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ACADEMIA DE LETRAS DE ITABUNA (ALITA) EMPOSSARÁ NOVA DIRETORIA

A Academia de Letras de Itabuna – ALITA vai realizar amanhã, às 20h, na sede da Universidade Federal da Bahia – UFSB, a posse da sua nova diretoria. A atual Presidente da instituição, Silmara Santos Oliveira entregará o cargo ao novo presidente Wilson Caitano, encerrando um mandato de 2017 a 2019 (primeiro) e 2020 a 2022 (segundo). O novo gestor é professor da Escola Pio XII e autor de livros infantis.

Para a atual presidente seu mandato teve como principais realizações: o ingresso de seis novos imortais –  Charles Sá (professor da UNEB), Sílvio Porto (Diretor da Sicred). Rehenigley Rehem (professora aposentada da UESC), Alessandro Santana (Reitor da UESC) e Joana Angélica Guimarães da Luz (Reitora da UFSB) além do professor Wilson Caitano; a inauguração da nova sala da ALITA; o lançamento da Revista Guriatã no 3, sob a condução do Diretor da revista, o escritor Cyro de Matos; as comemorações dos dez anos da ALITA; o Projeto Liter-Alita e a participação em inúmeras atividades literárias regionais.

“Foi um período de gestão muito produtivo, apesar da pandemia, onde tivemos que nos esforçar muito para manter viva a instituição. Agradeço a todos os confrades e confreiras pela gestão compartilhada que fizemos e quero deixar aqui minha sincera homenagem póstuma a nossa amiga Sonia Maron que muito engrandeceu a nossa Academia com sua condução competente e brilhante”, disse Silmara Oliveira. Ela também desejou muito sucesso ao novo gestor Wilson Caitano, colocando-se à disposição para a continuidade dos trabalhos institucionais.

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DE REPENTE… ASSIS!- Charles Nascimento de Sá

Segundo o sociólogo alemão Maurice Halbwachs, em seu livro A memória coletiva, História e memória são elementos intrínsecos a um mesmo objeto: o ser humano. Falar da pessoa humana, individual ou coletivamente, requer atenção para o tempo, onde se debruça o olhar da história, e também para as lembranças, onde se insere a memória. Esses dois itens possuem a capacidade de dotar o indivíduo de características que lhes possibilitam entender a si próprio, seu grupo social e o momento por ele vivido. História e Memória são assim atributos que dotam o homem de sentido e lhe fornecem a base de sua identidade social.

Uma memória individual não é, sobre nenhuma circunstância, isolada ou fechada. Nela despontam elementos provenientes dos mais variados grupos que o indivíduo vivencia. Para construção e manutenção de nossas lembranças se faz necessário recorrer e/ou reportar-se à lembranças dos outros. Ao invocar recordações de outras pessoas somos obrigados a confiar inteiramente em seus apontamentos, pode-se recorrer também à conversação ou livros, porém, em todos esses casos, a memória ai é sempre emprestada.

Partindo do ensinamento de  Maurice Halbwachs volto minha memória para um texto que escrevi em 2017 quando retornava de Assis, no interior de São Paulo, para Itabuna. Em Assis estava cursando o doutorado em História na UNESP. Esse texto, que agora reproduzo com leves modificações e atualizações, foi meu agradecimento e reconhecimento pelo período vivido naquela cidade, pelas pessoas que se tornaram amigas e pela Instituição que me acolheu e tanto me ensinou.

XXX

No dia 28 de janeiro de 2016 me encontrava em Eunápolis, onde trabalho no Campus XVIII da Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Já fazia alguns anos que tentava ingressar para o doutorado em História, diversos fatores pessoais, familiares e profissionais me haviam impedido até então. A partir de uma conversa casual com uma amiga tive um estalo de verificar se haveria seleção naquele mês em alguma universidade de São Paulo, sabia que na maioria dos estados o ingresso acontecia no final do ano.

Fui primeiro ao site da Universidade do Sagrado Coração, em Bauru, por que estava lendo um livro publicado pela editora dessa instituição. Como lá não havia doutorado, apenas mestrado, decidi ir ao site da UNESP, pois havia terminado há pouco tempo a leitura de um livro dela também. Qual não foi minha surpresa ao colocar os termos “doutorado história unesp” no Google ver surgir à notícia de que o Campus de Assis estaria com inscrições abertas entre os dias 02 a 06 de fevereiro, exatos três dias para o começo.

