DISCURSO DA PROFESSORA RENÉE ALBAGLI NOGUEIRA QUANDO DO RECEBIMENTO DA COMENDA JORGE AMADO, OUTORGADA PELA ALITA.
Local: Auditório do Centro de Arte e Cultura Governador Paulo Souto, na Uesc, campus Soane Nazaré de Andrade
Data: 11 de outubro de 2024.
- Senhora Presidente da Academia de Letras de Itabuna, Raquel Rocha, através da qual cumprimento os componentes da mesa,
- Senhor Presidente de Honra desta academia, Cyro de Mattos, através de quem cumprimento os demais acadêmicos,
- Senhoras e senhores,
Boa noite!!!!
O momento é de Gratidão e Compartilhamento.
Gratidão à Academia de Letras de Itabuna – ALITA -, sob a liderança de Rachel Rocha, sua ilustre Presidente, que me concede esta homenagem através da sua mais alta honraria, a Medalha Jorge Amado, ícone da cultura regional, cujas obras literárias traduzidas em muitos idiomas, são conhecidas nacional e internacionalmente.
Tenho a intenção de ser objetiva, mas não perder o essencial.
Nesta fala de hoje, pretendo me concentrar na “Responsabilidade Social da Universidade”, com um recorte dos principais projetos desenvolvidos nas minhas gestões como Reitora da UESC (1996/2000 e (2000 /2004) e a participação de alguns colegas, cuja atuação tem expressão para a ALITA, por estarem entre os seus integrantes.
É mister aplaudirmos os pioneiros da Educação Superior de nossa Região, que sob a liderança de Soane Nazaré de Andrade constituíram uma Comissão para elaborar o projeto da FESPI, Érito Francisco Machado, Flávio José Simões Costa, Helena dos Anjos Souza, Manoel Simeão da Silva, Rosalina Molfi de Lima e a grande poeta Valdelice Soares Pinheiro.
E tantos outros pioneiros da Educação Superior da região que eram docentes das unidades isoladas e que se tornaram os primeiros professores da FESPI, nos idos de 1974.
Quero também compartilhar este reconhecimento com a Universidade Estadual de Santa Cruz, UESC, instituição que dediquei muitos anos da minha vida.
A grandiosidade desta obra se eterniza como símbolo de esperança para as gerações sucessivas de jovens que buscam o conhecimento, como forma de autoafirmação e conquista de um futuro melhor
Convidada por Soane Nazaré de Andrade, ingressei na FESPI, em 1974. Fui sua assessora por dez anos, integrando a Comissão de Assessoria e Planejamento – CAP.
A história da Universidade Estadual de Santa Cruz, UESC, tem seu marco fundamental quando, em 1974, as faculdades isoladas existentes em Ilhéus e Itabuna, ou seja, Faculdade de Direito de Ilhéus, mantida pela Sociedade Sul Bahiana de Cultura (criada em 1960), Faculdade de Filosofia de Itabuna – FAFI (criada também em 1960) e a Faculdade de Ciências Econômicas de Itabuna (1970) decidem reunir-se numa Federação de Escolas Superiores.
A Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna, então denominada FESPI, teve o funcionamento aprovado por decisão do antigo Conselho Federal de Educação – CFE.
A época, para o reconhecimento de toda a região e um compromisso com a história, merece destaque José Haroldo de Castro Vieira, então Secretário-Geral da CEPLAC. Ele era incansável no apoio à FESPI e foi o responsável por suas primeiras edificações, onde se inclui a torre de seis andares, que abriga a administração superior da UESC, e que Soane Nazaré de Andrade, com muita justiça, o denominou Edifício José Haroldo de Castro Vieira.
Nos idos de 1988, a região cacaueira foi abatida por forte crise financeira, em decorrência da “vassoura de bruxa”, e esta crise teve repercussões, também, na FESPI. Foi quando, em 1989, ocorreu a estatização da FESPI, com a criação de uma fundação de direito público, a Fundação Santa Cruz – FUNCRUZ, no governo Waldir Pires, fundação esta que realizava a transferência de recursos financeiros para a FESPI. Era a transitoriedade de um modelo original de fundação privada para fundação pública.
