Fundação da Academia de Medicina de Itabuna.

A idéia de criação da Academia de Medicina de Itabuna tem fundamentos de ordem local e de ordem geral. Sob o enfoque local, a Cidade de Itabuna revela notória vocação acadêmica em seu universo médico, traduzida, principalmente, pela existência de  profissionais que  se empenharam na obtenção de titulação pós-graduação, estando  vinculados ou não a universidades. Nossa história contemporânea mostra a justificativa do nosso sonho. A histórica e relevante medicina de Itabuna já merecia há muito tempo uma Academia de Medicina.
Itabuna sempre esteve na vanguarda da medicina Bahiana.

Na década de 1930 o Dr. Alicio Peltier de Queiroz criou em Itabuna a Sociedade Médico Cirúrgico de Itabuna. Calixto Midlej Filho, provedor da Santa Casa de Itabuna na década de 70 instituiu que só aceitava médicos no Corpo Clínico dos hospitais da Santa Casa de Itabuna qualificados com títulos de especialistas e/ou Residência Médica reconhecidos pelo MEC.

O Primeiro Centro de Estudos do interior da Bahia foi fundado em 1974 na SCMI, pelo médico Renato Costa, que consideramos a semente desta Academia.
O primeiro serviço de Hemodiálise do interior da Bahia foi instalado em Itabuna.
A primeira Tomografia Computadorizada do interior da Bahia foi instalada no Hospital Calixto Midlej Filho da SCMI.
O primeiro Congresso Médico do interior da Bahia foi realizado na cidade de Itabuna .
A primeira Unimed do interior da Bahia foi fundada na cidade de Itabuna.
O primeiro Serviço de Neurocirurgia do interior da Bahia foi criado em Itabuna, bem como o Serviço de Oncologia Clínica e Cirúrgica.
Foi criado o primeiro Serviço isolado de Quimioterapia no Hospital Calixto Midlej Filho da SCMI.
A primeira cirurgia por videolaparoscopia na Bahia foi realizada no Hospital Calixto Midlej em Itabuna.
Um núcleo de Neurologia Tropical da USP chefiado pelo Prof. Spina-França foi instalado na Santa Casa de Itabuna, sob a responsabilidade do médico neurologista da Instituição Dr. Alberto Peregrino onde estudamos os primeiros casos de neurocisticercose e esquistossomose medular na Bahia e pioneiro no Nordeste, com vários trabalhos publicados em revistas nacionais e estrangeiras.
O primeiro serviço de Neurocirurgia intervencionista no interior da Bahia foi criado em Itabuna no Hospital Calixto Midlej Filho com vários pacientes tratados de aneurismas cerebrais, mal-formações vasculares encefálicas e lesões de carótidas internas e bulbos extra-cranianas .
A primeira Radioterapia do interior da Bahia foi instalada em Itabuna.
O primeiro Centro de Terapia Intensiva do interior da Bahia foi instalado no Hospital Calixto Midlej Filho da SCMI.
O primeiro Serviço de Neurocirurgia Pediátrico do interior da Bahia foi criado no Hospital Manoel Novaes da SCMI.
O CACON depois transformado em UNACOM do interior da Bahia foi inaugurado em Itabuna na SCMI, unificando todos os serviços oncológicos.
O primeiro Serviço de Pediatria organizado para a Assistência Neonatal foi criado no Hospital Manoel Novaes da SCMI, sendo pioneiro no interior da Bahia e considerado um marco divisor da história da pediatria na. Nossa região.
A primeira CTI Neonatal do interior da Bahia foi criada no Hospital Manoel Novaes da SCMI.
O primeiro Serviço de Cirurgia do Aparelho Digestivo especializado em cirurgias bariátricas foi instalado no Hospital Calixto Midlej Filho da SCMI.
Na vanguarda foi criado o Serviço de hemodinâmica com cardiologia intervencionista e cirurgia cardíaca e procedimentos de marca-passo, filtro de veia Cava, TAVI entre outros.
A primeira cooperativa financeira médica da Bahia foi fundada em Itabuna.
Sempre Itabuna com relevantes serviços prestados à comunidade do Sul da Bahia pela sua vibrante e competente medicina.
Tivemos o primeiro médico a sair do Interior e ser aprovado na Cátedra como Titular de Ginecologia da Universidade Federal da Bahia o eminente médico Alicio Peltier de Queiroz.
São inúmeras vitórias, muito pioneirismo e conquistas nas área da saúde pelos nossos médicos ao longo dos anos.
Temos orgulho de nossa medicina e agora vamos imortalizar estes grandes médicos que construíram esta linda história na nossa querida cidade de Itabuna.
Com a vinda da Faculdade Medicina para a UESC , no eixo Itabuna/Ilhéus , pioneira
do interior da Bahia, surgiu mais forte ainda em Itabuna uma sementeira acadêmica que por si mesma sinaliza para uma ação unificadora destas atividades. Desta forma, a idéia de criação da Academia de Medicina de Itabuna é a resposta ao chamamento de uma realidade  percebida na vida médica profissional da nossa cidade.
Por outro lado, o cenário médico-científico e universitário existente  em Itabuna é um reflexo do panorama geral que caracteriza a ciência  mundial no século XXI. Os avanços técnico-científicos que marcaram a segunda metade do século passado e se exponenciam no século presente,  não deixam dúvidas quanto ao poder da ciência em tomar as rédeas da condução da história, interferindo diretamente na vida conjunta das sociedades tanto quanto na individualidade das pessoas.  Somente a firme consciência desta realidade e o decidido  empenho para não tramitar na contra-mão da história, impedirão que comunidades nacionais, estaduais e municipais tornem-se excluídas de compartilhar progressos e  promover bem estar para todos.
Devemos valorizar os médicos que por opção preferem fazer carreira no interior , fora dos grandes centros e são responsáveis pela sua qualidade e empreendedorismo de criar estruturas médicas relevantes de alta complexidade para atender nossa população longe dos grandes centros.
A percepção de tudo isto concretiza-se na  decisão de um grupo de médicos e médicas que, antevendo o caminho do futuro, unirão-se em 18/10/2021 para fundar a Academia de Medicina de Itabuna .

Coordenadores da Sessão Preparatória de Criação da Academia de Medicina de Itabuna:
João Otávio Oliveira Macedo
Mercia Silva Margotto
Renato Borges da Costa
Rosângela Carvalho Melo
Silvio Porto de Oliveira

• Reunião preparatória
A idéia foi apresentada aos médicos coordenadores e a receptividade e entusiasmo levou-nos à realização de uma reunião preparatória na qual consolidou-se a idéia de criação da Academia. Algumas deliberações essenciais foram tomadas nessa reunião conforme transcrição, a seguir, na respectiva Ata.

