Abertura de 2025 e Lançamento da Guriatã nº 6
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Convite para a posse da nova diretoria e abertura do ano acadêmico da Academia de Letras da Bahia, em 10 de março de 2025.
Convite para a posse da nova diretoria Academia Grapiúna de Letras e Artesa, em 24 de março de 2025.
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Ação pede que Procurador Geral do Ministério Público Baiano apure e responsabilize penalmente os envolvidos pela demolição do prédio histórico Comendador Firmino Alves, em Itabuna
A Academia de Letras de Itabuna (ALITA) protocolou uma ação intitulada “Notícia do Fato”, solicitando que o Procurador Geral da Bahia determine a apuração e responsabilização sobre a demolição do prédio histórico Comendador Firmino Alves, localizado na praça Olinto Leone, no centro de Itabuna. Este edifício, que foi residência do fundador da cidade, José Firmino Alves, foi destruído no dia 19 de outubro de 2024.A ação, conduzida pelo escritório de advocacia Sérgio Habib, membro da ALITA, conta com a assinatura dos advogados Marcos Bandeira, Thales Habib, Beatriz Lerner, do próprio Sérgio Habib e da presidente da ALITA, Raquel Rocha. O pedido é pela responsabilização penal da empresa Torres Santos Empreendimentos Imobiliários e Serviços Ltda.
O texto argumenta, de início, a legitimidade da Alita, uma entidade sem fins lucrativos, para apresentar a ação, devido ao seu vínculo histórico e cultural com a cidade, tendo nomeado uma Comissão Especial para apuração dos fatos. A Comissão intitulada ALITA EM AÇÃO tem como integrantes: Sérgio Alexandre Meneses Habib, Cyro Pereira de Mattos, Janete Ruiz de Macedo, Marcos Antônio Bandeira, Clóvis Silveira Góis Júnior, Silmara Santos Oliveira e Lurdes Bertol Rocha.
A Academia desempenha um papel relevante na preservação do patrimônio histórico e cultural de Itabuna, tanto material quanto imaterial, embora qualquer cidadão pudesse formalizar uma Notícia do Fato.
A ação destaca a relevância histórica do sobrado Comendador Firmino Alves para Itabuna, um local essencial para os debates que resultaram na emancipação do município e na organização urbana e cultural da então vila de Tabocas. O prédio também abrigou profissionais importantes para o desenvolvimento da cidade, refletindo a visão de futuro de seu fundador.
O texto revela que a demolição aconteceu de maneira clandestina durante um feriado prolongado, violando um embargo emitido pela Prefeitura de Itabuna. Além disso, a empresa iniciou as obras sem a documentação necessária – como a escritura do imóvel e a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) –, desrespeitando as normas legais e o embargo determinado pela Secretaria de Infraestrutura e Urbanismo (SIURB). A irregularidade foi ainda mais agravada pelo descarte indevido dos resíduos da demolição em área pública.
Diversas entidades culturais e organizações de Itabuna manifestaram seu repúdio à demolição do prédio. Entre elas, destacam-se o Centro de Documentação e Memória Regional da Universidade Estadual de Santa Cruz (CEDOC/UESC), o Centro Cultural Teosópolis (CCT) , Associação Nacional de Historiadores ANPUH/ Bahia, OAB/Bahia e a Academia Grapiúnas de Artes e Letras (AGRAL). Essas entidades consideram o ato como um ataque ao patrimônio histórico da cidade, já fragilizado pela falta de políticas eficazes de preservação.
O documento pontua que a demolição desse importante marco arquitetônico não é apenas um desrespeito à memória coletiva, mas também uma ameaça à identidade cultural de Itabuna, que tem perdido progressivamente seus principais elementos históricos e materiais. “O ato configura um ataque ao patrimônio histórico e cultural de Itabuna, que vem sofrendo com a ausência de políticas públicas efetivas para sua preservação”, afirma a petição.
Por fim, a ação solicita que o Procurador-geral de Justiça do Estado da Bahia garanta justiça abrindo uma investigação e instaure um inquérito policial, conduzindo uma apuração rigorosa, para responsabilizar os envolvidos. A acusação aponta que os responsáveis pelos fatos podem ter infringido os artigos 62 a 65 da Lei nº 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais) e o artigo 330 do Código Penal.
As entidades afirmam que o progresso de uma cidade não deve se basear na destruição de seu passado e de seus marcos identitários.
