O MAR NA RUA CHILE CONQUISTA — PRÊMIO SABIÁ DE CRÔNICA JUNIOR – Por Cyro de Mattos

O Mar na Rua Chile Conquista

Prêmio Sabiá de Crônica Junior da Revista da Crônica RUBEM

O livro O Mar na Rua Chile e Outras Crônicas foi eleito vencedor do Prêmio Sabiá Junior de 1999, promovido pela Revista da Crônica RUBEM, criada em outubro de 1991 para homenagear o cronista Rubem Braga. O livro foi finalista do Jabuti no ano 2000, o único de crônicas concorrendo com livros de contos de escritores brasileiros importantes. O Mar na Rua Chile teve sua primeira edição pela EDITUS, editora da Universidade Estadual de Santa Cruz, esgotada há 25 anos. Uma segunda edição vai ser realizada breve pela Editora da Assembleia Legislativa do Estado da Bahia – ALBA.

 A notícia de que O Mar na Rua Chile foi o escolhido como vencedor do Prêmio Sabiá de Crônica Junior, o melhor do ano por autor estreante no gênero, em 1999, foi anunciada ao autor do livro no dia 14 deste mês pelos escritores e cronistas Henrique Fendrich e Anthony Almeida, editores da Revista da Crônica RUBEM. Vejam abaixo:

“Prezado Cyro de Mattos,

É com grande alegria que anunciamos que o seu livro O mar na Rua Chile foi eleito vencedor do Prêmio Sabiá de Crônica Júnior de 1999.

O Prêmio Sabiá de Crônica Júnior é uma iniciativa simbólica da Revista Rubem, criada para destacar a cada ano o melhor livro de um cronista estreante. Sua primeira edição oficial acontece em 2025. Entretanto, decidimos também avaliar retrospectivamente quais teriam sido os vencedores em anos anteriores, desde 1910, e compor assim uma tradição literária que reconhece e celebra grandes vozes da crônica brasileira.

Dentro dessa retrospectiva, sua obra se destacou de forma especial, reafirmando a força de sua escrita sensível e a relevância de sua contribuição para a literatura nacional.

Receba, portanto, nossos parabéns e nosso reconhecimento por ter oferecido à crônica brasileira um livro de estreia tão marcante.

Atenciosamente,
Henrique Fendrich e Anthony Almeida
Editores – Revista Rubem”

Entre os vencedores do Prêmio Sabiá de Crônica Junior, desde 1910, compondo assim uma tradição de  expressivo nível no gênero, segundo avaliação da Revista Rubem, estão Humberto de Campos, Olegário Mariano, Álvaro Moreira, José do Patrocínio Filho,  Antônio Alcântara Machado, Ribeiro Couto, Dinah Silveira de Queirós, Genolino Amado, Carlos Heitor Cony, Artur da Távola, Armando Nogueira, Sérgio Porto, Paulo Mendes Campos, Luís Veríssimo, Maria Julieta Drummond de Andrade,  Ruy Guerra, Aldyr Blanc, e os baianos Luís Henrique Dias Tavares, Carlos Eduardo Novais, Carlos Coquejo e Luís Carlos Maciel. Os cronistas Rubem Braga, Fernando Sabino, Rachel de Queiroz, Luís Veríssimo e Carlos Drummond de Andrade foram vencedores do Prêmio Sabiá de Crônica várias vezes na categoria para autor de vários livros de crônica.

O MAR NA RUA CHILE CONQUISTA — PRÊMIO SABIÁ DE CRÔNICA JUNIOR – Por Cyro de Mattos Read More »

O GRUPO QUE VAI RESISTIR AO TEMPO – Por Gustavo Veloso

O grupo que vai resistir ao tempo

Em: 04/09/2025

No pequeno quadrado iluminado do WhatsApp, onde vozes se encontram sem distância e sem idade, Bertol inaugura a manhã com um texto enviado por uma amiga. Era quase um sermão de vida, desses que parecem nascer do tempo vivido e não das páginas de qualquer manual. A mensagem falava dos ciclos da existência, do trabalho que cedo ou tarde nos descarta, da sociedade que aos poucos nos esquece, da família que se ocupa de suas próprias jornadas e, por fim, da Terra, que nos devolve ao pó. Tudo isso entremeado de uma oração simples, de gratidão e de súplica.

