Produção Literaria

Mensagem de Natal dos Membros da Academia de Letras de Itabuna

Natal, Nascimento, Natividade.

Momento em que a atmosfera se torna propícia para o respirar do amor, em que indícios de uma terra fértil para o prosperar da caridade nos enche de esperança.
Tempo de renovação, tempo de congregação.

É Natal

Gustavo Cunha

O meu profundo desejo, a todos os queridos confrades e confreiras alitanos, de um Natal com Alegria Esperança e Paz no coração. E que essa Paz ecoe pelos caminhos com essas mulheres de Fé.
Que o Menino Jesus renasça em todos nós!

Margarida Fahel

Queridos confrades e confreiras da Academia de Letras de Itabuna.

Neste espírito festivo e acolhedor do Natal celebramos nossa amizade e nosso trabalho em prol da  nossa história, cultura e língua, pois cada tradição que preservamos é um elo com o passado, uma conexão que nos une às gerações que nos precederam.

Ao comemorarmos o Natal, reconhecemos a importância de honrar os princípios que moldam nossa jornada e pedimos iluminação divina para que possamos construir um futuro com compreensão e respeito trilhando sempre os caminhos da compaixão e solidariedade.

Que possamos continuar a realizar projetos significativos e a espalhar a esperança em cada ação que empreendemos.

Que a magia do Natal e o amor do menino Jesus nos envolva com alegria, paz e gratidão.

Raquel Rocha

É Natal
não resolveria um postal
imagens são mudas
para vocês queremos vozes

cânticos em coro de Anjos
que lhes comuniquem:
Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu!

Para vocês, a ceia, a paz
a poesia, o recolhimento
a confiança e o sentimento,
de nós, ALITANOS.

Heloisa Prazeres

NATALISMO

Já escuto esperanças
reverberando nas nuvens,
anunciando outro tempo.
Um tempo sonhado,
de sorrisos cravados
em confissões de paz.
Viajantes na nau
da existência doada,
em abraços fraternos,
esperamos de novo
a graça bendita
de festejar o Natal.

Ruy Póvoas

O Cristo Solar
Representante
Do Renascimento
Veio nos trazer a Paz
Que ilumina  nossas consciências
Assim como o Sol resplandece todo nosso ser
Feliz Natal.
Sérgio Sepúlveda 

UM NOVO NATAL

Falta fazer um Natal
Que não seja um simulacro,
Que não seja apenas sacro,
Que seja um dia real.

Um Natal compartilhado
Que ilumine os corações,
Que restaure as emoções,
Que Jesus seja lembrado.

Um Natal sem tanto engano
Em que um ser no outro se veja
Como elos da mesma igreja
E se torne mais humano.

Um Natal reinventado
Que dure pelo ano inteiro,
Que seja tão verdadeiro
Sem nem ser comemorado.

Aleilton Fonseca

FELIZ NATAL, QUERIDA FAMÍLIA ALITANA!

E no entanto, Jesus,
mesmo nesse
mundo conturbado, renascerás mais uma vez
no estábulo do coração dos homens porque Natal
não é tempo de odiar,
é tempo de esquecer, de perdoar, de amar,
e de fazer rebrotar a esperança.

Ceres Marylise

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REFLEXÃO ENTRE A INSUBORDINAÇÃO E A FÉ- Tica Simões

                                                                                                                                                                            

Cântico de Insurgência e Devoção, de Rafael Gama (2023),  pela dialética e pela sutil rebelião aos códigos estabelecidos, instiga à leitura. A linguagem poética é  realizada em leveza, rapidez e  provocações filosóficas.  É uma escrita intelectualizada sem ser snobe. Sutilmente, oferece ao leitor links e ganchos que vão desde a história social,  das idéias, das questões religiosas  às existenciais…   Olhares que vão desde a tradição, aos dias atuais – as duas partes em que estrutura o texto: Cânticos de Insurgência; Cânticos de Devoção.

