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VÓ CARMINHA- Por Ceres Marylise

VÓ CARMINHA

Ceres Marylise*

Caminhava apressadamente, pois recebera o chamado que tentava evitar havia muitos dias. Uma chuva fina tamborilava no guarda-chuva da mocinha que seguia à minha frente, dispersando um pouco meu pensamento. Finalmente, e com um nó a paralisar-me a garganta, parei diante da casa que me era tão familiar e toquei a campainha. A gentil cuidadora recebeume em silêncio e, vagarosamente, dirigi-me para o quarto.

No silêncio daquela manhã em que a percepção da morte rondava por dentro despedaçando o melhor de mim, olhei para a frágil e pálida mulher reclinada na cama com gestos e voz enfraquecidos, cuja presença aos poucos se findava.

Mantive-me de pé refletindo sobre o tênue fio de vida que a prendia a este mundo, onde entre os seres vivos, só o homem tem consciência de sua própria finitude. Sentindo-se finito, desmorona seu mundo de certezas ao imaginar-se em algum momento, na iminência do limiar dessa outra realidade. Existencialista, o homem tem dificuldade de lidar com a morte, exatamente pela sua incapacidade de conviver com as circunstâncias da vida de tantos significados e tantas insignificâncias.

Olhei mais uma vez para aquela mulher de tantos anos: minha querida Vó Carminha, a mulher que ainda chamava a atenção pelo contraste do seu olhar transbordando candura e firmeza, quando nada mais poderia ser feito; a mulher marcada pela simplicidade e pela fortaleza que a faziam saltitar como uma menina sobre a trilha dos dias e ao mesmo tempo, agigantar-se diante dos desafios, sabendo-se envelhecer; a mulher de sóis e chuvas que nunca se intimidou diante do difícil e do improvável; ao contrário, fez deles seus motivos para sonhar, lutar e viver, doando-se sem descanso à sua família.

 Nessa perda prenunciada, senti-me sozinha sem o dedo e o olhar que sempre me apontaram os caminhos por onde deveria transitar na outra margem. Uma sensação de incompletude apossou-se de mim ao perceber-me nela e saber que ela também carregava parte  mim. Beijei-a ternamente na fronte, tomei suas mãos entre as minhas e orei ao Nosso Pai. Confortei-me na fé e me amparei entre a dor e a certeza de que nunca mais a teria ao meu lado vivendo pedacinhos soltos de felicidade.

Com esses pensamentos, e sob o pesado silêncio do ambiente, revi-me ainda muito pequena, quando ela segurava minhas mãos e me dizia de coisas grandiosas que eu poderia ser e que eu nada entendia, pois o tempo e a conquista de algo, nada significavam para mim naquela idade; lembrei-me de quando se punha a rezar mostrando a fé de sua alma pura; de quando me ensinava deveres e direitos e me dava conselhos, dos quais nunca poderei esquecer; também das valsas e de algumas canções, principalmente Menino de Braçanã e Guarânia da Lua Nova, eu já adolescente, que entoávamos juntas e ela se fazia acompanhar de batidas suaves na mesa; da traquinagem de algum neto que a fazia ameaçá-lo de mentirinha com um abano nas mãos; da poesia que escreveu e me presenteou no aniversário de 15 anos, da qual ainda lembro a primeira estrofe: “Quinze anos hoje completas / alvorecer do existir / quantas esperanças adejam / em teus lábios a sorrir.”

Entre chorosa e meio perdida dentro de mim mesma, baixei minha cabeça e meus olhos se fixaram no chão. Ficaram os chinelos debaixo da cama… sem ela. Haveria algo mais triste naquele momento? Saí do quarto e me refugiei num local mais afastado da casa tendo a certeza definitiva de que só o tempo é eterno e deixa as marcas inexoráveis de seus passos em cada um de nós; que é na triste experiência da perda do outro que podemos refletir e entender sobre a vida dando-lhe valor e novo significado.

