Carlos Valder e sua família fizeram parte da minha trajetória de forma afetuosa, com vínculos marcados por admiração e respeito.
Fui aluna de seu irmão, o professor Fernando Rios, na UESC, logo ao chegar a Itabuna. Fui também orientanda de sua esposa, Dinalva Melo, hoje minha colega psicanalista.
Conheci Carlos Valder em 2013, ao ingressar na Academia de Letras de Itabuna. A partir de então, encontrávamo-nos com frequência nos eventos acadêmicos e, também, em eventos na casa de nossa querida amiga Sônia Maron, com quem ele cultivava uma amizade de longa data.
Carlos Valder era presença de vigor e alegria. Sua palavra era sempre firme, lúcida e bem-humorada. Ele sabia ocupar os espaços e sua ausência, nos últimos tempos, foi sentida como um silêncio que culmina neste momento de saudade. Aquela saudade que só permanece quando partem os que preenchiam os lugares com presença viva.
Graduado em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), em 1978, Carlos Valder construiu uma trajetória notável no campo jurídico, acadêmico e institucional. No serviço público, foi Procurador Seccional da Advocacia-Geral da União (1993–2003) e, posteriormente, Procurador-Chefe da Procuradoria Federal da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Atuou também como parecerista, sendo referência em sua área de atuação.
Jurista de pensamento crítico e inovador, defendeu propostas consistentes de reforma tributária, com foco na eficiência do Estado e na justiça fiscal. Dedicou-se à produção e à difusão do conhecimento jurídico com admirável rigor intelectual, deixando como legado mais de 30 livros publicados, mais de 60 obras coordenadas ou em coautoria, além de mais de 200 trabalhos técnicos e científicos.
Carlos Valder foi membro atuante da Academia de Letras de Itabuna – ALITA, onde ocupava a Cadeira nº 23, cujo patrono é Sabóia Ribeiro. Também integrou a Academia de Letras de Ilhéus, o Instituto Ibero-Americano de Direito Público e a International Fiscal Association, com sede na Holanda.
Contudo, para além das credenciais e da vasta produção intelectual, Carlos Valder foi um homem de espírito cordial e generoso. Sua participação em nossas reuniões era sempre leve e bem-humorada.
Tive a honra de acompanhar, de perto, o cuidado amoroso de Dinalva durante o processo de adoecimento do confrade. Recebi, com frequência, notícias cheias de fé e ternura. Foi um privilégio testemunhar esse gesto contínuo de amor, entrega e dignidade, que é também parte da biografia dele.
Hoje, minha homenagem não é apenas como presidente da Academia de Letras de Itabuna. Ela vem, sobretudo, como amiga e admiradora. Despeço-me de Carlos Valder com reverência, com carinho e com a certeza de que sua vida foi fecunda, sua obra permanece, e sua memória seguirá nos inspirando.
4 de maio de 2025
Raquel Rocha
Presidente da Academia de Letras de Itabuna – ALITA