Confraternização da ALITA- 2021

Na noite do dia 14 de dezembro de 2021 os membros da Academia de Letras de Itabuna- ALITA se reuniram no Clube Cidadelle para o tradicional jantar de confraternização da instituição. A programação foi organizada pelo Acadêmico Marcos Bandeira e noite foi abrilhantada pelo músico Humberto.

Uma noite de música, poesia, dança, de celebração da vida, das letras e da amizade.

 

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O MENINO QUE VIA A VIDA ACONTECER- Sônia Carvalho de Almeida Maron

        O melhor mirante da cidade era o alto do telhado, de onde se via a vida acontecer no céu e na rua, por onde passavam personagens e fatos importantes que iriam marcar a vida do menino para sempre. (In: Cyro de Mattos, contracapa do livro Histórias do mundo que se foi, editora Saraiva, SP, em sexta edição, Prêmio Adolfo Aizen da União Brasileira de Escritores-RJ )

           Aquele menino da Rua Ruy Barbosa tinha mesmo um jeito diferente. Em nossa rua não existiam estranhos: do primeiro ao último quarteirões, famílias trocavam sorrisos e cumprimentos, das crianças aos mais velhos. E o menino passava para o colégio, muitas vezes em companhia do irmão mais velho, compenetrado e sério, segurando a pasta com os livros como se fossem uma carga preciosa. O irmão mais velho tinha o riso fácil e todas as vezes que passava em frente à minha casa sorria de forma amistosa. Os pais do menino gostavam de mim, eu tinha certeza, pois sabiam o meu nome e conheciam meu pai.

         Na vida mansa da nossa rua todos eram conhecidos e a maioria amigos de verdade. As famílias visitavam-se, sentavam-se em cadeiras colocadas nos passeios nos dias de domingo, enquanto as crianças pulavam corda, jogavam bola de gude, pulavam amarelinha e cantavam cantigas de roda nas noites de luar. O menino fazia parte desse nosso mundo, mas eu sentia que participava de uma forma diferente:  meus olhos de criança não sabiam definir se era tímido ou se não queria participar de nossas brincadeiras por ter coisa melhor para fazer. Eu desconfiava que fosse mais amigo dos livros do que de nós.

         E o tempo foi passando. Os colégios da cidade não permitiam que os jovens sonhassem com as carreiras mais nobres, não existiam faculdades. O menino e o irmão contaram com o apoio do pai e seguiram para a capital identificada pelos mais velhos como “Bahia”. Àquela época diziam com orgulho “meu filho foi estudar na Bahia”, como se Itabuna fosse um lugar distante e fora do mapa do Estado. É que o privilégio de estudar na capital era restrito aos mais abastados da classe média. As famílias de milhares de arrobas de cacau enviavam os filhos para os colégios e faculdades do Rio de Janeiro e São Paulo.

          Não é que o pai do menino fosse um homem arrogante e rico como muitos coronéis do cacau. Ao contrário. Era um homem simples e trabalhador, sem diplomas e títulos, mas vislumbrava um futuro grandioso para os filhos e, para ele, o estudo era o único caminho. Acertou em cheio e ganhou um filho médico e o outro advogado.

         O jovem advogado iniciou, sem muito entusiasmo, o caminho das lides forenses. Gostava mesmo era de escrever, escrever de verdade, coisa diferente das petições dos processos cíveis e criminais. E enfrentou o desafio. A força que o conduzia para a carreira sonhada era mais poderosa que o encanto dos embates da advocacia. Determinado, passo a passo, conquistou o reconhecimento do mundo literário do país conseguindo o que poucos alcançaram: Cyro de Mattos é um escritor. Não um escritor qualquer. O itabunense que via “a rua acontecer no céu e na terra, do alto do melhor mirante da cidade, o telhado de sua casa”, como podemos ler na contracapa de um dos seus livros, Histórias do mundo que se foi, coleciona prêmios e títulos como ficcionista, cronista, ensaísta, poeta e demais variantes que pode assumir um verdadeiro escritor. Por último, representará sua cidade na Academia de Letras da Bahia, na cadeira de nº 22, que teve como membro fundador o mais conhecido e ilustre dos baianos, Ruy Barbosa. Sem esquecer que leva em seu currículo os títulos de membro da Academia de Letras de Ilhéus e membro fundador e idealizador da Academia de Letras de Itabuna – ALITA.

