ALITANO- Wilson Caitano

Ser alitano
É ver além das palavras
Que dão vida à poesia
É perceber o quanto
É significativo e belo
Vibrar nas noites de autógrafos

Ser alitano
É honrar os versos
Que compõem seu hino
E se emocionar
com a sua melodia

Ser alitano
É compartilhar sentimentos
E perceber que todos
confraternizam com
os mesmos ideais de amor à literatura.

É ser consciente que a função da literatura
É mais que emocionar e divertir
Ela tem seu valor social de transmitir a cultura de seu povo.

Wilson Caitano
21/10/2023

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Homologação da Chapa Abraço das Letras- Diretoria 2024/2026

ELEIÇÃO DA DIRETORIA DA ACADEMIA DE LETRAS DE ITABUNA (ALITA)

BIÊNIO 2024-2026

 

FICHA DE INSCRIÇÃO DA CHAPA

NOME DA CHAPA: Abraço das Letras
PRESIDENTE: Raquel Rocha
VICE-PRESIDENTE: Lurdes Bertol Rocha
1º SECRETÁRIO: Eliabe Izabel Moraes
2º SECRETÁRIO: Maria Luiza Nora
1º TESOUREIRO: Gustavo Veloso
2º TESOUREIRO: Marcos Bandeira
DIRETOR DA REVISTA: Margarida Cordeiro Fahel
DIRETOR DE AÇÕES CULTURAIS: Sergio Sepúlveda
DIRETOR DA BIBLIOTECA: Clovis Junior
DIRETOR DO ARQUIVO: Heloisa Prazeres
DIRETOR DE COM. SOCIAL/MARKETING: Rafael Gama
DIRETOR DE PROJETOS E PESQUISAS: Gustavo Cunha Carvalho

 

 

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O AMIGO JORGE AMADO- Cyro de Mattos

Enviei o primeiro livro que escrevi para Jorge Amado, seguindo conselho do amigo João Ubaldo Ribeiro, companheiro de geração. Não esperava que viesse alguma opinião dele sobre o meu pequeno volume de contos, riscado anos depois de minha bibliografia por ter sido escrito por autor imaturo. O texto envelheceu cedo. Fiquei surpreso por ver um livro de autor desconhecido ser apresentado à Academia Brasileira de Letras com palavras favoráveis do consagrado romancista Jorge Amado.

Outros livros meus foram merecedores de artigos com elogio por parte de Jorge Amado. Eram opiniões impressionistas, mas abonadas com a sensibilidade de quem mais conhece os caminhos do fazer literário na recriação da vida. E mais: ele publicava os artigos que escrevia sobre meus livros em jornais importantes como A Tarde, Jornal de Letras (Rio), Suplemento do Jornal do Brasil, Jornal do Comércio (Rio) e Suplemento Literário de Minas Gerais.

Esses gestos do criador de Tocaia Grande (Record,1984) aconteceram com outros escritores, emergentes, com obra em andamento, consagrados, baianos ou não. Ele sempre enriquecia o companheiro de letras com suas opiniões, sem esperar nada em troca. Prefácios, orelhas, artigos, depoimentos, apresentações à Academia Brasileira de Letras, um legado literário da melhor qualidade está aí espalhado com o abono do escritor tão lido e traduzido em língua portuguesa sobre livros de nossos escritores. Textos que formam um valioso legado, se coligidos, servindo como importante contribuição à nossa literatura.

Com João Ubaldo Ribeiro era diferente. Certa vez, o autor maiúsculo do romance Viva o povo brasileiro (Nova Fronteira, 1984), disse-me que não escrevia prefácio ou artigo para quem recorresse aos seus préstimos porque podia não gostar do livro e aí o suplicante, que certamente queria receber elogio, poderia com a sua sinceridade se tornar um inimigo dele. Além disso, não queria se desconcentrar de seu ofício, sempre estava escrevendo um livro ou texto, não ia deixar de lado o que estava escrevendo e centrar-se sobre quem devia abrir seus próprios caminhos com suas ferramentas e crenças, sem se apegar na muleta alheia, mas acreditando nas suas qualidades.