EDITAL DE CONVOCAÇÃO – ASSEMBLEIA GERAL
A Academia de Letras de Itabuna, com sede na Reitoria da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), situada à Praça Jose Bastos s/n, Centro, Itabuna Estado da Bahia, por ordem da presidente Raquel Silva Rocha, no uso de suas atribuições, convoca os membros efetivos para a assembleia geral ordinária, a realizar-se no dia 26 de março de 2025, na modalidade online, 19:00, em primeira convocação, com a presença da maioria absoluta dos votantes e, em segunda convocação, 20:00 com qualquer número de presentes conforme preceitua o artigo 12, parágrafo único do Regimento da ALITA , com a seguinte Ordem do Dia:
Este Edital será publicado no site Academia de Letras de Itabuna.
Itabuna, 01 de março de 2025
Eliabe Izabel de Moraes
Primeira Secretária
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Aleilton Fonseca. Sonhos de Viver. Salvador: Camarurê Publicações, 2022.
Os seis contos que integram o livro Sonhos de Viver, de Aleilton Fonseca, são mesmo contos exemplares, como bem disse André Seffrin, no prefácio que abre o livro.
A dedicatória já dá pista ao leitor sobre o pessoano “fingimento” do narrador. E a “dor que deveras sente” pode ser sentida ao longo dos contos, por nuances diversas: seja na temática que evidencia sempre o singular olhar de viveres diversos: seja na linguagem lírica que potencializa a sua observação da vida; seja nos temas de cada conto, temas esses relacionados, de uma forma ou outra, aos sonhos, às artes e à natureza.
Em todos os contos, forte é o sentimento do outro, a solidariedade, a humanidade. Assim, elegendo personagens menos favorecidos que, no entanto, habitam e convivem com a faixa mais abastada da sociedade, AF foca-os ressaltando, com especial sensibilidade, os abismos sociais, que povoam sonhos de viver, na ficção e na vida…
O primeiro conto, Os Acordes da Banda, encanta pelo sentimento contido nas ações do maestro Chico Augusto; por seu grande amor à arte a ponto de perdoar uma tão grande traição do maestro Lídio.
As Lições do Jardineiro é conto que faz pensar e entender como aprender a cultivar jardins de vida. Neles, lindas rosas que simbolizam sonhos, “o jardineiro é […] um poeta das plantas e das flores” (p.40).
O olhar pelo foco social – Vidas de Barro, O homem da Calçada e Diarista Exemplar – evidenciam a luta dos mais fracos, ressaltando o amor que dá força para vencer até intempéries, mesmo ante a indiferença dos mais aquinhoados.
Mas é o conto Dona Tute que fecha, com chave de ouro, a proposta anunciada na dedicatória e sutilmente revelada pelo narrador ao falar do “filho adotivo. Ele que agora reinventa, nesta escrita, as suas aventuras, com as cores e as metáforas do coração […] para celebrar a sua trajetória de vida” (p.62). Uma bela homenagem a quem o livro é dedicado!
Maria de Lourdes Netto Simões (Tica Simões)
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Gustavo Felicíssimo. Oratório das Águas. Itabuna: Mondrongo, 2021.
Poesia “de insondável viço”, sinaliza o Epílogo do livro.
A água, tomada como metáfora, faz fluir as reflexões sobre a existência, a vida, o fazer poético. Como esclarece na Nota ao Leitor, Gustavo Felicíssimo toma os mitos de Phaêton e Narciso para a sua postura poética, buscando afastar-se da vaidade ou individualidade. Toma para si o conselho de Helios a Phaêton: “voa no meio e correrás seguro”.
Nada excede no livro, que se estrutura em Exórdio, Nascentes , Rios, Mares e Epílogo.
Desde o Exórdio, anuncia os seus propósitos metafóricos ”na condição de água […] apenas um mergulho, talvez” (p.16) . Intertextualidades atravessam os seus versos, com presenças anunciadas em notas (Cecília Meireles, Jorge Araújo, Pablo Neruda, Sosígenes Costa, Aleilton Fonseca, dentre outros), ou sentidas em postura filosófica panteísta (Alberto Caeiro/ Fernando Pessoa, Espinosa, …): “[…] para que em águas puras eu me purifique […] a eles sempre rogo o próximo verso.” (p. 23)
As águas são muitas e infindas, diria Caminha. Desde Nascentes, as águas são dos rios e dos mares, o cerne poético.
