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LANÇAMENTO DE LIVRO “A VIGÍLIA DOS PEIXES, POEMAS”, DE HELOÍSA PRAZERES 

Com a presença da autora e convidados, o lançamento acontece no dia 16 de março, quarta-feira

O Livros na Mesa, projeto da Academia de Letras da Bahia, acontece às quartas-feiras. Nesta, dia 16/03, a autora convidou Tica Simões (ALITA) e Aleilton Fonseca (ALB) para mediarem a conversa. Este é o quarto livro de poemas da autora, organizado em três partes – “nome de família”; “o tempo não detém a vida”; “nossa cabeceira. O encontro será realizado online, no dia16 de março às 19 horas, no canal da ALB no YouTube.
Heloísa Prazeres fez um movimento de leituras de poemas do livro, ao longo do verão. Vídeos / podcast, formatados por Tainá A. Henn, em homenagem a Jamison. O “Livros na Mesa” abrange lançamentos apresentações de livros já publicados, recentes ou antigos. O formato da apresentação varia, entre a conversa informal e a apresentação de palestras sobre a obra na mesa.
O projeto Livros na Mesa faz parte das iniciativas da Academia de Letras da Bahia na criação de eventos que promovem a aproximação das letras, das culturas e das artes com a sociedade. O projeto tem apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia.

CRÉDITOS DA OBRA

A vigília dos peixes, poemas
Capa: Daniel Prata
ilustração: Jamison Pedra
Editora: Scortecci
Ano: 2021/2022
Maria Mortatti, apresentação
Edilene Matos, Quarta capa
Aleilton Fonseca, Aba 1
Celina Scheinowitz, leitura crítica do poema Lenda

 

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Poesia de Cyro de Mattos inspirada em Terras da Espanha é Publicada pela Espelho d’Alma

A editora Espelho d’Alma, de São Paulo, acaba de publicar o livro Guitarra de Salamanca, de Cyro de Mattos, em edição português-espanhol, reunindo poemas inspirados em terras da Espanha, em especial Salamanca. O livro traz capa do desenhista baiano Ângelo Roberto, ilustrações internas de Miguel Elias, conhecido como o pintor espanhol dos poetas, tradução e prefácio da professora Doutora Raquel da Silva Ortega, da Universidade

Estadual de Santa Cruz.

Salamanca Cantante

Por Raquel da Silva Ortega

Paisagens, cores, sons, fragrâncias, sabores, memórias, afetos… são alguns elementos, sentidos e emoções que podem surgir quando visitamos outros lugares e conhecemos outros ambientes e outras pessoas. Viajar, percorrer novos caminhos, conhecer outras histórias são experiências que inspiram artistas e são transformadas em arte e poesia. A coletânea de poemas Guitarra de Salamanca, do prestigioso escritor itabunense Cyro de Mattos, tem duas protagonistas: a cidade de Salamanca (Espanha) e a sinestesia.

Na literatura, temos uma longa tradição de cidades como fonte de inspiração e de matéria narrativa. O exemplo mais conhecido talvez seja a obra As cidades invisíveis (1972), escrita por Ítalo Calvino. Neste livro, o autor cria um relato ficcional no qual Marco Polo descreve ao imperador Kublai Khan suas impressões das cidades que ele teria visitado. No entanto, essa descrição não é objetiva, pelo contrário, os diálogos entre Kublai Khan e Marco Polo poderiam ser classificados como uma narrativa afetiva, recuperada a partir da memória e de reflexões íntimas. No mesmo sentido, Cyro de Mattos traz um diálogo intimista com a cidade de Salamanca, em forma de poesia.

Como recurso expressivo, o poeta recorre à sinestesia. Como já indica o título — Guitarra de Salamanca — o autor nos transporta para o ambiente andaluz através da sonoridade dos poemas. O livro apresenta vinte e um poemas, divididos em quatro partes: Tocata com Alfredo Pérez Alencart, Andamento com seis atos, Fuga com três atos e Fechamento com três atos. A escolha dos títulos das divisões demonstra a busca pela sonoridade, uma vez que remetem às partes integrantes de uma peça musical.