 

  • Natural de Ubaitaba, Sul da Bahia, é graduada em Pedagogia e Letras, pós-graduada lato sensu em Alfabetização com concentração na área de Linguística e pós-graduada stricto sensu em Linguística. Docente aposentada pela Universidade do Estado da Bahia, onde também ocupou os cargos administrativos de Coordenadora de GT de Implantação dos Campi XIII e XX, Diretora do Campus XIII, Chefe de Departamento do Campus XIII e Coordenadora de Colegiado de Curso no Campus XX. Possui produção literária publicada no Brasil e no exterior em várias antologias, inclusive bilíngues, e é autora do livro Atalhos e Descaminhos lançado em Brasília no XI Encontro Internacional de Escritoras, no Salão do Livro em Paris – França e nas Bienais do Rio de Janeiro e São Paulo. É associada efetiva do Rotary International, onde assumiu os cargos de Presidente de Clube, Presidente de Imagem Pública, Presidente de Desenvolvimento do Quadro Associativo, International President District Scolarship Subcommittee Chair – District 4391 and Honorary Member. Membro efetivo da Academia Brasileira Rotária de Letras – ABROL, do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia – IGHB, da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia da Bahia e faz parte de diversas instituições literárias no Brasil e no exterior. Na Academia de Letras de Itabuna – ALITA, ocupa a Cadeira 16 e tem como patrono, Abel Pereira.

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MENSAGEM DO IJEXÁ- Ruy Póvoas

Entre muitas belezas que o pintor Carybé produziu, há uma imagem de Oxalufã, numa recriação artística de admirar. Dobrado sobre si mesmo, segurando o opá do mistério, Oxalufã, o mais velho de todos os Orixás,  representa a busca do autoconhecimento que, inevitavelmente, nos leva de volta a nós mesmos. Ele é o senhor das nuvens que cobrem o mundo. Por isso, está permanentemente rebuçado por uma toalha branca, o Alá da Paz.

E sob essa toalha, está a busca do oculto, o encontro marcado com o Destino, a aceitação de si mesmo, o olhar voltado para aquelas áreas da natureza humana, onde a luz é rarefeita ou nenhuma. Daí, o seu poder de revelar o que está oculto nas profundezas de nossa personalidade. E pleno de compaixão, ele abraça a nossa humanidade e nos socorre com as suas bênçãos, numa profunda compreensão da fragilidade e finitude dos humanos.

Então, através de Oxalufã, podemos nos dar conta de alguns fundamentos nos quais é possível basear nossa existência.

Esta época em que vivemos nos obriga mergulhar em constante estado de vigilância, mas também em perspectivas, E por que não dizer? Também em expectativas, pois somos filhos da Luz; não somos filhos da Sombra. Podemos tomar o Oxalufã de Carybé como uma motivação e imaginarmos reflexões.

Os iluminados escolhem, embora muitos ainda estejam na fase de quem precisa esperar para ser escolhido. Por isso mesmo, é necessário render graças por todas as oportunidades que a vida nos oferece, num ato de reconhecimento e gratidão. Não escolhemos ninguém. Os parceiros e parceiras, amigos e companheiros já foram escolhidos pela própria vida, desde que fizemos nossas escolhas.

Cumprir a destinação é nossa tarefa na existência, através das várias experiências, preferências, orientações e tendências nossas. Ocorre, porém, que cumprir o destino nem sempre é fazer aquilo que desejamos. Aliás, muitas vezes, para cumprirmos o nosso destino, é necessário sacrificar alguns sonhos, desejos e vontades. E quem segue um caminho onde suas coisas não estão jamais em tal caminho suas coisas acharão.

Nós somos Luz e Sombra e tudo tem o seu contrário. E só podemos nos encontrar conosco, se aceitarmos essa dualidade em nós. Tomar consciência de nossa Sombra é o marco inicial da grande viagem para além dos nossos próprios limites. A maioria, no entanto, sempre necessita vivenciar muitos altos e baixos na caminhada escolhida.

Na convivência, não podemos condenar os outros por causa de seus pontos de vista. Não devemos julgar o outro, se não o entendemos e desconhecemos sua história.

No grande inimigo de hoje, pode estar o irmão ou o amor de outras vivências, pois não há mistérios apenas no amanhã; o ontem também tem os seus. Por isso, é regra de ouro não odiar pessoa alguma. E afinal, como disse Shakespeare, “há mais mistérios entre o céu e a terra do que possa pensar nossa vã filosofia.”

Aprendemos muito mais com aqueles que nos condenam do que com os que nos elogiam. Para isso, no entanto, é necessário humildade.