De saída, o título do livro insinua a acepção ao consagrado e  instala a reflexão  entre a insubordinação  e a fé. Mas o texto não fica aí. O olhar alargado pela reflexão filosófica ocorre desde a sua estruturação. E o trato cuidadoso que faz da linguagem imprime a  plurissignificação.

A estrutura, bem articulada, contribui para a significação. As epígrafes introdutórias do livro, como também as que  abrem e finalizam cada uma das duas partes são mesmo, com muita propriedade,  síntese do texto poético.

Os Cânticos de Insurgência,  primeira parte do livro, são arrebatadores em observar a dinâmica da vida: “Reverenciou o sagrado / Flertou com  o profano / Não satisfeito com a vida condicionada / Olhou para a contradição / E viu que era bom…”  (p.16)

E é bem assim: “O risco é tempero à vida!” (p.22). E claro, “Todos estão em busca/ Mesmo os que disso não se dão conta/ Estão a buscar”  (p.24). Até mesmo a presença de Spinoza confirma o olhar  na forma de subverter a liturgia,  buscando, inquieto, em terreiros ou igrejas, o  eu lírico diz  “O santo me leva!” (p. 39)

E, sempre buscando a essência, faz a crítica dos tempos, com o olhar ao social, à liberdade e ao outro… mas ainda assim, é Errante (p. 34),  sempre à procura de si mesmo… insurgente!

Sem afirmar, confirma a busca poética e de vida.  Conclui o livro com a forte  ideia de compartilhamento, que é marca e presença em todo o texto. “A santidade não almejo, sabedoria é o que desejo/ Coerência é diretriz, o fazer é o caminho/ Trajetória partilhada/ Nunca ação do eu sozinho” (p.59).

O belo texto, realizado em coerência de um pensar poético e límpido,  é mesmo “para quem vive sob a constante tensão entre o encantamento e a insurgência” tal como diz a dedicatória que abre o livro.

 

Tica Simões

Em 11/12/2023

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A MAIS DIFÍCIL PROVA- Cyro de Mattos

A Mais Difícil Prova

Cyro de Mattos

 

Montado no jumentinho. Barba ruiva por fazer, cabelos crescidos entrando pelos ouvidos. Corpo magro, camisolão esfarrapado. Lábios feridos, sedentos na travessia do deserto. Olhos pálidos na cavidade das órbitas fundas. Pediu água ao homem, que estava enchendo o pote na fonte.  O homem achou estranho, alguém querendo ter alguma coisa de graça na aldeia, tudo ali era pago.

            Foi a uma hospedaria, lá pediu um pouco dos restos de comida deixada pelos hóspedes. Só havia comido gafanhoto no deserto, assim mesmo quando com sorte encontrava. O dono da hospedaria achou absurdo o que pedia. De graça não ia conseguir nada. Trabalhasse como os outros. Tinha que pagar para comer as sobras da comida, eram aproveitadas pelos porcos.

           De volta à montanha. Vários dias em jejum. Apareceu na feira num sábado. A feira cheia de gente como sempre. Curiosos formaram grande multidão em torno dele.

Disse numa voz clara e vagarosa:

– O dinheiro não é o mandamento de tudo, a força do mundo. Não compra o amor, a amizade, a paz, tantas coisas maravilhosas.

Alguns chegaram com as tabuletas. Mostraram à multidão de curiosos diante dele. Diziam:

 Dinheiro eu te quero bem,

 Por isso o meu bolso sempre tem.         

         

Se o dinheiro não traz felicidade,

Me dê o seu e seja feliz.


Dinheiro estocado,

Pensamento comprado

 

Quem disser que tem amigo

Tem de si pouca ciência.

 

Amigo só existe aquele,

O da própria conveniência

 

             Braços dele clamando aos céus:

             – É mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha do que o rico entrar no reino do céu.