         Cyro de Mattos é “prata de casa” da melhor qualidade. Todos sabem que seu currículo é conquista de poucos e nossas academias são citadas primeiro por motivo puramente sentimental.  Em resumida amostragem, registre-se o título de membro efetivo do Pen Clube do Brasil e Ordem do Mérito da Bahia, no Grau de Comendador. Em suas incursões pelo mundo integrou a delegação brasileira de Poetas da Universidade de Coimbra, em Portugal, e no XVI Encontro de Poetas Iberoamericanos da Fundação Salamanca Cidade de Cultura e Saberes, na Espanha. Foi agraciado com vários prêmios literários de expressão, sendo autor de mais de cinquenta livros no Brasil e no exterior.

         A Rua Ruy Barbosa, na cidade de Itabuna, Bahia, Brasil, passou à imortalidade. A geração de Cyro de Mattos, que é também a minha, festeja a conquista de um dos seus meninos do Ginásio Divina Providência. Festejamos o amigo que desenvolveu a admirável arte de observar o mundo com os olhos e o sentimento que só conhece quem adquiriu o conhecimento guardado nos livros, sobre terras, homens e tempos e serve de exemplo para a geração que se recusa a reconhecer a força mágica que o livro empresta à nossa vida.

  • Sônia Carvalho de Almeida Maron é escritora, juíza de Direito aposentada, ex-professora de Direito da UESC, uma das fundadoras da Academia de Letras de Itabuna, foi presidente da instituição por dois mandatos.
  • Fonte Alita, 2016

                                                          

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Academia Brasileira de Letras lança Dicionário da Língua Portuguesa on-line

A partir de 7 de dezembro, site ganhará todo mês uma nova seleção de verbetes, que contará ainda com a participação dos usuários

Academia Brasileira de Letras apresenta os primeiros verbetes do Dicionário da Língua Portuguesa (DLP), disponível exclusivamente em versão on-line no site da Instituição, para que o público conheça a obra e acompanhe a sua construção, de forma transparente e interativa. Inicialmente, serão apresentados os primeiros verbetes de A a Z. O acesso será amplo e gratuito, em constante atualização, acompanhando a evolução do idioma. Todo mês, a partir de 7 de dezembro, o site ganhará uma nova seleção de verbetes, ampliando a abrangência lexical da obra. O objetivo é oferecer um dicionário sincrônico, funcional e democrático, feito com os falantes do idioma e para eles. Estima-se o registro de 200 mil entradas e subentradas. O projeto é do Acad&ec irc;mico Evanildo Bechara, presidente da Comissão de Lexicologia e Lexicografia da ABL.

O dicionário contará ainda com a participação dos usuários. Futuramente, o site abrirá espaço para que o público possa sugerir palavras e significados, a serem avaliados pela equipe de lexicógrafos. O intuito é que a obra acolha criteriosamente diferentes matizes linguísticas e atualizações nas diversas áreas do conhecimento, sobretudo para cobrir as variantes semânticas, conforme o melhor emprego do idioma em cada região do país. Em breve as entradas do DLP também estarão disponíveis na Língua Brasileira de Sinais (Libras).

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CARO AMIGO CYRO- Margarida Fahel

Aquilo que há de mais profundo e imorredouro em nossa memória, creio eu, são as vivências da infância e da adolescência. Talvez pela pureza que existe em todos nós, naquela fase da vida, vasos limpos de ideias inculcadas em nossas mentes e em nossos corações. Talvez uma tela a ser pintada pela vida, usando uma frase clichê. E as primeiras pinceladas sejam de puro encanto, de descobertas de prazer e surpresas diante do mundo ainda quase sem barreiras. Assim, lá, no lugar mais recôndito da criança que todos fomos, as cores, os raios de sol, a lua prateada, o verde das árvores, o desabrochar das flores, as cores do céu, tudo encontra espaços limpos, onde não há “ não pode”, “não deve”, “ agora não”. E, então, tudo fica ali, bem guardado.