Rilvan, tocado pelo tom, respondeu:

— Concordo em gênero, número e grau.

O silêncio breve foi quebrado por Sione, que trouxe à lembrança a figura de um vizinho:

— Um vizinho nosso, casado com uma amiga da minha família, era uma pessoa extraordinária, de coração solidário.
Margarida, mais literária, pediu licença. Sua voz parecia sair de um livro:

— No meu segundo romance, havia um personagem que fora rico e poderoso. Ao final dos dias, sozinho, órfão de amigos e de família, passava as tardes à porta da casa, implorando por um dedo de prosa. Onde ficaram as festas, os cristais, as noites de discussão política? Restou-lhe apenas a solidão.

Bertol, sensível ao peso da cena, devolveu:

— Bem assim. É necessário respeitar o tempo e seus ciclos. De onde o adágio: “O tempo destrói aqueles que zombam dele”.
A conversa, como em roda de amigos à beira de uma praça, foi se aprofundando.

Margarida, agradecida:

— Vocês sabem coisas lindas e verdadeiras.

E Bertol arrematou com um sopro estoico:
— “Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida”.

O fio da prosa seguiu com pequenas confidências sobre a revista citada, sua circulação e o envio de exemplares por e-mail. Mas o ponto alto ainda estava por vir, quando Baísa, com o entusiasmo de quem encontra um farol literário, recordou:
— Gosto muito de uma frase de Gabriel García Márquez: “Envelhecer bem é fazer um pacto digno com a solidão”.

E logo completou, quase como um conselho de avô:
— As possíveis soluções seriam gostar de sua própria companhia, ter vida interior e conservar os amigos que ainda estão vivos.

No fim, Raquel, mais leve, riu da própria expectativa:
— Eu tenho tanto filme pra assistir e tanto livro pra ler na minha velhice, que não vou me preocupar com a solidão.

E assim, entre reflexões filosóficas, lembranças de romances, citações de prêmios Nobel e promessas de filmes e livros, o grupo reafirmou sua razão de ser: a amizade que, mesmo no formato eletrônico, resiste ao tempo.

Porque, como dizia a mensagem inicial, quando tudo nos eliminar — o trabalho, a sociedade, a família e até a Terra — ainda haverá a alegria de um grupo de WhatsApp, onde um simples “bom dia” basta para devolver a sensação de que não estamos sozinhos.

O GRUPO QUE VAI RESISTIR AO TEMPO – Por Gustavo Veloso Read More »

NOTA DE PESAR – Roberto Basílio Fialho

 

 

Nota de Pesar

A Academia de Letras de Itabuna (ALITA) lamenta profundamente o falecimento do professor Roberto Basílio Fialho, carinhosamente conhecido como Tio Beto.

Referência no Ballet e

 na dança, atuou com maestria na escola Thu e Cia e como professor da UESB, deixando marcas de carinho na formação de seus alunos e no fortalecimento da cultura em nossa região.

Tio Beto fez da arte seu ofício e da dança um caminho de beleza, disciplina e sensibilidade. Sua partida representa uma grande perda para o universo cultural e artístico de Itabuna.

À família, amigos, colegas e alunos, a ALITA expressa sua solidariedade e votos de conforto neste momento de despedida.

Itabuna, 23 de agosto de 2025

Raquel Rocha
Presidente
Academia de Letras de Itabuna – ALITA

NOTA DE PESAR – Roberto Basílio Fialho Read More »