Neste sentido, sempre concordei e respeitei as atitudes de João Ubaldo. Ele se tornou um dos meus amigos prediletos, criatura do bem, espírito alegre, colega inesquecível da turma de 1962, na Faculdade de Direito da UFBA. Nunca quis me aproveitar de meu bom relacionamento com o consagrado ficcionista e receber dele a opinião favorável de meus escritos. Fiz minha carreira literária com os meus textos publicados em livros, meus prêmios relevantes, que tornaram minha obra com mais visibilidade. Enviei em vários casos os originais de meus livros para as editoras, sem temer que fossem aprovados ou não para publicação, depois da leitura crítica do conselho editorial.

Ao escrever sobre Palhaço Bom de Briga (L&PM Editores, 1993), um dos meus livros para as crianças, em artigo publicado em forma de missiva, dirigida ao romancista Josué Montelo, então presidente da Academia Brasileira de Letras, Jorge Amado chegou ao ponto de lembrar meu nome para fazer parte daquela importante instituição das letras brasileiras. Houve exagero. Só mesmo Jorge, com o seu coração doce como mel de cacau, podia distinguir assim meu nome, em gesto que comovia, servia como incentivo para que eu nunca desistisse em minha jornada literária. Embora eu já fosse autor nessa época de mais de vinte livros, entre volumes de contos, poesia e literatura infantojuvenil. Havia conquistado alguns prêmios literários importantes e, entre eles, o Prêmio Nacional Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras, por unanimidade, para o meu livro Os Brabos (Civilização Brasileira, 1979), o da Associação Paulista dos Críticos de Artes para O Menino Camelô (Atual Editora, 1992, 12ª. Edição), Menção Honrosa do Jabuti para Os Recuados (Editora Tchê!1987) e várias vezes fui agraciado com o primeiro lugar nos certames promovidos pela União Brasileira de Escritores (RJ).

Jorge Amado exercia a amizade como uma coisa nata, tão dele. E me mostrava sempre que com as mãos nas mãos, o gesto desprovido de interesses pessoais, desligado da religião do egoísmo, tudo fica mais fácil. Com ele não entravam no exercício da vida a inveja e a intriga. Dava-me conta por isso que existia ainda o homem simples como o artista, embora fosse comum encontrar na vida o artista vaidoso e invejoso como o homem.

Dizia-se ateu, ele que era cristão porque fraterno, solidário, sincero, humaníssimo. Que coisa muito triste, a vida física de Jorge ter acabado. E tanta gente ruim existe neste mundo velho agindo sempre para fazer o mal porque habita nos lados escuros da vida. Gente com a alma venenosa, às vezes quando tem o poder da mídia nas mãos gosta de fazer o outro como seu refém por puro prazer ou para infundir medo ou para, excluindo as qualidades do ofendido, se afirmar com seus ressentimentos

Ainda bem que Jorge Amado deixou para milhares não o irracional como norma de comportamento, a perseguição canina das negações que infunde o medo, mas a esperança nas narrativas que mostram as verdades essenciais dos excluídos ligados à comédia da vida. Esse que nasceu numa pequena fazenda em Ferradas, bairro mãe de Itabuna, passou a infância e juventude em Ilhéus para ser um bem-amado cidadão do mundo com seus belos romances, em inacreditável peripécia porque assim devia ser.

Que privilégio ter sido amigo de Jorge Amado.

*Cyro de Mattos é autor de 66 livros, de diversos gêneros. Possui muitos prêmios relevantes. Conquistou o Prêmio Literário Casa das Américas 2023 com o livro Infância com Bicho e Pesadelo e Outras Histórias. Editado e publicado em Portugal, França, Itália, Espanha, Alemanha, Cuba, Dinamarca, Estados Unidos e Rússia. Membro da Academia de Letras da Bahia. Primeiro Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz (Bahia). Distinguido com a Comenda Dois de Julho da Assembleia Legislativa da Bahia.