Também vivi em sua/nossa cidade. No meu caso, a partir dos dez anos, quando me esperava o famoso exame de admissão ao ginásio. Nasci e vivi até aquela idade numa cidadezinha ainda muito menor que a sua/nossa. Sem calçamento, sem luz elétrica. O Grupo Escolar, um pouco afastado do pequeno centro, uma pequena igreja, um grande barracão, no meio da enorme praça de chão batido, que servia para feiras e festas. Tudo, entretanto, muito limpo, como se um vento diário tudo varresse. Naquela praça, alguma vez, o mundo maravilhoso do circo.  “Para o ano eu vou voltar,” cantavam em coro os artistas, parodiando Asa Branca, de Luís Gonzaga. Aquilo era visão de felicidade… Daquela pequena cidade, então distrito da “sua/nossa”, guardo sabores, aromas, sons e imagens que, quantas vezes, se apossam de mim. E o sentimento é o mesmo! Alegria, encanto, graça. E saudade. E lá está a goiabeira do quintal da tia Raquel, ali estão as poças d’água prateadas nos dias de chuva, a cantoria de roda, meninas e meninos na enorme praça vazia… E o cheiro quente do “joão duro”, um biscoito duro como pau, saído do forno da padaria ali mesmo na esquina… E a voz de Dona Milu, uma senhora bem magra e alta, muito limpa,  de pele lustrosa, que diziam “ não ser boa da cabeça”, e que batia de porta em porta, pedindo: “ banana… banana… banana…”

E vem mais. Vem minha melhor amiga daquela meninice, minha vizinha Hildete. Hildete, da qual nunca tive notícias, passados aqueles anos. Sentadas em caixotes baixinhos, um outro a nossa frente, recortávamos velhas revistas, para costurar vestidos de papel. Terá se tornado ela uma modista, ou costureira? Eu me tornei professora. De gente pequena, de gente grande, nunca mais recortei vestidos de papel…

E me vem a voz de Dona Quequé, nossa vizinha, com sua vara na mão pelas madrugadas, concretizando com força os gritos com que esperava o jovem filho rapaz, que teimava em chegar das farras ao nascer do dia.

Mas ficou daqueles tempos a lembrança de alguns anos vividos numa fazenda de gado dos meus pais. Rio, pequenas enchentes, árvores a sombreá-lo… Bois, vacas e os bezerros dando cabriolas. A fogueira acesa todas as noites para espantar cobras, mas também porque era bonito de ver, dizia meu pai. E, sol nascendo, tinha leite tomado quente junto da vaca (Os nomes de duas delas até hoje me lembro: Andorinha e Espanhola).

Mas havia mais e isso, talvez, responda um pouco ao que me tornei depois: por ali passavam para pernoitar, ante um caminho mais longo, dois conhecidos de meu pai. O nome de um nunca se esqueceu de mim, Pedro Martins, um contador de histórias. Meu sono não vinha, não adiantava minha mãe insistir, enquanto ele tivesse voz para contar…Eram noites de príncipes e princesas, de bichos e gentes à luz da fogueira reavivada. Sem contar que meu pai também era, para mim, um frequente e bom contador de histórias. Histórias que se passavam na Espanha eram as suas preferidas. Sevilha, Barcelona, Andaluzia… Através delas, comecei a caminhar por terras distantes, por lugares desconhecidos. E ele contava, contava e cantava…

Cyro, a tudo isso seu encantador “romance de infância” me levou… E a muito mais…

Então, agradeço a sempre consideração e amizade, e parabenizo-o por mais um livro e por esse veio de lembranças de um tempo de paz. A paz do menino que se tornaria um grande escritor. E que nunca se esqueceu de cantar a sua terra.

Um abraço fraterno para você e para Marise.

Margarida Fahel.

Salvador, fevereiro de 2021.

Cyro de Mattos, Nada Era Melhor, da Editus, , 2020

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O PALHAÇO COCADA FOI EMBORA – Cyro de Mattos

Recebo do Conselho de Cultura de Itabuna a notícia desagradável.
A nota de pesar diz que lamenta profundamente o falecimento, nesta data de 1º de dezembro de 2021, de Raimundo Maia, agente de cultura que atuou no cenário grapiúna como ator, humorista, cantor, compositor, músico, instrumentista, artesão.