UM OLHAR SOBRE SAMBORÁ, DE RUY PÓVOAS – Por Margarida Cordeiro Fahel

Margarida Cordeiro Fahel

Ruy do Carmo Póvoas lançou o seu SAMBORÁ. Chegou ele em junho deste nosso 2025. Poeta avassalador, assim o vejo, no sentido de uma produção efervescente. Parece não dormir, nem labutar com o cotidiano da vida. Grande engano! O poeta descansa? Talvez muito pouco, pois trabalha,  estuda, pesquisa, ora, lidera e escreve. Parece que  versos em profusão recaem em cataratas sobre ele. Aliás, o poeta deve lembrar, com sua prodigiosa memória, de um sonho já de antigos anos, com uma velha casa, numa beira de estrada, na qual do seu reservatório, que deveria conter água, saiam pilhas em cachoeiras. PILHAS! Não pareciam mostrar a marca.Hoje, nesta lembrança chegada, imagino a analogia: estariam ali os versos borbulhantes que chegariam em cascata? E o poeta obedientemente os acolhe e lhes dá sua voz? Deve haver  uma  musa que faz dele o que quer. E ele obedece,   suponho, não importa o dia, não importa noite ou madrugada.

E esse seu SAMBORÁ encanta: às vezes, o verso é até doce como o mel, mas, em muitas outras, há uma certa acidez contida, ou mesmo meio escondida. Porém, numa sede de descobertas, SAMBORÁ indaga e ousa revelar. Para mim, o poeta não gostaria de tanto revelar-se. A culpa é  do SAMBORÁ… Os versos de Ruy Póvoas, numa cadência poética suavemente percebida, expressam a visão de mundo do poeta ou, mais exatamente, como ele o sente.  Sentir ou  pensar? Qual seria a percepção real? Uma visão convicta de mundo? Qual seria ela? A brevidade da vida? O inevitável das coisas? A impossibilidade de fugir ao previsto? Mas percebo então com surpresa, em alguns momentos, que o poeta já não se entristece, nem se revolta. E parece agora enxergar “o universo e a vida”, as coisas, as gentes e os fatos dentro de si mesmo, para assim melhor compreendê-los, interpretá-los e até perdoá-los. Em SAMBORÁ, quem sabe pela doçura do mel, o poeta até aconselha a aceitação, da qual  poderíamos mesmo duvidar. Entretanto, ali está dito, claro como mel.

O poeta Ruy Póvoas faz poesia filosófica, na maioria das vezes, embora em alguns momentos, brincando com as palavras, não sabemos se ele fala a sério. Ele é um sabedor das palavras e as usa com graça, por muitos momentos, em outros com empenho, com força, manipulando-as com seu profundo conhecimento e até esclarecendo-as, como pesquisador que é,  escolhendo  a cor e a textura que lhe convém.

Não estou, neste momento, fazendo uma análise crítico-literária dos poemas de SAMBORÁ, num sentido rigidamente acadêmico. Isso talvez fique para outro momento, quem sabe… Na verdade, preocupo-me  apenas em falar sobre como o senti, de como entendi e enxergo o poeta neste seu SAMBORÁ. E o vejo como uma alma sempre a expressar uma visão de mundo, e uma profunda necessidade de compreender, interpretar e aceitar a realidade, realidade que se faz história, na difícil caminhada humana sobre a terra. É algo vital, na profundidade maior do termo. Como ele a enxerga, como a recebe, e como a transforma e elabora em si mesmo.

Alguns poemas, tais como COSMOGONIA, COROLÁRIO, CONSCIÊNCIA, DINASTIA, ELA, ESCOLHA, GARANTIA, DESASTRE e ENIGMA, dentre outros, a mim  pareceram mais reveladores, mais evidentes do que  o poeta precisa ou quer demonstrar,  ou, ainda, daquilo que o persegue.Entretanto, cada leitor poderá descobrir muitos outros DADOS EVIDENTES,  conforme seu próprio entender, sentir, ou até decifrar. E aqui relembro que o “dado evidente” é algo fundamental na concepção literária desse escritor.

Enfim, este é apenas um comentário cujo propósito, repito, é evidenciar a força da palavra poética em Ruy Póvoas, conforme  a recebi do seu dourado SAMBORÁ, que é mel, mas não deixa de lembrar-nos o SAMBURÁ, um cesto artesanal  típico do viver  de  nossa gente. E  eu aqui o trago, evocando o  parentesco fonético, e o  que ele tem  de  belo no seu trançado, falando -nos de coisas também guardadas, às vezes doces, às vezes amargas, mal entrevistas através das  frestas do torcido emaranhado,  inteligente e belo que lhe dá forma.