     Pronunciou as palavras com o peito contrito, certo de que estava alertando os incautos com uma frase de sabedoria milenar.

     Recebeu estrondosa vaia. Os mais irados pegaram pedras. Começaram a atirar nele.

Pisotearam, cuspiram no cadáver. Acharam que devia ser enterrado ali mesmo, evitando-se que as carnes dele, com um cheiro horroroso, propagassem a peste.

           Jogada a última pá de terra no buraco, o céu escureceu, trovões ribombaram no lado do crepúsculo. Chuva de fogo caiu de repente, túmulos abriram-se, vento uivou sem cessar.  Terremoto começou a partir a terra em pedaços.

      Tempos depois, o Conselho dos Aldeões Velhos mandou erguer o monumento junto ao túmulo para homenagear a sua memória. No pedestal da estátua do homem desconhecido, colocaram esta inscrição:

 

A MAIS DIFÍCIL PROVA É A DA INOCÊNCIA

 

*A mais difícil prova é a da inocência, verso do poeta Cassiano Ricardo.

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DO CÉU AO INFERNO – Marcos Bandeira

Causa-nos perplexidade, repugnância e indignação assistirmos passivamente os atos criminosos praticados por torcedores – “ gangs” do Corinthians e do Palmeira, que deixaram um saldo de vários feridos e dois mortos, por golpes de pau, ferro e também disparos de arma de fogo. É inaceitável como esses “bandidos” travestidos de torcedores agem, deixando um rastro de dor e sangue, causando pânico nas pessoas, além de levar insegurança nos estádios e adjacências.

O ser humano é a criação mais extraordinária que DEUS colocou sobre a face da terra. Nem a beleza do mar, da natureza, dos animais irracionais, das estrelas, nada, nada é comparável à grandeza do ser humano. Grandeza que é medida não pelo que ele tem, mas pelo que ele é e é capaz de fazer grandiosamente. Nada me encanta mais no ser humano do que os seus valores éticos, a sua inteligência, a sua sensibilidade, e sobretudo, a sua sede desmedida pela busca do conhecimento, bem como a sua conduta social e profissional coerente com os valores éticos que carrega consigo.

O homem, com sua inteligência, dominou quase por completo o planeta, encurtou as distâncias entre os continentes através do avião, televisão e internet, e agora, na sua busca insaciável pelo conhecimento, já explora o espaço sideral para conhecer outros planetas e a cada dia nos surpreende com inventos maravilhosos. Como é maravilhoso conhecer a biografia de pessoas como Albert Einstein, Santos Dumont, Steve Jobs e tantos outros, que nos encantam com sua inteligência. Nas artes e nas ciências em geral o progresso nos surpreende a cada dia. Como é maravilhoso conhecer a melodia de Bethover, a poesia de Carlos Drumond de Andrade e de Vinícius de Morais, a o humor de Ariano Suasuna e Chico Anysio, o talento de Machado de Assis, o tirocínio jurídico de Ruy Barbosa, a liderança e a elegância de Nelson Mandela. E assim, não pararíamos de citar nomes e os prodígios realizados pelo ser humano.

Por outro lado, do céu ao inferno, o homem quando degenera e avilta o seu caráter desce às profundezas dos umbrais, muito abaixo da posição dos animais irracionais, pois se acomodam nos pântanos podres e fétidos, onde vicejam os vibriões. Quando nos deparamos com a cena de um leão correndo e alcançando a sua presa, para depois matá-la e compartilhar a caça  com o seu consorte e filhotes, é a lei natural da sobrevivência – mata-se para não morrer de fome -, todavia, quando assistimos perplexos indivíduos ou grupos Neonazistas perseguindo e matando seres humanos, pelo fato de serem nordestinos, judeus, homossexuais e torcedores de equipe rivais, nos deparamos com o lado mais podre e repugnante do ser humano. Elimina-se uma vida humana por motivos banais, fúteis. Na vida desses energúmenos só existe ira, inveja, ambição desmedida, arrogância, falta de misericórdia, ódio e indiferença. Essas são as ferramentas que alimentam a sua bestialidade e agressividade .Esses indivíduos, além de agressivos, são covardes pois só atacam em grupos e se esconde no anonimato da multidão. O que leva um indivíduo a agir desta forma tão cruel e covarde? Trata-se de um cabeça vazia e desprovida de qualquer valor ético que o distingue como ser humano. É uma besta feroz e cega que ataca suas vítimas movida pela ira tresloucada e irracional temperada com a seiva do preconceito e da arrogância desmedida.