Mas foi em 1991, através de uma mensagem à Assembleia Legislativa do estado da Bahia, que o Governador Antônio Carlos Magalhães assina em 5 de novembro, no Dia da Cultura, a extinção da FESPI e a criação da Universidade Estadual de Santa Cruz, UESC, incorporando a manutenção da Universidade ao orçamento do estado da Bahia.
A missão da nossa gestão era preparar a UESC para seu primeiro Credenciamento como Universidade pelo Conselho Estadual de Educação CEE/BA, honrosamente presidido pelo Conselheiro Rogério Vargens.
No período da nossa gestão de 1996/2004 foram implantados os seguintes Cursos de Graduação:
Em 1997, Medicina Veterinária;
Em 1999, Ciência da Computação, Ciências Biológicas, Comunicação Social e os Bacharelados de Física, Matemática e Química;
Em 2000, Ciências Contábeis;
Em 2001, Medicina;
Em 2003, Línguas Estrangeiras Aplicadas às Negociações Internacionais;
Em 2004, Biomedicina, Educação Física e Engenharia de Produção e Sistemas.
A implantação do Curso de Línguas Estrangeiras Aplicadas às Negociações Internacionais (LEA), na UESC, em Convênio com a Universidade La Rochelle, na França, constitui-se uma experiência pioneira para ambas as partes, já que o eixo da cooperação, totalmente inovador, sendo o primeiro curso, no Brasil e na América Latina, a apresentar particular flexibilidade em seu desenvolvimento. Visa preparar profissionais com formação linguística, humanística e técnica.
Com o Curso de Engenharia de Produção e Sistemas, a UESC inaugurou uma nova vertente no campo científico e tecnológico. Com isso, habilitou-se a promover iniciativas conjuntas com o setor produtivo, visando a inovação de serviços e produtos.
Dirijo-me agora ao Senhor Francisco Valdece Ferreira de Souza, Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, instituição que tenho a honra de compartilhar este reconhecimento. A importância dessa instituição foi muito bem destacada pela ALITA.
Neste momento, eu compartilho o reconhecimento, falando da grande contribuição da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, em 2001, e em todos os anos subsequentes, para a implantação do Curso de Medicina na UESC.
Foi a primeira instituição que fizemos a parceria e o Senhor Edmar Margotto, Provedor em 2001, foi incansável no seu apoio.
Merece registro, também, a Professora Dra. Mércia Margotto, que como primeira Coordenadora do Curso de Medicina, reuniu uma equipe médica exemplar, que possibilitou a implantação do curso, o primeiro em uma instituição pública, depois da UFBA.
O Diretor-Médico à época era Paulo Bicalho, que integrou o corpo docente do Curso de Medicina e muito se empenhou para sua implantação.
Destaco primeiro, a Professora Margarida Cordeiro Fahel, Vice-Reitora da UESC, em dois períodos consecutivos, de 1996 a 2004, com quem compartilhei todas as lutas e todas as conquistas para a UESC. Além de Vice-Reitora, havia atribuições de acompanhamento de projetos importantes em desenvolvimento na UESC, que exigiam um olhar cuidadoso da administração superior.
Desde a antiga FAFI, Margarida Cordeiro Fahel foi Professora Titular de Literatura Brasileira.
Foi Coordenadora Editorial da Revista FESPI e da Revista Especiaria, periódicos científicos da Universidade.
No Conselho Estadual de Educação, CEE-BA, de 1998 a 2006, onde compunha a Câmara de Educação Superior, foi Vice-Presidente.
Margarida Cordeiro Fahel ocupa a cadeira nº 12 da Academia de Letras de Itabuna, ALITA.
É escritora, romancista. Tem várias obras publicadas, e aqui, eu destaco o romance A Casa da Esperança não era Verde, uma história ficcional, amparada em bases históricas, no que se refere ao tema, e que acompanha a humanidade em sua trajetória. O tema da orfandade ou da “pseudo-orfandade”. Neste romance percebemos inteligência, profunda sensibilidade e humanidade, qualidades que se parecem muito com as qualidades da autora.