 Nos poemas Jaqueline de Alfredo e Um Poeta Peruano-Espanhol vemos a celebração da amizade de Cyro de Mattos com Alfredo Pérez Alencart e sua esposa, Jaqueline. Pérez Alencart, poeta peruano-espanhol radicado há anos em Salamanca, é um dos principais nomes da poesia espanhola atual e a presença dos poemas que evocam esta amizade familiar coloca Guitarra de Salamanca em diálogo com a literatura espanhola.  Os poemas da segunda e da terceira parte exaltam grandes escritores que nasceram ou passaram por Salamanca/Toledo, partindo de nomes do Siglo de Oro como Góngora, Quevedo, Calderón de La Barca e Miguel de Cervantes, passando pela Generación del 98 com Miguel de Unamuno e adentrando no século XX com Rafael Alberti e Federico García Lorca. Ao mesmo tempo, Salamanca surge em toda sua magnitude: na evocação do ambiente acadêmico, nas suas paisagens, na arquitetura, nos seus caminhos. Aqui novamente percebemos a sinestesia: além da sonoridade, o sentido visual é amplamente provocado nestes poemas, em imagens reconstruídas a partir da memória afetiva do poeta.

Guitarra de Salamanca reafirma a importância da obra do escritor Cyro de Mattos, uma vez que seus poemas estabelecem o diálogo com a tradição das cidades como matéria literária, despertam diversas sensações e se aproximam de grandes escritores da literatura espanhola.

*Profa. Dra. Raquel da Silva Ortega,

 Universidade Estadual de Santa Cruz

— UESC (Ilhéus, BA, Brasil)

Ó Tu Salamanca

Cyro de Mattos

Na fachada de casas

e igrejas e edifícios

basta para entender

que se está na história.

Caminhar é a forma

 de descobrir segredos

de quem também sabe ser

contemporânea e jovem

com estudantes tantos

misturados na face agitada.

Quando a noite cai, luzes

Enchem a parte noturna,

Lugares em que o coração

Aprende que o amor

Se faz amando o mito

Que se apodera da alma.

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Ô VLADIMIR PUTIN – Cyro de Mattos

 

Não escutas o passarinho em dia

De bemóis, ao contrário das fronteiras?

Nessa terra que é nossa casa, abrigo

De lágrima na passagem dos anos?

 

No prazer de estar nela, onde moramos.

Nesse mistério dos que vêm e vão

Com os saberes da grande mãe que dá

Seus filhos à luz, deitando-os no berço

 

Uterino, após a morte. Decerto

De paz o final perfeito. Assim fomos

Feitos, enfim juntos, adormecemos.

 

Deixe que nos leve a trama da vida,

Revele-se no esplendor da mãe terra.

No lado azul de versos com sentido.

 

Cyro de Mattos é poeta e ficcionista. Publicado em Portugal, Itália, França, Espanha, Alemanha, Estados Unidos, Rússia, Suíça e Dinamarca.Cyro de Mattos é autor de 80 livros, de diversos gêneros.

 

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POEMAS DE CYRO DE MATTOS

Historinha da preguiça
Cyro de Mattos

Nasceu, comeu, dormiu.
Cresceu, comeu, dormiu.
Pariu, comeu, dormiu.
Ao ouvir falar em trabalho
teve um mal súbito.
Na mesma árvore
pendeu e morreu.

 

 

Crença
Cyro de Mattos

Entendo ser real
Estar na relva
Com o meu canto
Sedento de amor.
Neste rumor secreto
Verde minha palavra
De brotar em cada um.
Se não sou semente
Dos sonhos que beijei
Cantando na chuva,
Lá dentro trancado,
Cúmplice do eterno
Riscado num instante
Direi não sou de fato
E no caos desencanto-me.

 

 

BICHOS
Isca

Quando vem à tona
como se arrisca.

Gambá

Com o seu spray
fedorento
afugenta o inimigo.

Leão

O e l é t r i c o n o a r
até o vento corre.

