobrenome, a rainha das flores. No percurso de sua existência, muitas vezes não navegou num mar de rosas, tendo em vista os inúmeros desafios que teve de enfrentar. Cremos, porém, que a partir de agora, um mar de bem-aventuranças lhe trará o descanso merecido.

E de onde você estiver, rogue por nós, seus amigos, camaradas, colegas e irmãos até que chegue nosso tempo também.

Itabuna, 7 de abril de 2024.

Ajalá Deré (Ruy Póvoas)

Babalorixá do Ilê Axé Ijexá

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A TEORIA DA JANELA QUEBRADA E A PRAÇA DA MATRIZ- Marcos Bandeira

           Há alguns anos, precisamente em 1982, a Universidade de Stanford nos Estados Unidos realizou uma pesquisa na área de psicologia social, baseada no artigo de James Q. Wilson e George L. Kellinn intitulado “Broken Windows Theory”, ou seja, Teoria das Janelas Quebradas. O estudo consistia em deixar dois veículos novos e idênticos abandonados em dois bairros dos Estados Unidos, sendo que um dos bairros era de uma zona pobre e o outro, de uma zona de classe média alta, supostamente seguro.

           O veículo abandonado que ficou na zona pobre, em poucas horas foi depenado e os larápios levaram quase tudo do carro: as rodas, o motor, as poltronas, enfim, quase tudo. Enquanto isso o veículo abandonado no bairro rico permanecia intacto e já havia passado uma semana até que os pesquisadores quebraram uma janela do veículo. Em menos de 24 horas, foram desencadeados vários atos de vandalismos, ficando o veículo nas mesmas condições daquele que estava abandonado na zona pobre dos Estados Unidos.

         A pesquisa revelou que o vidro quebrado num veículo abandonado num bairro aparentemente seguro passou a ideia de abandono, de anomia, como se aquele lugar não tivesse lei e que tudo ali era possível, pois grassava a desordem e ausência completa do Estado como também o desinteresse da sociedade.

         Trazendo essa teoria para nossa realidade grapiúna, passei a refletir sobre o completo abandono da Praça da Matriz de Itabuna ou Praça da Catedral São José. Passa gestor, entra gestor, e a Praça continua ignorada. Não sei se o gestor está brigado com o bispo e nem quero saber, mas a minha constatação é objetiva. A praça está entregue aos meliantes e aos desocupados.

           Por que a Praça da Matriz, geralmente considerada como cartão postal de qualquer outra cidade, encontra-se abandonada em nossa Itabuna? Hoje o termo da moda é “requalificação” e assim, “requalificam-se” todas as praças importantes do centro da cidade, algumas até mais de uma vez; mas por que não “requalifica” a praça da Catedral São José?

           Na esteira da referida teoria, e diante do seu completo abandono por parte do Poder Público, a Praça da Catedral São José continua com a iluminação precária, possuindo vários pontos cegos e escuros, além de não ser policiada, nem mesmo pelos guardas municipais. É comum encontrar vários núcleos de pessoas desocupadas utilizando e passando drogas. Esse fato pode ser constatado por qualquer pessoa que passar por ali.

           Também ali já ocorreram fatos mais graves: furtos de veículos, furtos em veículos estacionados, inclusive no caso mais recente, a vítima era uma policial militar. Já ocorreram assaltos contra alguns fiéis quando saíam da missa da Catedral. Por que será que esses atos criminosos acontecem na Praça da Matriz? A explicação lógica é a sensação de abandono do local. A praça possui uma formação de relevos e ondulações, o que a torna ainda mais insegura, pois existem pontos que não são visualizados totalmente.

          Faz-se necessário e urgente que o gestor público atual compreenda que a questão da “requalificação” da Praça da Matriz ou Praça da Catedral São José não é apenas uma mera questão de estética, e sim, de segurança pública, pois o Estado e a sociedade, de um modo geral, precisam ocupar esse espaço para que os cidadãos, principalmente as crianças e pessoas idosas possam exercer o seu direito de ir e vir com segurança, sem medos e sobressaltos.

 

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Mensagem de Natal dos Membros da Academia de Letras de Itabuna

Natal, Nascimento, Natividade.

Momento em que a atmosfera se torna propícia para o respirar do amor, em que indícios de uma terra fértil para o prosperar da caridade nos enche de esperança.
Tempo de renovação, tempo de congregação.

É Natal

Gustavo Cunha

O meu profundo desejo, a todos os queridos confrades e confreiras alitanos, de um Natal com Alegria Esperança e Paz no coração. E que essa Paz ecoe pelos caminhos com essas mulheres de Fé.
Que o Menino Jesus renasça em todos nós!

Margarida Fahel

Queridos confrades e confreiras da Academia de Letras de Itabuna.

Neste espírito festivo e acolhedor do Natal celebramos nossa amizade e nosso trabalho em prol da  nossa história, cultura e língua, pois cada tradição que preservamos é um elo com o passado, uma conexão que nos une às gerações que nos precederam.