Destaco o Professor Dr. Alessandro Fernandes, Reitor da Universidade Estadual de Santa Cruz. Ele é poeta e sob seu comando caminha com galhardia a UESC, pela sua competência, desvelo e grande compromisso institucional.
Podemos dizer que tudo valeu a pena. A Região Cacaueira, embora com percalços econômicos, ostenta um dos seus grandes patrimônios: a Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC.
Na UESC, depositam seus sonhos 12.237 estudantes de graduação; 666 de pós-graduação, em nível de mestrado; e 481 estudantes de doutorado.
A UESC oferece 34 Cursos de Graduação, sendo 12 licenciaturas e 22 bacharelados.
Desenvolvem as atividades acadêmicas de Ensino, Pesquisa e Extensão 749 professores, sendo 549 doutores e 200 mestres.
Avaliada positivamente pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), vinculada ao Ministério da Educação, a UESC tem, entre seus programas, um com nota 6 e oito programas com nota 5.
Trabalha com a universalidade do conhecimento, destacando-se, na pesquisa, com projetos importantes de inserção regional, sem perder a perspectiva dos temas globais.
Sua produção científica, em 2023, foi de 753 artigos e 390 Anais de Eventos.
Número de dissertações e teses defendidas nos Programas de Pós-Graduação da UESC: no mestrado 2904 e no doutorado 473.
Outro ponto a ser destacado na administração do Professor Alessandro Fernandes é o seu cuidado com a preservação da história e memória institucional, inaugurando na sua primeira gestão, uma galeria dos ex-dirigentes da FESPI/UESC, ponto que considero relevante e uma importante responsabilidade social da Universidade.
Maria de Lourdes Netto Simões (Tica Simões) é pesquisadora e ensaísta, Doutora e Pós-Doutora em Literatura Comparada e Turismo Cultural (UNL, Portugal). Tem produção científica com livros, artigos e documentários na sua área de atuação.
Na nossa primeira gestão foi Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação (1996/2000.) Coordenou o Programa de Absorção de Doutores (PAD), primeira política pública responsável pelo fortalecimento científico e tecnológico da UESC, importante responsabilidade social da Universidade.
Ao Programa de Absorção de Doutores somou-se o primeiro concurso público da UESC, exclusivamente, para mestres e doutores, com 150 vagas, considerado, à época, o maior Concurso Público Universitário no País. Esse concurso foi liderado pela querida Professora Norma Vídero, Pró-Reitora de Graduação, aqui presente, e pelos Departamentos da UESC.
Nesse período de 1996/2004, foi impulsionada a pós-graduação, implantando-se seis mestrados: Cultura e Turismo; Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente; Genética e Biologia Molecular; Zoologia Aplicada; Produção Vegetal; e Sistemas Aquáticos; e mais dois doutorados, os primeiros da UESC: Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente; e Genética e Biologia Molecular.
Maria Luíza Nora de Andrade é pedagoga, com área de concentração em Sociologia, Mestra em Cultura e Turismo. Foi a primeira Diretora da Editus, Editora Universitária, implantada na nossa gestão. A Editus foi pensada não só para a produção acadêmica, sua principal missão, mas também para atender a escritores regionais.
Ruy do Carmo Póvoas é licenciado em Letras, Mestre em Letras Vernáculas, Doutor Honoris Causa pela UESC.
Na nossa gestão, Ruy do Carmo Póvoas fundou o Laboratório de Redação e o Núcleo de Estudos Afro-Baianos Regionais – Kàwé, da Universidade Estadual de Santa Cruz, do qual foi coordenador durante dezesseis anos, sendo editor do Jornal Takada, do Caderno Kàwé e da Revista Kàwé.
Com vasta produção literária, que inclui prosa e verso, Ruy Póvoas ocupa a cadeira 18 da Academia de Letras de Ilhéus e é membro-fundador da Academia de Letras de Itabuna.