Hiena

Gargalhada da fome
amedronta até a morte.

Procurado

Procura-se cão pequinês,
é algo fenomenal,
nunca fez pipi
na cama do casal.

Papagaio

De cadeia ao pé
Humanamente bêbado.

Paixão

Com tanta saudade
da bailarina foca,
o solitário camelo
foi morar no gelo.

Caranguejo

Falou tano dos outros
que perdeu o pescoço
e caiu dentro do poço.

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CHUVA DE JANEIRO – Cyro de Mattos

Depois que o marido faleceu perdeu o interesse pela vida. Vivera com ele trinta anos de casada e soubera que o calor do corpo aquece o amor. Quando se é idosa, a experiência de vida diz que esse calor do corpo some, ainda mais quando o seu homem já não está mais ao seu lado para consumar o ato mais prazeroso da vida.

Os dois filhos estavam casados, viviam no exterior. Ela morava em um apartamento de quarto e sala. Passava com a aposentadoria de professora estadual. Todos os dias seguia para a pensão onde fazia a refeição do almoço. Sentava em uma mesa reservada para ela no canto da sala.  Lá viu pela primeira vez o homem de cabelos brancos que olhava para ela. Tinha um brilho diferente nos olhos.  O olhar dele se repetiu nos outros dias, deixando-a sem jeito. Ficou assustada quando ele se levantou de sua mesa e pediu permissão para fazer-lhe companhia durante a refeição.

Disse que era um viúvo aposentado, fora funcionário do Banco do Brasil. Um dia convidou-a para passear no parque. A princípio relutou, mas diante da insistência dele outras vezes, resolveu aceitar o convite.  Conversaram sobre a vida, seus momentos entre o alegre e o triste, foram se tornando íntimos.  Num ponto concordaram, viver sozinho, sem ter ninguém como companhia, era ruim. Deram uma volta no jardim, sentaram no banco embaixo da árvore frondosa. Jogaram migalhas para os pombos e para os peixes na lagoa.

Na tarde fresca, um vento morno passava no rosto dela em finura de  lenço e leveza de carícia. Um casal de namorados, em cada beijo que sorvia nas bocas ávidas, revelava que a vida era boa e bela, assim no calor que se estendia por toda a extensão da pele só podia ser dado valor a ela. Ele fez questão de levá-la até o prédio onde ficava o apartamento dela. Na entrada do pequeno edifício olharam-se em silêncio antes de cada um querer dizer algo ao outro, que eles mesmos já sabiam o que era e que pulsava como uma chama que lampeja dentro. Talvez um convite para conhecer o apartamento de perto por ele. Convite dessa natureza seria impossível, embora houvesse no rosto de cada um deles o olhar cintilante de brilho.

          Ele disse:

– Muito obrigado.

Ela disse:

– Obrigada digo eu.

Despediram-se com leve aperto de mão.

Era janeiro e ainda não havia caído a chuva de verão.

Daquela vez quando terminaram de fazer o passeio pelo parque, ele a convidou para conhecer o apartamento dele. Era também um quarto e sala. Ela perguntou quem fazia a arrumação e o asseio. Respondeu que havia contratado uma faxineira. Vinha duas vezes na semana fazer a faxina. Notou que certas coisas não estavam no lugar devido. Fez a arrumação com esmero.  Limpou a poeira na mesa e nas duas cadeiras. Deu brilho em alguns objetos domésticos. Um pouco cansada foi tomar um banho no chuveiro de água quente. Vestiu o roupão que pertenceu a ex-mulher dele.

Ela sorriu quando ouviu o convite para ir se deitar com ele.

Então vieram os primeiros beijos. O ato para que alcançasse o auge exigia concentração e esforço. E aconteceu o máximo quando o prazer de ambos ao mesmo tempo precipitou a vertigem. Souberam que ainda restavam um pouco neles daquilo que motiva a vida. Era preciso de agora em diante aproveitar bem antes que não restasse mais nada. Foram alguns anos de convívio harmonioso, decorrente da união sem atrito entre o espírito e o corpo, que acordava rejuvenescido, embora no estado de fuga repentina em cada vez que o ato se consumava dentro algo precioso ia ficando longe nos seus contornos definidos.