O futebol é um esporte que tem sua própria magia e que desperta a paixão de milhares de pessoas, todavia, continua sendo um dos esportes mais democráticos do mundo. Os aficcionados pelo futebol, os verdadeiros torcedores são pessoas pacíficas que escolhem livremente o seu time de coração e respeita as cores diversas, ou seja, o direito de escolha dos outros. Cada um tem o direito sagrado de escolher a sua religião e de seguir a sua orientação sexual. O nordeste é uma das regiões mais linda do país, cujos nativos contribuíram muito para o engrandecimento do país, seja no trabalho braçal, seja nas artes, ciências e na literatura. O que seria de São Paulo sem o braço do nordestino. Como o país seria sem graça e pobre sem o talento de Castro Alves, Ruy Barbosa, Paulo Freire, Tobias Barreto, Anísio Teixeira, Caetano Veloso, Raul Seixas, Chico Anysio, Renato Aragão, Ariano Suasuna, Racquel de Queiroz, Jorge Amado, Adonias Filho, Milton Santos, João Ubaldo Ribeiro, só para citar alguns monstros sagrados. O Brasil só tem motivos para se orgulhar do nordestino. Somente as bestas feras não conseguem enxergar essa obviedade.

Diante da dor das famílias enlutadas que perderam seus entes queridos estupidamente por atos dessas feras bestiais e ferozes, impõe-se uma reflexão e atitude. Não podemos aceitar passivamente essa prática hedionda, pois amanhã a próxima vítima pode ser você ou alguém próximo , seja parente ou amigo. A proibição de  que membros de torcidas organizadas do Palmeiras e Corinthians tenham acesso aos estádios é um grande avanço, mas não resolve o problema. O legislador precisa tratar esse fenômeno com mais rigor, estabelecendo tipos criminais com penas privativas de liberdade mais longas e os considerando como crimes hediondos, pois seus autores atacam suas vítimas com crueldade e sem qualquer sentimento de misericórdia.

Alguém dirá: é a condição humana que nos faz subir as alturas dos céus, com as nossas ações, caminhando sob a luz da sensibilidade e espiritualidade, mas ao mesmo tempo, é a  mesma condição humana, que nos coloca numa situação inferior a dos animais irracionais, fazendo com que o  homem seja o maior e mais temível predador existente sob a face da terra. Mata-se o irmão impiedosamente por motivos fúteis e torpes. Enquanto a lei não chega, que possamos rezar e pedir a DEUS que a luz toque nessas almas pequenas e as desperte para o  mundo dos valores, da ética, da sensibilidade e da cidadania, a fim de que possam crescer como pessoas e assim conviver pacificamente em nossa sociedade.

Marcos Bandeira é advogado, magistrado aposentado, professor de Direito da UESC e membro da Academia de Letras de Itabuna.

 

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Tributo a Oduque Teixeira

TRIBUTO DA ACADEMIA DE LETRAS E ITABUNA A JOSÉ ODUQUE TEIXEIRA.

1932-2023

 

A ALITA-Academia de Letras de Itabuna, se solidariza com a família e amigos de José Oduque Teixeira, em virtude de seu falecimento.
Respeitado e admirado por todos foi um exemplo de ser humano, empresário e político. Que os bons exemplos deixado por esse grande homem público, sirva de conforto para todos.

