QUANTO AMOR PODE CABER EM UMA DESPEDIDA? – Por Raquel Rocha

Há histórias que não se medem em números, mas em vidas tocadas. A da Escola Pio XII é uma delas, uma jornada de 56 anos iniciada pelas mãos firmes, humildes e visionárias de Eliabe Izabel de Moraes. E é também com ela que essa história se encerra.

Fundada em 1969 por Eliabe e sua irmã Eliúde, a Pio XII nasceu pequena, com apenas 36 alunos, em uma casa simples, com carteiras feitas pelo pai das duas moças. Mas desde o princípio carregava o amor à educação, o compromisso com o ser humano, a crença de que ensinar é também cuidar, acolher e transformar

Eliabe dedicou a maior parte da sua vida à escola. Educou três gerações. Viu pais voltarem com os filhos, e depois os filhos voltarem com seus filhos. Como diretora, conheceu de perto centenas de famílias. Acompanhou suas rotinas, desafios, erros e acertos. Viu esforços de mães e pais. Angústias, conquistas, momentos de crise e de superação de cada família. Orientou com firmeza e acolheu com empatia. Fez parte da vida de cada uma dessas família, como educadora, conselheira e, muitas vezes, como amiga.

Sou testemunha desse amor e dessa dedicação. Minhas duas filhas estudaram na Escola Pio XII. E, como toda mãe, eu também sentia aquele receio de deixar minhas filhas pequenas longe de mim. Mas na Pio XII eu não sofri, porque sabia que elas estavam seguras e amadas. Essa escola foi mais do que uma instituição de ensino: foi uma extensão da minha família. E sei que foi assim para muitas outras famílias também. O cuidado, a atenção, a presença constante de Eliabe criaram um ambiente de confiança e afeto que nenhuma mãe vai esquecer.

Agora, aos 56 anos de existência, a Escola Pio XII encerra seu ciclo. Não por falta de amor ou de força, mas porque sua fundadora, sem herdeiros para assumir a missão, entendeu que era hora de concluir com alegria e gratidão essa obra de uma vida inteira.

Encerrar esse CNPJ é, na verdade, eternizá-lo. A Pio XII continuará viva na memória dos que por ela passaram, nos ensinamentos deixados, nas amizades cultivadas, nas escolhas de vida que ali começaram. Eliabe encerra a jornada como começou: com coragem, serenidade e amor

Sua história não termina com o fim da escola. Ela permanece onde sempre esteve: no coração de cada aluno que aprendeu mais do que matérias, aprendeu valores. Permanece na cidade que cresceu junto com a escola. E permanece na certeza de que algumas missões são tão grandiosas que, mesmo quando se encerram, continuam a florescer por gerações.

Obrigada, Eliabe.
Por ter começado, sustentado e concluído com tanta beleza uma obra que é, ao mesmo tempo, escola e testemunho de dedicação.

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EM COMEMORAÇÃO DOS CINQUENTA ANOS DO ILÊ AXÉ IJEXÁ – Por Gustavo Velôso

Em 18/09/2025

Itabuna é palco de histórias que se cruzam como rios invisíveis sob a terra. Entre elas, a da Comunidade Ilê Axé Ijexá, que há cinquenta anos resiste e floresce como árvore antiga, de raízes fundas e copa aberta ao céu.

Para celebrar esse marco, escolhi a simplicidade do haicai — breve como um sopro, denso como um instante que guarda séculos. São três poemas que caminham entre a rua e o terreiro, entre a cidade e o sagrado, entre o eu e o coletivo.

Que o leitor os receba como quem escuta um eco ancestral: palavras pequenas, mas carregadas de eternidade.

Haicai 1

Caminho estreito,

cidade e terreiro —  

história pulsa

Haicai 2

Na rua branca,

silêncio inteiro cabe

dentro do tambor.  

Haicai 3

Orixá fala,

sou eu e não sou eu,

axé de ser.

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O BRANCO DA SEXTA FEIRA – Por Gustavo Velôso

Em 18/09/2025

Recebi pelo WhatsApp um convite incomum: a comemoração dos cinquenta anos do Ilê Axé Ijexá, uma comunidade religiosa de tradição afro-brasileira em Itabuna. O remetente — adivinhei logo — tinha a mão de meu querido amigo e confrade Ruy Póvoas, babalorixá, colega de antigas como servidor da UESC e hoje companheiro da Academia de Letras de Itabuna ALITA. O traje? Branco. Claudinha, previdente, já tinha. Eu, não.