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Palavras com Alma: Celebração da Posse dos novos membros da ALITA

Por Raquel Rocha
Na noite de 26 de outubro de 2023 aconteceu a solenidade de posse dos novos membros da Academia de Letras de Itabuna. Foi um evento verdadeiramente especial e inspirador.
Foram empossados: Eliabe Izabel de Moraes, Sérgio Sepúlveda, Gustavo Cunha Carvalho e Rafael Gama. A noite celebrou não apenas a realização individual de cada novo membro, mas também o compromisso coletivo com a preservação e promoção da língua e da cultura de toda região sul baiana.
Cada um dos empossados trouxe consigo um legado de realizações, uma paixão pela literatura e pela escrita. O evento foi aberto com os discursos do presidente Wilson Caitano e da alitana Raquel Rocha, apresentando os novos membros.  Os discursos dos empossados foram marcados por emoção, gratidão à família, por homenagens aos patronos e leituras de trechos de obras literárias. A solenidade foi uma celebração da história de vida de cada empossado, da riqueza da língua e da importância da literatura na nossa cultura e para compreensão do mundo.
Os acadêmicos da ALITA se uniram para aplaudir os novos membros, reconhecendo o seu mérito e os desafios que enfrentaram. Eventos como esse são tributos  à língua, à cultura e à literatura. Mais que isso: nos lembra da importância da palavra escrita e do poder das letras para nos conectar e nos inspirar.
Eliabe Izabel de Moraes- Cadeira 27- Patrono Fernando Sales
Sérgio Sepúlveda- Cadeira 10- Patrona Amélia Rodrigues
Gustavo Cunha- Cadeira 19- Patrono Aracyldo Marques
Rafael Gama- Cadeira 03- Patrono Nestor Passos
Data: 26 de outubro de 2023.
GALERIA DE FOTOS DA POSSE DOS NOVOS MEMBROS DA ACADEMIA DE LETRAS DE ITABUNA.