Wilson Caitano
Presidente da ALITA

Com profundo pesar a ALITA lamento o falecimento do ex-prefeito, bacharel em Direito e empresário José Oduque Teixeira.
José Oduque contribuiu grandemente com o desenvolvimento socioeconômico da cidade, na qualidade de político e empresário e exerceu importante papel na comunicação jornalística. Tendo sido um dos homens de mais expressiva posse financeira, no sul da Bahia, o empresário sempre atuou com generosidade e absorveu colaboradores jovens, dando-lhes oportunidade de crescimento social e intelectual.
Nesta despedida, manifesto minhas condolências aos seus familiares e amigos, expressando social e intelectualmente grande reconhecimento por seu exemplo e por sua obra cidadã.
Que a sua alma descanse em paz.

 

Heloisa Prazeres

O Ilê Axé Ijexá, terreiro de Candomblé de origem nagô, nação Ijexá, vem a público externar sentimentos pela morte do senhor José Oduque Teixeira, ex-prefeito de Itabuna. Oduque foi um dos nossos padrinhos civis quando da inauguração pública do Terreiro no dia primeiro de janeiro de 1977.

A Oduque também devemos a abertura e pavimentação da Rua Getúlio Vargas, no Bairro Santa Inês, onde se localiza o Terreiro. As benfeitorias que ele proporcionou a Itabuna durante sua gestão de prefeito fazem parte do acervo de cuja memória grapiúna Oduque faz parte.

A comunidade do Ilê Axé, enlutada, reconhece o quanto de benefícios o senhor Oduque Texeira fez por nós. E alçamos pensamentos e corações ao Alto por ele, ao tempo em que temos certeza de continuarmos recebendo suas bênçãos de Padrinho lá, do Orun, de onde certamente ele se lembrará de nós.

Itabuna, 29 de novembro de 2023.

 

Ruy Póvoas Ajalá Deré

Babalorixá

José Oduque Teixeira foi mais do que uma testemunha viva do passar do tempo, ele foi a própria história. Nascido em uma era diferente ele viu a cidade se transformando e se tornou símbolo da resiliência e da força que caracterizam nossa Itabuna.

Além de suas realizações públicas, era no seu jeito simples que Oduque deixou sua marca mais profunda. Sua longa jornada de trabalho, honestidade e sabedoria ficará em nossa memória e continuará inspirar-nos a construir uma cidade melhor.

Descanse em paz, Oduque. Que o céu o acolha como guardião da história e eterno benfeitor de nossa amada Itabuna.

Raquel Rocha

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MUSA RELES  e O POETA- Cyro de Matto

MUSA RELES 

Cyro de Mattos

 

Faço versos para ser útil

sem recorrer à musa

deletéria, prazerosa

de vaselina, serpentina,

o puxa-saquismo no estofo,

em elogio fácil a comida.

No verso sem ideia a sutil

manha que deturpa o belo

com os vícios da besteira.

O pieguismo na estrofe,

nesse lugar onde se reveste

de românticos sentimentos,

nunca lhe satisfaz a droga

da hipocrisia, que hipnotiza

como os trejeitos da farsa

sob o império da mentira.

20 Divisores de texto - Apenas copie e cole. Confira! — Steemit

O POETA

Cyro de Mattos

 

Os que presos

na musa sem brilho

assim me desejam,

desconhecem

que ser poeta

é meu modo

para sobreviver

na carícia de um beijo,

nas voltas de um mistério

quando me sopra o vento.

 

Andar sozinho

sem ambicionar

do mundo nada

a não ser o belo

de como me nutro.

Apenas voar no chão

quem de sonho

embarca no seco.

Se tudo é ilusão,

sonhar é sabê-lo,

criar é preciso

na solidão solidária

de um velho enredo.