Imediatamente verifiquei as linhas de estudo do programa e me deparei com contato do professor André Figueiredo Rodrigues, sem nunca ter tido contato com ele lhe enviei um e-mail com meu projeto em anexo. Para minha alegria, poucas horas depois ele respondia dizendo que havia gostado e que faria uma leitura mais atenta no sábado. No sábado, dia 30, recebo a resposta de professor André sugerindo algumas correções. Neste dia, e no domingo, tranquei-me no meu escritório e somente saí de lá quando todo o projeto já havia sido formatado segundo as indicações do professor.

Encaminhei o material para seleção e fiquei ansioso, aguardando o resultado da primeira etapa. No final de fevereiro minha inscrição havia sido aceita. Comecei então a procurar passagens para Assis. O melhor caminho seria por Marília. Vim para a região de Assis no dia 12 de março. Até então a única Assis que eu conhecia, de fotos ou leitura, era a de São Francisco, na Itália. Sem conhecer nada daquela região, a não ser o que se vê na televisão, nos jornais e livros, embarquei rumo ao desconhecido.

Aqui chegando tive logo uma boa impressão sobre a cidade. A avenida Rui Barbosa, sua principal via, onde se encontrava o hotel que me hospedei, é larga, comprida e com enorme variedade de lojas, em muito se assemelhando a nossa Cinquentenário. Passei à tarde de sábado e o domingo percorrendo ruas e avenidas da cidade.

Na segunda e terça fui ao Campus da UNESP para realizar a seleção. Lá houve de minha parte novo encantamento. O Campus é bem arborizado, os prédios são espaçosos e amplos. Lembrava em muitos aspectos minha instituição de formação, a UESC. Ao mesmo tempo, sendo eu oriundo da região Cacaueira, no sul da Bahia, estar em contato com fauna e flora sempre fora um elemento constituinte de minha identidade regional. Os funcionários e professores do curso se mostraram atenciosos, educados e prestativos nessa etapa.

Após a aprovação no doutorado viemos, eu e minha ex-esposa residir em Assis. Alugamos um pequeno apartamento próximo à SABESP na av. Marechal Deodoro de propriedade de seu Paulo e dona Rosângela, sempre a postos para viajar com seu motorhome. O movimento de carros, motos e gente, a quantidade e variedade de lojas foram logo um chamativo. Outro aspecto foi a enorme oferta de itens para casa. Em apenas um dia conseguimos comprar tudo para suprir nosso apartamento com o essencial para o período de um ano.

Como não viemos de carro, começamos a desbravar a cidade a pé. Percorremos ruas, praças, igrejas, avenidas. Conhecemos os supermercados daqui, sua variedade e produtos. Na Casa Norte, localizamos uma opção para adquirir produtos nordestinos (farinha de mandioca, jabá e outras guloseimas). Minha ex-esposa achou o comércio ótimo para compras. Eu, de minha parte, encontrei ali a livraria Poética. Na área da saúde, as opções eram muitas e variadas, destaco a clínica de Dr. Orlando, sua atendente dona Irene e a a clínica de Viviam para fisioterapia. A catedral de Assis e demais igrejas católicas são lindas.

Fiquei estupefato com a quantidade de carros que havia em várias garagens no bairro em que passamos a residir. Minha ex-esposa sempre brincava que éramos os únicos assisenses a pé. Em nossas caminhadas diurnas deparamo-nos com excelentes opções de lanche: Sodiê, Santo Onofre, Cecica, Café do Urso (onde Jonas está sempre pronto para ensinar tudo sobre um bom café), Cantina D. Beja, Quiosque do Shopping, a sorveteria Icy Cream.

As noites, deparamo-nos com uma variedade de restaurantes: Art Sushi, Garoa Paulistana, Cachaçaria, Hippo pizza (minha esposa é louca pela pizza de berinjela e pelo coquetel de morango com vinho), pizzaria Veritá, onde Jean nos atendia fazendo-nos sentir em Nápoles, hamburguerias Boca Nova e House 630; Casa do Chopp. Temos ainda as padarias: Pão Quente e Mini Pão quente, além da Florença. Não posso me esquecer do cinema e das diversas opções de fast food. Como baianos ainda nos deparamos com uma barraca de acarajé, sendo esta administrada por um casal de itabunenses que há quinze anos adotou Assis como sua cidade.