Fotos: Savio Lawinscky

COMENTÁRIOS DOS ACADEMICOS
Sejam muito bem-vindos os novos acadêmicos, Gustavo Cunha, Sérgio Sepúlveda, Eliane Moraes e Rafael Gama. Podem ter certeza que encontrão aqui um ambiente afável e harmonioso, ideal para a produção intelectual. A nossa academia tem essa vocação da eternidade pela qualificação dos seus membros e pela sua produção profícua e voltada para a sociedade. Infelizmente, em face de compromissos anteriormente assumidos, não pude comparecer ao evento, que foi coroado de brilhantismo!!! Saudações acadêmicas!
Marcos Bandeira
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Foi uma noite mágica. Parecia que de repente iríamos acordar. O discurso de Raquel, entrelaçando , no tempo, a biografia de cada um dos quatro novos alitanos, foi um lindo bordado, com acabamento primoroso. E os que assumiram sua nova condição trouxeram falas “do jeito de cada um”, e este estilo muito próprio tornou interessante e adequado o que foi dito.
O melhor de uma festa é o astral das pessoas que ali estão. E parecia uma festa de família. Cada um estava com vontade de estar ali, e se deu inteiramente.
Coquetel e música excelentes.
Parabéns à ALITA e aos que organizaram a festa.
Maria Luíza Nora de Andrade (Baisa)
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A festa foi literalmente gratificante, parabéns Raquel pela fala trazendo dados do passado de cada empossado que enriqueceram a apresentação dos novos membros , um abraço fraterno ao confrade Rui Póvoas que emite muita paz , um ótimo final de semana para todos .
Sione Porto
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Foi uma grande alegria e honra estar presente a festa de ontem. Mais um grande momento de engrandecimento para a ALITA.
Os discursos, tanto o de Raquel quanto os dos ingressantes, foram belos, recheados de humanidade, poesia e valorização dos sentimentos que fazem a vida mais bonita, mais digna e mais mais valorosa.
Parabéns ao nosso Presidente, sempre correto, distinto, e que nos saudou com um poema de sua autoria.
Enfim, uma noite de alegria e beleza.
Parabéns para todos nós, alitanos!
Margarida Fahel
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De uma coisa, ficamos certos: a força se mede pela qualidade daqueles que se juntam e não pela quantidade dos que se amontoam.
Nossa noite ficará incorporada ao cabedal das coisas bonitas que já fizemos.
E hoje, os novos e a nova já não são novos; são nossos e nossa.
Sejam bem-vindos e bem-vinda com a graça de Deus.
Ruy Póvoas
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Aos Novos Acadêmicos
Impossibilitado de comparecer por motivos pessoais a esse importante encontro em que é celebrada a chegada de novos membros às hostes da Academia de Letras de Itabuna, faço-me presente de espírito para conversar um pouco com vocês. Externar aos novos colegas meu desejo de uma convivência saudável em que despontem as afirmações do talento de cada um para a progressão literária e cultural da entidade. Lembro que o ser humano é uma unidade substancial de alma e corpo. Com o poeta Pessoa, digo que o homem sonha, Deus consente e a obra nasce. Assim nasceu a Academia de Letras de Itabuna, tomada emprestada ao sonho, com o enlace de Deus, na missão de fazer história, produzir o bem nas letras, ciências e cultura da nossa comunidade. Para não ser longo, finalizo lembrando ainda que o principal não é ter o poder que a entidade outorga, a glória vã, que ilude e engana, mas a honra de ser merecedor de estar em missão nobre, valorosa e ética. Boa sorte, sejam bem vindos, fiquem com Deus.
Cyro de Mattos
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Boa vindas ao novos acadêmicos, com e esperança de que a ALITA cada dia mais se firme e confirme com uma academia produtiva de bons guardiões, como devemos ser.
Um abraço afetuoso a cada um de vocês: Eliabe Moraes, Gustavo Cunha, Sérgio Sepúlveda e Rafael Gama.
Silmara Oliveira
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Aos novos acadêmicos Eliabe, Gustavo, Sérgio e Rafael! Sejam bem-vindos a ALITA!
“É junto dos bão que a gente fica mió.” Trem bom é boa companhia. Gente que agrega, que traz novidades.”  Guimarães Rosa
Prezados novos acadêmicos da Academia de Letras de Itabuna.
É com grande prazer e entusiasmo que dou as boas-vindas a cada um de vocês à renomada Academia de Letras de Itabuna. Neste momento, celebramos a chegada de novos talentos e mentes brilhantes, que irão enriquecer nossa instituição com suas contribuições literárias e culturais.
Nesta academia, somos um grupo dedicado à preservação da literatura e do patrimônio cultural da Bahia em especial do Sul da Bahia.
Ao ingressar nessa instituição, vocês se tornam parte de uma comunidade apaixonada pelas letras e pelos saberes literários.
Cada um de vocês traz consigo uma jornada única, experiências e perspectivas distintas. Suas vozes, ideias e trabalhos serão valorizados e respeitados neste espaço de troca intelectual.
Aproveitem ao máximo essa oportunidade de fazer parte de uma comunidade literária tão respeitada e admirada. Estejam abertos a novas conexões, amizades e aprendizados, com seus colegas acadêmicos.
Estou confiante de que as suas contribuições serão fundamentais para enriquecer o cenário acadêmico e literário não apenas no Sul da Bahia, mas na Bahia, como também em todo o país. Que a Academia de Letras de Itabuna seja um ambiente propício para o florescimento das suas paixões e talentos literários, e que juntos continuemos a preservar e divulgar a riqueza cultural da nossa amada terra grapiuna e baiana.
Mais uma vez, recebam as nossas calorosas boas-vindas. Que esta seja uma jornada gratificante, enriquecedora e repleta de realizações.
Forte e fraterno abraço em todos.
Silvio Porto de Oliveira.