“ATA DA REUNIÃO PREPARATÓRIA PARA CRIAÇÃO DA ACADEMIA DE  MEDICINA DE ITABUNA

Aos vinte e três dias do mês de julho de 2021 às doze horas, os médicos João Otávio Oliveira Macedo, Mercia Margotto, Renato Costa, Rosângela Melo e Silvio Porto de Oliveira reuniram-se na sede da Unimed Itabuna na rua Firmino Alves número 118 na cidade de Itabuna com o propósito de discutir  idéias básicas para criação da Academia de Medicina de Itabuna , sendo delegado ao Dr Silvio Porto de Oliveira a coordenação dos trabalhos e a Dra Rosângela Melo como secretária para o registro dos trabalhos e encaminhamentos , iniciando-se a discussão pela avaliação da idéia, fundamentada na observação da existência em Itabuna de elevada densidade de médicos com capacitação pós-graduada e em exercício de atividades clínicas, científicas e acadêmicas, associadas ou não à docência,  condições essas apropriadas à criação de uma Academia de Medicina, a fim de congregar esses e outros   médicos, objetivando impulsionar o desenvolvimento da medicina em Itabuna.Após as devidas discussões as seguintes deliberações foram aprovadas por unanimidade: 1-Criar a Academia de Medicina de Itabuna. 2- Fazer um levantamento histórico de médicos que , desde a fundação da cidade, exerceram atividades clínicas em Itabuna a fim indicar  seus nomes como Patronos das respectivas Cadeiras da Academia; 3- Relacionar e convidar para  serem Membros Fundadores da Academia de Medicina de Itabuna todos os médicos que  possuem os requisitos exigidos aprovados pelos coordenadores além disso, que estejam exercendo atividades clínicas ou de docência em nível superior há pelo menos dez anos; 4- Marcar para o dia 07/08/2021 as 11h na sede da Unimed Itabuna na avenida Firmino Alves 118 nesta cidade, a reunião de implantação da Academia de Medicina de Itabuna com a presença dos referidos convidados, tendo  como ponto de pauta  a apresentação e discussão das propostas de Estatuto e de Regimento da Academia; 5- Providenciar a legalização da Academia de Medicina de Itabuna de modo a permitir-lhe competência legal para captação de recursos e implementação de atividades científicas; 6- Providenciar a confecção do brasão da Academia com o lema Medicina na região cacaueira. 7- Uma vez estabelecido o número de Membros Titulares Fundadores, decidir o número total de Cadeiras que comporá a Academia e, oportunamente, abrir inscrições para preenchimento das demais Cadeiras de Membros Titulares; 8- O preenchimento das Cadeiras referidas no item anterior seguirá o método tradicional das Academias no país conforme descrito no Capítulo I, Artigo 1o. da proposta de Regimento Interno. Finalmente, para registro visual desta reunião foram realizadas fotografias que, anexas a esta Ata,  passarão a compor a memória da Academia. Nada mais havendo a tratar, os presentes deram por encerrada a reunião às 13hs e, em trabalho conjunto, os Doutores Silvio Porto de Oliveira e Rosângela Melo lavraram a presente ata que após lida e aprovada será assinada pelos cinco médicos componentes da reunião.
Itabuna 23 de julho de 2021

 

Fundação da Academia de Medicina de Itabuna.

Critérios de Admissão( sugestão para análise e aprovação na próxima reunião)

a) ser brasileiro. b) ser graduado em Medicina, por tempo não inferior a 10(dez)anos. c) apresentar memória ou dissertação inédita e de lavra própria. d) possuir atividade científico-profissional, comprovada mediante apresentação dos seus títulos e trabalhos.
e) comprovada atividade médica digna e comportamento ético exemplar sem nunca ter sofrido sanção disciplinar ética pelo CREMEB( apresentar certidão negativa emitida pelo CREMEB)
f)possuir título universitário por concurso público de professor. g) possuir título de Mestrado ou Doutorado em Medicina. h) ter ocupado cargo relevante nas entidades médicas, sociedades de especialidades nacionais ou estaduais, cooperativas médicas , órgãos públicos ligados à saúde , hospitais públicos ou filantrópicos.i) ser membro de Academia médica em outra localidade ou estadual/nacional ou ainda outras Academias relevantes. j)ser médico conceituado e reconhecido por relevantes serviços prestados à medicina e a comunidade. i) ter atuado na cidade de Itabuna no mínimo 05 anos.

Estatuto e Regimento será encaminhado no prazo de 10 dias para os coordenadores analisarem e fazerem as sugestões e contribuições .

A ideia de se fazer uma academia de medicina na cidade de Itabuna, se faz necessário para homenagear profissionais brilhantes , que abriram mão de trabalhar em capitais e centros mais evoluídos em saúde, para se dedicar a chamada medicina do interior, nem sempre reconhecida por ser considerado , centros menos evoluídos da saúde no nosso país.

Consideramos que este conceito é totalmente equivocado e não reflete a pujança de várias cidades do interior que conseguem manter nível elevado de sua medicina com médicos competentes e qualificados.

Itabuna, cidade localizada na Costa do Cacau no Sul da Bahia, ao longo de sua história sempre foi polo importante da medicina do Sul da Bahia , como também pólo cultural dessa região.

Suas matas revelam a história das fazendas de cacau, fruto que originou a riqueza patrimonial e o desenvolvimento regional. Ao criarmos a Academia de Medicina de Itabuna, estamos inserindo na sua história , um patrimônio médico relevante para homenagear os nossos antepassados, os ainda em atividades e servir de exemplo, estímulo e inspiração para os jovens médicos.

A questão da identidade local e o sentimento de pertencer a nossa história médica estará presente nos anais desta academia.

Não há dúvida que está Academia será importante para a nossa história médica contemporânea que terá a missão de ajudar a desenvolver e promover uma medicina de qualidade e estabelecer uma visão e valores éticos na profissão, estimulando novas lideranças médicas .

Os membros de todas as sociedades organizadas ,  se sentem unidos por experiências, trabalhos e referências comuns. É um sentimento de pertencimento , privilegiando  os grandes vultos que contribuíram para o prestígio da cidade, e assim temos a Academia de Letras de Itabuna na cultura e nas artes, e agora a nossa Academia de Medicina.

Este é o propósito.

Deve ser o compromisso dos 40 médicos indicada para começar este trabalho.

Que cada um de nós chegue aqui com paixão para  defender uma medicina ética, digna e contribuir para um mundo melhor.

Orgulho de ser Itabuna!

A Academia de Medicina  de Itabuna tem por finalidade:

Contribuir para o desenvolvimento e para o progresso da Medicina.

Promover palestras , seminários e congressos médicos.

Colaborar com as autoridades competentes em assuntos relativos à Saúde e problemas correlatos, apresentar sugestões e solicitar providências.

Manter intercâmbio com entidades afins e com Instituições com finalidades similares ou complementares às suas.

Cultivar a memória e as tradições da Medicina de Itabuna e organizar acervo sobre a nossa História da Medicina , na Bahia , no Brasil e no Mundo.

A Academia compor-se-á de 40 Acadêmicos Titulares e ainda de Acadêmicos Eméritos, Membros Correspondentes, Membros Honorários e Beneméritos.

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Genny Xavier escreve ensaio sobre duas obras da escritora Margarida Fahel.

BORDADOS DO TEMPO NOS TECIDOS DA MEMÓRIA- A narrativa de Margarida Fahel- Genny Xavier

“O tempo é uma superfície oblíqua e ondulante que só a memória é capaz de fazer mover e aproximar.”