Nascentes, em panteísmo, na metáfora da água, realiza a metalinguagem dos seus versos: “Minha palavra não é um badalar de sinos/ não se iguala às árias dos pássaros/ não penetra a alma das flores/ não reflete a claridade do infinito/ Minha palavra é essa nascente/ esse arroio no qual me assento […] (p.29). Ou ainda: “[…] escrever é como percorrer/ a linha d’água que se derrama/ da ânfora infinita/ onde moram as palavras” (p. 33).
Em Rios, o poeta faz o correr da vida, pari passu, com o correr das águas doces, identificando o processo de criação poética com o da natureza, “no rumor de todas as águas/ No canto de todos os pássaros/ na força do vento nos arvoredos” (p.36). E afirma mesmo: “Esses rios sinuosos são a vida” (p. 37). Ainda em postura panteísta, reafirma a metáfora: “Esses rios não são o que digo/ Às vezes o vento para de soprar/ e o rio se torna um espelho/ Nele vejo a face de todas as coisas / o que alguns chamariam de Deus”. (p.38). Mas, se os rios correm naturalmente para o mar, para o poeta “eles correm é para dentro de mim/ e eu emudeço – remanso que sou/ Os deixo fluir em meus versos/ e os aceito como a mim se revelaram” (p.40). Confirma a própria reflexão sobre a poesia, realizando um original processo de metalinguagem, quando afirma: “Tudo aqui são águas e são também/ a mais perfeita definição de poesia” (p.45) . Como “uma ciranda” a água é devolvida para a água, a palavra é devolvida em poesia…
Mares, também metaforicamente, traz a história e o fazer poético: “Outrora aqui chegaram as naus/ que venceram os oceanos/ Agora surgem esses versos/ como se fossem Argonautas” (p.51). Remete à Mensagem, de Fernando Pessoa: “Deus quere, o homem sonha, a obra nasce.” (O Infante. Mar Portuguez. Obra Completa. Rio de Janeiro, Aguillar, 1986, P. 78). Ainda, lembrando Fernando Pessoa (“O’ MAR SALGADO, quanto do teu sal/ São lágrimas de Portugal” Idem, p. 82), diz: “Trago uma lágrima após outra lágrima/ que é como uma onda após outra onda” (p. 51). E em versos plásticos, intertextuais, visuais e múltiplos evidencia o avançar das naus; o avançar da sua poesia: “de lufada em lufada prossigo” (p.52); “ E se as ondas me levam/ o meu ser, refluente, navega” (p.55).
Depois, a consciência do fazer poético, pois “quando tudo é calmaria […] o poema vai se construindo/ à revelia de toda efusão marítima” (p. 58)
O Epílogo, conclusão do livro, das reflexões metafóricas, do fazer poético. “Tenho o corpo coberto de água/ posto que nela me sepulto […] pois água é a vida que a tudo rege” (p.66).
O poeta “descobriu na linguagem/ a mais adequada medida do seu êxito” (p.67). Assim, dando a volta, retoma o mito, conseguindo ouvir o conselho de Helios: “voa no meio e correrás seguro”. E seguro corre esse belo texto, que é ORATÓRIO DAS ÁGUAS, ilustrado por Gabriel Ferreira.
Maria de Lourdes Netto Simões (Tica Simões)
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Em tempos idos, tempo de simplicidade, de amor e paz, o Natal era nossa festa maior. A minha tia Judite, que carinhosamente, eu a chamava de “mãe Judite”, fazia o possível e o impossível para alimentar o meu sonho de “Papai Noel”. Nas noites dos dias 24/25, ela servia a ceia natalina, mais farta e diversificada, mas, antes de tudo, a família prostrava-se em oração para celebrar o nascimento de Jesus Cristo. Quando dava meia noite, lá estávamos na Missa do Galo.
A casa não era rica, mas não podíamos nos queixar da ceia de Natal: peru, frango ao molho pardo, carne, patê de fígado, purê de batata, feijão, arroz, saladas, nozes, azeitonas, tudo regado com bom vinho para os adultos e a molecada se empanturrava em doces de caju, manga, jabuticaba, quem não gostava de doce, se empanturrava no caldeirão de ponche natural – não havia geladeira.
Quando voltávamos da missa, na estrada de barro, quando não estava chovendo, que a lama respingava e manchava nossa roupa nova, nós vínhamos brincando e pegando picula, os garotos eram da mesma idade, tudo era festa. Não havia malfazejo, ladrão só de galinha, saíamos da missa e chegávamos em casa sem sermos molestados por algum malfeitor.