 

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A POESIA EXISTENCIALISTA DE WALKER LUNA- Cyro de Mattos

                    Nascido em Itabuna, no dia 6 de agosto de 1925, o poeta Walker Luna publicou os seguintes livros de poesia:  Estes Seres de Mim (1969), Companheiro (1979), Estações dos Pés (1983) e Na Condição do Existir (1999). Deixou inédito   Onde Os Fogos Se Cruzam. Inseri esse poeta em minha antologia Itabuna, Chão de Minhas Raízes (1966) e o indiquei para a de Assis Brasil, A poesia baiana no século XX (1999), como havia feito com Valdelice Soares Pinheiro, Firmino Rocha e Carlos Roberto Santos Araújo. No meu livro Prosa e Poesia no Sul da Bahia (2020) dediquei o estudo “Ritmo Existencialista” sobre os impulsos da existência crítica desse poeta pouco estudado na Bahia. Poeta que fez do corpo a morada de sua solidão e que soube o quanto sua vida esteve em lugares e espaços com falares e gestos sofridos, reconhecendo que para entrar no interior dessa casa, percorrer os incômodos de seus cômodos, só existia uma porta, a da entrada.

          Dotado de uma linguagem fluente, Walker Luna move seu discurso num ritmo vertiginoso dentro dos limites do existir. Expõe essa paisagem estranha e solitária que comporta o ser humano na dor do viver. É poesia com qualidade vazada numa experiência humana vivida com intensidade, entre a amargura e a insônia, o sofrimento e a existência. É produzida em sua paisagem interior como um corajoso testemunho de resistência luminosa, acesa com as limitações físicas do autor, suportadas com dignidade e altivez. Mas seus versos, de plena lucidez nas estações que indiferentes trafegam, trazem acenos que nos descobrem no difícil gesto da existência com tons verdes, que são transformados em sumo vital, proliferam frutos.

         É sobre seu último livro, Na condição do existir (1999), publicado pela Secretaria da Cultura e Turismo, Selo As Letras da Bahia, em Salvador, que fiz algumas anotações de leitura. O seu discurso nesse livro é marcado novamente pelo enfoque de ressonâncias agudas na aventura precária comportada pelo ser humano ao assumir a vida. Na corrente do existir, o poeta estabelece o diálogo com o viver crítico do ser. Aqui, neste encontro de alma e soluço, realidade e sonho, sinto o pulsar de espantos e indignações como elementos essenciais de uma condição interior, mitificada por meio de imagens que ferem. Resvala por entre fendas, provoca dores, ressoa com o seu tom vertiginoso, suas angústias, que são as de todos nós, em todos os tempos. São momentos vertiginosos que não se escondem através dos rumores de nossos sentidos.

          O poeta sabe que, mesmo quando protesta na coerência falha dos mortais, /num aprendizado duro e sem termo/ na convergência de todo extravio, procede nas dobras do pensamento secreto e puro. E como lhe custa saber que na alquimia obscura da existência há o risco e o transe expondo situações perigosas, um ritmo secreto de contágio e fogo, uma canção onde as constantes influências dos clamores tocam-se nos extremos, faz e repete seu espanto feito de abismos.

         Emotivo sem ser lamurioso, porque consciente de que poesia é coisa séria, destituída de desabafos inconsequentes, imagens piegas, usa com engenho e arte o eu reflexivo, que não chega a ser conceitual no sentido estéril, hermético, fechado. Os versos de Walker Luna resultam de uma experiência humana de natureza crítica do homem solitário. Cercado de sombras, indagações, fugas, depressões, incertezas que queimam como fogo, sinalizam verdades na lucidez do sonho. Como na solidão passiva dos loucos descobrem-nos livres dos falsos ajustes/neste estágio maravilhoso/ entre a vida e a morte. Assim, o poeta inveja esta ausência total, desconhecimento da própria matéria,/ verdadeiros símbolos/ de pureza unânime.