Despontou, sobretudo, como o famoso “Palhaço Cocada”, fosse realizando os seus shows, apresentando programa de TV, de rádio ou como garoto propaganda de vários empreendimentos empresariais, levando alegria, risadas, promovendo o que de melhor um artista nato pode fazer pela humanidade: a felicidade, o sorriso farto, solto e verdadeiro.

Palhaço Cocada entra para o rol dos grandes nomes que contribuíram, com o seu trabalho, para o enriquecimento da cultura itabunense.

Que Deus misericordioso receba o seu espírito em luz, ao tempo que dê força, resignação e compreensão aos amigos e familiares para que esse momento de profunda tristeza esteja transformado, com o tempo, na saudade mais macia que pede seja sentida por um ser humano que dedicou a sua vida a tornar melhor o dia a dia do povo.

Comento a notícia dada pelo presidente do Conselho de Cultura, Egnaldo França, ativista cultural no universo do negro afrodescendente, pelas terras de Itabuna.  O Palhaço Cocada, além de ser um poeta do riso no trânsito da vida, um artista múltiplo da cultura, era um homem simples, de bom coração. Sem ele, a vida fica privada de quem fazia do mundo uma criança com palhaço e lambança. Certamente vai fazer nos céus dos céus que os anjos se esbanjem na risada.

Também rogo a Deus, nosso pai eterno, que o receba para a morada alegre da paz. Sempre soube que o mundo encanta quando é feito em momentos ricos quando nos oferta a beleza do braço ao abraço, do sentido com o riso, da flor quando se entreabre na planta. E assim, no curso da beleza inexplicável da vida, tudo de bom nos oferece de graça, não quer nada em troca, a não ser o amor, nosso sentimento mais forte.

 

 

 

 

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AI, SAUDADE DÓI- João Otavio Macedo.

Todos os seres vivos estão condenados à morte desde o momento de sua concepção e nós, situados no topo da escala animal , passamos a nos preocupar e discutir esse assunto com as pessoas mais velhas, os amigos, os religiosos já que a finitude da vida ´é inexorável e brutal, levando uns mais cedo, outros mais tarde e a morte acaba fazendo parte da vida. Não importa a causa, a morte permeia o pensamento da maioria das pessoas e dela não escapamos.

Todos lamentam e choram os seus mortos levando Saint Exupéry a acrescentar que “cada pessoa que passa em nossas vidas, passa sozinha, mas não vai só nem nos deixa sozinhos; leva um pouco de nós mesmos: deixa um pouco de si mesmo”.

Hoje, 12 de novembro, completa um ano que perdemos a nossa querida e sempre lembrada Zina, a doutora Zina para quem as crianças constituíam o seu mundo e era pior elas amada. Cuidar dos pequeninos era a missão maior do seu trabalho. Na nossa família, eu, nossos filhos, netos , noras, parentes e amigos perdemos um verdadeiro tesouro e a comunidade regional deixou de receber a dedicação de uma pediatra que, por 51 anos, cuidou de muitas crianças de Itabuna e da região , sempre com um sorriso suave a emoldurar uma face  serena  e amiga.

Ainda choramos a sua partida pois, como dizia Shakespeare “chorar é diminuir a profundidade da dor” e, vez por outra, chegamos a acreditar na afirmação de Guimarães Rosa que “ as pessoas não morrem, ficam encantadas!, pensamento parecido com outro gigante da literatura, o bardo lusitano Fernando Pessoa quando exclama que “a morte é a curva da estrada. Morrer é  não ser visto”.

Não há dor parecida com a perda de um ente querido; nenhuma dor física, por mais renitente e penetrante, atinge as dimensões da dor de uma saudade. Por isso mesmo usei o título de uma composição de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga para iniciar a nossa conversa:” Ai, Saudade Dói “. O escritor Coelho Neto também deu sua colaboração sobre o tema ao escrever que “a saudade é a memória do coração”.

E mergulhado nesse oceano de dor e de saudade, vou atrás   de um menestrel do Cariri, o cearense Antônio Gonçalves da Silva, muito conhecido como Patativa do Assaré quando exclama:

Saudade dentro do peito

É qual fogo de monturo

Por fora tudo perfeito

Por dentro fazendo furo

Há dor que mata a pessoa

Sem dó e sem piedade

Porém não há dor que doa

Como a dor de uma saudade”

E assim, prezados leitores, externei meus pensamentos sobre a perda de um ente querido; é um assunto assaz complexo para ser resumido em poucas   linhas; o povo costuma dizer que “cada cabeça, é um mundo” e é a mais pura verdade.