Nós não entendíamos bulhufas do que o padre falava. A maioria das vezes, era um padre alemão de língua embolada, sabíamos que tinha chegado ao fim, quando ele ultimava os ritos finais: “Benedicat vos omnipotens Deus” e “Pater et Filius et Spiritus Sanctus, Amen!”, aí, corríamos para o presépio, onde Jesus Cristo, deitado na manjedoura significava o gesto de humildade absoluta. Não sabíamos o significado eclesial do presépio, queríamos só brincar e olharmos os animais do presépio e os três Reis Magos adorando o Menino–Deus, José e Maria.
Questionava mãe Judite como Papai Noel conseguiu passar pelo telhado com aquele saco enorme de presentes. Ela dizia-me que Papai Noel é encantado e entra em qualquer casa, desde que o menino lhe rogue um brinquedo, e acrescentava que Papai Noel mora numa terra muito distante, lá no Polo Norte, lugar de muito gelo, por isto, sua roupa vermelha fechada com boina de lã para evitar o frio e, nas grandes distâncias, ele usa seus trenós mágicos com renas amestradas para percorrer o mundo.
Porém, o bom do Natal era o dia seguinte: pulava da cama em busca do presente que tinha pedido ao Papai Noel, uma bola, um “caminhão”, ou, uma pistola de jato d`água, encontrava-o dentro do sapato ou fora, conforme o tamanho do presente, certa feita, ganhei um velocípede da empresária Nela.
As rádios AM e os alto-falantes dos bairros eram imprescindíveis para divulgar os festejos e as noites natalinas, Jesus Cristo era o tema, mas o sentimento infantil e lírico das letras deslumbravam os garotos: “Natal está chegando, plim plim plim / Que bom te ver sonhando, plim plim plim / Aqui não vai ter neve, vai ter sim / Muito calor e amor pra mim!”
Não se pode apagar a chama do Natal, pois apagar-lhe seria desconstruir um reino de magia, de sonhos, de esperança, além do significado religioso que é importantíssimo na história da humanidade. Festejar o nascimento de Jesus Cristo é um ato de gratidão por ter morrido na cruz pra redimir o pecado do homem.
A tradição oral e escrita, hoje, a mídia falada e televisada são fundamentais para alimentar o sonho do bom velhinho, bonachão, barrigudo, barba e cabelos brancos, que traz no seu saco de brinquedos, a inocência, o amor e a paz, que, ele fique na mente das crianças e dos adultos para sempre.
Se a vida é tão dura e difícil, se a alma não fosse alimentada com efeito artístico, magia e fantasia, a morte seria um descanso, não a esperança de vida eterna. Por isto, Papai Noel é o suporte emocional necessário para preencher a lacuna de insegurança do homem de todas as raças e credos, não, somente dos cristãos.
Os estadunidenses, por causa do limite físico do homem e sua natureza finita, eles criaram, também, no Século XX, seus heróis imortais, não a exemplo de Papai Noel, personagem infantil, mas heróis que combatem a injustiça e protegem os mais fracos, a exemplo de Thor, Hulk, Homem de ferro, Capitão América, dentre outros heróis.
O brasileiro para mexer com a alma dos seus pequenos, criou seus personagens que povoam a mente de crianças e adultos, eles não são universais, mas satisfazem o imaginário do seu povo, a exemplo de Saci-pererê, Curupira e Boitatá.
Autoria: Rilvan Batista de Santana
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Membro da Academia de Letras de Itabuna – ALITA
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Não sei se o nome dela era Nelha, Nélia, Agnela, apelido ou mesmo Nela. Quando a conheci, eu tinha 5 ou 6 anos de idade, ela deveria ter menos de 30 anos de vida. Nela era alta (sem ser espigão), corpo longilíneo, cabelos castanhos ondulados, olhos verdes esmeraldas, pele europeia, enfim, uma deusa grega, mas era italiana de nascimento.
Tudo começou quando meu tio Pedro e “mãe” Judite resolveram aventurar a vida no Sul do País, eles escolheram Porecatu, cidadezinha do Paraná. Naquela época, a cana de açúcar era responsável pela riqueza da região. A cana de açúcar cobria milhares de hectares de terra, era a lavoura principal, a única.