(José Saramago, em “O Evangelho segundo Jesus Cristo”)

 

O tempo é mistério. Sobre suas dobras e nuances debatem-se filósofos, cientistas, artistas. Tempo que se tece absoluto ou relativo; que sobrepõe as horas, os dias, os anos; que se curva, se imbrica, ata ou desata suas pontas nas surpreendências dos fatos que se antecedem ou se sucedem.

O tempo que é apreendido em nossas caixas de memórias, apresenta-se nas diversas maneiras de como enfrentamos a realidade cristalizada no presente, criando elos em que as memórias nos dão parâmetros da nossa história, trajetória e ancestralidade. Em sua importância, a memória é responsável pela nossa identidade individual ou coletiva e, ainda, nos permite a inter-relação dessas duas esferas que, permanentemente, dialogam através dos campos que interagem com o pessoal e o histórico.

Em circunstâncias análogas, memória e literatura são segmentos intrínsecos às criações de historiadores e escritores contemporâneos. A criação literária, especialmente a narrativa ficcional, detém a memória através do fluxo das recordações e trajetórias dos envolvidos no contexto da narrativa, possibilitando ao escritor restaurar vivências individuais que se vinculam aos elementos históricos coletivos de determinada época. Nestes termos, podemos entender a assertiva do historiador francês, Jacques Le Goff, ao dizer que “a memória é crucial, tanto por sua importância ímpar e fundamental nos modos de organização da identidade humana, quanto por essa organização realizar-se a partir do cruzamento entre as suas manifestações na esfera individual e coletiva”. (LE GOFF, 1996).

Na perspectiva de apreensão do tempo que gravita entre o passado e o presente, o individual e o coletivo; bem como da utilização das memórias que seguem no fluir dos fatos, imagens ou sentidos que, em momentos, subvertem a cronologia, está a criação literária de Margarida Fahel. Sua recente produção ficcional apresenta grata satisfação de leitura e reflexões sobre os sentimentos que, nas vivências das suas personagens, revelam experiências inspiradoras em suas trajetórias humanas, cravadas por dramas pessoais e pela incidência dos fatos da história que as afetam.

Seus romances, “Nas dobras do tempo” (2015) e “Entre margens” (2018), transpõem para a narrativa ficcional fatos da identidade local, ambientados na região cacaueira do sul da Bahia, revelando afinidades entre o imaginário e o histórico. Os fatos ficcionais e históricos são vivenciados por personagens de segmentos sociais diversos e nos dobramentos de suas trajetórias no tempo, porém, suas vozes revelam a voz inequívoca da própria autora. Sua narrativa busca revelar, na trama das obras, seus pontos de vista e posicionamentos críticos em que as relações de poder não se cristalizam apenas no universo econômico e político da região, mas, especialmente, na análise dos costumes de uma sociedade patriarcal que, desde os primórdios da sua formação, moldou-se no machismo que aprisionou, diminuiu e vitimizou a mulher, independentemente do grupo social em que estavam inseridas. Nesse ponto, a narrativa da autora apresenta um olhar diferenciado ao de escritores como Jorge Amado e Adonias Filho, cujo foco centralizou de forma mais contundente essa mesma   região forjada pelas histórias dos homens. É possível perceber esta diferença nos fios tecidos dos relatos de suas personagens femininas, como Luísa, em Nas Dobras tempo:

Um nome, uma estirpe, de um lado; as terras, as arroubas de cacau, de outro. Eram os acordos, as vidas num prato de balança. Assim eram aqueles tempos. (…) Os títulos e as arroubas de cacau tudo isso ocultavam… Assim eram os ajustes, os negócios em família. E as dores das pessoas? E as vidas? Por que alguns se declaravam deuses a nortear e destruir caminhos? Por que manejavam destinos, por que colocavam interesses e ambições acima dos sentimentos e esperanças? (FAHEL, 2015, p. 32).

Margarida Fahel caminha por outras direções, revela os rumos da história da sua própria região através da ótica sensível e, ao mesmo tempo cheia de coragem e força, das suas personagens femininas, que vão bordando suas memórias nos tecidos das suas trajetórias, narrando, elas mesmas, suas próprias experiências e a de outras mulheres que lhes antecederam ou sucederam nas dobras do tempo e nas margens de suas vidas. Estas marcas estão, sobretudo, no fluxo do vai e vem das lembranças de suas protagonistas, Luísa (Nas dobras do tempo) e Valquíria (Entre Margens), ambas viventes das dores, amores, revezes da sorte, reviravoltas do destino, construtoras de caminhos e redenções; ambas desenhando seus destinos como em colchas bordadas pelas linhas do tempo as costuras e os pontos das suas decisões. São delas a coragem e as resoluções que delimitam rumos e ações:

Uma noite, no entanto, numa hora de desesperado sofrimento, as palavras de minha bisa Maria Bertha, que estranhamente me alcançaram, numa outra noite, agora tão distante, naquela Fazenda Alegria, bateram nos ecos da minha lembrança como flecha certeira: “O amor te salvará”. No mesmo instante, a memória também me trouxe aquilo que Justina sempre repetia: “Tenha esperança! Esperança tem pés, mãos e boca”. Ali, juntando aquelas frases como fita em que se dá um laço, compreendi o alcance daquelas palavras: a esperança, nós a fazemos. Tenho pés, mãos e boca, portanto, nada me falta! Levantei-me resolvida. Vou procurar ajuda! Preciso saber de Ivan, preciso chegar àqueles homens que o encarceraram. (…) No outro dia, outra Luísa emergia daqueles lençóis. O medo de repente se foi: O amor te salvará.  (FAHEL, 2015, p. 130-132).

Como fugi daquela fazenda, como fugi daquele bordel, eu também daqui fugirei. Fugirei destas belas cortinas rendadas, dos cristais tão cuidadosamente polidos, dos lençóis de linho bordado, das ruas agora calçadas desta cidade, dos boninais floridos, e até deste rio que aprendi a amar. Eu fugirei de João Vitório, que outro não é senão aquele José Alfredo dos Anjos, que numa noite nunca passada minha vida destroçou… Eu nada lhe devia. (FAHEL, 2018, p. 135).

Através delas, dos seus relatos de lembranças e memórias apreendidas, emergem também outras vozes, de outras mulheres em que elas se inspiram ou que por elas são inspiradas. Porém, é no olhar feminino da própria autora que suas personagens apresentam suas nuances, em que sua criação ficcional se constitui muito particularizada por sua interpretação do universo em que elas gravitam em suas condições de mulheres viventes de um tempo talhado por homens de mando e poder. Neste aspecto, o discurso feminino de Margarida Fahel ganha seus contornos, pois, como mulher, “vivendo uma condição especial, representa o mundo de forma diferente” (XAVIER, 1991, p. 11). Dela, emerge a sensitiva percepção de Luísa para captar, no vai e vem das memórias, as alegrias, amores e dores de suas antecessoras: a bisavó, Maria Bertha; a avó, Maria Élise e a mãe, Maria Teresa, em Nas dobras do tempo. Dela, também se descortina a saga de Valquíria, no relato da sua odisseia pelos caminhos do tempo, desde a infância de sabores, cheiros e detalhes felizes; ao infortúnio das perdas, sonhos desfeitos, aprisionamento da adolescência e juventude, fugas que dão voltas ao mesmo ponto; até a conquista da liberdade e redenção, em Entre Margens. Na narrativa de Fahel o feminino emerge em duas perspectivas: da própria autora e das suas personagens, Luíza e Valquíria, donas dos relatos de suas vidas e, ainda, das vidas de outras mulheres que interagem ao longo da trama dos dois romances. Essa assertiva reafirma a relação, proposital ou intuitiva, entre a narração das personagens e o discurso subjacente da autora, deixando no leitor a sensação de que uma mulher sabe bem entender e expressar o universo particular de outra(s) mulher(es), criando assim uma literatura que revela a psiquê do feminino de uma forma muito pessoal, pois “(…) quando uma mulher articula um discurso este traz a marca de suas experiências, de sua condição (…)” (XAVIER, 1991, p. 13).