Sem contar as opções gastronômicas é possível fazer caminhadas matutinas ou em outros horários no parque Buracão. Poder imergir na fauna desse local e em todas as opções que ele apresenta: academia ao ar livre, onde fazia meus exercícios, espaço para crianças e o salão de exposições. O espetáculo das jabuticabeiras no final do ano é esplêndido. Os ipês e sua coloração de amarelo, rosa, roxo e branco dotam as ruas e passeios e um cenário poético. Às tardes nada como ir para a praça da catedral ler um bom livro, curtir a brisa nesse horário o que auxilia a suportar o calor. Também o frio foi outro fator que gostei. Fui criado em um povoado chamado Jacarecy, pertencente ao município de Camacan, na região Cacaueira. Lá, nos meses de maio a agosto o frio é capitaneado por uma chuva fina, constante, gélida. Em Assis o frio era seco, cortante, bom para entrar embaixo de uma coberta.

As aulas na UNESP me permitiram contato com novos colegas, dentre os quais, cito Cíntia, Luigi, Bruno, Jorge, Fernando, Eduardo, Edivaldo, Luís, Augusto, Esther, Thiago, João, Abner e Matheus. Fiz novas amizades e pude desfrutar da inteligência e produtividade dos docentes do curso. Sem contar a solicitude dos responsáveis pela secretaria do curso de História, Lino e Marcos, nas resoluções dos problemas que nós estudantes apresentamos. Destaco com carinho, as aulas de professor Beired, Lúcia, André, Germano e Fábio. Fiquei sentido por não poder ter tido aula com os outros docentes.

Toda essa variedade de itens, gente e coisas me encantou. Como católicos ficamos fascinados com a paróquia Santa Cecília e as homilias de padre Neto, desde já um dos mais queridos servos que temos conhecido. Suas homílias falavam ao coração e à alma. Suas brincadeiras aliviavam um pouco as dores de se viver nesse mundo. A fé aqui vivenciada também me chamou a atenção: na Semana Santa, fiquei profundamente tocado pela enorme quantidade de famílias e jovens que se dirigiam à Igreja.

Por fim, mas não concluindo, pois muitos são os sentimentos que me atingem ao lembrar e escrever sobre Assis, devo destacar a tranquilidade, o prazer e a segurança que era poder caminhar pelas ruas da cidade, seja durante o dia ou a noite. Itabuna está entre as dez mais violentas cidade do Estado da Bahia e entre as vinte mais violentas para juventude no Brasil, são cerca de dez assassinatos por mês no município. Furtos e roubos, de tão comuns nem são mais informados na delegacia de polícia. A insegurança e a incerta de quem vivia em uma cidade de quase 240.000 habitantes, cedeu lugar à segurança de se morar em uma cidade com 120 mil habitantes bem tranquila.

Por estas e várias outras questões me identifiquei com Assis. Com sua gente, com a fala tão carregada nos “erres”, música, comida, risadas, economia. Sentia, porém, falta do abraço, tão constante na Bahia, dos dois ou três beijos que damos sempre que vemos um colega ou um amigo. Dos aspectos mais efusivos da cultura baiana quando comparados a certo retraimento da cultura caipira do interior paulista. Ainda assim o que ficaram foram o carinho e o reconhecimento das qualidades e do acolhimento de Assis e de sua gente. Desconhecida a cerca de sete anos atrás, hoje é parte inequívoca de meu coração, de minhas andanças, de minha Memória e de minha História.

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QUAL A COR DA CASA DA ESPERANÇA? – Por Ruy Póvoas

         Aqui, não pretendo evitar que o leitor de A casa da esperança não era verde, o novo romance da Professora Margarida Fahel, tenha o prazer de suas próprias descobertas. Por isso mesmo, apenas tomarei algumas percepções do leitor que gosta de romances. Eles se constituem verdadeira cancelas escancaradas, estradas amplas que nos levam a revisitar memórias, até mesmo aquelas há muito tempo adormecidas.