 Assim, SAMBORÁ e SAMBURÁ: um dentro do outro. E brinco com o poeta, desculpando-me por essa breve mistura de mel e cipó…

 

Margarida Cordeiro Fahel

Cadeira 29 da Academia de Letras de Itabuna -ALITA. Patrono GIL NUNESMAIA.

 

PÓVOAS, Ruy do Carmo. SAMBORÁ,Ibicaraí, BA: Via Litterarum, 2025.

UM OLHAR SOBRE SAMBORÁ, DE RUY PÓVOAS – Por Margarida Cordeiro Fahel Read More »

NOTA DE PESAR – João Augusto Alves de Oliveira Pinto

A Academia de Letras de Itabuna – ALITA manifesta seu profundo pesar pelo falecimento do desembargador João Augusto Alves de Oliveira Pinto, ocorrido na madrugada desta terça-feira, 19 de agosto de 2025.

Natural de Itabuna, João Augusto Pinto formou-se em Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 1977, onde também concluiu o mestrado em 1996. Ao longo de sua sólida carreira no Judiciário baiano, exerceu a magistratura em diversas comarcas do estado — entre elas Santa Terezinha, Uruçuca, Feira de Santana, Itabuna e Santo Amaro — sendo promovido por mérito à capital em 1994, onde passou a integrar a Corte do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA).

João Augusto Alves de Oliveira Pinto foi exemplo de retidão, equilíbrio e dedicação à causa da Justiça. Seu legado permanece não apenas nas decisões que proferiu, mas também no respeito que conquistou entre colegas, servidores e cidadãos.

Neste momento de dor, a ALITA se solidariza com toda a família enlutada, desejando força, serenidade e consolo.

Raquel Rocha
Presidente

NOTA DE PESAR – João Augusto Alves de Oliveira Pinto Read More »

NOTA DE REPÚDIO- Contra toda forma de violência contra a mulher

NOTA DE REPÚDIO

Contra toda forma de violência contra a mulher

A Academia de Letras de Itabuna – ALITA vem a público manifestar profundo pesar e total repúdio ao crime bárbaro que vitimou três mulheres — Maria Helena do Nascimento Bastos, Mariana Bastos da Silva e Alexsandra Oliveira Suzart — brutalmente assassinadas no município de Ilhéus, no último dia 16 de agosto de 2025.

As vítimas, conhecidas por sua contribuição à educação e à vida comunitária, foram violentamente retiradas do convívio de seus familiares, amigos e da sociedade, em um episódio que choca não apenas pela crueldade dos atos, mas por revelar, mais uma vez, o cenário alarmante da violência contra a mulher no Brasil.

Como instituição dedicada à cultura, ao pensamento e à dignidade humana, a ALITA reafirma seu compromisso com os direitos das mulheres, com a justiça e com o respeito à vida. Não podemos nos calar diante de tamanha brutalidade. A palavra, que é nossa essência, se torna também instrumento de denúncia e de consciência.

Nos solidarizamos com as famílias e comunidades enlutadas, com os profissionais da educação de Ilhéus e com todas as mulheres que seguem enfrentando os riscos e marcas da violência todos os dias.

Conclamamos as autoridades para que conduzam as investigações com celeridade e rigor, para que os responsáveis sejam identificados e punidos com todo o peso da lei.

Itabuna, 19 de agosto de 2025

Raquel Rocha

Presidente

Academia de Letras de Itabuna – ALITA

 

 

 

 

NOTA DE REPÚDIO- Contra toda forma de violência contra a mulher Read More »

O AMIGO JORGE AMADO – Por Cyro de Mattos

Enviei o primeiro livro que escrevi para Jorge Amado, seguindo conselho do amigo João Ubaldo Ribeiro, companheiro de geração. Não esperava que viesse alguma opinião dele sobre o meu pequeno volume de contos, riscado anos depois de minha bibliografia por ter sido escrito por autor imaturo. O texto envelheceu cedo. Fiquei surpreso por ver um livro de autor desconhecido ser apresentado à Academia Brasileira de Letras com palavras favoráveis do consagrado romancista Jorge Amado.