Quando ocorreu aquela primeira vez em que dormiram juntos, ela lembrava agora, acordou no final da tarde. Movimentou-se no quarto com cuidado, não queria interromper o sono tranquilo dele. Foi até a janela.

 E, cheia de vida, ficou olhando cair pelo vidro a chuva de verão.

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ALB abre homenagens à Semana de Arte Moderna.

O evento promove noite de palestras, poesia, música e mostra de artes visuais para celebrar o centenário da Semana de 22.

O novo projeto da Academia de Letras da Bahia, em homenagem ao centenário da Semana de Arte Moderna, acontecerá em duas noites, com convidados e participação do público. A primeira noite terá a coordenação da acadêmica Heloísa Prazeres e a segunda, no dia 12 de fevereiro, terá à frente o dramaturgo Gil Vicente Tavares. O evento online será no próximo sábado, 05 DE FEVEREIRO, às 19 horas, no canal da ALB no YouTube.

O encontro deste sábado será coordenado pela acadêmica Heloísa Prazeres, que, em nome da Academia, convidou as acadêmicas Edilene Matos e Lia Robatto e os acadêmicos Aleilton Fonseca e Ruy Espinheira Filho para palestras sobre poetas modernistas e um depoimento sobre espetáculos de dança. Do recital poético participam Consuelo Mascarenhas, Rita Santana, José Inácio, Wesley Correia e Thiago Pondé. Será exibido um vídeo clipe regido remotamente pelo músico e compositor Marcelo Delacroix, responsável pelo Grupo de Canto Sol de Si.

O público que irá acompanhar o programa do selo Sarau Poético, poderá fazer inscrição no link que será divulgado durante a transmissão; a pessoa inscrita receberá um e-mail com o link para participar. “Diante da nova escalada da Covid-19, é importante continuar com os eventos online para conter a propagação da variante, a celebração poético-literária foi concebida como uma forma de proporcionar informação artístico-cultural interativa com o público”, pontua Heloísa Prazeres, organizadora da primeira noite.

O selo Sarau Poético faz parte das iniciativas da Academia de Letras da Bahia na criação de eventos que promovem a aproximação das letras, das culturas e das artes com a sociedade. O projeto tem apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia.

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COLO-COLO: UMA LIÇÃO INESQUECÍVEL! Por Marcos Bandeira

 

O Colo Colo nasceu de um sonho de idealistas que buscaram inspiração no time chileno com o mesmo nome e nas cores do Boca Junior, um dos times mais apaixonantes da Argentina. A saga de vencedor que seu hino entoa brotou do coração de todos aqueles que lutaram e construíram sua história nos gramados baianos.

Fundado em 1948, sagrou-se campeão baiano de profissionais no dia 28 de maio de 2006 no Barradão, contra o poderoso Vitória. A cada jogo do Colo Colo naquele campeonato, irradiava-se a vibração de seus atletas, a emoção da torcida, a esperança de uma boa participação e ao mesmo tempo a sensação experimentada por alguns de que o time já teria chegado longe demais.

É de louvar-se naquele campeonato a inesquecível habilidade e o compromisso do presidente José Maria Almeida de Santana, o Joseph Marie, que diante de gritantes adversidades soube liderar e construir um elenco de vencedores: a sua determinação, competência e paixão conquistaram a confiança de seus atletas com pequenos e significativos gestos, quando por exemplo, ofereceu um Natal digno aos jogadores que mesmo possuindo vínculo com o clube, ainda não recebiam salários.