Na existência humana, todas as alegrias desejam ser eternas, mas não são. Todas as tristezas se julgam infinitas; também não são.

Nenhum saber supera as ações de um coração movido pelos sentimentos de misericórdia, compaixão e generosidade. Ai de nós, em nossas limitações, quando não recebemos a misericórdia do outro. Ai do outro, quando ele não é alvejado por nossa misericórdia. Eis uma das grandes causas de tanto sofrimento no mundo.

É necessário que estejamos atentos às bênçãos e oportunidades oferecidas pelo Universo e assumi-las com reconhecimento e gratidão. Quem não agradece o que recebeu não é digno do recebido. Podemos até não as aceitar, mas a cada bênção ou oportunidade rejeitada, cresce o débito consigo mesmo, a ser pago mais tarde, com maiores sacrifícios, inevitavelmente. Na existência, quem quer alcançar a Luz, termina escolhendo muito pouco, o demais é mera aceitação. E quando tomamos consciência disso, a vida se torna um fardo leve, pontuada de momentos de felicidade. Não significa, porém, combinarmos com o erro, o engano ou a estupidez.

Mais cedo ou mais tarde, a vida nos impõe sob forma de destino tudo aquilo que rejeitamos de nós mesmos, mas não é nada fácil tomar consciência de si próprio.

O que  afirmamos constantemente como âncora de nossa fé, não raro,  pode ser indício do que não cremos. Acreditar no que seja falso como se verdadeiro fosse só nos leva até à escuridão.

Só é possível aceitarmos o outro, se tivermos plena aceitação de nós mesmos e isso significa reconhecer nossa própria Sombra. Aí, então é possível pensar em iluminação.

Na labuta da existência, corremos o risco de eleger como tesouros as mesquinharias do cotidiano. Vale, então, lembrar o fundamento: “Onde estiver o teu tesouro, aí estará teu coração.” É necessário, portanto, a constante avaliação daquilo que imaginamos ser nosso tesouro.

Por último, cumpre lembrar o ensinamento de Otura, o décimo quinto Odu de Ifá: “Fale comigo para que eu possa falar com você. Pelas nossas vozes, reconhecemos um ao outro, mesmo que seja na escuridão.”

No mais, Oxalufã nos abençoe e nos guarde hoje e sempre. Que o Alá da Paz nos rebuce com vida, vigor e vitalidade. Axé!

Ruy Póvoas

Ajalá Deré

Babalorixá

Abril 2025

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A FIXAÇÃO DO LUGAR EM FLORISVALDO MATTOS- Por Heloísa Prazeres        

A FIXAÇÃO DO LUGAR EM FLORISVALDO MATTOS

                                                                                   Heloísa Prazeres        

O poeta explora o seu tema mais uma vez, referindo identidade e tradição na poesia da região da Sul da Bahia. Reflete poeticamente sobre a construção do mundo grapiúna, em sua relação com a cultura rural, que é a residência originária do escritor, natural de Água Preta do Mocambo, hoje Uruçuca.
O poema “Só para quem tem mais de 90 anos”, inédito*, resulta da fusão de uma memória lírica associada a pinceladas épicas, que narram e descrevem, com minúcia, e relatam vivências rurais.
O topônimo ‘Barro Vermelho’ é reino preservado pela potência poética. O poeta recupera, com sensibilidade e destreza de recursos, terra, ar, ares, águas fluviais, mundo rural, lugar de encantamento, nomeado, retratado e monumentalizado pela escrita poética. O autor dispõe para o leitor um mundo pleno de ações, pessoas, rituais, objetos e paisagens entronizadas e pacientemente refeitas, a modo de preservá-las. Cito:

Lanço-me para a rua, de cordames
E de moirões ausentes de alimárias
(Cadê Cuscuz, Gasosa e Fortaleza?).
Lá vem chegando a tarde e, dentro em pouco,
Com a brisa de memórias renovadas,
Um amigo, de loiras confidências
Doutros saudosos dias, o crepúsculo.
Chega a hora de voltar para Ubaitaba.

O reinado, o filtro textual é a subjetividade em perspectiva artístico literária; o eu lírico dispõe lembranças (pela determinação descritiva e detalhe construído), nas quais, tudo nos familiariza com o tempo, recuperado pela consagração da memória daquelas vivências idas e vividas.