Em conformidade com as posturas sugeridas em nível nacional, a UESC manteve a política de participação dos Programas Extensionistas Interinstitucionais que estabelecem o intercâmbio entre o conhecimento científico e as práticas sociais, contribuindo com os processos de desenvolvimento humano, socioeconômico e cultural da sociedade sul-baiana.
Destaca-se a linha programática Extensionista “Cultura e Memória Social” com um trabalho coordenado pelo Centro de Documentação e Memória Regional – CEDOC, dirigido pela Professora Dra. Janete Macêdo, com doutorado na Universidad de León, na Espanha. A Professora Janete Ruiz de Macêdo é mais uma Alitana, aqui presente, e ocupa a cadeira número 39, na ALITA.
Na nossa gestão, o CEDOC, visando o resgate e preservação do patrimônio, realizou vários programas. Organizamos arquivos públicos de 23 municípios, e coordenamos as atividades do Centro de Documentação e Memória da Costa do Descobrimento, na cidade histórica de Porto Seguro, o Museu da Casa Verde, em Itabuna, em convênio com a Fundação Henrique Alves, e o Museu da Casa Colônia, em Porto Seguro.
Aqui, presente também a Professora Dra. Lurdes Bertol Rocha, geógrafa, e a Dra. Raimunda Alves Moreira de Assis, Professora Emérita da UESC, cuja área de atuação é a Educação.
É imensa a responsabilidade com a comunidade, porque não dizer grapiúna, que há alguns anos, me distinguiu com o título de Cidadã Itabunense.
Gostaria de Compartilhar com todos os meus colegas professores desta casa, os de ontem, e os de hoje, que com competência e idealismo dignificam o papel social da Universidade.
Aos meus Familiares Cláudio, Claudinha, Cyro, Luís Fernando e Isabel o meu eterno reconhecimento pela força, coragem e compreensão na caminhada profissional.
E a todos os demais membros da minha família, este é o legado que lhes ofereço, um trabalho apaixonante e profícuo para o bem da sociedade, aspiração de todo cidadão.
Concluo o meu pronunciamento com a voz de Cyro de Matos, primeiro Doutor Honoris Causa da UESC, título concedido em 19 de setembro de 2016.
Ele traz uma mensagem de esperança, no seu poema Eu creio nessa manhã. E a Cyro de Matos, Presidente de Honra desta Academia, quero expressar a minha profunda gratidão pela indicação do meu nome, aprovado, por unanimidade, pelos acadêmicos da ALITA, para ostentar tamanha honraria.
Eu creio nessa manhã
Cyro de Mattos
Por que os homens
Amam a droga
E não como a abelha
Os favos de mel?
Por que os homens
Amam as balas
E não a paz
Sem nenhum fuzil?
Por que os homens
Só enxergam o chão
E não a estrela
Em seus caminhos?
Por que os homens
Perfuram a rosa
Com a ponta aguda
E mais dura do espinho?
Viver amargos, sozinhos,
Viver nos escombros,
Viver na vida desigual,
É do que os homens gostam?
Mas eu creio nessa manhã
Anunciada pelo menino
Nascido na manjedoura.
No brilho dessa estrela
Espalhando o amor no chão.
Eu gosto de ouvir nesta hora
Essa canção que me afaga
Falando duma união geral,
Que viver vale a pena
Quando a vida é uma dança.
Com os homens como irmãos
No doce fruto da ternura,
No doce fruto da alegria
Sorrindo como criança.
Muito obrigada!
[i] Renée Albagli Nogueira, Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia, Mestra em Gestão Universitária pela Universidade Estácio de Sá, Especialista em Gestão Universitária na DePaul University, Chicago. Especialista em Genética Molecular.
Discurso proferido em 11/10/24, na cerimônia de Outorga da Medalha Jorge Amado.
Notícia e fotos do Evento: https://academiadeletrasdeitabuna.com.br/2024/10/14/alita-homenagem-renee-albagli-e-a-santa-casa-de-misericordia-de-itabuna-com-a-medalha-jorge-amado/