         Se a casa não era verde, qual a cor da casa, então? Os teóricos da Literatura se debruçam sobre a obra de arte literária munidos de um farnel de conceitos e categorias, a partir dos quais a obra é posta sob compreensão, interpretação e análise. Correndo por fora de tal grupo, há o leitor comum que se deixa levar apenas pelo sentimento, pela emoção, pela sensibilidade.

         Então, pelo viés do sentimento, da emoção e da sensibilidade, qual é a cor da casa da esperança? Ora, faz parte de nosso imaginário tomar a cor verde como símbolo da esperança. Para a nossa psique, no entanto, de um ponto de vista individual, a esperança pode ser simbolizada por um perfume, uma música, uma paisagem, ou outros materiais também.

         E o que faz a Professora Margarida Fahel? Como se estivesse na Torre de Belém, em Portugal, aprecia surfistas cavalgando ondas gigantescas. E não satisfeita por porta-se assim, ela mesma toma sua prancha e vai à busca de alguns deles.  Surfando nas ondas da intuição artística, a autora quer ouvir os diálogos travados entre eles. E ela mesma termina se tornando uma dialogante também.

         Seus personagens “surfistas da vida” falam de amores, de dores, de rejeição. De uma busca sôfrega para desvendar seus passados. A Professora Margarida quer que seus personagens, eles mesmo digam de si e o do outro. Extremamente cuidadosa com os detalhes, assumindo conscientemente um olhar interpretativo sob um prisma neorromântico, até mesmo os poás são apanhados quando ela detalha a vestimenta de uma de suas personagens.

         Munida de uma gentileza sem igual para registrar os altos e baixos da vida de cada herói que pulula as páginas do aludido romance, tudo é tecido generosamente. De uma coisa, no entanto, a autora não nos poupa: a presença do anti-herói. E ele nos é mostrado em carne osso, sentimentos ruins, portando uma Sombra descomunal. E apesar de Jung já ter nos advertido para “maior a luz, maior a sombra”, é Nogueira, o grande antagonista que emerge das sombras. E por isso, Nogueira provoca dores, sofrimentos, lágrimas, insônias para os demais personagens, atingindo a todos direta ou indiretamente. É isso justamente o que acontece quando a vida nos envolve, até mesmo à nossa revelia, com pessoas que se querem controladoras do destino dos demais.

         Ao tempo, porém, que Nogueira destila raiva e rancor que brotam das profundezas de seu ser, isso também faz com que as demais criaturas de Margarida Fahel não percam a esperança de, um dia, a grande luz resplandecer nas trevas. Claro que essa saga custa muito caro. E à medida que a busca de cada personagem vai acontecendo, também nos damos conta de que história de cada um só poderá ser compreendida quanto juntada à história dos demais.

         São múltiplos os narradores desse romance, a partir da própria autora. Não raro, precisamos de redobrada atenção para saber o dono da voz que narra aquele ou outro acontecimento. Uma bela construção artístico-literária, não tenhamos dúvidas.

         Na maciez do estilo de Margarida Fahel, a preferência para apreciar que seja do bom e do melhor. E isso faz com que seus leitores nem sintam ódio ou raiva por Nogueira, muito embora não concordem com ele, em momento algum da narrativa.

         E tudo vai se avolumando, cada personagem segurando um fio da narrativa, até que todos eles – exceto Nogueira, é claro – se reúnem para uma refeição. É o momento de se colocar os acontecimentos em pratos limpos. É a ocasião de se entender por que A casa da esperança não era verde. Afinal, cada um de nós pintamos a casa de nossa esperança da cor que a vida a construiu para nós.

         Para além da cor da casa da esperança, fica o entendimento de que somente sentados em torno da mesa da vida, poderemos narrar fragmentos de nossa história para que os demais possam entender nossas buscas e nossas escolhas. Na junção dos fragmentos, se dará a compreensão: é preciso que a história de cada um se faça luz para superação da sombra, não apenas a de cada um de nós, mas a da coletividade também.

 

Ruy Póvoas

Itabuna, abril de 2022

 

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A CASA DA ESPERANÇA NÃO ERA VERDE – UM LIVRO DE AMOR, ESPERANÇA E PERDÃO- Por Tica Simões

 

Margarida Fahel oferece ao leitor, nesse seu terceiro livro, um tema necessário e inquietante. Num discurso provocador, pelo sutil trato de um ponto de vista múltiplo, é tecido um suspense de amor, no estilo neo-romântico que marca  a sua  produção ficcional.