Ao comemorarmos o Natal, reconhecemos a importância de honrar os princípios que moldam nossa jornada e pedimos iluminação divina para que possamos construir um futuro com compreensão e respeito trilhando sempre os caminhos da compaixão e solidariedade.

Que possamos continuar a realizar projetos significativos e a espalhar a esperança em cada ação que empreendemos.

Que a magia do Natal e o amor do menino Jesus nos envolva com alegria, paz e gratidão.

Raquel Rocha

É Natal
não resolveria um postal
imagens são mudas
para vocês queremos vozes

cânticos em coro de Anjos
que lhes comuniquem:
Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu!

Para vocês, a ceia, a paz
a poesia, o recolhimento
a confiança e o sentimento,
de nós, ALITANOS.

Heloisa Prazeres

NATALISMO

Já escuto esperanças
reverberando nas nuvens,
anunciando outro tempo.
Um tempo sonhado,
de sorrisos cravados
em confissões de paz.
Viajantes na nau
da existência doada,
em abraços fraternos,
esperamos de novo
a graça bendita
de festejar o Natal.

Ruy Póvoas

O Cristo Solar
Representante
Do Renascimento
Veio nos trazer a Paz
Que ilumina  nossas consciências
Assim como o Sol resplandece todo nosso ser
Feliz Natal.
Sérgio Sepúlveda 

UM NOVO NATAL

Falta fazer um Natal
Que não seja um simulacro,
Que não seja apenas sacro,
Que seja um dia real.

Um Natal compartilhado
Que ilumine os corações,
Que restaure as emoções,
Que Jesus seja lembrado.

Um Natal sem tanto engano
Em que um ser no outro se veja
Como elos da mesma igreja
E se torne mais humano.

Um Natal reinventado
Que dure pelo ano inteiro,
Que seja tão verdadeiro
Sem nem ser comemorado.

Aleilton Fonseca

FELIZ NATAL, QUERIDA FAMÍLIA ALITANA!

E no entanto, Jesus,
mesmo nesse
mundo conturbado, renascerás mais uma vez
no estábulo do coração dos homens porque Natal
não é tempo de odiar,
é tempo de esquecer, de perdoar, de amar,
e de fazer rebrotar a esperança.

Ceres Marylise

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REFLEXÃO ENTRE A INSUBORDINAÇÃO E A FÉ- Tica Simões

                                                                                                                                                                            

Cântico de Insurgência e Devoção, de Rafael Gama (2023),  pela dialética e pela sutil rebelião aos códigos estabelecidos, instiga à leitura. A linguagem poética é  realizada em leveza, rapidez e  provocações filosóficas.  É uma escrita intelectualizada sem ser snobe. Sutilmente, oferece ao leitor links e ganchos que vão desde a história social,  das idéias, das questões religiosas  às existenciais…   Olhares que vão desde a tradição, aos dias atuais – as duas partes em que estrutura o texto: Cânticos de Insurgência; Cânticos de Devoção.

De saída, o título do livro insinua a acepção ao consagrado e  instala a reflexão  entre a insubordinação  e a fé. Mas o texto não fica aí. O olhar alargado pela reflexão filosófica ocorre desde a sua estruturação. E o trato cuidadoso que faz da linguagem imprime a  plurissignificação.

A estrutura, bem articulada, contribui para a significação. As epígrafes introdutórias do livro, como também as que  abrem e finalizam cada uma das duas partes são mesmo, com muita propriedade,  síntese do texto poético.

Os Cânticos de Insurgência,  primeira parte do livro, são arrebatadores em observar a dinâmica da vida: “Reverenciou o sagrado / Flertou com  o profano / Não satisfeito com a vida condicionada / Olhou para a contradição / E viu que era bom…”  (p.16)

E é bem assim: “O risco é tempero à vida!” (p.22). E claro, “Todos estão em busca/ Mesmo os que disso não se dão conta/ Estão a buscar”  (p.24). Até mesmo a presença de Spinoza confirma o olhar  na forma de subverter a liturgia,  buscando, inquieto, em terreiros ou igrejas, o  eu lírico diz  “O santo me leva!” (p. 39)

E, sempre buscando a essência, faz a crítica dos tempos, com o olhar ao social, à liberdade e ao outro… mas ainda assim, é Errante (p. 34),  sempre à procura de si mesmo… insurgente!

Sem afirmar, confirma a busca poética e de vida.  Conclui o livro com a forte  ideia de compartilhamento, que é marca e presença em todo o texto. “A santidade não almejo, sabedoria é o que desejo/ Coerência é diretriz, o fazer é o caminho/ Trajetória partilhada/ Nunca ação do eu sozinho” (p.59).

O belo texto, realizado em coerência de um pensar poético e límpido,  é mesmo “para quem vive sob a constante tensão entre o encantamento e a insurgência” tal como diz a dedicatória que abre o livro.

 

Tica Simões

Em 11/12/2023

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