       Em seu clima adensado de conflitos interiores permanentes, a poesia de Walker Luna está expressa nos limites do existir com a sua problemática subjetiva inserida na dor de viver, nesse estar do mundo das criaturas como cúmplices do sofrer ante o transitório e o inevitável. Vida é dor, disse o poeta Jorge de Lima, logo se vivemos, onde todos os fogos se cruzam, é porque sofremos. A dor de viver com toda a sua carga terrestre, as estações sempre em chamas, o ontem e o hoje como uma unidade que lateja nas cordas mais agudas da condição humana, essa é a matéria que nas visões oblíquas mantém propostas motivadas pelos golpes desferidos da vida e se transforma nos sinais poéticos da escrita operada com fluência para atingir aquelas zonas da ilusão, habitadas no sonho, que nos acompanha desde não sei quando e transmite verdades.

            Poesia de homogeneidade temática e formal, dá a impressão na sua fluência de um poema puxar o outro que se interliga pelo fio condutor do existir com dor. Na dicção crítica, um poema complementa o outro, uníssonos todos formam uma conjunção de gritos nos becos do homem, sem saída. Concepção na ideia e execução no discurso tenso unem-se sem esforço neste poeta sempre a deflagrar a dor de viver no absurdo do tempo conflitante entre o eu e as perplexidades,  capturado na constatação de  uma situação de alma, possuída pelo desencanto de lugares e espaços.

        Plasmada no ritmo agudo da existência, recuperando vivências, projetando uma canção cheia de delírios, esta poesia mostra como o poeta deve usar a palavra com suas imagens e metáforas precisas para alcançar aquele nível expressivo, íntimo da boa fatura estética. Com a força dos que amam, a poesia de Walker Luna dá um testemunho dos que sofrem com lucidez quando então buscam na tristeza, na angústia, a alma de todos nós, seres contraditórios, finitos, confinados na condição do existir.

           Walker Luna é o patrono da cadeira 9 da Academia de Letras de Itabuna, que tem atualmente como ocupante Rilvan Batista de Santana.

           Faleceu em 3 de julho de 2007, em Jundiaí, São Paulo.

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O HUMANITÁRIO BIONOR REBOUÇAS- Cyro de Mattos

 

Homem alto, forte, voz grossa e mansa. Gostava de usar boné. Era sempre visto na feira do Centro Comercial aos sábados. Cedo recolhia com a pequena cesta donativos para a feira dos pobres. De porta em porta, na semana, pedia ajuda para a construção de mais leitos no albergue.

Dormia pouco, o tempo disponível era dedicado ao próximo. Dor é vida, sofremos porque estamos na vida, li no poeta Jorge de Lima, o criador de A Túnica Inconsútil, A Invenção de Orfeu e Anunciação e Encontro-Celi, elevadas expressões da construção poética no Brasil.

O homem que usava um boné ensinou que a vida se torna leve e sensata quando habitada com amor. Há milênios que as religiões estão tentando mostrar ao ser humano que só o amor constrói. Braço ao abraço a rota fica mais fácil. Há milênios nós os humanos estamos construindo a história de nossa condição com intolerância, luxúria violência, egoísmo. Com uma escrita às avessas, desviada da ternura, mais para urubu do que para curió. O que sabe hoje o nosso pobre coração humano de Deus? Do enigma, da dor e do amor? Preferimos quase sempre o uso da avareza, ambição e inveja em forma de negações.

Essa lição fácil, dar alpiste aos desvalidos, pássaros tristes com as penas doídas, aquele homem de coração solidário ensinou no dia a dia. Por onde andou o seu coração foi para dizer que Deus existe. Podemos senti-lo na flor do coração. Basta amar o outro para o Cristo, eterno salvador da humanidade, renascer em cada um de nós. A flor do coração se percebe em outros que a ele, com o gosto de ser missionário, se juntam. O semeador de esperança no país dos frutos dourados, valendo como ouro, mostrava que viver tinha sentido com o gesto frequente da fraternidade, de amor sem apego aos valores materiais, o qual inúmeras vezes faz os seres humanos subalternos aos lados escuros da alma. Mostrava isso no chão onde o emblema da vida consiste em perseguir o dinheiro como a chave de todas as coisas. É usado para ferir a virgindade e a pureza fazendo da vida um ato de cobiça que se fundamenta na rota do poder e a glória.