Mas, essa matéria assim tratada não afasta o autor de sua aparelhagem teórico-crítica de leitor inscrito na tradição moderna. Estamos diante de um intelectual consciente dos seus recursos, sustentado por um edifício de leituras e contínuas apreciações e releituras de modelos da tradição clássica,bucólica, e moderna.
A exemplo de Borges, um intelectual cosmopolita, que se interessou pela poesia da fronteira, pelos gêneros literários da região dos pampas, especialmente argentinos e uruguaios: a vida do gaúcho, mediante o uso de vocabulário e ritmos próprios.

Não surpreende, assim, na poesia de Florisvaldo Mattos o ouvido do escritor. Afeito a modulações sofisticadas e a um imaginário liberto, afim de metáforas singulares, impregnadas de seiva local, em recordações amparadas pelo frescor de vivências e percepções inéditas, conforme fragmento, que exibe a inesperada personificação de acidentes botânicos e geográficos:

 

Hora de beber Água de Meninos,
Grindélia e Biotônico Fontoura,
Com o almanaque de Jeca Tatu,
Que sóis, frondes e riachos receitavam.

 

Arranjado em metro decassílabo e ritmado em rimas toantes, o poema nem necessita assinatura para quem for minimamente familiarizado com esta poética de um mestre da lírica nacional.

 

* SÓ PARA QUEM TEM MAIS DE 90 ANOS

Nunca pensé, creédmelo, un instante
Volver a ver esta querida tierra,
Pero ahora que he vuelto no compreendo
Cómo pude alejarme de su puerta.
Nada ha cambiado, ni sus casas blancas
Ni sus viejos portones de madera.
*
Nicanor Parra (Chile, 1914-2018)

Saudades, lá, do meu Barro Vermelho.
Memória é o que me prende a esta manhã.

Deixo Ubaitaba rumo à estrada rude,
De pedras e cascalho imorredouros,
E volto ao chão, que antigo sonho aduba.
Desço a ladeira que antes me levava,
Pela jindiba, à mata e ao jaqueiral,
E avisto a casa branca (a que voava),
A do armazém de secos e molhados,
Com suas quatro portas e janela,
Onde meu pai, sentado, repassava
Um borderô de muitos devedores.

À minha frente, a mesma serrania,
Os campos das alegres cavalgadas,
De caçar saracuras pelos brejos;
(Filho de um ano, junto a mim, sorri).
Perto, o quintal de porcos e galinhas,
Da gestação de pintos e leitões,
Como também a sombra do arvoredo,
De onde cantos, em sinfonia, vinham,
De guriatãs, sabiás e bem-te-vis.
O terreiro dos gritos do tropeiro,
Arreando burros, neste tempo novo,
De levar e trazer mercadorias.

Sobre cercas de arame, enfileirados,
Postam-se curiós, pardais e anus,
Junto ao curral do gado de matança.
Preso ao guiso de alegres aventuras,
Por ali, tomo o rumo das pastagens,
De capim verde e mulas de bom passo.
Lá está o cajueiro farto de cajus,
Com os sanhaços, de pronto, a devorá-los.
Deixo de lado as canas do alambique
E sigo pelo riacho a pescar piabas.

Lembro os meus cinco irmãos, infantes todos,
(Duas irmãs), sem roupas remendadas.
As noites de São João, de muitos fogos,
E a fogueira estalando no terreiro.
Tardes sem chuva, de poentes fulvos,
Que me embeveciam, no jardim com flores;
Casas de palha e de amassado barro,
De onde a alegria nunca se ausentava;
Garotos correm, com seus alçapões,
Dentro da mata, à caça de saruês.

De noite, sobre os mudos cacaueiros,
A lua, abandonando o firmamento,
Vem segredar-se com a mamãe Gertrudes
E vai dormir no colo de Mãe-Dé.
Hora de beber Água de Meninos,
Grindélia e Biotônico Fontoura,
Com o almanaque de Jeca Tatu,
Que sóis, frondes e riachos receitavam.

Encosto numa porta e escuto o som
Do rádio, com seus sambas e emboladas.
Penetro no armazém, outrora um luxo,
Sem prateleiras nas paredes lisas.
Piso o chão de cimento envelhecido
E de couros de boi despedaçados.