Quanto aos recursos narrativos que expressam a sensibilidade criativa da autora em “Nas dobras do tempo” e “Entre Margens”, está sua abordagem na apresentação da passagem do tempo, montada como um painel não linear definido pelo fluxo das memórias e cronologias dos relatos, cartas, diário e escritos das suas personagens. Desta forma, Fahel passeia pelo tempo e fatos que historicamente o determinam. Os trajetos de vida dos envolvidos nas tramas dos dois romances são o foco, porém, as ocorrências históricas incidem como pano de fundo e contexto que as influenciam. Os romances mesclam a vida das personagens ficcionais aos fatos históricos que lhes situam no espaço-tempo inerentes das épocas e dos grupos sociais que fazem parte. Desta forma, ficcionalidade e história constituem um conjunto de intensões das quais a autora vai apresentando o painel cultural dos objetivos críticos da sua narrativa ao expor sua ótica dos fatos, sua visão histórica da ordem mundial, do Brasil e da sua região.

Na trama do romance “Nas dobras do tempo”, as memórias desfiam o tempo desde o final da década de 20, quando Luísa, ainda muito jovem, é impedida de viver seu amor por Ivan e, encarcerada grávida pelo pai na Fazenda Alegria, relembra e revive o passado das suas antecessoras. No vai e vem do foco narrativo, o tempo se desdobra entre o presente e o passado revelando suas marcas históricas, como os sofrimentos do período escravista do séc. XIX, reconstruído na jornada da escrava Jovanina e, adiante, da sua neta, Justina e da sua bisneta, Adelaide, já livres da escravidão, mas não das suas consequentes dores; como a chegada dos alemães e de outros imigrantes europeus no sul da Bahia para desbravar terras, plantar a cana e erguer seus engenhos, bem antes do cacau, a exemplo da história do francês, Pierre e da alemã, Bertha; ou nas referências sobre a década de 30 do século XX, na tomada do poder por Getúlio Vargas e instalação do Estado Novo, especialmente nos relatos de Luísa sobre a repressão e prisões de Graciliano Ramos, Carlos Prestes e do personagem Ivan, seu marido.

Em “Entre Margens”, o tempo da jornada de Valquíria nos é passado através do seu relato em forma de um livro escrito para presentear sua filha, Adéline, ao completar 18 anos:

Há trinta dias, quando completei meus dezoito anos, você, maman, entregou-me este livro. “É o livro de minha vida”, assim disse na dedicatória. Você escreveu para mim. Um exemplar único, contando suas dores, esperanças e alegrias. Falou da sua terra, do seu amargor e de suas doçuras, de suas riquezas e de suas misérias; relembrou generosidades, injustiças – quantas! – e traições. (…). (FAHEL, 2018, p. 17).

A narrativa dos seus escritos começa na Ilhéus do início do século XX em que suas memórias se voltam para a infância e adolescência marcada pelas alegrias familiares e drama abrupto de perdas e infortúnios. Perda do pai, Davi, assassinado para que sua propriedade rural lhe fosse usurpada; da mãe costureira, Adélia, vítima fatal da saudade e desencanto pela morte do marido:

(…) Dias depois, minha mãe a dizer-me: – Tomaram nossa terra. Mostraram-me uns papéis que dizem que a terra foi pagamento de dívida, que foram cobrar a dívida e seu pai reagiu. Nenhuma culpa tiveram, somente se defenderam, foi o que disseram. Agora, minha filha, é trabalhar nesta máquina para comer, pagar o aluguel da casa e o pouco vestir.

Muitos meses assim se passaram. O cantar da máquina de costura havia perdido as notas da alegria. Minha mãe cada vez mais triste, assim definhava. Compreendi que o riso de meu pai é que lhe alimentava a alma. (…) Quase dois anos depois da morte de meu pai, ela também se foi. Fiquei só. (…). (FAHEL, 2018, p. 29).

Numa artimanha do destino, logo depois da morte da mãe, Valquíria tem sua pureza roubada pela violência de um gesto equivocado de vingança. Seu algoz: João Vitório, o mesmo José Alfredo dos Anjos, o homem que a aprisionaria em grande parte de sua trajetória, subjugando-a em vários momentos de sua vida, mas não calando sua força e luta para dele se libertar ao encontro do seu único amor: Jonathan, o valoroso suíço que conhecera em sua longa e penosa vivência na cidade de Itabuna, para onde fugira e, num revés da sorte, fora novamente encarcerada nas teias do destino.

A odisseia de Valquíria, revela a maneira de como as mulheres do seu tempo se submetiam aos padrões misóginos impostos pela sociedade da época, especialmente no sul da Bahia. Tentar sair da situação de submissão muitas vezes custava a humilhação, o banimento social, a vergonha, o medo, que as faziam agir segundo os costumes. Porém, a transgressão foi a marca da personagem que, na sua trajetória de dor, repressão, violência e até traições daqueles que julgava confiar, em cada vicissitude da vida, se vestiu de força e determinação para, de fuga em fuga, encontrar sua liberdade e o amor do homem por quem se apaixonou.

O sistema cultural, no qual Valquíria estava inserida, fruto do machismo preponderante do coronelismo das décadas iniciais do século XX na região cacaueira do sul da Bahia, cobrava-lhe submissão, virtude e fidelidade, pois a imagem feminina estava qualificada como frágil e como objeto do poder masculino. Valquíria, contudo, distancia-se dessa premissa, pois se rebela contra esse sistema e contra um casamento realizado através de uma trama de falsidades ao buscar lutar por seus sonhos e felicidade. Desta forma, ela é uma representação das mulheres que se recusaram aceitar às injustiças de seu tempo.

Em ambos os romances aqui abordados, a narrativa de Margarida Fahel parece incorporar a perspectiva romântica do século XIX e, desta forma, sujeitar-se ao risco da crítica contemporânea de taxa-la como temática ultrapassada. Porém, a autora não cai nesta expectativa e sustenta com graça e beleza lírica suas histórias com imprescindível crença na força do amor que move suas personagens, especialmente as femininas, em detrimento aos poderes e poderosos do seu tempo.

Ainda, em relação a passagem do tempo, embora a autora o aborde, em sua cronologia, através dos fatos históricos ou pessoais que gravitam entre o passado e o presente nas memórias das personagens,   há uma evidente perspectiva subjetiva, quase mística, na forma em que os sentidos do tempo se impõem nas pontas que entrelaçam os destinos de cada um. Assim, o tempo é visto num complexo de tensões, emoções e existências humanas que, misteriosamente, tramam seus fios como redes. Esse poderoso complexo é apresentado nas linhas e entrelinhas das narrativas de ambas as obras: no seu estilo, discurso, fluxo e ritmo narrativo. Dessa maneira, é importante salientar que, de forma geral, nem o presente e nem o passado são apresentados isoladamente nas obras da romancista, ao contrário, esses elementos estão intrinsicamente conectados.