Outros livros meus foram merecedores de artigos com elogio por parte de Jorge Amado. Eram opiniões impressionistas, mas abonadas com a sensibilidade de quem mais conhece os caminhos do fazer literário na recriação da vida. E mais: ele publicava os artigos que escrevia sobre meus livros em jornais importantes como A Tarde, Jornal de Letras (Rio), Suplemento do Jornal do Brasil, Jornal do Comércio (Rio) e Suplemento Literário de Minas Gerais.

Esses gestos do criador de Tocaia Grande (Record,1984) aconteceram com outros escritores, emergentes, com obra em andamento, consagrados, baianos ou não. Ele sempre enriquecia o companheiro de letras com suas opiniões, sem esperar nada em troca. Prefácios, orelhas, artigos, depoimentos, apresentações à Academia Brasileira de Letras, um legado literário da melhor qualidade está aí espalhado com o abono do escritor tão lido e traduzido em língua portuguesa sobre livros de nossos escritores. Textos que formam um valioso legado, se coligidos, servindo como importante contribuição à nossa literatura.

Com João Ubaldo Ribeiro era diferente. Certa vez, o autor maiúsculo do romance Viva o povo brasileiro (Nova Fronteira, 1984), disse-me que não escrevia prefácio ou artigo para quem recorresse aos seus préstimos porque podia não gostar do livro e aí o suplicante, que certamente queria receber elogio, poderia com a sua sinceridade se tornar um inimigo dele. Além disso, não queria se desconcentrar de seu ofício, sempre estava escrevendo um livro ou texto, não ia deixar de lado o que estava escrevendo e centrar-se sobre quem devia abrir seus próprios caminhos com suas ferramentas e crenças, sem se apegar na muleta alheia, mas acreditando nas suas qualidades.

Neste sentido, sempre concordei e respeitei as atitudes de João Ubaldo. Ele se tornou um dos meus amigos prediletos, criatura do bem, espírito alegre, colega inesquecível da turma de 1962, na Faculdade de Direito da UFBA. Nunca quis me aproveitar de meu bom relacionamento com o consagrado ficcionista e receber dele a opinião favorável de meus escritos. Fiz minha carreira literária com os meus textos publicados em livros, meus prêmios relevantes, que tornaram minha obra com mais visibilidade. Enviei em vários casos os originais de meus livros para as editoras, sem temer que fossem aprovados ou não para publicação, depois da leitura crítica do conselho editorial.

Ao escrever sobre Palhaço Bom de Briga (L&PM Editores, 1993), um dos meus livros para as crianças, em artigo publicado em forma de missiva, dirigida ao romancista Josué Montelo, então presidente da Academia Brasileira de Letras, Jorge Amado chegou ao ponto de lembrar meu nome para fazer parte daquela importante instituição das letras brasileiras. Houve exagero. Só mesmo Jorge, com o seu coração doce como mel de cacau, podia distinguir assim meu nome, em gesto que comovia, servia como incentivo para que eu nunca desistisse em minha jornada literária. Embora eu já fosse autor nessa época de mais de vinte livros, entre volumes de contos, poesia e literatura infantojuvenil. Havia conquistado alguns prêmios literários importantes e, entre eles, o Prêmio Nacional Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras, por unanimidade, para o meu livro Os Brabos (Civilização Brasileira, 1979), o da Associação Paulista dos Críticos de Artes para O Menino Camelô (Atual Editora, 1992, 12ª. Edição), Menção Honrosa do Jabuti para Os Recuados (Editora Tchê!1987) e várias vezes fui agraciado com o primeiro lugar nos certames promovidos pela União Brasileira de Escritores (RJ).

Jorge Amado exercia a amizade como uma coisa nata, tão dele. E me mostrava sempre que com as mãos nas mãos, o gesto desprovido de interesses pessoais, desligado da religião do egoísmo, tudo fica mais fácil. Com ele não entravam no exercício da vida a inveja e a intriga. Dava-me conta por isso que existia ainda o homem simples como o artista, embora fosse comum encontrar na vida o artista vaidoso e invejoso como o homem.