João Otavio Macedo.

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O GRAFITEIRO POETA – Cyro de Mattos

O Grafiteiro Poeta

Cyro de Mattos

          Ultrapassada a fase criativa sob o domínio da inspiração e da transpiração, um dia o autor imagina que o primeiro livro está pronto para ser editado. Vai ser útil ao outro na leitura do mundo. Ainda não sabe como é complicado publicar um livro por editor no circuito nacional, principalmente quando se trata de poesia. Com o mineiro Ney Mourão não foi diferente. Durante vinte anos, o poeta de Notas dispersas pelas paredes vinha   batalhando a publicação de seu primeiro livro. Chegou a ter uma ideia desesperadora nesse desejo de vê-lo finalmente editado. Começou a grafitar poemas nos muros da cidade.

            Assinava-se “poeta à procura de editor”. Ante o espanto de alguns e indiferença de muitos, grafitou cerca de duzentos poemas. Andou quilômetros, em três anos, a pé e de ônibus. Cobriu quase todos os bairros da cidade. Várias vezes foi preso e humilhado. Serviu como tema de redação nas escolas. Foi dado como morto. Souberam que o poeta estava vivo. Foi entrevistado e virou notícia na mídia. Mas nada de encontrar até então o editor de seu livro de estreia.

            Em seu destino de ser poeta, com a marca da vida e do sonho nos muros, nunca desistia. Fazia, no itinerário das madrugadas de um homem só, que Belo Horizonte amanhecesse riscada de versos comoventes. Como estes do conhecido poemeto “Lampejo”: “Apague/a rua/que a lua/tá linda!”. Ou ainda estes de “Light”, de conotação surrealista: “Às vezes / de tão feliz/ ela acorda/ e sai por aí/ a t r o p e l a n d o b o r b o l e t a s”. Ou também nestes de “mercadolivrepontocom”: “Troco/ um apito de fábrica/por um canto de pássaro”. Entre tantos poeminhas, que lembram o haicai, pela síntese construtiva, intencionalidade de grande beleza imagética, não posso deixar de citar estes versos primorosos de “Litúrgico”: “Grafite de Deus/é arco-íris/ no horizonte!”.

            Em sua composição técnica e estética, como numa peça sinfônica, o conjunto destas gritantes Notas dispersas pelas paredes reúne poemas curtos na maioria das vezes. Acordes no elétrico emocional do espírito para iluminar o ar. Repercutir nas ruas e invadir as casas. Coexistem, em sua partitura musical, como elementos constituintes do discurso terno quase sem o liame entre o poeta e o leitor, leia-se ouvinte, eliminando-se o que se considera ser tão-somente um formalismo desnecessário, na esperança de aumentar em suas conexões sensoriais o poder emocional que emerge em cada verso.

Mas esse mineiro criador de uma poesia nas paredes e tapumes também se sai bem quando escreve o poema com desdobramento da razão emotiva. Nesse particular, anotem como fatura exemplar do eu lírico os textos denominados “Inventário”, “Poema Musical para Roer as Unhas” e “Indo”. Neles o poeta não pretende explicar a vida, o que para o poeta Drummond, o trivial lírico de Itabira, é inexplicável. Sob aspectos pungentes, transmite a beleza inevitável da poesia na vida, também inexplicável, em momentos de chuva, lágrima e solidão colados em nossa condição humana, nestes agudos ritos de passagem no sempre.

            Trata-se de uma poesia de captação fácil, como talvez deva ser nos tempos atuais de velocidade, como quer Calvino. Seu discurso articula-se com rapidez para ser ouvido pelo outro mais o mundo, seduz com a enunciação sensitiva de seu conteúdo. O leitor vai encontrar nessas estridentes Notas dispersas pelas paredes o andamento da beleza com motivações múltiplas no exercício da vida.