A narrativa foca a vida de Olavo, uma criança deixada aos cuidados de um  abrigo de orfandade. O  livro apresenta instigante prólogo, onde a autora revela o seu processo criador motivado por sonho/ sonhos e por sensações que passou a ter, sempre que via uma criança. Depois, refere as coincidências e sincronicidades , como ela própria admite, ao tomar conhecimento de histórias reais de crianças abandonadas ou colocadas em orfanatos…  E esse bem achado prólogo se “casa” com o epílogo –  entrelaçando o real e o ficcional –   quando personagens transformam esperança em “realidade”, através do Orfanato Casa da Esperança.

A narrativa ficcional se resolve em fluxos das lembranças dos vários personagens que vão surgindo. Impulsionam a história sentimentos expressados pelos personagens:  Amor (Ir Alzira, Olavo, Julieta, Isabel, Joana, Laura, Camila, Alfredo, Jacinta… ) e ódio (Dr Nogueira).

 Numa estrutura de círculos concêntricos, que se vão alargando a cada voz, pequenos núcleos acrescentam a narrativa, todos convergindo ao mesmo núcleo dramático central. Sem obediência a um tempo cronológico, a história vai-se compondo como uma colcha de retalhos.  A verossimilhança é construída através do crescente suspense, legitimado pelo foco narrativo múltiplo; um intrincado foco que, muitas vezes, leva  o leitor a se perguntar: afinal quem está falando?

O ousado processo de repetição de muitos fatos – porque contado por visões diversas – vai, passo a passo, também compondo a história.  E digo processo ousado porque, com a estratégia das repetições, a autora corre o risco de cansar o leitor menos atento… É que, a cada fala (personagens diferentes, épocas diferentes, ambiências diferentes, focos narrativos diferentes), é acrescentado mais um fio, somado mais um detalhe, revelado mais um segredo …  tudo convergindo para o núcleo central, a história de Olavo.  Depois, nas interrupções, o contar e recontar, instalam mistério e provocam o suspense… Além do recontar, semanticamente as repetições são intensificadas  pelo discurso romântico na descrição dos personagens…Assim, nos vários capítulos, interrupções da cronologia da mesma história, em outros  pequenos núcleos, vão “costurando” os segredos a serem desvendados e alimentando a curiosidade do leitor, fazendo crescer o suspense…

Dessa forma, como a vida, a narrativa vai acontecendo… e a  sua  estrutura pode ser percebida, até mesmo por reflexões colocadas na boca  de personagens, como Joana: “A vida vai desfiando seus fios numa roda que ninguém vê e fusos que somente ela maneja” (p.210).  Há um narrador onisciente, pois a história é narrada com ponto de vista em terceira pessoa, mas os segredos que tecem o suspense são revelados pelos personagens em fluxos de consciência ou diálogos diretos e indiretos. Mas pelas pistas do texto,  o leitor vai se perguntando: quem conta a narrativa? Não é um personagem privilegiado? “É a voz de Julieta que vem à minha lembrança neste pedaço de sua história […] está em mim, como das muitas vezes que a ouvi, na varanda daquela casa […] datada de 1913.” (p.121). Lembrança de quem? Por vezes, o narrador conclama a atenção do leitor, lembrando Machado de Assis, em Memória Póstumas de Brás Cubas. E  fica a dúvida no leitor: quem?  É que, vez por outra, o relato deixa escapar uma primeira pessoa, dona do discurso, como na p. 79: “Só nós, eu que lhes conto a história  e você, leitor atento, sabemos que era ele”

O capítulo 26, a ceia das verdades, parece  amarrar as pontas da história;  preenche lacunas… Esse capítulo, além disso, se realiza em metaficção, quando desvenda estratégias do discurso, fazendo a ficção falar do processo ficcional: “E Isabel toma então a palavra, ela, vizinha e amiga. A pintora que, até ali ninguém daquilo sabia, pintava também com as palavras. É esta que até aqui lhes falou incógnita. Mas assim fingirei estar: como se fosse outro o contador.” (p.243). Será?   E o repetir, repetir,  intriga o leitor. Ele pensa: já conheço esse relato, mas de outro ângulo. E  sente-se parte envolvida, aquele que conhece outras perspectivas e as complementa também.