Tio Pedro não tinha costume de trabalhar em roça e “mãe” Judite foi trabalhar de doméstica numa casa rica e tio Pedro foi trabalhar no bar, restaurante e sorveteria de Nela, o único da cidade. A freqüência era ótima, a cerveja, o whisky e a cachaça pura de alambique e os petiscos deixavam os bebedores com vontade de virar a noite.
Na minha ingenuidade de criança, pouco e pouco, fui sabendo das coisas: ela era viúva, não queria saber de casamento e não se desgrudava dum revólver 38 luzídio no bolso do vestido ”tubinho” colado ao corpo fulgurante. Seu casamento não lhe deixara filhos, talvez, a causa de seu gênio irascível e temperamento dominante.
Porém, não existe coração duro para que um coração ingênuo de uma criança não amoleça… Eu tinha os mesmos traços físicos dela: branco, olhos verdes, cabelos de milho verde, nordestino com traços europeus. As pessoas perguntavam a Nela se eu era seu filho, quando não era conhecido, ela dizia “sim”. Eu sentia-me bem que Nela fosse minha mãe de verdade, não de mentira.
Tio Pedro adquiriu sua confiança e passou administrar o trabalho do pessoal da cozinha e os garçons. Embora fosse o chefe, ele se sentia como um deles, por isto, a produtividade e a receita aumentaram, porque todos trabalhavam com gosto, Nela esporadicamente ia ao restaurante, chegava e saía como cliente e nada esmiuçava.
Nela possuía uma “Fobica, modelo Ford”, o luxo do luxo, bancos de couro e rodas enraiadas douradas. Fobica toda vermelha com detalhes pretos. Porecatu, naquela época, contavam-se as ruas, todo mundo se conhecia, todo mundo era amigo de todo mundo, cidade bairrista, o forasteiro levava tempo pra ser aceito. Nela me colocava no assento da frente (não havia cinto de segurança), mas suportes para segurança e proteção.
O Natal lá foi um dia dos mais felizes de toda minha vida. Acostumado com carrinhos feitos de lata de óleo de comida, nesse Natal, quando me acordei, estendido sobre a cama um conjunto de roupas para vesti-las na Missa do Galo e Ano Novo e, embaixo da cama à altura dos pés um velocípede amarelo com detalhe vermelho. Para mim um sonho e não realidade.
Diz o provérbio popular: “Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe…” , final de janeiro daquele ano, tio Pedro e “mãe Judite” deram saudade de Itabuna e comunicaram à Nela que iam voltar pra Bahia. Ela só faltou se ajoelhar para que eles ficassem, mas em vão, a saudade dos amigos, parentes, era mais forte.
Na casa do sem jeito, ela implorou pra que me deixassem como adoção, porém, o orgulho de gente pobre é mais enraizado, nem pensar naquela proposta. Eu chorei, estrebuchei-me, fiquei doente, porém, eles trouxeram-me de volta para vida medíocre, paupérrima.
Acho que Nela e eu nunca nos esquecemos, o destino é injusto e mau!…
Autor: Rilvan Batista de Santana
Licença: Creative Commons
Membro da Academia de Letras de Itabuna – ALITA
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Naquela manhã (leitor amigo, não me lembro o dia) do mês de abril de 2011, minha esposa recebeu um telefonema que me passou depois: – Dr. Marcos Bandeira telefonou! – Quem? – O juiz! – Deseja o quê? – a mulher apreensiva: – Acho… você… anda escrevendo essas bobagens…
No segundo telefonema, o objetivo foi parcialmente esclarecido: o projeto de uma academia de letras em curso e o Juiz de Direito itabunense gostaria de conversar comigo pessoalmente. Combinamos dia, local (Fórum Ruy Barbosa de Itabuna) e hora.
Não conhecia pessoalmente dr. Marcos Bandeira, conhecia-o através da mídia falada e escrita e an passant sabia que tinha atuado na Comarca de Camacan como Juiz criminal.
Na data combinada, tirei a roupa do fundo do baú, calcei o sapato mais novo, chamei minha filha Anne Glace para me assessorar e fomos encontrá-lo no seu local de trabalho. Aproveitei e levei 2 romances (O empresário e Maria Madalena) de minha autoria para lhe presentear. Eu pensei que ia encontrar um homem afetado pelo cargo com resquício de autoritarismo, mas, encontrei um nordestino raiz de Bom Jesus da Lapa (BA), dócil, educado que convencia pela força do argumento, não pela autoridade de Juiz de Direito, um democrata.