Lanço-me para a rua, de cordames
E de moirões ausentes de alimárias
(Cadê Cuscuz, Gasosa e Fortaleza?).
Lá vem chegando a tarde e, dentro em pouco,
Com a brisa de memórias renovadas,
Um amigo, de loiras confidências
Doutros saudosos dias, o crepúsculo.
Chega a hora de voltar para Ubaitaba.

Paro o carro nas abas da jindiba
E miro o vasto prado verdejante.
Já disse um dia, de passar sereno:
Vindo do amanhecer, sonhar é tudo,
Sem abrir portas para o esquecimento.
Tempos de amor e de sentir vividos,
Num dilúvio de ardências e clamores,
Que me abarrota o coração de sonhos!

Obrigado, amado Barro Vermelho,
Por esse dia que me fez feliz!

(Florisvaldo Mattos. Salvador-BA, quarta-feira, 29/04/2025)

Heloísa Prazeres é professora adjunta, aposentada do IL, UFBA. Ocupa a cadeira nº 26 da Academia das Letras da Bahia e é membro titular, Cadeira n° 14, da Alita, Academia de Letras de Itabuna. Life member of the International Alumni Association. Membro da União Brasileira de Escritores, ensaísta e poeta. Obra principal: PRAZERES, Heloísa. Temas e teimas em narrativas baianas do Centro-Sul, 2000; Arcos de sentido: literatura, tradução e memória cultural, 2018. Poesia: Pequena História, 2014; Casa onde habitamos, 2016; Tenda acesa, 2020; A vigília dos Peixes, 2021; O tempo não detém a vida, 2023; Nossa casa alheia, 2024.

 

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CARLOS VALDER- Por Cyro de Mattos

Depois de sofrimento adiantado, recolhido em unidade hospitalar de terapia intensiva, nosso confrade Carlos Valder finalmente descansou e nos deixa para o repouso eterno. Homem atencioso, elegante no gesto e educado no trato. Vocação legítima de jurista e advogado de cabedal impecável.  Foi mais um notável que indiquei e convidei para fazer parte do corpo associativo da Academia de Letras de Itabuna.  Durante seu exercício de membro da entidade compareceu às sessões mensais, até na hora mais difícil que a instituição enfrentou e esteve prestes de fechar as portas. Foi no tempo em que Sônia Maron era a presidenta e não entregou os pontos, seguiu em frente na companhia de poucos abnegados.

Certa vez me convidou para que comparecesse a uma sessão solene de uma formatura de bacharéis em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz, da qual era o padrinho. Isso foi há muito tempo. Adiantou que eu não faltasse, queria me fazer uma surpresa. Tinha conhecimento que Carlos Valder era poeta bissexto, mas não sabia que era leitor de minha poética.  Sua fala de conteúdo rico e exortação aos afilhados para que fossem advogados eficientes e éticos, entre muitos que surgiam a cada ano, foi muito aplaudida pela numerosa plateia.  Foi encerrada com a récita do meu poema Do Viajante e do Tempo, do livro Lavrador Inventivo (1984). Seu gesto muito me comoveu. Agradeci entre alegre e sem saber se de fato merecia aquela lembrança, em momento tão dele e de seus filhados.

Com a sua partida, Carlos Valder deixa um legado jurídico magnífico. E assim procede quem tem algo para deixar de útil aos que ficam entre confortados e saudosos com o trânsito de um homem de vasto saber nesse velho e pobre mundo. Repercute dessa forma o legado com efeitos positivos de acordo o tamanho e riqueza de seu construtor. Não é preciso ser jurista para saber o quanto o legado de Carlos Valder é extenso e precioso. Há tempos alcançou os patamares nacionais.

Foi um autor incansável de livros jurídicos, possuía seguro conhecimento de Direito Tributário, Direito Financeiro, Direito Administrativo e Direito Constitucional. Tornou-se por isso uma das pilastras no ensino da nossa querida Universidade Estadual de Santa Cruz. Sua doutrinação sobre os conceitos do Direito e sua prática jurisdicional ecoou até no Supremo Tribunal Federal.

Ele me dava conhecimento de suas proezas, os acórdãos dos tribunais brasileiros com apoio na sua doutrinação do Direito. Não se apartava um só momento da luta pelo direito. Nascido e radicado nessas terras grapiúnas era um jurista conhecido lá fora, pois avançara demais no tempo em que os humanos sempre precisarão como seres gregários para sobreviver de normas que regrem e executem o estado de Direito. Para que a liberdade não desapareça e o sentimento do amor seja sempre forte.