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Professor Dourado

TRIBUTO A EDMUNDO DOURADO! -Silvio Porto

Tributo a Edmundo Dourado!

Professor Edmundo Dourado, um mestre da Educação grapiuna.
Homem valoroso, ético e honesto, durante toda sua vida profissional, política e familiar.
Foi professor , vereador, Presidente da Câmara de Vereadores e um ativo participante dos clubes de serviços e atividades sociais de Itabuna.
Defensor intransigente dos bons costumes, da família e da sua querida Itabuna.

Recentemente durante o São João na fazenda do seu genro Ricardo Amaral, tive a sorte e o privilégio de fazer uma entrevista com ele e fiquei mais admirador ainda de suas grandes qualidades, quando discorreu sobre a sua vida política e educacional. Foi um grande aprendizado.

É realmente admirável prestar homenagem a um grande mestre da educação da Bahia e a um político ético e valoroso, pois ambos os campos desempenham um papel fundamental no desenvolvimento de uma sociedade justa e progressista.
Educação é um dos pilares essenciais para o crescimento e transformação de uma nação. Um mestre dedicado e inspirador proporciona não apenas conhecimento, mas também valores, habilidades e perspectivas que moldam o caráter e o futuro dos alunos. Através de sua paixão pela educação, esse grande mestre influenciou positivamente a vida de inúmeras gerações, guiando-os para a excelência acadêmica e formação cidadã.
Da mesma forma, um político ético e valoroso é uma figura crucial para o bem-estar da sociedade como um todo. Enquanto representante do povo, ele se comprometeu com a honestidade, a transparência e o bem comum. Sua conduta exemplar serve como inspiração para outros líderes e cidadãos, além de promover a confiança na política e na gestão pública.
Portanto, uma homenagem a um grande mestre da educação da Bahia e a um político ético e valoroso considero um dever nosso e reconhecer a sua importância para o progresso social da nação Grapiuna e em especial de Itabuna, destacando seu esforços e contribuições em seus respectivos campos. Essa homenagem enaltece seu legado e inspira outros a seguir seus passos, investindo na educação e na atuação política comprometida com a ética e o bem-estar da sociedade.
Deus o acolha na sua infinita bondade.
Itabuna perde hoje um dos seus grande vultos na sua história contemporânea.
Obrigado Dourado!
Seu legado jamais será esquecido por todos que amam Itabuna e reconhecem com gratidão seu valor e a sua linda herança política e cultural para nossa cidade.

Silvio Porto de Oliveira
14/11/2023.

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O AUTOR E O LEITOR- Cyro de Mattos

Primeiro foi o leitor, tempos depois veio o autor, ambos os dois persistem até hoje, o segundo com mais intensidade, em diversos gêneros, a estrada a essa altura comprida. Adotado na escola e universidade. Com reconhecimento e distinções relevantes.  Primeiras leituras da infância foram em almanaque de farmácia e revistas em quadrinhos, ler era então simples passatempo. Vício entre o trivial e a aventura com os meus heróis imbatíveis: Homem Submarino, Batman, Mandrake, Fantasma, Capitão Marvel, Tocha Humana e Durango Kid. A galeria de heróis ampliava-se aos domingos, na matinê do único cinema da cidade. Na tela do Cine Teatro Itabuna: Tarzan, Falcão do Deserto, Roy Rogers, Flash Gordon e Robin Hood, dentre outros.

Descobri Monteiro Lobato graças a seu Zeca Freire, o dono da farmácia. Ele me emprestou dois livros de Monteiro Lobato, As Caçadas de Pedrinho e A menina do nariz arrebitado. Logo percebi que aquele autor vinha para ficar no coração da garotada, com novas vozes do mundo, novas cores do sonho.