As narrativas de Margarida Fahel nos romances “Nas dobras do tempo” e “Entre margens”, fazem do tempo uma colcha onde seus bordados são ricamente elaboradas pelos fios da memória: uma metáfora da vida que abre o seu tecido para que seus personagens, sensivelmente construídos, estendam a colcha do tempo para apreciarmos, nas cores das linhas, os mil pontos dos desenhos que bordam as histórias contadas. Tempo, memória e personagem, são os elementos essenciais da construção de ambos os textos, fazendo-nos compreender o que diz historiadora Margarida Neves:

“(…) na memória se cruzam passado, presente e futuro; temporalidades e espacialidades; (…) dimensões materiais e simbólicas; identidades e projetos. É crucial porque na memória se entrecruzam a lembrança e o esquecimento; o pessoal e o coletivo; o indivíduo e a sociedade, (…). Crucial porque na memória se entrelaçam (…) história e ficção; revelação e ocultação.” (Neves, 1998, p. 218).

Enfim, o filósofo e linguista búlgaro, Tzvetan Todorov, em sua obra “As estruturas narrativas”, afirma que “o romance é um ser vivo, uno e contínuo, como qualquer outro organismo” (TODOROV, 2003, p. 82). É certo, os romances de Margarida Fahel ganham vida própria no curso da narrativa, possuem a poderosa força das histórias contadas com sensibilidade exposta e a simplicidade que prescinde elaborações complexas para encantar seus leitores. A autora incorpora seu imaginário no vigor do seu contar, comprovando o que ainda nos fala Todorov: “(…) toda narrativa é uma escolha e uma construção; é um discurso e não uma série de acontecimentos.” (TODOROV, 2003, p. 108). Essa forma de assumir seu estilo próprio e singular, seus temas, discurso, concepções críticas e visões de mundo na tessitura da sua escrita, revelam o compromisso da autora com sua narrativa como um trabalho vital, fazendo-nos reportar, mais uma vez, às falas do filósofo búlgaro: “(…) contar é igual a viver. (…) A narrativa é igual à vida(…)”. (TODOROV, 2003, p. 127 e 128).

REFERÊNCIAS:

FAHEL, Margarida. Nas Dobras do tempo. Itabuna: Mondrongo, 2015;

FAHEL, Margarida. Entre Margens. Ibicaraí: Via Litterarum, 2018;

LE GOFF, Jacques. Enciclopédia EnaudiMemória-História. Lisboa: Imprensa Nacional; Casa da Moeda, 1996;

NEVES, Margarida de Souza. História e Memória: os jogos da memória. In: MATTOS, Ilmar Rohloff (org.). Ler e escrever para contar: documentação, historiografia e formação do historiador. Rio de Janeiro: Access, 1998;

TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. São Paulo: Perspectiva, 2003;

XAVIER, Elódia. Tudo no femininoa mulher e a narrativa brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1991.

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Margarida Fahel

A itabunense, Margarida Cordeiro Fahel é docente aposentada da Universidade Estadual de Santa Cruz, UESC – Bahia, onde atuou por longos anos como Professora Titular de Literatura Brasileira. Além de atuar como docente, exerceu vários cargos acadêmicos, tendo sido Vice-Reitora no período de 1996 a 2004. Foi Coordenadora Editorial da Revista FESPI e da Revista ESPECIARIA, periódicos científicos da Universidade. Foi membro do Conselho Estadual de Educação da Bahia no período de 1998 a 2006, onde fazia parte da Câmara de Educação Superior. Atualmente reside em Salvador. Tem três filhos e seis netos. Permanece ligada à sua cidade, Itabuna, onde preserva amigos, colegas e familiares.

Margarida Fahel é membro da Academia de Letras de Itabuna, ALITA. Como escritora, publicou artigos, resenhas e estudos críticos na área de Literatura Brasileira. Atualmente atua como palestrante de temas da sua área e dedica-se aos estudos de escritores como Jorge Amado e Adonias Filho. Destaca-se, ainda, como romancista, como as publicações dos romances “Nas dobras do tempo” (Editora Mondrongo,2015) e “Entre margens” (Via Litterarum, 2018).

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Editus lança mais um livro do escritor Cyro de Mattos

 

 A Editus, Editora da UESC, acaba de lançar mais um livro de Cyro de Mattos. Intitulado “Gabriel García Márquez e outras crônicas”, a publicação reúne 43 crônicas distribuídas em três segmentos: crônicas literárias, crônicas de futebol e crônicas de natureza diversa. Na primeira parte do livro, o autor mostra o quanto é amarga a memória da indesejada, que chega para nos privar da companhia do companheiro de letras nessa viagem em que não há retorno. Ficam apenas as lembranças do personagem que inventou mundos com a palavra, o aceno daqueles que na passagem por este planeta dedicaram-se à arte literária com alma, força e vida. Assumiram a solidão de ler a vida através da linguagem tomada emprestada à fantasia.

Em comovidas pinceladas, o cronista ressalta as veredas percorridas pelo escritor ou poeta, que fez da vida crença e sonho, meta e persistência, solidão e ternura. João Ubaldo Ribeiro, Gabriel García Márquez, Monteiro Lobato, Sonia Coutinho, Francisco Carvalho, Telmo Padilha, Salim Miguel, Nelly Novaes Coelho, Jorge Amado e Caio Porfírio Carneiro dentre outros são os personagens que motivam as crônicas enfeixadas na primeira parte do livro, ora com a poesia da vida, ora com a tristeza que a morte marca no seu julgado irreversível.

Já na segunda parte, Crônicas Esportivas, o futebol é o assunto que centraliza o texto, ora focado no futebol amador, jogado com arte e encanto no campo esburacado da terra natal do cronista, ora é a tragédia que alcançou o time da chapecoense, matando em desastre aéreo quase o time todo. O evento sinistro fez nascer do pesar imenso a união na dor entre o povo brasileiro e o colombiano.

A terceira parte apresenta-se com o assunto de natureza diversa, ora pende da aventura humana na fase da infância, que era pura curtição no azul dos dias, quando ainda não existiam os divertimentos de hoje com os jogos eletrônicos, ora circula pela cidade grande, com sua agitação no cotidiano, disputa pelo espaço, medo de ser atingido por uma bala perdida quando se rezava na missa. O cronista também logra extrair da vida o caso da mulher pobre que teve quatro filhos duma só vez, gerando apreensões para criá-los no marido, um simples dono de uma venda.  São crônicas em que se pretende revelar que a vida passa e não se basta em si mesma,  é acrescida de significados pela linguagem literária quando articulada com sentimento e razão, o que dá valor a ela.