Vai fazer grande falta. Com a lágrima presa no olho, dou meus sentimentos de pesar à esposa Dinalva e aos familiares, nessa hora de dor e saudade diante do inexorável. Deus derrame sua luz sobre esse confrade dileto, ético e erudito.

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Nota de Pesar- Carlos Valder do Nascimento

NOTA DE PESAR

A Academia de Letras de Itabuna – ALITA manifesta seu mais profundo pesar pelo falecimento do estimado confrade Carlos Valder do Nascimento, jurista de notável expressão intelectual e membro desta Academia. Carlos Valder ocupava a Cadeira nº 23, cujo patrono é Sabóia Ribeiro.

Neste momento de despedida, expressamos também nossa profunda admiração e respeito à dedicação amorosa de Dinalva Nascimento que esteve ao seu lado durante seu processo de adoecimento.

À toda sua família, nossos mais sinceros sentimentos e votos de consolo. Que nosso querido confrade Carlos Valder do Nascimento descanse em paz, envolto na luz da eternidade e na gratidão de todos os que com ele conviveram e aprenderam.

Raquel Rocha
Presidente
4 de maio de 2025

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PORTARIA Nº 01/2025 – Institui a Comissão de Redação Biográfica da ALITA

PORTARIA Nº 01/2025
Institui a Comissão de Redação Biográfica da ALITA

A Presidente da Academia de Letras de Itabuna – ALITA, no uso das atribuições que lhe confere o Estatuto da instituição,

CONSIDERANDO a importância da publicação do Compêndio Biográfico dos Patronos da ALITA, conforme disposto no Edital 01/2024;

CONSIDERANDO a necessidade de garantir a inclusão das biografias de todos os patronos, mesmo nos casos em que não houver submissão por parte dos ocupantes das respectivas cadeiras;

RESOLVE:

Art. 1º Fica instituída a Comissão de Redação Biográfica da ALITA, com a finalidade de elaborar as biografias dos patronos cujos textos não forem entregues até o prazo estabelecido no Edital 01/2024.

Art. 2º A Comissão será composta, inicialmente, pelos seguintes membros:

Clóvis Silveira Góis Júnior

Gustavo Cunha

Margarida Fahel

Raimunda Assis

Gustavo Velôso

Rilvan Santana

Art. 3º A Comissão terá autonomia para realizar pesquisas, redigir textos biográficos e incluir os dados necessários à composição do Compêndio, zelando pelo rigor histórico, literário e ético da publicação.

Art. 4º Esta portaria entra em vigor na data de sua publicação.

Itabuna, 24 de abril de 2025.

Raquel Rocha
Presidente
Academia de Letras de Itabuna – ALITA

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NOTA DE PESAR- Papa Francisco

A Academia de Letras de Itabuna-ALITA, manifesta seu mais profundo pesar pelo falecimento de Sua Santidade, o Papa Francisco, ocorrido em 21 de abril de 2025, às 7h35 (horário de Roma), na Casa Santa Marta, no Vaticano.

Nascido Jorge Mario Bergoglio em Buenos Aires, Argentina, em 17 de dezembro de 1936, o Papa Francisco foi o 266º pontífice da Igreja Católica e o primeiro papa jesuíta, o primeiro das Américas e o primeiro do Hemisfério Sul a assumir o trono de São Pedro.

Durante seu pontificado, destacou-se por uma liderança serena e pastoral, enfatizando a misericórdia de Deus, a justiça social e a necessidade de uma Igreja comprometida com os mais vulneráveis. Optou por uma vida simples, recusando os luxos do Vaticano e residindo na Casa Santa Marta, onde também veio a falecer.

Neste momento de luto, a ALITA rende homenagens a este grande líder espiritual e ora para que sua alma descanse em paz. Que seu testemunho de fé, humildade e amor ao próximo continue a iluminar o caminho da humanidade.

Itabuna, 21 de abril de 2025.