O AMIGO JORGE AMADO – Por Cyro de Mattos Read More »

CONVOCAÇÃO – ASSEMBLEIA GERAL

EDITAL DE CONVOCAÇÃO – ASSEMBLEIA GERAL

A Academia de Letras de Itabuna, com sede na Reitoria da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), situada à Praça Jose Bastos s/n, Centro, Itabuna Estado da Bahia, por ordem da presidente Raquel Silva Rocha, no uso de suas atribuições, convoca os membros efetivos para a assembleia  geral  ordinária, a realizar-se no dia 16 de setembro de 2025, na modalidade online, 19:00, em primeira convocação, com a presença da maioria absoluta dos votantes e, em segunda convocação, 20:00 com qualquer número de presentes conforme preceitua  o artigo 12, parágrafo único do Regimento da ALITA , com a seguinte Ordem do Dia:

  1. Leitura e aprovação da ata da reunião anterior.
  2. Atualizações sobre a gravação dos documentários com os membros.
  3. Informativo: redução do valor da mensalidade.
  4. Informativo: compêndio Biográfico- Volume 1
  5. Informativo: posse dos Novos Membros
  6. Informativo: conquista da Utilidade Pública
  7. Informativo: medalha Jorge Amado
  8. Membros Ausentes
  9. Informativo da Tesouraria: inadimplência
  10. Declaração de vacância
  11. Assuntos gerais (O que ocorrer).

Este Edital será publicado no site Academia de Letras de Itabuna.

Itabuna, 15 de agosto

 

Eliabe Izabel de Moraes

Primeira Secretária

CONVOCAÇÃO – ASSEMBLEIA GERAL Read More »

SEMPRE ALERTA – Por Silvio Porto de Oliveira

Sempre Alerta!

Naquele tempo em que a infância ainda cabia nos pés descalços e nos olhos curiosos, eu fui Lobinho. Tinha dez anos e o mundo era uma grande trilha a ser desbravada com coragem e alegria. Nosso Akelá – o guia da alcateia, o sábio da floresta das histórias de Kipling – chamava-se Baracat. Nome forte, rosto severo, mas com um coração que sabia sorrir quando via um de nós aprender algo novo.

Aos sábados, vestíamos o uniforme como quem se revestia de um sonho. Lenço no pescoço, meias até o joelho, boné com a insígnia bordada. Aquilo não era só pano e emblemas: era símbolo de pertencimento, de honra infantil. A disciplina vinha como vento que molda, e nossos pequenos corpos aprendiam o valor do esforço, do cuidado, da prontidão.

A estrutura dos Escoteiros da época era firme como tronco de jequitibá. O Major Dórea, figura imponente, coordenava tudo com olhar atento, disciplina militar, mas sempre justo. Sob seu comando, aprendíamos que a obediência não era submissão, mas escolha de caminho.

Foi como Lobinho que fiz minha primeira comunhão. Um momento sagrado vivido entre irmãos de lenço e promessas. Lá estavam Wandick, Bob, Nando, Carlos Auad, Samuel Luna… Nomes que ainda hoje sopram lembranças doces. A celebração foi na capela da Ação Fraternal de Itabuna — templo simples, mas repleto de fé e vozes suaves. A luz da manhã atravessava os vitrais e repousava sobre nossas cabeças como bênção invisível.

Lembro que, antes de comungar, revimos o nosso lema: “Sempre Alerta!”. Palavras curtas, mas com a força de um grito de vida. Estar alerta era mais do que vigiar: era viver com presença, respeitar o outro, estar pronto para servir.

Não foram apenas nós que crescemos naquela época. Foi também o caráter, a amizade, o espírito de coletividade. Fomos moldados na madeira dos bons valores, na rocha da fraternidade e no riso que brotava fácil, mesmo depois de uma trilha difícil ou uma tarefa malfeita.

Hoje, ao lembrar daquela alcateia, meu coração ainda se põe em formação. E o menino que fui continua ali, com o lenço no pescoço e os olhos brilhando, pronto para repetir o grito de guerra da infância que nunca nos deixou:

— Sempre Alerta!