        Cyro de Mattos é autor de mais de cinquenta livros, de diversos gêneros.  Publicado também em Portugal, Itália, Espanha, França, Alemanha, Dinamarca, Rússia, México e Estados Unidos. Agraciado com o Prêmio Afonso Arinos, da Academia Brasileira de Letras, em 1970, livro Os Brabos, novelas, o Jabuti em 1988, Os Recuados, contos, e o Prêmio de Ficção Pen Clube do Brasil, com Os Ventos Gemedores, romance, em 2017. Membro das Academias de Letras da Bahia, de Itabuna e de Ilhéus. Primeiro Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz (Sul da Bahia). Na Rubem, revista digital de crônicas, publicada em Curitiba, escreve quinzenalmente, às quintas-feiras. A revista foi criada há cinco anos como homenagem a Rubem Braga, o grande cronista brasileiro.

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Festa Literária Internacional do Pelourinho é lançada

Saiba o que vai acontecer na FLIPELÔ, de 17 a 21 de novembro

 

152 eventos serão realizados na FLIPELÔ 2021, que terá a presença de 60 escritores que lançarão suas obras ou falarão sobre literatura no Brasil, em África e na América Latina; 85 artistas ao todo participarão da Festa Literária, que acontecerá em 123 espaços do Centro Histórico, onde serão realizadas mesas de debates, bate-papos com públicos de todas as idades, encontros com autores, lançamentos de livros, saraus de poesia e cordel, programação infantil, exposições, apresentações teatrais, shows  musicais, ações formativas, vivência artesanal e oficinas gastron&oci rc;micas. Em 2021 a Festa Literária Internacional do Pelourinho acontecerá de forma híbrida, com programação presencial e virtual (www.youtube.com/flipelo), do dia 17 a 21 de novembro, e tem o escritor alagoano Graciliano Ramos como homenageado.

Escritores locais, nacionais e internacionais, poetas, artistas visuais, atores, compositores, cantores, músicos estarão em contato direto com o seu público, que em meio ao emblemático cenário do Centro Histórico poderá circular com segurança e mergulhar no fantástico mundo das letras.

Dezenas de escritores – baianos, de outros Estados brasileiros, da América Latina e África – participarão da FLIPELÔ em atividades presenciais e remotas. Teremos mesas de debate; rodas de conversa; apresentação de publicações; o espaço “Com a Palavra o Escritor”; o espaço “Terreiro de Poesia: AVOZEDITA”; bate papos; saraus; pingue-pongues literários; recitais com lançamento de livro; Projeto Contando Histórias do Metrô e o PodNews. Essas atividades literárias serão realizadas no Teatro Sesc-Senac Pelourinho, Café Teatro Zélia Gattai da Fundação Casa de Jorge Amado, Museu Eug&e circ;nio Leal Teixeira, Casa do Benin, Casarão 17 e Igreja Rosário dos Pretos.

Todos os espaços da FLIPELÔ contarão com audiodescritores. Um recurso de acessibilidade comunicacional para as pessoas cegas, que permite que elas tenham conhecimento de todo o ambiente através da descrição das imagens. As atividades que serão realizadas na Fundação Casa de Jorge Amado e no Sesc terão intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (Libras) para as pessoas surdas, com o objetivo de comunicar o que está sendo dito. Já o espaço de contação de estórias terá recursos acessíveis e contará com a presença de profissionais que trabalham com crianças e jovens com deficiência.

Rota Amado Sabores e oficinas gastronômicas

A rica, colorida e saborosa gastronomia baiana tem lugar garantido na FLIPELÔ. 28 bares e restaurantes do Centro Histórico integram a Rota Gastronômica Amados Sabores, que contará com pratos exclusivos inspirados pelo tema “Amado Sertão – Comida Sertaneja da Bahia”, com inspiração no livro “A Cozinha Sertaneja da Bahia”, de Guilherme Radel (1930-2019). Os pratos terão preços entre R$ 23,90 e R$ 69,90.Além disso, teremos oficinas gastronômicas ministradas pelo Senac Pelourinho e pala Casa do Benin.

Rota das Artes e Exposições

Dez ateliês de artistas visuais que fazem do Centro Histórico da capital baiana um espaço pulsante de criação artística irão compor a Rota das Artes. Será possível encontrar obras de artes das mais variadas, como telas em diversas técnicas, mosaicos e esculturas, dos mais diversos movimentos artísticos: Arte Primitiva, Contemporânea, Cubismo Afro-brasileiro, Arte Bruta, Fine Art, Fotografia, Pintura Corporal e Arte Digital.  Os ateliês estarão abertos ao público todos os dias da FLIPELÔ, a partir das 10h, com exposição de obras de arte.

A FLIPELÔ contará também com as seguintes exposições artísticas:

– “O Guardião”, na Casa 47 – Fundação Casa de Jorge Amado, das 10h às 18h;

– “Amados Olhares”, na Estação do Metrô – Campo da Pólvora;

– “Fluxo e Refluxo: Do tráfico de escravos entre o golfo do Benim e a Bahia de Todos os Santos, do século XVII a XIX”, na Galeria 1 do Centro Cultural Solar Ferrão, das 10h às 18hs;

– “Olhares Plurais”, na Galeria 2 do Centro Cultural Solar Ferrão, das 10h às 18hs;

– “Ocupação Ani é 10” (Galeria Lina Bo Bardi) e Acervo da Casa (Galeria Pierre Verger), na Casa do Benin, das 10h às 16h;

– “História do Dinheiro, Medalhas e Condecorações do Brasil e do Mundo”, no Museu Eugênio Teixeira Leal, das 9h às 18h.

Música, teatro e poesia

Música, teatro e poesia, três artes bem a cara da Bahia, não podem ficar de fora da FLIPELÔ. Jau (dia 17), Banda Sertanília (dia 18), Paulinho Boca de Cantor (dia 19), Margareth Menezes (dia 20), Banda Agentes do Metrô e Orquestra Sinfônica da Bahia (dia 21) serão as atrações musicais que irão se apresentar com a presença do público, seguindo os protocolos de segurança, na Praça Pastores da Noite, na Rua das Laranjeiras. Os shows também serão transmitidos no canal do evento no YouTube.

Também teremos a apresentação do espetáculo musical “Pedaço do Mundo Inteiro”, com o grupo pernambucano Em Canto e Poesia, pela YouTube, dia 19, às 17h30  e a apresentação presencial do Coral Ecumênico da Igreja Rosário dos Pretos, com a regência do maestro Ângelo Rafael, no dia 20, às 15h.

Os espetáculos cênicos contarão com apresentação de atores baianos e de outros Estados. O destaque fica para o espetáculo “Graciliano um Brasileiro Alagoano – Memórias de Heloisa”, com um elenco de atores alagoanos, sobre a vida do escritor homenageado pela FLIPELÔ, dia 18, às 19h, no Café Teatro Zélia Gattai da Fundação Casa de Jorge Amado.

A poesia terá um lugar de destaque no Café Teatro Zélia Gattai da Fundação Casa de Jorge Amado, o Terreiro de Poesia – AVOZEDITA e será tema de discussão na mesa de debate “A poesia feminina das Américas”, que contará com a presença de Marialuz Albuja (Equador), Natalia Toledo (México) e Rubis Camacho (Porto Rico), com a mediação de Edson Oliveira (BA), dia 19, às 17h, pelo YouTube.