A calça encontrei depressa, num clique. A camisa de linho, mangas compridas, surgiu na internet também, mas vinda de longe — chegaria quando o evento já tivesse transcorrido. Restou a solução tradicional: ir ao centro da cidade em busca do branco exigido. Fizemos isso, compramos camisa e tênis, e aguardamos o dia.

Era sexta-feira, 5 de setembro de 2025, quando seguimos, fim de tarde, de Ferradas até a Rua Getúlio Vargas, 642, no Bairro Santa Inês. Escolhemos o caminho pelo centro — errada a escolha. O trânsito travado retardou o passo, coisa que não teria acontecido se tivéssemos ido pelo semianel rodoviário. Já perto do terreiro, dezenas de carros estacionados denunciavam que a festa seria grande.

Na entrada, dois rapazes recepcionavam: um de branco, outro em roupa comum. Lá dentro, rostos conhecidos acenavam, muitos com aquela alegria simples de reencontro. Preparava-se uma procissão. Depois dela, a concentração no pátio interno e, em seguida, todos ao salão do culto. Gente, em cadeiras de plástico, bancos de madeira ou no chão, aguardava. No palco, três músicos ajeitavam seus instrumentos. Ao lado, um altar discreto esperava a presença maior.

De repente, o batuque começou. O canto coletivo se elevou. Entrou o babalorixá. Silêncio.

Fez-se então um mergulho na memória: lembrou que, em 1975, pedras foram fincadas para erguer o Ilê. Ali não se cultuava apenas o sagrado, mas também a memória de Mejigã, africana escravizada no engenho de Santana, em Ilhéus colonial, e cuja força ancestral se prolongava na casa.

O discurso, sereno e firme, falava de paz, de natureza, de comunidade, de respeito aos mais velhos, de combate ao racismo e à intolerância. O Ilê Axé Ijexá, disse, era um “museu vivo”: um espaço onde memória e tradição se revelam não apenas na arquitetura, mas na dança, na comida, no gesto, no canto.

E havia verdade nisso. A cada oração, a cada cântico, percebia-se que o terreiro não era só um lugar de fé, mas também de política, de ética, de resistência cultural. Recebe pesquisadores do mundo inteiro, abre-se para quem busca cura nos modos afro-brasileiros, e se afirmar como território da vida.

Cantavam-se orikis, aduras, orin, malembes — palavras que, mesmo sem tradução imediata, soavam como música antiga, mais velha que as paredes do salão. Dançava-se não apenas com o corpo, mas com a alma.

E, no fim, a lição: é preciso acreditar.
Na divindade que mora no humano.
Na educação como força de mudança.
No respeito aos mais velhos, no valor do abraço, na fraternidade entre os homens.
E sobretudo — na celebração da vida.

Saímos tarde. O branco da minha roupa já não era o mesmo da vitrine: tinha agora o peso de cantos, de rezas, de suor e de axé. Claudinha me olhou como quem pergunta se valeu a pena. Eu não respondi. Sorri apenas.

Porque certas noites não se explicam. Guardam-se.

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Posse de Ademilton Batista e Jeffson Braga

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Comunicado Oficial – Vacância de Cadeiras

Comunicado Oficial – Vacância de Cadeiras

A Academia de Letras de Itabuna – ALITA comunica que, em Assembleia Ordinária realizada no dia 17 de setembro de 2025, foi aprovada, por unanimidade, a vacância das Cadeiras nº 11 e nº 38, conforme previsto no Regimento Interno da instituição.

Academia de Letras de Itabuna,

18 de setembro de 2025.

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O MAR NA RUA CHILE CONQUISTA — PRÊMIO SABIÁ DE CRÔNICA JUNIOR – Por Cyro de Mattos

O Mar na Rua Chile Conquista

Prêmio Sabiá de Crônica Junior da Revista da Crônica RUBEM

O livro O Mar na Rua Chile e Outras Crônicas foi eleito vencedor do Prêmio Sabiá Junior de 1999, promovido pela Revista da Crônica RUBEM, criada em outubro de 1991 para homenagear o cronista Rubem Braga. O livro foi finalista do Jabuti no ano 2000, o único de crônicas concorrendo com livros de contos de escritores brasileiros importantes. O Mar na Rua Chile teve sua primeira edição pela EDITUS, editora da Universidade Estadual de Santa Cruz, esgotada há 25 anos. Uma segunda edição vai ser realizada breve pela Editora da Assembleia Legislativa do Estado da Bahia – ALBA.