Combinamos nos encontrar na FICC (Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania – FICC), situada na Praça Tiradentes s/n, próximo à catedral São José. Palavra dada, palavra cumprida, naquele dia, lá na FICC, eu encontrei: Marcos Bandeira, Antônio Laranjeira, Ary Quadros, Carlos Eduardo Passos, Cyro de Mattos, Dinalva Melo, Gustavo Fernando Veloso, Lurdes Bertol, Genny Xavier, Ruy Póvoas, Sione Porto, Sônia Maron, Marialda Jovita e Maria Luiza Nora.
Em nossa primeira reunião (19 de abril de 2011), definimos o nome da academia, por aclamação dr. Marcos Bandeira foi eleito presidente junto com a diretoria (eu fui eleito 2º. Tesoureiro, com a desistência de Gustavo Fernando Veloso, 1º. Tesoureiro, eu assumir seu lugar), fechamos a manhã daquele dia com o “esqueleto” pronto da Academia de Letras de Itabuna – ALITA.
Em reuniões vindouras, sob a batuta de dr. Marcos Bandeira, em 7 meses, redigimos o Estatuto, o Regimento, criamos a revista “Guriatã”, desenhamos o fardão, os brasões “Litterae in Fraternitattis 2011” ou “Litteris Amplecti 2011” – O Hino da ALITA, veio depois, letra do escritor Cyro de Mattos – no dia 05 de novembro de 2011, no auditório da FTC, o escritor, cronista, Juiz de Direito e professor da UESC das disciplinas: Direito Processual Penal, Direito da Criança e do Adolescente, dava posse aos acadêmicos, em solenidade de gala. O acadêmico Ruy Póvoas discursou em homenagem ao patrono da Academia, Adonias Filho, e, Cyro de Mattos ostentando no peito suas medalhas lhe auferidas em tempos idos, discursou em nome dos acadêmicos empossados e Aramis Ribeiro falou representando, como seu presidente, a Academia de Letras da Bahia – ALB.
Faz-se necessário dizer, por desencargo de consciência que, em todas as etapas de fundação da ALITA, o desempenho pela experiência de outras academias de Ruy Póvoas e Cyro Pereira de Mattos, foi significativo. Coube ao dr. Marcos Antônio Santos Bandeira, primeiro presidente da Academia de Letras de Itabuna – ALITA, à assessoria jurídica.
Não obstante a falta de recursos materiais e financeiros, a gestão colegiada de dr. Marcos Bandeira foi acima da média, em 2 anos de mandato, o que era um ideal imaginário (criar uma academia de letras), transformou-se em realidade como pessoa jurídica (CNPJ), além de ter pago a festa de solenidade de posse dos acadêmicos com recursos próprios, o registro do Estatuto e Regimento, uma conta bancária no Banco do Brasil para contribuição mensal dos novos acadêmicos e através da saudosa Sônia Maron, a cessão de 2 salas para sede provisória no Edifício Dilson Cordier, à Rua Ruffo Galvão. 155 – Centro / Itabuna (BA).
Estimado leitor, talvez, não mais me suporte com essa ladainha de fundação da ALITA. Porém, peço-lhe que me tolere mais um pouco, é que nosso homenageado foi seu primeiro presidente, e, se ele é seu amigo, o admira, releve essa chatice e me acompanhe para que, eu e você, possamos adentrar naquilo que lhe foi sua razão de vida: O Direito como disciplina normativa que procura fazer justiça social: assegurando aos menos favorecidos e aos mais aquinhoados pelo destino, os mesmos direitos diante da Lei. Portanto, amigo leitor, passemos aos parágrafos que virão do nosso amigo Juiz de Direito e completemos com ajuda de Deus, sua trajetória profissional e humana.
Dr. Marcos Bandeira foi um juiz garantista, que o réu é um ser humano e merece ser tratado com direito ao contraditório no Tribunal Judiciário, acusação, também, a defesa, que não seja prejudicado em sua honra, que não seja humilhado pela acusação e responda, somente, a prática do seu crime. Para Luigi Ferrajoli, pai do garantismo, se caracteriza: 1) como modelo normativo de Direito; 2) como teoria jurídica e 3) como uma filosofia política.