Grandiosa foi a sua liderança ante o desalento dos atletas após uma cansativa viagem de ôni

bus quando sofreram uma derrota, substituindo um sermão por um churrasco, no propósito de fortalecer os laços daquela família de vencedores e transformando o time bom num time campeão. Inesquecíveis, a tranquilidade de Marcelo e suas portentosas defesas, a eficiência dos laterais Alexandro e Wescley nos aspectos defensivo e ofensivo, a qualidade técnica do zagueiro Rodrigo, a consistência de Sandro e Melqui na frente da zaga, a regularidade de Juninho, o talento de Jânio com seus dribles curtos e chutes de fora da área, a maturação de Gil, responsável pela maioria das articulações das jogadas e por vários gols de bola parada, a versatilidade de Jamaica e o encantamento do futebol de Ednei, artilheiro nato, que partia para o zagueiro, no estilo “Romário” dos bons tempos e que tinha como poucos, a tranquilidade necessária diante do arqueiro e qualidade apurada no arremate final.

Sem dúvida, o maestro Ferreira foi o melhor técnico da Bahia na época: pessoa simples, educada, estrategista e líder, sempre teve o time na mão, fazendo as correções no intervalo do primeiro para o segundo tempo e as alterações no momento certo e com a pessoa certa. A cada vitória, a cada avanço na tabela de classificação, o resgate da autoestima dos ilheenses carentes de uma grande conquista manifestada por sua frenética torcida utilizando bandeiras e camisas, transformou-se numa verdadeira “febre amarela ilheense”.

Mesmo apresentando um excelente futebol e tendo conquistado o 1º turno no Barradão contra o Vitória, o Colo Colo sempre foi visto com desconfiança por alguns jornalistas da capital, os quais, indiferentes, se referiam ao Vitória como o melhor time do campeonato e que a conquista do Colo Colo teria sido um acidente. Também a arrogância, a inquietude e a prepotência do técnico Arturzinho do Vitória contrastavam com a humildade, simplicidade, serenidade e competência do técnico Ferreira que enfrentou o Vitória por seis vezes e não perdeu nenhuma partida, ganhando três, duas delas na própria casa do adversário e conquistando títulos.

Aquela conquista do Colo Colo sob a liderança do grande técnico e o empenho incondicional de cada atleta servem até hoje como uma lição inesquecível a ser aplicada em qualquer atividade humana em grupo ou individual, pois a vitória final será sempre o resultado das perdas e ganhos das batalhas travadas ao longo de uma jornada: é preciso planejar, ter espírito de união, acreditar em si próprio, aglutinar forças em torno de um objetivo comum, liderar sem precisar utilizar o poder desmesuradamente, olhar além do horizonte, ter olhos de tigre, perseverar, respeitar o adversário sem se apequenar, ter serenidade para superar as adversidades mesmo que tudo pareça perdido e acima de tudo saber perder, pois a vida é feita de perdas e ganhos.

A conquista do Colo Colo no campeonato baiano de 2006 não foi somente de Ilhéus, mas de todo o interior da Bahia, por fazer acreditar que se pode construir uma equipe vencedora. Na verdade, essa conquista poderia servir de lição ao Bahia e ao próprio Vitória, pois assim, sem escamotear seus verdadeiros estágios, fariam seus dirigentes refletirem e repensarem seus projetos e reestruturarem seus elencos para retornarem à 1ª Divisão do Campeonato Brasileiro.

Grande admirador do Colo Colo e acompanhando quase todos os jogos, experimentei grandes emoções percebendo gradativamente a evolução da equipe e testemunhando o triunfo definitivo do time contra o Esporte Clube Vitória ao sagrar-se campeão baiano de 2006 no Barradão. Naquele dia glorioso, a convite do presidente da Federação Baiana de Futebol, tive acesso ao gramado do famoso estádio, dando a volta olímpica com a equipe do Colo Colo.

Ex-atleta do Colo Colo, aprendi a grande e inesquecível lição cravada na memória e na história do clube: um campeão não se faz de véspera e nem ocorre por acidente, como admitiu depois, o próprio técnico do Vitória, mas se constrói com muita luta, união, abnegação, respeito, competência, perseverança, simplicidade e serenidade. Aprendi que é preciso tempo para se formar uma equipe e que esta precisa de um líder que motive e incentive seus comandados extraindo o que de melhor cada um deles possa oferecer na certeza de que não há vitória sem luta, perseverança, humildade e respeito ao adversário, requisitos indispensáveis a um grande campeão.