Afinal, a voz que encerra o livro surpreende, quando é uma voz incorpórea… Voz ou energia, pergunta-se o leitor? É mesmo o que sugere  o título do capítulo: De onde virá a minha voz? “Decidi eu mesma contar este último capítulo” (p.257) Quem? Margarida Fahel, a autora conhecedora de Jung, a que recebeu os sonhos?, pergunta-se o leitor, curioso. E, outra vez, o  autor lembra a estratégia machadiana.  Mas essa voz, em primeira pessoa que se anuncia personagem, Julieta, será também a da autora tomada pela energia através do sonho???? A dúvida metafísica instala-se: “Estarei contando de onde me encontro agora?” (p. 257) . E a voz narradora (em outro plano?) levanta questionamentos metaficcionais: “revendo Isabel, minha vizinha de tantos anos, me ocorreu a interrogação: será que é ela que escreve a história?” . A voz-narradora retoma os personagens que contaram as suas versões da história e, suscitando mais uma vez  o mistério, refere “uma brisa por ali chegada […] tão leve, tão carinhosa, entra sorrateira, ninguém sabe de onde chegada…” (p.260)…  Nesse último capítulo, as dúvidas sobre o narrador parecem se esclarecer quando, por mistérios metafísicos, a voz se declara: “Tudo isso vi e escrevo. Uma fresta de futuro […] ou estou ali, em algum tempo invisível […] por alguma abertura de tempo e espaço?” (p.260). É a fala de Julieta, a mãe que já morreu!! Morreu??   A sua voz estará na autora, através dos sonhos??  Estará em outro plano?   Instala-se, agora, uma inquirição metafísica, que  faz lembrar Pessoa:  “Há metafísica bastante em não pensar em nada/ O que penso eu do mundo?”.

O epílogo retoma o prólogo. Se o prólogo constata, o epílogo mostra ações possíveis de esperança para a casa (ou as casas) que não é verde; mas o título do livro, sutilmente, diz querer a  metáfora.   E o vento sopra suave… em energia circulante…

O livro finda, mas fica a inquietação filosófica do pensar o mistério do mundo e da vida. Quem somos? Para onde vamos?

Na sutileza do discurso, ocupando-se do ser, Margarida Fahel busca também explicação para o SER, busca explicação para a vida e seus mistérios…

Ilhéus em abril de 2022

Maria de Lourdes Netto Simões

 

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EDITUS INAUGURA COLEÇÃO “O MENINO POETA” COM CINCO LIVROS DE CYRO DE MATTOS

 A Editus, editora da Universidade Estadual de Santa Cruz, acaba de lançar cinco novos livros infantis do poeta Cyro de Mattos inaugurando a Coleção O Menino Poeta, na qual homenageia a escritora mineira Henriqueta Lisboa, autora de livro homônimo considerado como um clássico da literatura infantil brasileira. Os livros de Cyro de Mattos que inauguram a Coleção O Menino Poeta são estes: A Poesia É Um Mar, Venha Comigo NavegarExiste Bicho Bobo?Tiquinho de TernuraResponda Certo, Se For EspertoA Poesia de Calça Curta.


O primeiro volume da Coleção reúne 17 poemas inspirados no mar, destinados ao público infantil, que contam a jornada de um marujinho poeta, que gosta de navegar por entre os mares verdes e azuis feitos de sustos e tesouros. 


O segundo apresenta poemas cheios de graça e harmonia para questionar ao leitor se os bichos vivem à sua maneira, como algumas pessoas afirmam, e se eles são realmente espertos ou não. 


O terceiro reúne 15 poemas que trazem a alegria e o riso misturado com a ternura para comover e envolver o leitor desde o primeiro verso. 


O quarto apresenta perguntas em forma de charadas desafiadoras e divertidas, encontradas no folclore brasileiro e na sabedoria popular, tendo como assunto a natureza, os bichos, o amor, o riso, entre outros. 


O quinto reúne 20 poemas com leveza, beleza e graça, para levar ao coração das crianças que são amantes de poesia pedaços da ternura da vida.

Membro da Academia de Letras da Bahia, Cyro de Mattos é autor de 60 livros de diversos gêneros. Com estes cinco livros da Coleção O Menino Poeta publicados pela Editus alcança a marca de vinte livros destinados ao público infantojuvenil.