 Homem filho de um território onde no início matava-se e morria por um pedaço de terra fértil, numa fome sem precedentes. Ensinou que a vida tem sentido com excesso de pobreza. Como pode vencer léguas do chão áspero e construir grande abrigo para centenas de pássaros sem voo e canto? Recolhidos aos dias tristes, de abandono e solidão? Acreditava que a morada neste planeta é possível com todas as mãos numa só mesa como cantiga geral da universal comunhão.

Ghandy lembra que a cada dia a natureza produz o suficiente para nossas carências. Se cada um de nós tomasse o que lhe fosse necessário, não haveria pobreza no mundo. Ninguém morreria de fome. O genial Charles Chaplin fala do caminho da vida com beleza e liberdade. Lamenta que tenha ocorrido o desvio da ternura. A cobiça envenenou a alma dos homens, ergueu muralhas de ódio no mundo, fazendo-nos marchar a passos de ganso para a miséria e horror dos morticínios.

Aquele homem, que usava um boné xadrez, gostava de oferecer uma rosa a qualquer um quando percorria a cidade, em seu rito de recolher donativos para os pobres. Em linguagem simples dizia que todos nós somos missionários. Consistia a prática em doar-se ao outro, semear o amor entre os excluídos de uma vida digna, muitos deles sem saber a razão de tanta fome e sede.

Ele, Bionor Rebouças, o pai, o filho, o irmão. Um homem como outro qualquer. Homem do bem, desprovido da ganância e outras mazelas. Um libertador para os enfermos do Albergue Bezerra de Menezes. Um anjo que desceu do céu.

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OS CEM ANOS DE ODUQUE TEIXEIRA- Ruy Póvoas

Ninguém completa cem anos impunemente. E José Oduque Teixeira chega a esse limite, transportando o fardo de ter vivido até agora se fazendo útil a seu tempo.
Há várias e múltiplas facetas em tão longo viver. Seriam necessárias várias páginas para uma abordagem que fizesse jus a uma pessoa batalhadora, tal qual tem sido Oduque Teixeira.
Homem de negócios, bem-sucedido, de caráter vigoroso, vontade de ferro, seriedade em tudo que faz. Político que soube equilibrar as contas do município de Itabuna quando foi prefeito, num mandato brilhante.
Formado em Direito pela UESC, mas preferiu continuar sendo homem de negócios e deixou a vida política sem mancha alguma. Nunca se ouviu falar de um ato de corrupção por parte de Oduque na sua trajetória política.
Guardo comigo, de um modo muito particular e pessoal, dois eventos protagonizados por Oduque, ambos relativos ao Bairro Santa Inês. Fui um dos primeiros moradores daquela localidade, desde 1974, quando Amélio Cordier iniciou o loteamento.
No planejamento do bairro, haveria de ter uma rua que se iniciasse ao lado da futura igreja de Santa Inês e subisse até a sentada do morro. Acontece que havia um lote sob o domínio de um oleiro que não permitiu que a citada rua passasse por sua propriedade. Os transeuntes tinham que dar uma volta para chegar até a parte de cima do Alto da Lua.
Quando Oduque soube disso, reuniu seus assessores, garantidos pela guarda municipal, e caminhou para lá, com um trator. De repente, o traçado da Rua Getúlio Vargas se fez de verdade.
O segundo momento que guardo diz de Oduque enquanto pessoa destituída de preconceito. Foi no dia primeiro de janeiro de 1977. Estávamos nos preparando para o ritual de inauguração do Ilê Axé Ijexá, no final da Rua Getúlio Vargas. Tínhamos convidado pessoas de vários segmentos sociais.
Fomos surpreendidos com a chegada também de José Oduque, Lindaura Brandão, Maria Rita Fontes, Eolo Kamei, Denílton Martins, Carlos Eduardo Pitanga, Eduardo Reis e Mercedes Suzart. Esse grupo de pessoas amigas se fez padrinhos e madrinhas civis do terreiro que estava sendo inaugurado.
Agora, Oduque completa 100 anos de vida, cercado por seus familiares, entes queridos, amigos de outrora. E em nós, a profunda alegria por presenciarmos tão importante data de pessoa tão ilustre, tão benfazeja em relação a nossa cidade de Itabuna.
Obrigado, Oduque. O Ilê Axé Ijexá pede-lhe a bênção na condição de afilhado civil seu. E que as bênçãos das Forças Criadoras do Universo se derramem sobre você e de quantas pessoas que o cercam.
Loni oju odum! Feliz aniversário, dileto amigo.
Itabuna, 18 de outubro de 2023
Ruy Póvoas – Ajalá Deré, Babalorixá