*Marcos Bandeira – Juiz de Direito aposentado, advogado, professor de Direito da UESC, membro da Academia de Letras de Itabuna e ex-jogador de futebol do Colo Colo

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ELZA SOARES- Cyro de Mattos

Morre Elza Soares aos 91 anos

            Arrebatava a plateia com seu ritmo musical diferente, que arranhava a garganta e brincava com o som. Vi de perto em minha juventude quando deu um show de espetáculo cantante ao se exibir com uma voz esplendorosa no Cine Teatro Itabuna e no Clube Social de Itabuna. Sua voz era puro jazz na garganta inflamada, no melhor proveito, improviso e efeito. Uma desordem musical causando harmonia impetuosa e prazerosa.

            Uma mulher negra, que veio da pobreza, na favela com a lata d’água na cabeça, no morro ainda adolescente subia e descia, não se cansava, noite e dia.  Em condições precárias cantava para enganar a difícil dureza da vida e foi se descobrindo com uma entonação musical que só ela tinha, cheia de malabarismos vocais.

            Voz das vozes, flor do samba que expandia alegria para quem a ouvisse, contagiando a todos com aquele timbre musical forte. E assim com seu jeito de cantar versátil ganhou o mundo, nos lugares mais distantes mostrou que o Brasil é grande quando beneficiado com criaturas como Elza e outras do mesmo naipe.

            Que mulher incrível com sua entonação musical! Eu só acreditava porque estava vendo, como era que ela fazia aquilo com a voz? Só podia ganhar o mundo, com indiscutíveis méritos e receber os beijos merecidos da glória.

            Trouxe no coração Garrincha, o gênio de pernas tortas, a alegria do povo com os seus dribles incríveis. Quando o craque já não mais valia para o futebol, como mulher corajosa deixou que se fosse no jogo adverso da vida. Amparou seu menino grande, aquecendo o corpo do campeão mundial de futebol com a febre do amor, adoçando o seu coração quando o sentia com a cor triste da manhã e a incerteza da noite.

            Notável exemplo de vida. Acredito que tenha ido para o lado de lá, na sua viagem sem volta, cantando e sambando. Levou Elza, na sua chegada do lado de lá, meu beijo gravado no lado de cá quando eu a ouvia cantar e ficava com uma vontade assanhada para sambar. Não somente eu, mas quem gostasse de viver com o ritmo delirante do samba.

Elza Soares morre aos 91 anos; cantora faleceu de causas naturais
*Cyro de Mattos é escritor e poeta, premiado no Brasil e exterior.

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TRÊS POEMAS DA LUA- Cyro de Mattos

Moça bela

Em luares de relva
Na rede embala-me
Nudez tão pura.
Bafeja meu rosto,
Veste-me de sonho.
Para o céu me leva
No colo que flutua

Lua, ó lua,
Moça bela,
Toda nua.

O menino e a lua

O menino sonha com a lua
acima da nuvem escura
fazendo descer para o rio
uma comprida luaranha.

O menino sonha com a lua
no céu de estrelas, cintilante,
aquele pedaço da frente
ele abocanhou na crescente.

O menino sonha com a lua
chamando-o pra brincar no areal
deixado pela grande enchente.

Lá ele cata muita prata,
depois é levado pro céu
no colo da lua risonha.

A cidade e a lua

Toda ela iluminada
flutua no colo da lua
que lhe trouxe rosas.

Ó encantos! Ó perfeições!
Carícia e frêmito de sonho.
Suspiros de ternura.

Brilha cantiga da beleza,
a cidade no eterno pervaga,
perfumes a noite exala.

