Hoje, 21 de dezembro de 2021.
Natal se aproxima e a variante Ômicron se torna uma grande ameaça.
Um misto de alegria e temor nos envolve de um amanhecer a outro.
Como se isso não bastasse, ameaça maior rodeia e campeia as imensidades: é Iku, conforme o povo nagô denomina a morte. Impiedosamente, vai decepando o fio da vida de nossos queridos parentes, amigos, colegas, benfeitores. E hoje, Iku passou pelos nossos campos e cortou o fio da vida de Sônia Maron.
Em nós, que tanto bem lhe queríamos, um choro embargado faz doer a garganta. Mulher, mãe, avó, amiga, professora, juíza, fundadora da Academia de Letras de Itabuna, para além de inúmeras ligações outras que ele manteve com diversas instituições.
As frases, períodos e parágrafos que agora se negam a nos socorrer numa homenagem sincera, fluíam facilmente do intelecto de Sônia quando ela se dava ao trabalho de escrever. Suas crônicas e artigos permanecerão conosco, num testemunho de seu brilhantismo. Sônia Maron, professora exemplar. Sônia Maron, que com justeza aplicava a Lei nos seus julgamentos. Sônia Maron, senhora de um olhar mais espraiado e participou ativamente na FESPI e da fundação da UESC. Sônia Maron, nossa confreira fundadora da ALITA.
Gestada e nascida de dois Arquétipos Criadores: as Águas de Oxum Apará e o Fogo de Oyá, assim ela se definia para os íntimos que comungávamos de suas crenças. E o tempo-espaço deste aqui e deste agora tornou-se pequeno para sua alma grandiosa, generosa, atuante. Quando soou a trombeta do término de sua luta, verdadeiramente sua missão já tinha se cumprindo. Agora cabe à inteligência grapiúna velar por sua memória. Aos seus ex-alunos e ex-alunas, o exercício de seus exemplos. À classe jurídica, lições de como proceder quando a injustiça for praticada.
Para seus confrades da ALITA, a obrigação de seguir suas pegadas. Aos que morejam na UESC, a herança de quem soube batalhar pelo brilho da luz do saber.
E em todos uma imorredoura saudade de tão nobre pessoa. A ela devemos o privilégio da convivência com tão refinada criatura. Senhora de si e de seu destino. Portadora de gestos de nobreza e esmerado trato para com os demais.
Sônia Maron partiu, mas deixou conosco o que ele soube construir de melhor no processo de toda a sua existência. E isso se constitui dívida impagável por parte de quem ela contribuiu, de uma forma ou de outra, para um viver mais leve.
Saudades eternas de seus parentes, aderentes, amigos, confrades e colegas. E aqui, fico eu, seu babalorixá, para continuar o que, juntos, tantas vezes discutimos na nossa caminhada religiosa e intelectual. Axé!
Ajalá Deré – Ruy Póvoas