            Nos tempos de hoje, em cujo ritmo uma sociedade pós-industrial impele-se pela automação, pela massificação e pelo consumo, vale a pena tomar conhecimento da estreia desse poeta mineiro. Sua voz de grafiteiro poeta lateja emoções lindas. Em nervura e cumplicidade de palavras polivalentes, mostra o quanto o homem tem de grandeza em sua consciência grafitada com razão e emoção.

Cyro de Mattos é escritor e poeta. Membro Titular da Academia de Letras da Bahia e do Pen Clube do Brasil. Primeiro Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz.

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DISCURSO DA FUNDAÇÃO DA ACADEMIA DE MEDICINA DE ITABUNA- Silvio Porto

Academia de Medicina de Itabuna!

Sejam todos bem vindos , para presenciarmos o nascimento da Academia de Medicina de Itabuna, Marco histórico da nossa cidade e vamos lembrar de vários médicos que fizeram história no sul da Bahia.

Lutas e conquistas marcam a trajetória dos nossos médicos que construíram uma imagem vitoriosa da nossa medicina. Esta Academia vem para ser reverenciada principalmente pelos que a mais entende e compreende: os próprios médicos. Vida longa para esta casa e que ela venha engrandecer ainda mais a nossa valorosa classe médica e defender a boa medicina e o bem estar da população. O lema da nossa Academia será sempre pelo respeito aos médicos do nosso passado, a união dos médicos no presente e o compromisso de buscar que os nossos médicos mais jovens e os nossos acadêmicos de medicina trilhem o caminho da ética, da justiça, da beneficência e da não maleficência pilares do nosso compromisso bioético.

Hoje 19/11/2021 , estamos fazendo História. Fico feliz e contribuo mais uma vez com a minha querida cidade de Itabuna ao ter a ideia de imortalizar a medicina de minha terra com esta Academia.  Chega tarde, mas chega a tempo de resgatar os nomes de médicos que construíram uma história de glórias da medicina grapiuna. Trabalho difícil escolher 40 nomes entre patronos e acadêmicos fundadores entre centenas de valorosos médicos que viveram entre nós e foram importantes e expoentes na nossa trajetória ao longo dos anos.  Alício Peltier de Queiroz na década de 1930 , no século XX, criou em Itabuna a Sociedade Medico-Cirúrgica.

Na nossa opinião foi o início de tudo que seguiu, e tempos depois em 1974, o médico Renato Costa teve a ideia com a ajuda de João Otávio e Mercia e do Provedor Calixto Midlej Filho, de plantar outra semente cientifica na nossa história médica Contemporânea, ao fundar o Centro de Estudos Professor Edgard Santos na estrutura da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna.
Este evento coincidiu no mandato do então Provedor Calixto Midlej Filho, que embora não sendo médico foi um dos grandes responsáveis pela transformação da medicina de Itabuna, dando início a valorização da pós graduação e especialização do corpo clínico dos médicos da instituição.

Alguns anos depois, tivemos a revitalização da Associação Bahiana de Medicina Regional de Itabuna, com um magnífico trabalho de Luís Boanerges Lima Fortunato Pereira na Presidência e Alair Rocha de Castro na Secretaria Científica. Este trabalho possibilitou no ano de 1985, realizarmos o I Congresso Médico do Cacau, marco histórico da nossa medicina regional.

A História que estamos contando não é um livro fechado, um veredicto final. Numa sociedade democrática , pode ser corrigida. O que estamos fazendo agora é uma reconstrução do que ocorreu desde 1930, elegendo médicos que mudaram o curso da nossa história com relevantes serviços prestados a sociedade e a medicina, bem como outros que contribuíram para elevar o nosso ensino a um patamar respeitado em toda Bahia e Brasil, haja visto o prestígio do nosso Curso de Medicina da UESC , da nossa recente Faculdade de Medicina Santo Agostinho, e do nosso Curso de Medicina da Universidade Federal Sul da Bahia, que embora a Faculdade de medicina esteja na cidade de Teixeira de Freitas , Itabuna e a sede da Reitoria e outros que buscaram maior qualificação como mestrado e doutorado e outros que produziram trabalhos científicos importantes .