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SOBRE “A SOMBRA NO ESPELHO” O SECRETO ARQUIVO DE ENIGMAS- Tica Simões

 Sobre

A SOMBRA NO ESPELHO

O secreto arquivo de enigmas

O olhar de Tica Simões

Um livro para leitores curiosos…

Esta obra sobre afrodescendência intriga especialmente pela repetição especular que ocorre na estória e a multiplicidade de focos do discurso. A estória, em abismo, contém outras narrativas dentro de si, provocando a reflexividade literária. O discurso faz narrador dentro de narrador, um gestando o outro. O engendramento ficcional autotextual[1], enquanto reduplicação interna, se resolve em processo de  mise en abyme[2]: “um fenómeno de encaixe na sintaxe narrativa, ou seja, de inscrição de uma micro-narrativa noutra englobante, a qual, normalmente, arrasta consigo o confronto entre níveis narrativos”[3].   Embora possa se configurar somente no nível do enunciado, esse processo em abismo pode ocorrer, de forma mais complexa,  abrangendo a enunciação, como é o caso deste livro de Ruy Póvoas. Por que utilizar estórias dentro de estórias? E vários focos de discurso? Qual a intenção do autor?  Como ele se beneficia disso para a produção do texto literário?  São perguntas (enigmas?) a serem respondidas (ou não) no caminhar da leitura…

A estratégia em abismo é insinuada desde o título, A sombra no espelho. Que sombra? Por que espelho? Uma identidade cindida? Ou uma chamada para narciso? E o narciso seria o personagem ou o autor? Mas qual autor? Já, aí, um abismo anunciando uma questão de estrutura. Será a intenção de RP criar um jogo capaz de produzir, no leitor, uma sensação de estar entre espelhos, contemplando suas inúmeras reflexões? Ou faces?? Se o título sugere o olhar  a si mesmo, “a circunstância do não dito”, a epígrafe Orixá metá  aponta crença. E o subtítulo – O Secreto arquivo de enigmas –  anuncia um jogo interminável de “segredos” a descobrir? Prevê abismos contidos no secreto arquivo  a ser relatado? A primeira epígrafe já promove a dúvida: “o que se diz nem sempre é tão importante”.

Em sintonia, os paratextos: agradecimentos, dedicatória, epígrafes abrangem as  áreas ligadas à busca de si mesmo, da análise do discurso e do religioso nagô.

Ruy Póvoas apresenta o livro, circulando entre o real e o imaginado. Fala da condição do povo nagô, com olhar sobre o social. Enquanto apresentador, diz que são quatro os narradores ficcionais:  Alcina, enquanto organizadora do texto; Ranieri, autor da estória; Marcelo, personagem/narrador; o Marotti, editor. Autotexto de enunciação, portanto. São, pois, esses narradores-personagens que promovem os abismos do discurso. Ao final da sua apresentação, RP instala dúvida no leitor, quando inverte o preceito e diz: “qualquer semelhança com a realidade será a vida  imitando a arte”.  Será isso o primeiro Enigma a desvendar?

Embora semelhando paratextos, “Três bilhetes” são falas de personagens; iniciam o processo ficcional. O primeiro bilhete é de Alcina que envia o livro do marido Ranieri para a publicação pelo editor Marotti.  O segundo e terceiro bilhetes são de Marotti,  para Luisa,  revisora do texto; e para Alcina, em resposta.  E por que um editor-personagem? Esses três bilhetes, então, promovem abismo de enunciação, chave dessa trama autotextual do afrodescendente Marcelo.

Em “Missão executada”,  prefácio ficcional, Alcina esclarece a história do manuscrito do marido. E conta como tratou todo o material recebido.  Fazendo isso, Alcina não se torna coautora? Afinal, como ela afirma, recebeu um material que “era uma verdadeira barafunda” e o organizou a seu critério e deu corpo ao texto! E o leitor pode-se perguntar: nesse trabalho, Alcina não terá dado uma especial base tonal ao texto?  Terá se imiscuído, dessa forma, no discurso da narrativa de Ranieri? E  outro possível enigma: O texto de Ranieri será autoficção?  As insinuações de Alcina alertam o leitor a se questionar sobre o discurso; de quem é o ponto de vista narrativo? Então, será todo o texto construído a partir de dúvidas?  Enigmas?