Ao retornar das aulas do ginásio na pequena cidade, passava na livraria e papelaria A Agenciadora, que ficava na rua do comércio. Lá fui encontrando, aos poucos, Júlio Verne, Edgard Allan Poe e Charles Dickens. A leitura iniciante do menino do interior ia se enriquecer na Capital, para onde o pai o enviara sob a expectativa de ver mais tarde o filho se tornar um advogado. Lá costumava visitar a biblioteca pública do Estado e a do Colégio da Bahia (Central) e, quase todos os dias, passava na Livraria Civilização Brasileira, na Rua Chile. O estudante buscava nas bibliotecas, livrarias e “sebos” aquele espaço onírico que o prazer da leitura proporciona entre descobertas e sustos, carícia e emoção. O vício da leitura vindo da infância passava a ser um hábito, introduzindo no momento jovial uma prática social do indivíduo que é impelido a usufruir um objeto tecido com os sinais visíveis da escrita.

O ato de ler me faz pensar numa série de observações e sensações, gradações e variações próprias da natureza humana. Ninguém escreve um livro para ficar no fundo da gaveta, por mero diletantismo, razão pela qual não se separa os dois termos da equação livro e leitor. O que pode acontecer é que o autor de livros não passa de um incompetente usuário da palavra mítica e frustrado inventor de poemas ou peças de ficção. Por isso mesmo não fica, nasce morto, não conquista prêmios literários condignos, não possui leitores, seus textos em livro não recebe a atenção da crítica especializada. Evidente que esse tipo de autor não conta.

 O livro como um objeto tecido de elementos que buscam alcançar o leitor não é uma abstração teórica para ocupar tão somente a experiência pessoal do autor numa aventura intelectual. Inventada a história ou produzido o poema, cujo texto materializa-se no objeto escrito, o autor não mais exerce domínio sobre a sua ilusão em forma de linguagem, de um código cifrado no qual entram signos e símbolos. No ato de criar buscou a si e o outro, o apelo do pensamento não pode ficar indiferente. Há que pulsar em sentimentos e gestos, armadilhas e descobertas. Porejar nesse pacto íntimo em que se manifestam situações coincidentes, lembranças, afinidades, recusas, enfim, um relacionamento forte a circular em muitos casos como paixão, ao mesmo tempo que oscila em seu vaivém intervalar entre o amor e o ódio.

O que se espera dos que escrevem um texto literário? Domínio da língua e facilidade em organizá-la ou reinventá-la como linguagem de expressão pessoal. Habilidade no uso dos meios para a criação de uma obra de arte, no caso a obra literária. E, ponto essencial, capacidade para repercutir no outro o que é dele próprio, pensamento e emoção. O conteúdo fica por conta do interesse suscitado pela história inventada ou sentimento de mundo sugerido na ideia fixada através de uma forma eficaz.

Por uma necessidade obsessiva de manifestar pulsões vitais profundas, para conhecer a vida e transmitir o saber inconsciente, dizer o mundo além da superfície, fundá-lo, transformá-lo, escreve-se nesse gesto de solidão solidária, de sacrifício, mas que também dá prazer.  O parto se faz sofrido, entre sombras e ânsias, numa profissão de fé e amanhecer fundamental. O fluxo criativo emerge da tensão no drama, também  da escrita  com  ternura, graça, ludismo, ritmo fácil para fazer alegrias, trazer risos, tão necessários.

 Ler é colher no texto tudo o que foi escrito. É gostar, ver e sentir. Quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê. É se deixar invadir pelo espetáculo da vida posto de maneira atuante através da palavra sensível no texto cheio de significados. Há vários tipos desse personagem que sem a sua participação o livro é coisa morta. Sem circular com o leitor, o livro fica impedido de ampliar suas potencialidades de ver o mundo.