Raquel Rocha
Presidente da Academia de Letras de Itabuna – ALITA

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Abertura de 2025 e Lançamento da Guriatã nº 6

ALITA inaugura o Ano Acadêmico de 2025 com celebração à literatura e ao lançamento da 6ª edição da Revista Guriatã

Na noite do dia 20 de março de 2025, a Academia de Letras de Itabuna (ALITA) realizou sua cerimônia de abertura do Ano Acadêmico, em evento solene sediado no auditório da OAB de Itabuna. O encontro marcou também o lançamento da 6ª edição da Revista Guriatã, publicação que se consolida como importante espaço de expressão literária grapiúna.

A solenidade teve início com a composição da mesa de honra, formada pelas seguintes autoridades: Raquel Rocha, presidente da Academia de Letras de Itabuna; Thiago Cruz, presidente da OAB – subseção de Itabuna; Clóvis Silveira Góis Júnior, diretor da Revista Guriatã; Lurdes Bertol Rocha, vice-presidente da ALITA; Eliabe Izabel de Moraes, primeira secretária da ALITA; Paulo Lima, representante da Academia Grapiúna de Letras.; Luh Oliveira, vice-presidente da Academia de Letras de Ilhéus. A condução do cerimonial ficou a cargo de Sérgio Sepúlveda, membro da ALITA.

Após a execução dos hinos Nacional e da ALITA, a presidente Raquel Rocha declarou oficialmente aberta a cerimônia e saudou os presentes. “Que esta noite seja de celebração, inspiração e fortalecimento dos laços que unem todos nós em torno das palavras.”

Em seu discurso, ela reiterou o compromisso da instituição com a difusão do saber, a valorização da cultura regional e a preservação da língua, desejando que 2025 seja um ano fecundo em realizações e marcado por encontros fraternos e produção criativa. “Hoje, inauguramos mais um ciclo na jornada da nossa Academia, reafirmando nosso compromisso perene com a difusão do saber, a valorização da cultura e a perpetuação do vernáculo.”

Raquel celebrou ainda o lançamento da nova edição da Revista Guriatã, agradecendo nominalmente às revisoras Ceres Marylise Rebouças e Maria Luiza Nora de Andrade pelo trabalho minucioso de edição. Destacou também o papel fundamental do diretor Clóvis Góis Júnior, a quem atribuiu esmero e competência como marcas do processo editorial “Seu labor, aliado à sua inquestionável competência, constitui-se como pedra angular deste projeto que tanto nos enleva e nos honra.”

Em seu discurso, Clóvis afirmou que a Guriatã é uma ferramenta de sensibilidade estética e literária: “A melhor maneira de conhecer a dimensão do belo é entrar em contato com ele.” Homenageou o Conselho Editorial e lançou olhares poéticos sobre as colaboradoras, referindo-se a Ceres como “nossa estrela da ALITA”, e a Baísa como exemplo de dedicação e resiliência. Ressaltou ainda o apoio decisivo de Raquel Rocha como força organizadora do projeto. “A missão torna-se factível dependendo de quem gerencia as etapas. A caminhada é mais prazerosa quando os companheiros são benevolentes e íntegros”, concluiu.

O evento seguiu com leituras de textos presentes na edição nº 6, apresentadas por seus próprios autores: Lurdes Bertol Rocha, com um trecho de Origem da cidade de Itabuna; Ruy Póvoas, com o poema Desencontro; Gustavo Cunha, com o poema Ave; Rafael Gama, com o poema Trajes da Vida; Sione Porto, com um texto de seu patrono, Telmo Padilha.

Durante a cerimônia, foi registrada e agradecida a presença do professor Antonio Joaquim Bastos, ex-reitor da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) entre 2004 e 2012, e do Sr. Jeffson Braga, assessor do vereador, delegado e professor Clodovil Moreira Soares.

Além dos componentes da mesa e dos membros que fizeram a leitura, estiveram presentes os seguintes alitanos: Marcos Bandeira, João Otávio Macedo, Margarida Cordeiro Fahel, Silvio Porto, Maria de Lourdes Simões, Raimunda Assis, Rafael Gama, Gustavo Cunha e Janete Macedo. Todos os membros e convidados receberam um exemplar da Revista Guriatã.
Ao final, o mestre de cerimônias Sérgio Sepúlveda convidou os presentes a participarem de um coquetel de confraternização, encerrando a noite em clima de celebração e renovação dos laços de amizade.