Outro fato relevante é que estamos nascendo com o apoio da Faculdade de Medicina Santo Agostinho, primeira Escola Médica Particular de Itabuna, e que gentilmente nos cede uma sala para funcionar a nossa sede. Esta Academia vem premiar médicos que ofereceram condições de melhorar a qualidade de vida da população do Sul da Bahia. Médicos que individualmente ou coletivamente se dedicaram ao progresso científico e tecnológico da evolução do nosso modelo de saúde existente hoje na nossa cidade. Espero que esta Academia chegue para ficar, e que seja mais um instrumento de desenvolvimento e consolidação da nossa medicina. Que faça reverberar em luz, para os novos médicos que estão chegando a nossa cidade e seja uma fonte de inspiração para estimular a ética, a dignidade de ser médico e construam uma vida exemplar, valorizando a grandeza do conhecimento científico que é a alma nutriz da sabedoria médica associado ao trabalho diário , unindo o conhecimento, a sacrossanta missão de cuidar das pessoas, de instruir e educar o jovem ou não tão jovem profissional e fazendo-o entender que está nas suas mãos e atitudes o futuro da nossa profissão.

Esta Academia nasce com o propósito de estimular o progresso científico e profissional, porque o médico que estuda estabelece o fundamento , a causa e a finalidade de toda instituição que procura servir a sociedade e que na área médica se torna essencial. Espero que esta casa transmita ciência e arte com o firme propósito de construção de uma sociedade médica em Itabuna que procure sempre personalidade ética e moral e conhecimento. Estamos hoje plantando neste solo grapiuna, que produziu o fruto do cacau e que foi a maior riqueza da Bahia sob a proteção da Mata Atlântica , a nossa Academia de Medicina.

O solo, a terra existe para sempre. Os nossos médicos que já morreram e hoje são fonte de inspiração para os que honradamente estão se Imortalizando ao entrarem neste solo da ciência em vida. Que o saber médico seja uma semente fecunda nesta terra.  O que era um sonho, hoje se transforma em realidade. Que a semente de hoje, acorde amanhã como uma realidade para Itabuna, para a Bahia.

É considerado imortal todo aquele que fez ou faz de sua vida uma obra a ser lida, a ser internalizada. É objetivo da Academia de Medicina de Itabuna manter viva, na memória de todos, a contribuição que ilustres homens e mulheres deram, no sentido de colaborar para o aperfeiçoamento da sociedade e da humanidade. O meu desejo que esta Academia simbolize elos de união com todas gerações de médicos que passaram por Itabuna , como uma corrente que une todos que um dia pertenceram e os que ainda pertencem a esta maravilhosa cidade .

A nossa intenção agora é cerrar fileira ao lado da Academia da Bahia e de Feira de Santana na defesa da boa medicina e estimular outras cidades a seguirem o mesmo caminho. Os integrantes das Academias de Medicina do país (nomes reconhecidos por suas trajetórias técnicas, científicas, educacionais e éticas) consideram que as ações das nossas entidades médicas ao lado da FBAM – como uma das entidades médicas nacionais – se alinha com suas parceiras institucionais: Associação Médica Brasileira (AMB), Associação Nacional dos Médicos Residentes (ANMR), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Federação Nacional dos Médicos (Fenam).

Vamos lado a lado lutar para atender às expectativas da população brasileira de melhora na assistência, objetivo que será atingido apenas com a adoção de medidas estruturantes, como o aumento de investimentos no setor e a criação de uma carreira de Estado para o médico do Sistema Único de Saúde (SUS) e outros profissionais. Nosso próximo passo após a instalação em março de 2022 será a nossa filiação a Federação das academias de medicina brasileiras (FAMB) tendo como madrinha a Academia de Medicina de Feira de Santana , com o apoio da Academia de Medicina da Bahia e da Academia Nacional de Medicina.

Nós somos da Bahia! Bahia de todos os Santos e de todos orixás!
Somos da terra de Nosso Senhor do Bonfim !
Somos Itabuna!
Somos Brasil!
Deus seja louvado!

Silvio Porto de Oliveira.

 

Homenagem da Academia de Medicina de Itabuna ao Dia do Médico- 18/10/2021!