Programação Infantil

As crianças terão uma programação especial, com início na quinta-feira, dia 19, e que vai até domingo, dia 21, sempre a partir das 9h, na Praça Pastores da Noite, na Rua das Laranjeiras. Algumas atividades infantis também serão realizadas na Igreja Rosário dos Pretos e Teatro Sesc-Senac Pelourinho. Contação de histórias, roda de capoeira, exibição de vídeos, apresentação de grupos culturais, lançamentos de livros e apresentação de peças teatrais infantis constam na programação dos pequenos.

Flipelô+

A Flipelô+ traz uma programação paralela de atividades, contribuindo para a divulgação de trabalhos e ações de instituições (museus, livrarias, igrejas, centros de estudos, ateliês, galerias, cooperativas, associações e institutos) que atuam no Centro Histórico e que são parceiros da FLIPELÔ. Nesta edição, 19 instituições parceiras participam da Flipelô+. Veja a lista: Associação Protetora dos Desvalidos (SPD), Botica Rhol, Casa da Mulher Negra da Bahia, Casa de Castro Alves, Casa do Olodum, Centro de Idiomas Mário Gusmão, Cooperativa Baiana de Teatro, Igreja da 3ª, Igreja do Passo , Instituto a Mulherada, Instituto Kimundo, Instituto Steve Biko, Katuka Africanidades, Mariposa, M.E. Ateliê de Fotografia, Mercado de São Miguel – Centro de Artesanatos, Museu Eugênio Teixeira, Museu Nacional de Enfermagem do Cofen (MuNEAM), Poison Drinkeria Club e Triângulo Atelier e Galeria.

Concurso de fotografia

“O Sertão de Graciliano” é o tema do Concurso Fotográfico Amados Olhares que a FLIPELÔ vem realizando no Instagram, com a hastag #AmadosOlharesGraciliano. 10 fotos serão selecionadas e entrarão em exposição, a partir do dia 18 de novembro, na estação de metrô do Campo da Pólvora, em Salvador. As três mais criativas serão postadas no perfil da FLIPELÔ e passam a concorrer aos prêmios de R$ 500 (3° lugar), R$ 1.000 (2° lugar) e R$ 1.500 (1° lugar). Ganha a foto que tiver mais curtidas.

Lojas e Estacionamentos com preços promocionais

Quem for curtir a programação da FLIPELÔ presencialmente poderá comprar em 41 lojas com descontos especiais.

Quem for de carro terá o conforto e a segurança de guardar seu automóvel em um dos estacionamentos regulamentados pelo evento, pagando  uma tarifa única de R$ 15 a diária, como parte do projeto “Pare no Pelô”, uma parceria da FLIPELÔ com os estacionamentos privados localizados no Pelourinho:

Delta Parking – Rua da Ordem Terceira, nº 27, próximo à Igreja e Convento de São Francisco; horário de funcionamento: das 7h às 19h; Será ofertado serviço de Valet, no Terreiro de Jesus, no valor de R$ 20;

Delta Parking – Rua Doutor J. J. Seabra (Baixa dos Sapateiros), nº 182/190, com saída para o Largo do Pelourinho; horário de funcionamento: 24h; Será ofertado serviço de Valet, no Terreiro de Jesus, no valor de R$ 20;

SMS – Rua Doutor J. J. Seabra (Baixa dos Sapateiros), nº 155; horário de funcionamento: 24h;

Vá de Metrô

Uma ação, organizada pela FLIPELÔ em parceria com a CCR, vai incentivar que os usuários do transporte público cheguem à festa literária via metrô. Localizada na Estação de Metrô do Campo da Pólvora, a ação “Vá de Metrô para a FLIPELÔ” disponibilizará vans, que farão o traslado gratuito da Estação ao Taboão, no Pelourinho, do dia 18 (quinta-feira) ao dia 21 de novembro (domingo), com os seguintes horários de funcionamento: de quinta-feira a sábado, das 9h às 22h; e no domingo, das 9h às 21h.

FLIPELÔ 2021

A programação completa da FLIPELÔ 2021 está disponível no site – www.flipelo.org.br e nas redes sociais do evento: Instagram (@flipelo) e Facebook (@flipelo).

A Festa Literária Internacional do Pelourinho – FLIPELÔ 2021 é apresentada pelo Ministério do Turismo, pela Secretaria Especial da Cultura e pelo Instituto CCR, realizado na região da CCR Metrô Bahia, com patrocínio master da Rede MaterDei e Prefeitura de Salvador; patrocínio do taú Social, Bahiagás e Governo da Bahia; apoio do Sebrae,  apoio de  mídia da Rede Bahia, Salvador FM, Irdeb-Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia, ITS Brasil, Eletromídia e Ponto Outdoor e apoio institucional da Academia de Letras da Bahia. O evento é uma realização da Fundação Casa de Jorge Amado, em correalização com o Sesc e uma produção da Sole Produções.

A Fundação Casa de Jorge Amado é mantida com apoio do Fundo de Cultura do Estado da Bahia e Shopping da Bahia e é considerada um ponto de referência na geografia cultural de Salvador.

Assessoria de Imprensa – Doris Pinheiro – 71 98896-5016 – com Roberto Aguiar, Rosana Andrade e Iven Vit

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ABL elege o músico Gilberto Gil para a Cadeira 20, na sucessão do Acadêmico e jornalista Murilo Melo Filho

 

”Gilberto Gil traduz o diálogo entre a cultura erudita e a cultura popular. Poeta de um Brasil profundo e cosmopolita. Atento a todos os apelos e demandas de nosso povo. Nós o recebemos com afeto e alegria”, declarou o Presidente da ABL, Acadêmico Marco Lucchesi

A Academia Brasileira de Letras elegeu, no dia 11 de novembro, o novo ocupante da Cadeira 20, na sucessão do Acadêmico e jornalista Murilo Melo Filho, falecido no dia 27 de maio de 2020. O vencedor foi o músico Gilberto Gil, que recebeu 22 votos. Participaram da eleição 34 Acadêmicos de forma presencial ou virtual (um não voutou por motivo de saúde). Os ocupantes anteriores da cadeira 20 foram: Salvador de Mendonça (fundador) – que escolheu como patrono Joaquim Manuel de Macedo –, Emílio de Meneses, Humberto de Campos, Múcio Leão e Aurélio de Lyra Tavares.

O Acadêmico Eleito

Gilberto Gil iniciou sua carreira no acordeon, ainda nos anos 50, inspirado por Luiz Gonzaga, pelo som do rádio e pela sonoridade do Nordeste. Com a ascensão da bossa nova, Gil deixa de lado o acordeon e empunha o violão, e em seguida a guitarra elétrica, que abriga as harmonias particulares da sua obra até hoje. Suas canções desde cedo retratavam seu país, e sua musicalidade tomou formas rítmicas e melódicas muito pessoais. Seu primeiro LP, Louvação, lançado em 1967, concentrava sua forma particular de musicar elementos regionais, como nas conhecidas canções Louvação, Procissão, Roda e Viramundo.