Para o leitor desavisado, comum, sem hábito e intimidade com questões estéticas, de linguagem e técnica, evidente que lhe interessa o livro  com um conteúdo de captura fácil. Este tipo de leitor é também importante, apenas difere daquele que busca os pontos essenciais da vida postos no texto.  Difere apenas no lugar que ocupa no ato da leitura. Para o outro tipo de leitor, o ato da leitura não é simples passatempo e prazer. Decorre da própria dinâmica da vida, dado que texto e homem estão sempre rompendo os limites no prodígio do existir. Para esse tipo de leitor, agora o ato de leitura é uma maneira de escolher a finitude e a grandeza da nossa condição humana. Já não há apenas passatempo e prazer, mas percepção do mundo de forma aguda, modo de revelar-se e impor-se através de uma abertura, sondagem e direção entre infinitas possibilidades vitais, encontro com os sentidos ampliadores de sua dimensão existencial. A leitura para ele pertence a três objetivos básicos do conhecimento: a amplitude, a profundidade e a utilidade. É aliada do autor numa cumplicidade mútua, o privilégio da fruição é substituído pelo da recepção em níveis mais largos. A obra literária não é uma companhia silenciosa, mas acontecimento que repercute a seu lado. Ela abre a sua alma, fala enquanto ele se fala, lê e se lê. Sentidos imaginados e ideias compreendidas num pacto íntimo, emoção e pensamento em vários graus de intensidade, coincidentes ou não.

Um terceiro tipo de leitor percebe-se naquele que escolhe elementos e ideias para uma operação crítica do texto. Separa, descobre, aprofunda, revela caminhos e prodígios que o leitor comum, e até mesmo o consciente de certos sentidos estéticos, não percebe na obra. Refiro-me aos críticos e aos professores de literatura. Necessários, em seus estudos e comentários, critérios explicativos e análises qualitativas, à compreensão do texto literário, através dos elementos que expressam a vida por meios de palavras polivalentes com sua feição mítica.

A leitura de um texto literário requer uma radical modificação em nossa maneira de ver e sentir o mundo. Costuma-se dizer que o gosto pela leitura se adquire pelo hábito de ler. Lento é o aprendizado que vai capacitando a romper com limitados conceitos de vida e predispondo a aceitar outras formas de manifestar o pensamento, dizer o mundo sem ser superficial. Penso que a mais profunda finalidade da arte literária seja a de colocar o ser humano em permanente reintegração e participação com a sua humanidade.

O ato de escrever que se completa com o de ler, enquanto concordância de verdade e beleza, vínculo de gravidade e jogo, equilibra a vida. Torna o viver suportável, essencial, útil, solidário e cativante. Digam que o fato político comanda o mundo. O econômico determina o indivíduo no seu dilema de ser animal faminto e sedento. Dado ser impossível a apreensão total da vida por qualquer forma de conhecimento, só restando captar a sua realidade por via indireta, impõe-se que para representá-la de modo mais abrangente o fato de usar as palavras polivalentes como meios de expressão. Depreende–se então que só a palavra tem o poder de construir verdades essenciais com metáforas, símbolos, alegorias e parábolas. Ou desfazer mentiras com impressões, emoções, sentimentos, que o autor logra extrair da vida. Nessa perspectiva, das rupturas em aceno como possibilidade do amor, em diálogo consciente com o mundo, só a palavra no texto literário, como expressão do eu consciente mais o outro mais o mundo, enriquece e não toma. Com suas mentiras verdadeiras produzidas na mente do autor, na alquimia do espírito, ao leitor oferta as mais amplas possibilidades de conhecer o eu e suas circunstâncias críticas.

Vale a pena repetir quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê. Pouco sabe dos múltiplos significados que, sob a superfície dos seres e objetos, desvendam os lados escuros no mistério da vida.

*Resumo da palestra proferida no Projeto “Encontro com o Leitor”, no “Encontro Estadual do Programa Nacional de Incentivo à Leitura Pró-Ler”, promovido pela Fundação da Biblioteca Nacional, Casa da Leitura-MINC e Rede de Leitura da Bahia, realizada no auditório da Faculdade de Direito da UFBA, em Salvador, 1997.

 

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