Dr. Marcos Bandeira foi o juiz com recorde que nenhum outro juiz alcançou: presidiu mais de 250 sessões do Tribunal do Júri em Itabuna desde 1910, quem fala dessa proeza é o Juiz de Direito, dr. Ricardo Augusto Shimitt, quando prefaciou o livro “Tribunal do Júri”:
“Marcos Bandeira, juiz, professor doutrinador, para tratar com absoluta maestria sobre a reforma do “Tribunal do Júri”, com seu olhar crítico de mais de 250 júris presididos, o que faz com que sua obra receba o título de excelência, a ser aclamada por todos nós, operadores do direito”.
O “Tribunal do Júri” foi criado pelos gregos, aperfeiçoado pelos romanos, implantado pelos britânicos e Estados Unidos. Foi instituído no Brasil pela Lei de 18 de julho de 1822 para julgar os crimes da imprensa.
Quando li: “Apologia de Sócrates”, livro de prosa em verso, em que Sócrates é condenado beber cicuta por um Tribunal do Júri, que o acusava de “perverter a juventude”. Um tribunal corrompido por jurados de interesses inconfessáveis matou o filósofo que questionava o conhecimento com a célebre frase; “Sei que nada sei”.
Antes da Lei nº. 11.689/2008 que se destinou a seção III do Capítulo II referente ao Júri, dr. Marcos Bandeira, instituiu no Tribunal do Júri em Itabuna, algumas mudanças a exemplo do réu não ficar ladeado por 2 policiais brutamontes, mas ao lado do seu advogado de defesa. Criou, também, o cadastro voluntário, ele justificou que algumas pessoas quando eram convocadas, chegavam ao tribunal com a cara feia e má vontade. Absolveu o sigilo da votação não do voto, que a sala secreta foi substituída por uma sala envidraçada que não comprometia o auditório vê a votação. Que o resultado absoluto de 7X0 foi substituído pelo resultado relativo 4×0, ou seja, por maioria simples. – Que é de o prêmio INNOVARI?
Ele gostava dos frequentadores assíduos do Tribunal do Júri, principalmente, da frequência de Zito Bolinha (in memoriam), que certa feita esclareceu a razão de sua assiduidade: ”Doutor, aqui se aprende lições de vida que não ensinam nos livros e nem na escola”.
Mas, presidindo um Tribunal do Júri em Ferradas, que os indivíduos trepavam nas árvores para assistirem ao júri que se desenvolvia nesse bairro, teve um “Insight”, a partir dali, só faria júri nos bairros porque seria mais educativo e mais atrativo.
Apesar do semblante “pesado”, dr. Marcos Bandeira é um brincalhão, certa feita que alguém falava de imortalidade, ele disse: “Cyro, pra ser imortal, só precisa morrer”. Um aficionado pelo futebol, ele é “Fluminense” de quatro costados, no Rio de Janeiro, foi ver seu ídolo Rivelino. Alguém me disse que dr. Marcos Bandeira jogou no Colo Colo de Futebol e Regata de Ilhéus. Pelo tamanho e grossura, coloco minha mão no fogo, sem medo de queimá-la que foi um grande zagueiro.
Doutor Marcos Bandeira, não vestiu o pijama da aposentadoria, é advogado, é professor concursado da UESC e doutorando em Direito pela Faculdade de Lomas de Zamorra da Universidade Nacional de Buenos Aires.
Hoje, seu bem maior, a razão de sua vida, é sua família, Rosana, a esposa, os filhos: Marcos Bandeira Júnior, Michelle, Danielle e Francielle.
É lugar comum dizer que a família é a célula mater da sociedade, é necessário que se diga sempre, porque a família é o sentimento de amor maior do homem.
Autoria: Rilvan Batista de Santana
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Membro da Academia de Letras de Itabuna – ALITA
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Att.: Informações, a posteriori, Marcos Bandeira foi meia esquerda, camisa 10, do Colo Colo de Futebol e Regata de Ilhéus e da Seleção.
MARCOS BANDEIRA. Por R. Santana Read More »
É lugar comum dizer que a família é a célula mater da sociedade, é necessário que se diga sempre, porque a família é o sentimento de amor maior do homem. O homem que se desembaraça da família, perderá o equilíbrio psicoemocional e condenará sua história. Não lhe adiantará nenhuma riqueza ou sucesso profissional, se ele não tem o agasalho dos pais, a compreensão do cônjuge e o aconchego dos filhos.