Ao assumir a narrativa (capítuloRompimento”), Ranieri já velho, mudado, relembra a infância e resolve criar Marcelo, a sombra no espelho, que assume o relato e fala para um bem-te-vi morto.  Morto o passado??

Entre vivências e sonhos (capítulos deSonho” ao “Chamado”),  Marcelo relata a busca de si mesmo, através dos vários processos terapêuticos. Inicialmente, devido à incompreensão sobre a sua condição mental; e o seu percurso, vida: doenças, psiquiatras…  Depois, leitura de búzios, astrologia, psicologia analítica, interpretação de sonhos… Serão autotextos da “sombra” de Ranieri?  O capítulo “Chamado” finaliza o arquivo de Ranieri, com a conclusão da narrativa de Marcelo que, finalmente, assume a sua religiosidade nagô. Fica, para o leitor, a compreensão da identidade, na solução da cisão da personalidade: luz e sombra.

A circularidade do texto leva o leitor de volta a Ranieri ou ao autor Ruy Póvoas, agora Babalorixá? A vida imitando a arte ou a arte imitando a vida? E aqui lembro as palavras de Mia Couto, na live de 20/5/2020, sobre os seus personagens: “sou sempre eu, alguma face de mim”.

Mas não acaba aí o texto ficcional; termina a estória, mas não termina a ficção. Alcina retoma a narrativa, em “Elegia”, provocando outros questionamentos ou…  abrindo, mais, o secreto arquivo de enigmas? Enigma 1: um livro é como um filho – a arte faz permanecer depois de morto. Enigma 2: a dubiedade de uma personalidade: ser um, sendo outro.

Enigma 3: entendimento da sombra; as “estranhezas” de Marcelo; o percurso dos vários caminhos; personalidade cindida ou uma questão espiritual?  Enigma 4: “Creio-te vivo, e morta te pranteio” –  o enigma maior:  vida e morte.

Os enigmas do discurso estão no texto integral de Ruy Póvoas: uma narrativa dentro da outra; um narrador puxado pelo anterior…

A mudança de Alcina, no primeiro texto confusa, buscando vencer uma sua lacuna de possível incompetência; no final, vitoriosa, tranquila, seria também um resgate do feminino, através da mãe de Marcelo, coitada, sempre culpada de tudo…  Porém, no fim, com a vitória de Marcelo, reconhecida e resgatada? Seria mais um enigma ligado ao feminino?

E mais: Ruy Póvoas cria personagens agnósticos (como também aconteceu no seu livro A Viagem de Orixalá) como forma de justificar e explicar os estudos de religião de matriz africana? São muitas as questões. E a enunciação, em discurso múltiplo, sustenta os enigmas: Ruy Póvoas, Alcina, Ranieri,  Marcelo, Marotti. ­­ Esses, apenas alguns dos abismos …  A circularidade discursiva insinua o eterno recomeço.

Se a principal razão da narrativa em abismo é traçar paralelos com a estória principal, cada camada pode ser encarada como uma releitura, ou um simbolismo do que o leitor acompanhará nos outros níveis. Essas camadas adicionam novos sentidos à estrutura e podem servir para suscitar enigmas, incutindo algumas ideias no leitor; acrescentam opiniões atuais às suas memórias do passado, os fatos apresentados mudam de forma: passamos a olhá-los de outra maneira. Nesta obra de Ruy Póvoas, essa estratégia é forma de enfatizar as buscas do processo terapêutico. Tal processo afirma, também, uma dimensão reflexiva do discurso, uma consciência autoral estética, que se evidencia através da redundância textual, e que reforça a coerência ficcional .

Ilhéus, outubro de 2020

MLNetto Simões

 

[1] DÄLLENBACH, Lucien . “Intertexto e autotexto”. In: Intertextualidades. Poétique, 27. Trad.: Clara Rocha. Coimbra, Almedina, 1979, p.53.

[2] Termo de André Gide.  In: 1893 ( Gallimard, Pléiade, 1948)

[3] DÄLLENBACH, Lucien. Le récit spéculaire. Essai sur la mise en abyme. Paris, Editions du Seuil, 1977, p.64.

 

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