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LANÇAMENTO DE LIVRO “A VIGÍLIA DOS PEIXES, POEMAS”, DE HELOÍSA PRAZERES 

Com a presença da autora e convidados, o lançamento acontece no dia 16 de março, quarta-feira

O Livros na Mesa, projeto da Academia de Letras da Bahia, acontece às quartas-feiras. Nesta, dia 16/03, a autora convidou Tica Simões (ALITA) e Aleilton Fonseca (ALB) para mediarem a conversa. Este é o quarto livro de poemas da autora, organizado em três partes – “nome de família”; “o tempo não detém a vida”; “nossa cabeceira. O encontro será realizado online, no dia16 de março às 19 horas, no canal da ALB no YouTube.
Heloísa Prazeres fez um movimento de leituras de poemas do livro, ao longo do verão. Vídeos / podcast, formatados por Tainá A. Henn, em homenagem a Jamison. O “Livros na Mesa” abrange lançamentos apresentações de livros já publicados, recentes ou antigos. O formato da apresentação varia, entre a conversa informal e a apresentação de palestras sobre a obra na mesa.
O projeto Livros na Mesa faz parte das iniciativas da Academia de Letras da Bahia na criação de eventos que promovem a aproximação das letras, das culturas e das artes com a sociedade. O projeto tem apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia.

CRÉDITOS DA OBRA

A vigília dos peixes, poemas
Capa: Daniel Prata
ilustração: Jamison Pedra
Editora: Scortecci
Ano: 2021/2022
Maria Mortatti, apresentação
Edilene Matos, Quarta capa
Aleilton Fonseca, Aba 1
Celina Scheinowitz, leitura crítica do poema Lenda

 

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Poesia de Cyro de Mattos inspirada em Terras da Espanha é Publicada pela Espelho d’Alma

A editora Espelho d’Alma, de São Paulo, acaba de publicar o livro Guitarra de Salamanca, de Cyro de Mattos, em edição português-espanhol, reunindo poemas inspirados em terras da Espanha, em especial Salamanca. O livro traz capa do desenhista baiano Ângelo Roberto, ilustrações internas de Miguel Elias, conhecido como o pintor espanhol dos poetas, tradução e prefácio da professora Doutora Raquel da Silva Ortega, da Universidade

Estadual de Santa Cruz.

Salamanca Cantante

Por Raquel da Silva Ortega

Paisagens, cores, sons, fragrâncias, sabores, memórias, afetos… são alguns elementos, sentidos e emoções que podem surgir quando visitamos outros lugares e conhecemos outros ambientes e outras pessoas. Viajar, percorrer novos caminhos, conhecer outras histórias são experiências que inspiram artistas e são transformadas em arte e poesia. A coletânea de poemas Guitarra de Salamanca, do prestigioso escritor itabunense Cyro de Mattos, tem duas protagonistas: a cidade de Salamanca (Espanha) e a sinestesia.

Na literatura, temos uma longa tradição de cidades como fonte de inspiração e de matéria narrativa. O exemplo mais conhecido talvez seja a obra As cidades invisíveis (1972), escrita por Ítalo Calvino. Neste livro, o autor cria um relato ficcional no qual Marco Polo descreve ao imperador Kublai Khan suas impressões das cidades que ele teria visitado. No entanto, essa descrição não é objetiva, pelo contrário, os diálogos entre Kublai Khan e Marco Polo poderiam ser classificados como uma narrativa afetiva, recuperada a partir da memória e de reflexões íntimas. No mesmo sentido, Cyro de Mattos traz um diálogo intimista com a cidade de Salamanca, em forma de poesia.

Como recurso expressivo, o poeta recorre à sinestesia. Como já indica o título — Guitarra de Salamanca — o autor nos transporta para o ambiente andaluz através da sonoridade dos poemas. O livro apresenta vinte e um poemas, divididos em quatro partes: Tocata com Alfredo Pérez Alencart, Andamento com seis atos, Fuga com três atos e Fechamento com três atos. A escolha dos títulos das divisões demonstra a busca pela sonoridade, uma vez que remetem às partes integrantes de uma peça musical.