Para o filósofo Jean-Jacques Rousseau, o homem nasce bom e a sociedade o corrompe, outros, acreditam que o homem nasce com potenciais instintos e razão e a sociedade lhe dá humanidade. Porém, quantos indivíduos maus existem que a educação e a instrução não conseguem aprimorar? Inúmeros! Esses indivíduos que nascem com a maldade congênita, jamais serão socializados plenamente, sempre viverão à margem da sociedade.
A família, além de suporte afetivo, propicia princípios religiosos, morais e intelectuais aos seus membros. Hoje, as políticas públicas de todas esferas de governo, elas são voltadas mais para educação, saúde e bem-estar social. Os recém-nascidos são protegidos por creches e os pré-adolescentes, os adolescentes e os jovens adultos são amparados por um sistema educacional que abrange o ensino fundamental, o médio, o ensino técnico profissionalizante e o superior em todos os rincões do país, ou seja, não existe desculpa pra o indivíduo não adquirir conhecimento.
Hoje, com a modernidade e a banalização dos costumes, muitos casais protelam à chegada de filhos ou renunciam à sagrada função de ser mãe e pai biológicos. Porém, no seu poema “Enjoadinho”, o poeta Vinícius de Moraes questiona: “Filhos, filhos? / Melhor não tê-los! / Mas se não os temos / Como sabê-los? / Noites de insônia / Cãs prematuras / Prantos convulsos / Meu Deus, salva-o! / Filhos são o demo / Melhor não tê-los / Mas se não temos / Como sabe-los?”, ou seja, os filhos são necessários, são as bênçãos de Deus, o casal sem filho sujeita-se encerrar sua história, sua descendência, além de uma vida infrutífera e vazia.
É lamentável que alguém complete uma família, com cachorro, gato, etc. Tê-los podem preencher um vazio afetivo, mas os animais não substituem o filho, mesmo adotivo. O mais racional é a coexistência de animais e gente.
Hoje, há vários tipos de família, no entanto, aqui se discute a família tradicional, aquela deixada por Deus: “Crescei e multiplicai-vos”, Gênesis 1:28, com as instruções: “enchei e dominai a terra”. E, completa: Deus os abençoou e lhes disse: “Frutificai, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra”. Essas outras famílias não têm a função biológica de fecundação e reprodução, elas são as “famílias” sociais ou famílias homoafetivas.
A família não se resume ao núcleo (pai, mãe e irmãos), também, a família extensiva: avôs, avós, tios, sobrinhos, primos e, os parentes por afinidade, a exemplo de noras, cunhados, genros, etc.
A família se caracteriza pela solidariedade, generosidade, empatia e amor entre seus membros, quando alguém da família é acometido de algo funesto, todos sentem a dor do outro. Uma mãe é capaz de dar a vida pelo seu filho. Por mais que o filho tenha defeito, má conduta, sua conduta sempre é suavizada e justificada pelos pais.
A família é uma instituição milenar, tão velha quanto o mundo. A Bíblia em Gênesis fala da primeira família: Eva, Adão e os filhos Caim e Abel. Infelizmente, o primeiro fratricídio da história da humanidade, Caim matou seu irmão Abel, assim, a história registra a primeira família e o primeiro crime.
Por outro lado, a Sagrada Família nos ensina o amor, a compaixão e a fé. Em Efésios, Capítulo 6, Versículos 1-4, lê-se: “Filhos, obedeçam aos seus pais no Senhor, pois isso é justo”. A Sagrada Família é por natureza santa, pois todos os seus integrantes possuem santidade confirmada pela Igreja Católica e pela fé cristã. Maria escolhida, concebeu virgem, seu filho Jesus Cristo, e, José, varão corajoso e justo. Maria, até os dias atuais, ela se apresenta ao mundo sob várias facetas divinas, operando milagres pela fé de seus crentes.
Não obstante existir a família desajustada, desunida, que não se encontra, incompreensiva, mesmo assim, é uma instituição que não se substitui porque sua natureza é santa e pecadora, não é somente, a menor unidade estruturada da sociedade, a célula mater, fora dela, não haverá momentos felizes nem paz existencial.
Enfim, invocando o adágio popular: “Uma mãe é para 100 filhos e muitas vezes 100 filhos não são para uma mãe”, portanto, nada no mundo substitui o pai e a mãe, filho!…
Autoria: Rilvan Batista de Santana
Licença: Creative Commons
Membro da Academia de Letras de Itabuna – ALITA
Imagem: Google
A FAMÍLIA- R. Santana Read More »