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ALITA requer apuração da Demolição do Prédio Histórico Comendador Firmino Alves em Itabuna

Ação pede que Procurador Geral do Ministério Público Baiano apure e responsabilize penalmente os envolvidos pela demolição do prédio histórico Comendador Firmino Alves, em Itabuna

A Academia de Letras de Itabuna (ALITA) protocolou uma ação intitulada “Notícia do Fato”, solicitando que o Procurador Geral da Bahia determine a apuração e responsabilização sobre a demolição do prédio histórico Comendador Firmino Alves, localizado na praça Olinto Leone, no centro de Itabuna. Este edifício, que foi residência do fundador da cidade, José Firmino Alves, foi destruído no dia 19 de outubro de 2024.A ação, conduzida pelo escritório de advocacia Sérgio Habib, membro da ALITA, conta com a assinatura dos advogados Marcos Bandeira, Thales Habib, Beatriz Lerner, do próprio Sérgio Habib e da presidente da ALITA, Raquel Rocha. O pedido é pela responsabilização penal da empresa Torres Santos Empreendimentos Imobiliários e Serviços Ltda.

O texto argumenta, de início, a legitimidade da Alita, uma entidade sem fins lucrativos, para apresentar a ação, devido ao seu vínculo histórico e cultural com a cidade, tendo nomeado uma Comissão Especial para apuração dos fatos. A Comissão intitulada ALITA EM AÇÃO tem como integrantes: Sérgio Alexandre Meneses Habib, Cyro Pereira de Mattos, Janete Ruiz de Macedo, Marcos Antônio Bandeira, Clóvis Silveira Góis Júnior, Silmara Santos Oliveira e Lurdes Bertol Rocha.

A Academia desempenha um papel relevante na preservação do patrimônio histórico e cultural de Itabuna, tanto material quanto imaterial, embora qualquer cidadão pudesse formalizar uma Notícia do Fato.

A ação destaca a relevância histórica do sobrado Comendador Firmino Alves para Itabuna, um local essencial para os debates que resultaram na emancipação do município e na organização urbana e cultural da então vila de Tabocas. O prédio também abrigou profissionais importantes para o desenvolvimento da cidade, refletindo a visão de futuro de seu fundador.

O texto revela que a demolição aconteceu de maneira clandestina durante um feriado prolongado, violando um embargo emitido pela Prefeitura de Itabuna. Além disso, a empresa iniciou as obras sem a documentação necessária – como a escritura do imóvel e a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) –, desrespeitando as normas legais e o embargo determinado pela Secretaria de Infraestrutura e Urbanismo (SIURB). A irregularidade foi ainda mais agravada pelo descarte indevido dos resíduos da demolição em área pública.

Diversas entidades culturais e organizações de Itabuna manifestaram seu repúdio à demolição do prédio. Entre elas, destacam-se o Centro de Documentação e Memória Regional da Universidade Estadual de Santa Cruz (CEDOC/UESC), o Centro Cultural Teosópolis (CCT) , Associação Nacional de Historiadores ANPUH/ Bahia, OAB/Bahia e a Academia Grapiúnas de Artes e Letras (AGRAL). Essas entidades consideram o ato como um ataque ao patrimônio histórico da cidade, já fragilizado pela falta de políticas eficazes de preservação.

O documento pontua que a demolição desse importante marco arquitetônico não é apenas um desrespeito à memória coletiva, mas também uma ameaça à identidade cultural de Itabuna, que tem perdido progressivamente seus principais elementos históricos e materiais. “O ato configura um ataque ao patrimônio histórico e cultural de Itabuna, que vem sofrendo com a ausência de políticas públicas efetivas para sua preservação”, afirma a petição.

Por fim, a ação solicita que o Procurador-geral de Justiça do Estado da Bahia garanta justiça abrindo uma investigação e instaure um inquérito policial, conduzindo uma apuração rigorosa, para responsabilizar os envolvidos. A acusação aponta que os responsáveis pelos fatos podem ter infringido os artigos 62 a 65 da Lei nº 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais) e o artigo 330 do Código Penal.

As entidades afirmam que o progresso de uma cidade não deve se basear na destruição de seu passado e de seus marcos identitários.

 

ALITA requer apuração da Demolição do Prédio Histórico Comendador Firmino Alves em Itabuna Read More »