Silvio Porto de Oliveira.
Em 02/08/2025

SEMPRE ALERTA – Por Silvio Porto de Oliveira Read More »

GURIATÃ, O INTÉRPRETE (II) – Por Rilvan Santana

Guriatã, o intérprete (II)

R. Santana 

 

    Os poetas cantaram muito em seus versos o sabiá, o bem-te-vi, o zabelê, o curió, o beija-flor, o colibri, asa-branca, pombo-correio, pássaro-preto, rouxinol, mas eles foram um pouco injusto com o único intérprete da mata, para uns, guriatã, gurinhatã, guriatã-de-coqueiro; para outros, tico-tico-do-campo, gaturamo e baíra-amarela e para o douto: “Euphonia violacea”, Ammodramus humeraralis”, “Tangara cayana”, a mim que não sou doutor nem regionalista: “Guriatã, o intérprete”, pois o pequenino pássaro, o cantor da orla e da mata, imita com perfeição todos os outros.

     Em 1610, o padre português Jacome Monteiro, escreve ao rei de Portugal: “É o pássaro mais músico de quanto há nesta Província, porque arremeda a todos os mais, e por isso o chamaram de “guiranheenguetá”, que quer dizer pássaro que fala todas as línguas de todos os mais pássaros”. São mui prezados. Estes são os que de ordinário se conservam cá em gaiolas”.
     Moleques, nós embrenhávamos nas matas do cacau com gaiola de talas de bambu ou gaiolas de cortiça e taquara, pendurada no dedo ou na palma de uma das mãos e alçapão na outra. Quando não tínhamos dinheiro para comprar alçapão, lambuzávamos um galho com visgo de jaca com iscas de banana, milho ou milho-alpiste, escondíamos à distância, não levava muito tempo, o passarinho esperneava-se grudado no visgo pedindo socorro!…

      Naquela época, os moleques se dividiam em grupo de ideias de gente grande e o grupo de amadores. O grupo mais profissional, o de gente grande, só criava curió, canário, pássaro preto, sabiá; o outro, o amador, que valorizava o prazer, o divertimento, a brincadeira e não o dinheiro, pegava o pintassilgo, a rolinha, o bem-te-vi, o sanhaço e o guriatã… caiu na rede era peixe, minto, caiu no alçapão era passarinho…

      Não me incomodava com a sujeira (cocô) que o guriatã fazia na gaiola, a minha mãe Judite é que não ficava prosa, porém, o seu canto quebrantava-lhe o ânimo. Se por descuido deixasse a gaiola aberta e o guriatã batesse asas, ela rendia homenagem ao pássaro, cantarolando a composição “Guriatã de Coqueiro” de Severino Rangel de Carvalho, o Ratinho, cantor e compositor paraibano da dupla Jararaca e Ratinho de tempos idos:

 

“… Eu não sei por que motivo
     Guriatã foi-se embora
     Foi-se embora e me deixou
     Também a minha viola
     Companheira inseparável
     Que minha mágoa consola”

      Porém, se a minha intrusa peraltice invadisse esse momento, corrigia-a para distante ouvir a minha musa, a minha tia, a mulher que me criou voltar a cantarolar:


     “…Vou fazer uma promessa
     Ao meu santo protetor
     Pra fazer ele voltar
     Esse pássaro cantador
     Pra alegria do meu rancho
     Que nunca mais se alegrou”,

          Hoje, os tempos se foram, os cabelos loiros encaneceram, mas no espírito o moleque permanece, também, os cuidados daquela avezinha de muitos cantos, de penas de azul escuro brilhante em cima e penas amarelas ao longo do corpo e na fronte da cabecinha, uma coroinha de penugens cor de ouro que Deus colocou, longe no tempo, ouço viva a voz de minha mãe Judite:

 

  “Guriatã de coqueiro
     Bateu asas e foi-se embora…”

 

 

Autor: Rilvan Batista de Santana

Licença: Creative Commons

Membro da Academia de Letras de Itabuna – ALITA

Imagem: Google

GURIATÃ, O INTÉRPRETE (II) – Por Rilvan Santana Read More »