 A notícia de que O Mar na Rua Chile foi o escolhido como vencedor do Prêmio Sabiá de Crônica Junior, o melhor do ano por autor estreante no gênero, em 1999, foi anunciada ao autor do livro no dia 14 deste mês pelos escritores e cronistas Henrique Fendrich e Anthony Almeida, editores da Revista da Crônica RUBEM. Vejam abaixo:

“Prezado Cyro de Mattos,

É com grande alegria que anunciamos que o seu livro O mar na Rua Chile foi eleito vencedor do Prêmio Sabiá de Crônica Júnior de 1999.

O Prêmio Sabiá de Crônica Júnior é uma iniciativa simbólica da Revista Rubem, criada para destacar a cada ano o melhor livro de um cronista estreante. Sua primeira edição oficial acontece em 2025. Entretanto, decidimos também avaliar retrospectivamente quais teriam sido os vencedores em anos anteriores, desde 1910, e compor assim uma tradição literária que reconhece e celebra grandes vozes da crônica brasileira.

Dentro dessa retrospectiva, sua obra se destacou de forma especial, reafirmando a força de sua escrita sensível e a relevância de sua contribuição para a literatura nacional.

Receba, portanto, nossos parabéns e nosso reconhecimento por ter oferecido à crônica brasileira um livro de estreia tão marcante.

Atenciosamente,
Henrique Fendrich e Anthony Almeida
Editores – Revista Rubem”

Entre os vencedores do Prêmio Sabiá de Crônica Junior, desde 1910, compondo assim uma tradição de  expressivo nível no gênero, segundo avaliação da Revista Rubem, estão Humberto de Campos, Olegário Mariano, Álvaro Moreira, José do Patrocínio Filho,  Antônio Alcântara Machado, Ribeiro Couto, Dinah Silveira de Queirós, Genolino Amado, Carlos Heitor Cony, Artur da Távola, Armando Nogueira, Sérgio Porto, Paulo Mendes Campos, Luís Veríssimo, Maria Julieta Drummond de Andrade,  Ruy Guerra, Aldyr Blanc, e os baianos Luís Henrique Dias Tavares, Carlos Eduardo Novais, Carlos Coquejo e Luís Carlos Maciel. Os cronistas Rubem Braga, Fernando Sabino, Rachel de Queiroz, Luís Veríssimo e Carlos Drummond de Andrade foram vencedores do Prêmio Sabiá de Crônica várias vezes na categoria para autor de vários livros de crônica.

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O GRUPO QUE VAI RESISTIR AO TEMPO – Por Gustavo Veloso

O grupo que vai resistir ao tempo

Em: 04/09/2025

No pequeno quadrado iluminado do WhatsApp, onde vozes se encontram sem distância e sem idade, Bertol inaugura a manhã com um texto enviado por uma amiga. Era quase um sermão de vida, desses que parecem nascer do tempo vivido e não das páginas de qualquer manual. A mensagem falava dos ciclos da existência, do trabalho que cedo ou tarde nos descarta, da sociedade que aos poucos nos esquece, da família que se ocupa de suas próprias jornadas e, por fim, da Terra, que nos devolve ao pó. Tudo isso entremeado de uma oração simples, de gratidão e de súplica.

Rilvan, tocado pelo tom, respondeu:

— Concordo em gênero, número e grau.

O silêncio breve foi quebrado por Sione, que trouxe à lembrança a figura de um vizinho:

— Um vizinho nosso, casado com uma amiga da minha família, era uma pessoa extraordinária, de coração solidário.
Margarida, mais literária, pediu licença. Sua voz parecia sair de um livro:

— No meu segundo romance, havia um personagem que fora rico e poderoso. Ao final dos dias, sozinho, órfão de amigos e de família, passava as tardes à porta da casa, implorando por um dedo de prosa. Onde ficaram as festas, os cristais, as noites de discussão política? Restou-lhe apenas a solidão.

Bertol, sensível ao peso da cena, devolveu:

— Bem assim. É necessário respeitar o tempo e seus ciclos. De onde o adágio: “O tempo destrói aqueles que zombam dele”.
A conversa, como em roda de amigos à beira de uma praça, foi se aprofundando.