Dia do médico!
Dia de homenagear a dedicação dos profissionais médicos, que nesta pandemia foram para o front de batalha contra o Coronavírus, sem medo de morrer.
Todos sabiam que estavam indo para uma guerra sanitária, jamais vista no mundo.
E todos sabemos que quando vamos para a guerra , podemos salvar ou morrer.
A Classe Médica Brasileira deu um exemplo gigantesco de solidariedade, coragem, entrega, amor, fraternidade nesta luta.
Morreram mais de 600mil, mas saltávamos mais de 20milhoes que foram atingidos.
Valeu a pena!
Temos que agradecer pela atuação de todos médicos nesta batalha, e enaltecer a força da nossa medicina em prol da saúde brasileira.
Vamos saudar com louvor nossos médicos brasileiros em especial os da nossa cidade que com respeito, ética, cuidado , zelo e muita atenção cuidaram da nossa população do Sul da Bahia.

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Ofício com a Homologação do resultado das eleições para Diretoria 2022-2023

Itabuna, 20 de novembro de 2021

Confreira Silmara Santos Oliveira,

MD Presidente da Academia de Letras de Itabuna – ALITA

 

Assunto: Resultado da Eleição da ALITA

 

Prezada Confreira,

Ao cumprimentá-la cordialmente encaminho resultado do processo eleitoral para a nova diretoria da ALITA, gestão 2022-2023.

A eleição ocorreu no dia 18/11/2021 por meio eletrônico, tendo sido aberto o processo a partir das 8h e encerrado às 18h, com um total de 21 votantes, sendo 20 votos para a chapa única inscrita no pleito e 1 voto nulo.

Considerando o resultado comunicamos a homologação da chapa está eleita para o próximo biênio a se iniciar em 2022.

Codialmente,

Comissão Eleitoral

Joana Angélica Guimarães da Luz

Maria Luiza Nora

 

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POEMAS DO NEGRO Por Cyro de Mattos (DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA)

 

Abolição

Na zoeira do terreiro

Batucam que batucam

Tambores sem cambão.

Trepidam nesses punhos

O suor, a lágrima, o sangue

Nos rastros do negro fujão.

Todos batem nesse tambor,

Pode até não ser de fato

A tão esperada abolição.

Mas é o começo duma hora

Que se faz tão grandiosa

Como o verde na amplidão.

 África agora é uma só voz

Na esperança das manhãs

Sem o ferro do vilão.

……….

Canga

Não se logra extrair

Os ossos dessa massa,

Os músculos mutilados

No esforço dos anos.

Tuas mãos, escravas,

Alimentadas na turva

Ferida, dor sem cura.

A atrocidade no ferro

Que furou o coração,

 A enchente na vala

Que transbordou de mágoa,

Nuvens não tocadas.

Nunca será paga a conta

Na mancha que envergonha.

Como herança os rastros

Dessa noite escura na pele

Que te lança nos muros,

Agarra-te  nas  manhãs

Com sua claridade vista

Apenas pelos não pretos.

Até quando barreiras

De tua  cor opaca farão

Da vida  uma coisa qualquer,

Desigual, desvão sem canto?

…………….

Pelourinho

Como suportar?

Treze… trinta… cinquenta…

Até o último gemido.

Os outros olhando

Cada chibatada. Tristes,

Sem nada fazer.

Ladeiras gastas.

E esse vento que recusa

Ao largo a desgraça.

……….

Escravo

Uma mão

Feito casca

Não lava

A outra

Feito lixa.

Ásperas

As duas

Feito bucha

Limpam

As duas

No esmero

Do senhor.

Limpam

As sobras

Ou  largura

Depois de lá

De dó em dó.

Perto

De o dia

Clarear

Até o sol

Morrer.

……………
Zumbi

Falo Zumbi,

Digo Palmares,

Ritmo da liberdade.

Falo Zumbi,

Digo Palmares,

Batuque da igualdade.

Falo Zumbi,

Digo Palmares,

Manual da fraternidade.

Falo Zumbi,

Digo Palmares

Sem o açúcar insaciável.

Falo Zumbi,

Digo Palmares,

Gente em grito, indignada.

Falo Zumbi,

Digo Palmares,

No abismo a África salta.

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Cyro de Mattos é jornalista, cronista, contista, romancista, poeta e autor de livros para crianças. Publicado em Portugal, Itália, França, Espanha, Alemanha, Rússia, Dinamarca, México e Estados Unidos. Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna. Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz.

POEMAS DO NEGRO Por Cyro de Mattos (DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA) Read More »