 Nos poemas Jaqueline de Alfredo e Um Poeta Peruano-Espanhol vemos a celebração da amizade de Cyro de Mattos com Alfredo Pérez Alencart e sua esposa, Jaqueline. Pérez Alencart, poeta peruano-espanhol radicado há anos em Salamanca, é um dos principais nomes da poesia espanhola atual e a presença dos poemas que evocam esta amizade familiar coloca Guitarra de Salamanca em diálogo com a literatura espanhola.  Os poemas da segunda e da terceira parte exaltam grandes escritores que nasceram ou passaram por Salamanca/Toledo, partindo de nomes do Siglo de Oro como Góngora, Quevedo, Calderón de La Barca e Miguel de Cervantes, passando pela Generación del 98 com Miguel de Unamuno e adentrando no século XX com Rafael Alberti e Federico García Lorca. Ao mesmo tempo, Salamanca surge em toda sua magnitude: na evocação do ambiente acadêmico, nas suas paisagens, na arquitetura, nos seus caminhos. Aqui novamente percebemos a sinestesia: além da sonoridade, o sentido visual é amplamente provocado nestes poemas, em imagens reconstruídas a partir da memória afetiva do poeta.

Guitarra de Salamanca reafirma a importância da obra do escritor Cyro de Mattos, uma vez que seus poemas estabelecem o diálogo com a tradição das cidades como matéria literária, despertam diversas sensações e se aproximam de grandes escritores da literatura espanhola.

*Profa. Dra. Raquel da Silva Ortega,

 Universidade Estadual de Santa Cruz

— UESC (Ilhéus, BA, Brasil)

Ó Tu Salamanca

Cyro de Mattos

Na fachada de casas

e igrejas e edifícios

basta para entender

que se está na história.

Caminhar é a forma

 de descobrir segredos

de quem também sabe ser

contemporânea e jovem

com estudantes tantos

misturados na face agitada.

Quando a noite cai, luzes

Enchem a parte noturna,

Lugares em que o coração

Aprende que o amor

Se faz amando o mito

Que se apodera da alma.

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Ô VLADIMIR PUTIN – Cyro de Mattos

 

Não escutas o passarinho em dia

De bemóis, ao contrário das fronteiras?

Nessa terra que é nossa casa, abrigo

De lágrima na passagem dos anos?

 

No prazer de estar nela, onde moramos.

Nesse mistério dos que vêm e vão

Com os saberes da grande mãe que dá

Seus filhos à luz, deitando-os no berço

 

Uterino, após a morte. Decerto

De paz o final perfeito. Assim fomos

Feitos, enfim juntos, adormecemos.

 

Deixe que nos leve a trama da vida,

Revele-se no esplendor da mãe terra.

No lado azul de versos com sentido.

 

Cyro de Mattos é poeta e ficcionista. Publicado em Portugal, Itália, França, Espanha, Alemanha, Estados Unidos, Rússia, Suíça e Dinamarca.Cyro de Mattos é autor de 80 livros, de diversos gêneros.

 

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POEMAS DE CYRO DE MATTOS

Historinha da preguiça
Cyro de Mattos

Nasceu, comeu, dormiu.
Cresceu, comeu, dormiu.
Pariu, comeu, dormiu.
Ao ouvir falar em trabalho
teve um mal súbito.
Na mesma árvore
pendeu e morreu.

 

 

Crença
Cyro de Mattos

Entendo ser real
Estar na relva
Com o meu canto
Sedento de amor.
Neste rumor secreto
Verde minha palavra
De brotar em cada um.
Se não sou semente
Dos sonhos que beijei
Cantando na chuva,
Lá dentro trancado,
Cúmplice do eterno
Riscado num instante
Direi não sou de fato
E no caos desencanto-me.

 

 

BICHOS
Isca

Quando vem à tona
como se arrisca.

Gambá

Com o seu spray
fedorento
afugenta o inimigo.

Leão

O e l é t r i c o n o a r
até o vento corre.

Hiena

Gargalhada da fome
amedronta até a morte.

Procurado

Procura-se cão pequinês,
é algo fenomenal,
nunca fez pipi
na cama do casal.

Papagaio

De cadeia ao pé
Humanamente bêbado.

Paixão

Com tanta saudade
da bailarina foca,
o solitário camelo
foi morar no gelo.

Caranguejo

Falou tano dos outros
que perdeu o pescoço
e caiu dentro do poço.

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