Margarida, agradecida:

— Vocês sabem coisas lindas e verdadeiras.

E Bertol arrematou com um sopro estoico:
— “Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida”.

O fio da prosa seguiu com pequenas confidências sobre a revista citada, sua circulação e o envio de exemplares por e-mail. Mas o ponto alto ainda estava por vir, quando Baísa, com o entusiasmo de quem encontra um farol literário, recordou:
— Gosto muito de uma frase de Gabriel García Márquez: “Envelhecer bem é fazer um pacto digno com a solidão”.

E logo completou, quase como um conselho de avô:
— As possíveis soluções seriam gostar de sua própria companhia, ter vida interior e conservar os amigos que ainda estão vivos.

No fim, Raquel, mais leve, riu da própria expectativa:
— Eu tenho tanto filme pra assistir e tanto livro pra ler na minha velhice, que não vou me preocupar com a solidão.

E assim, entre reflexões filosóficas, lembranças de romances, citações de prêmios Nobel e promessas de filmes e livros, o grupo reafirmou sua razão de ser: a amizade que, mesmo no formato eletrônico, resiste ao tempo.

Porque, como dizia a mensagem inicial, quando tudo nos eliminar — o trabalho, a sociedade, a família e até a Terra — ainda haverá a alegria de um grupo de WhatsApp, onde um simples “bom dia” basta para devolver a sensação de que não estamos sozinhos.

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NOTA DE PESAR – Roberto Basílio Fialho

 

 

Nota de Pesar

A Academia de Letras de Itabuna (ALITA) lamenta profundamente o falecimento do professor Roberto Basílio Fialho, carinhosamente conhecido como Tio Beto.

Referência no Ballet e

 na dança, atuou com maestria na escola Thu e Cia e como professor da UESB, deixando marcas de carinho na formação de seus alunos e no fortalecimento da cultura em nossa região.

Tio Beto fez da arte seu ofício e da dança um caminho de beleza, disciplina e sensibilidade. Sua partida representa uma grande perda para o universo cultural e artístico de Itabuna.

À família, amigos, colegas e alunos, a ALITA expressa sua solidariedade e votos de conforto neste momento de despedida.

Itabuna, 23 de agosto de 2025

Raquel Rocha
Presidente
Academia de Letras de Itabuna – ALITA

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UM OLHAR SOBRE SAMBORÁ, DE RUY PÓVOAS – Por Margarida Cordeiro Fahel

Margarida Cordeiro Fahel

Ruy do Carmo Póvoas lançou o seu SAMBORÁ. Chegou ele em junho deste nosso 2025. Poeta avassalador, assim o vejo, no sentido de uma produção efervescente. Parece não dormir, nem labutar com o cotidiano da vida. Grande engano! O poeta descansa? Talvez muito pouco, pois trabalha,  estuda, pesquisa, ora, lidera e escreve. Parece que  versos em profusão recaem em cataratas sobre ele. Aliás, o poeta deve lembrar, com sua prodigiosa memória, de um sonho já de antigos anos, com uma velha casa, numa beira de estrada, na qual do seu reservatório, que deveria conter água, saiam pilhas em cachoeiras. PILHAS! Não pareciam mostrar a marca.Hoje, nesta lembrança chegada, imagino a analogia: estariam ali os versos borbulhantes que chegariam em cascata? E o poeta obedientemente os acolhe e lhes dá sua voz? Deve haver  uma  musa que faz dele o que quer. E ele obedece,   suponho, não importa o dia, não importa noite ou madrugada.

E esse seu SAMBORÁ encanta: às vezes, o verso é até doce como o mel, mas, em muitas outras, há uma certa acidez contida, ou mesmo meio escondida. Porém, numa sede de descobertas, SAMBORÁ indaga e ousa revelar. Para mim, o poeta não gostaria de tanto revelar-se. A culpa é  do SAMBORÁ… Os versos de Ruy Póvoas, numa cadência poética suavemente percebida, expressam a visão de mundo do poeta ou, mais exatamente, como ele o sente.  Sentir ou  pensar? Qual seria a percepção real? Uma visão convicta de mundo? Qual seria ela? A brevidade da vida? O inevitável das coisas? A impossibilidade de fugir ao previsto? Mas percebo então com surpresa, em alguns momentos, que o poeta já não se entristece, nem se revolta. E parece agora enxergar “o universo e a vida”, as coisas, as gentes e os fatos dentro de si mesmo, para assim melhor compreendê-los, interpretá-los e até perdoá-los. Em SAMBORÁ, quem sabe pela doçura do mel, o poeta até aconselha a aceitação, da qual  poderíamos mesmo duvidar. Entretanto, ali está dito, claro como mel.