Em 1963 inicia com Caetano Veloso uma parceria e um movimento, a tropicália, que contempla e internacionaliza a música, o cinema, as artes plásticas, o teatro e toda a arte brasileira. O movimento gera descontentamento da ditadura vigente, que o considera nocivo à sociedade com seus gestos e criações libertárias, e acaba por exilar os parceiros. O exílio em Londres contribui para a influência do mundo pop na obra de Gil, que grava inclusive um disco em Londres, com canções em português e inglês. Ao retornar ao Brasil, Gil dá continuidade a uma rica produção fonográfica, que dura até os dias de hoje. São ao todo quase 60 discos e em torno de 4 milhões de cópias vendidas, tendo sido premiado com 9 Grammys

Em 2002, após sua nomeação como Ministro da Cultura, o Acadêmico passa a circular também pelo universo sócio político, ambiental e cultural internacional. No âmbito do Minc, em particular, desenha e implementa novas políticas que vão desde a criação dos Pontos de Cultura até a presença do Brasil em Fóruns, Seminários e Conferências mundo afora, trabalhando temas que vão desde novas tecnologias, direito autoral, cultura e desenvolvimento, diversidade cultural e o lugar dos países do sul do planeta no mundo globalizado. Suas múltiplas atividades vêm sendo reconhecidas por várias nações, que já o nomearam, entre outros, de Artista da Paz pela UNESCO em 1999, Embaixador da FAO, além de condecorações e prêmios diversos, como Légion d’ Honneur da França, Sweden’s Polar Music Prize, entre outros.

Fonte: Assessoria de Imprensa- ABL

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OS OPOSTOS REALMENTE SE ATRAEM? Raquel Rocha

Por Raquel Rocha*

Sabe aquele ditado que diz que os opostos se atraem? Esse é um conceito antigo, muito difundido culturalmente através da literatura, do cinema e da televisão. Mas seria verdade que os opostos se atraem?

Se observarmos bem, desde quando a humanidade existe, as pessoas procuram se agrupar com seus semelhantes. A explicação para isso seria que pessoas parecidas conosco inspiram mais confiança. O fato é que as pessoas costumam se apaixonar por outras com nível intelectual, moral, social, religiosos e políticos semelhantes.

A busca pelo conforto do semelhante é tão genuína que engloba até as características físicas. Uma pesquisa da New Scientist (2002) apresentou rapidamente uma série de imagens de rostos desconhecidos para os participantes. Dentre essas imagens estava uma foto do próprio participante manipulada com características do sexo oposto. E pasmem: esta imagem era considerada a mais atraente para os participantes. Esta pesquisa corrobora com o pressuposto psicanalítico formulado há mais de 100 anos, quando Freud desenvolveu a teoria do Complexo de Édipo revelando que nos apaixonamos pelas pessoas que têm características que nossos pais tinham em nossa infância, portanto características que nos são próprias.

Muito mais que a aparência, buscamos valores parecidos com os nossos. Uma outra pesquisa das Universidades do Kansas e do Wellesley analisou diversos casais e os pontos de vista de cada um dos parceiros, comprovando que eles possuíam gostos e traços de personalidade parecidos. O resultado demonstrou que as relações mais duradouras e com maior grau de intimidade eram justamente aquelas em que os participantes eram parecidos. “A similaridade é muito útil nesse contexto, e pessoas são atraídas por isso na maior parte do tempo”, afirma Chris Crandall, co-autor da pesquisa.

Se o ditado “os opostos se atraem” têm se revelado um mito nos estudos, um outro ditado faz total sentido nesta análise, o de que “toda regra tem exceção”. É claro que temos milhares de casais de pessoas que são diferentes, que pensam diferentes e estão juntos. É preciso e possível lidar com as diferenças.

No entanto, o mais comum é nos apaixonarmos por pessoas semelhantes a nós. Buscamos alguém parecido porque precisamos de alguém para compartilhar nossos medos, nossas indignações, nossas angústias, nosso hobbies, nossos planos, nossos sonhos, nossas paixões,  buscamos alguém para compartilhar aquilo que admiramos, para compartilhar nosso eu, alguém para rir junto e também chorar junto. Desejamos alguém que sabe aquela palavra que nos escapa, para completar nossas frases, para conversar através do olhar e sentir que somos compreendidos. Buscamos cumplicidade. Cumplicidade nas atividades, nas conversas, no ato de fazer amor.

O conceito de alma gêmea pressupõe “pessoas que combinam muito”, “pessoas que possuem afinidades”. Esta afinidade pode estar relacionada com “a similaridade, o amor, romance,  intimidade, sexualidade, espiritualidade, compatibilidade e confiança.” Você pode não acredita em almas gêmeas mas, ao que parece, a ciência tem demonstrado que seu conceito se aproxima da realidade. Pessoas semelhantes se reconhecem e ficam juntos. No fundo talvez buscamos alguém como a gente para sentirmos que somos compreendidos.

No filme Before Sunrise, de  Richard Linklater, Celine diz a Jesse: Se há algum tipo de magia no mundo, ela deve estar na tentativa de entender e compartilhar algo com alguém. Sei que é praticamente impossível conseguir. Mas e daí? A resposta deve estar na tentativa.”

Raquel Rocha é Psicóloga, Psicanalista, Especialista em Saúde Mental, Especialista em Terapia Familiar, Especialista em Neuropsicologia. Também é graduada nas áreas de Comunicação Rádio e Tv e Ciências Econômicas. Membro da Academia de Letras de Itabuna- ALITA.

 

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SONETOS DA MÃE AUSENTE- Cyro de Mattos

 

A casa era pequena, mas em tudo
os dias tinham tuas mãos zelosas.
Colocavas nos vasos aquelas  rosas,
como sonho na manhã perfumando,

esbanjavam pelos ares ternura.
Davam vida à máquina de costura
tuas pernas ativas. Os bordados,
beleza tecida, sempre lembrados.

Como o mundo de Deus era grandão.
Dizias que primeiro a obrigação,
depois, filho, é que vem a diversão.

Só de lembrar me dão água na boca
teus doces. Cativando com açúcar
das mãos divinas as amargas nunca.

II
A casa toda alegre, a manhã sente
tua voz comovendo desde cedo,
os afazeres no ar iluminado
por teu jeito de torná-la cantante.

No quintal do vizinho passarinhos
faziam o coro com outros cantos.
Não sei qual dos cantos era o mais lindo,
o teu com o filho contente, sorrindo

ou o deles na festa, entre tantos,
a manhã pura bicavam, afoitos.
Como se fossem hoje os teus gestos

ainda estão nítidos dentro de mim
ligados num sonho que não tinha fim.
Tua voz, mãe, não ouço, teve um fim.

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A DOR DA SAUDADE- Marcos Bandeira

O tempo passa inclemente,

O dia de sua partida, não se distancia,

A dor que me invade, me angustia

E você permanece inerte, indiferente.

Diga-me, por favor, aonde está agora?

Seu sorriso, seus problemas e seus sonhos?

Esperançoso, penso ainda em sua volta

Mas sei que não virá… E logo choro.

Sem você, a vida perdeu muito de sua graça

A dor de sua ausência fere e me estilhaça,

E o tempo, indiferente, simplesmente passa…

Algo na rua ou no infinito me lembra você,

As lágrimas denunciam a saudade incontida,

E resgatam lembranças que eu gosto de ter.

Marcos Bandeira

19.02.2000

(Pouco mais de dois meses depois da morte de seu querido irmão, Marcello Bandeira).

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