O poeta Ruy Póvoas faz poesia filosófica, na maioria das vezes, embora em alguns momentos, brincando com as palavras, não sabemos se ele fala a sério. Ele é um sabedor das palavras e as usa com graça, por muitos momentos, em outros com empenho, com força, manipulando-as com seu profundo conhecimento e até esclarecendo-as, como pesquisador que é,  escolhendo  a cor e a textura que lhe convém.

Não estou, neste momento, fazendo uma análise crítico-literária dos poemas de SAMBORÁ, num sentido rigidamente acadêmico. Isso talvez fique para outro momento, quem sabe… Na verdade, preocupo-me  apenas em falar sobre como o senti, de como entendi e enxergo o poeta neste seu SAMBORÁ. E o vejo como uma alma sempre a expressar uma visão de mundo, e uma profunda necessidade de compreender, interpretar e aceitar a realidade, realidade que se faz história, na difícil caminhada humana sobre a terra. É algo vital, na profundidade maior do termo. Como ele a enxerga, como a recebe, e como a transforma e elabora em si mesmo.

Alguns poemas, tais como COSMOGONIA, COROLÁRIO, CONSCIÊNCIA, DINASTIA, ELA, ESCOLHA, GARANTIA, DESASTRE e ENIGMA, dentre outros, a mim  pareceram mais reveladores, mais evidentes do que  o poeta precisa ou quer demonstrar,  ou, ainda, daquilo que o persegue.Entretanto, cada leitor poderá descobrir muitos outros DADOS EVIDENTES,  conforme seu próprio entender, sentir, ou até decifrar. E aqui relembro que o “dado evidente” é algo fundamental na concepção literária desse escritor.

Enfim, este é apenas um comentário cujo propósito, repito, é evidenciar a força da palavra poética em Ruy Póvoas, conforme  a recebi do seu dourado SAMBORÁ, que é mel, mas não deixa de lembrar-nos o SAMBURÁ, um cesto artesanal  típico do viver  de  nossa gente. E  eu aqui o trago, evocando o  parentesco fonético, e o  que ele tem  de  belo no seu trançado, falando -nos de coisas também guardadas, às vezes doces, às vezes amargas, mal entrevistas através das  frestas do torcido emaranhado,  inteligente e belo que lhe dá forma.

 Assim, SAMBORÁ e SAMBURÁ: um dentro do outro. E brinco com o poeta, desculpando-me por essa breve mistura de mel e cipó…

 

Margarida Cordeiro Fahel

Cadeira 29 da Academia de Letras de Itabuna -ALITA. Patrono GIL NUNESMAIA.

 

PÓVOAS, Ruy do Carmo. SAMBORÁ,Ibicaraí, BA: Via Litterarum, 2025.

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NOTA DE PESAR – João Augusto Alves de Oliveira Pinto

A Academia de Letras de Itabuna – ALITA manifesta seu profundo pesar pelo falecimento do desembargador João Augusto Alves de Oliveira Pinto, ocorrido na madrugada desta terça-feira, 19 de agosto de 2025.

Natural de Itabuna, João Augusto Pinto formou-se em Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 1977, onde também concluiu o mestrado em 1996. Ao longo de sua sólida carreira no Judiciário baiano, exerceu a magistratura em diversas comarcas do estado — entre elas Santa Terezinha, Uruçuca, Feira de Santana, Itabuna e Santo Amaro — sendo promovido por mérito à capital em 1994, onde passou a integrar a Corte do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA).

João Augusto Alves de Oliveira Pinto foi exemplo de retidão, equilíbrio e dedicação à causa da Justiça. Seu legado permanece não apenas nas decisões que proferiu, mas também no respeito que conquistou entre colegas, servidores e cidadãos.

Neste momento de dor, a ALITA se solidariza com toda a família enlutada, desejando força, serenidade e consolo.

Raquel Rocha
Presidente

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