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EDITAL Nº 02/2023 – ELEIÇÃO DA DIRETORIA ADMINISTRATIVA DA ACADEMIA DE LETRAS DE ITABUNA BIÊNIO 2024-2026 A

EDITAL Nº 02/2023 – ELEIÇÃO DA DIRETORIA ADMINISTRATIVA DA ACADEMIA DE LETRAS DE  ITABUNA BIÊNIO 2024-2026

A Comissão Eleitoral da Academia de Letras de Itabuna – ALITA, eleita na Assembleia Geral  de 03 de outubro de 2023, no uso de suas atribuições legais e de acordo com o Estatuto, de  19 de abril de 2011 e do Regimento, de 01 de junho de 2011, torna público o presente Edital  de inscrição para o processo eletivo da Diretoria Administrativa da ALITA, Exercício 2024- 2026.

1.CRONOGRAMA DO PROCESSO ELETIVO

ETAPAS

PRAZOS

Publicação do Edital nº 02, 20/10/2023

20/10/2023

Inscrições de Chapas

21/10 a 08/11/2023

Resultado da homologação das inscrições

10/11/2023

Eleição (votação)

17/11/2023

Resultado das eleições

20/11/2023

Recurso para o resultado da votação

23/11/2023 até às 23h:59 min:59:seg

  1. Dos Anexos

Estatuto da ALITA

Regimento da ALITA

Ficha individual do candidato

Ficha de inscrição da chapa

Ficha de resultado das eleições

  1.  DAS CANDIDATURAS: As candidaturas e a votação obedecerão ao que está disposto no artigo 33 do Estatuto e no artigo 11 do Regimento da ALITA (anexos) que regem os pré-requisitos para as eleições e preenchimentos dos seguintes cargos: PRESIDENTE; VICE-PRESIDENTE, 1º SECRETÁRIO; 2º SECRETÁRIO; 1º TESOUREIRO; 2º TESOUREIRO; DIRETOR DA REVISTA; DIRETOR DE AÇÕES CULTURAIS; DIRETOR DA BIBLIOTECA; DIRETOR DO ARQUIVO; DIRETOR DE COMUNICAÇÃO SOCIAL E MARKETING; DIRETOR DE PROJETOS E PESQUISAS.

  2. DA VOTAÇÃO: Ocorrerá em Assembleia Geral convocada pelo Presidente para tal fim A votação da eleição será realizada por escrutínio secreto e maioria absoluta dos votos dos acadêmicos presentes com quórum igual ou superior a 10 membros efetivos individual e confidencial.

  3. DAS INSCRIÇÕES E O SEU PRAZO: Serão realizadas via o preenchimento pelos candidatos da Ficha de Inscrição, com os respectivos documentos nela solicitados e tudo enviado para o e-mail da comissão eleitoral <eleitoralita@gmail.com>

  4. DOS PRÉ-REQUISITOS DOS CANDIDATOS para a GESTÃO ADMINISTRATIVA E DIRETORIA:

  5. Ser membro efetivo da ALITA;

  6. Estar em dia com as suas obrigações pecuniárias;

  7. Atender ao disposto no Art. 1º, § 4º do Regimento.

  8. DA PUBLICAÇÃO DO RESULTADO FINAL: O resultado final da chapa vencedora será homologado e divulgado publicamente no site oficial da ALITA e/ou em outros meios de comunicação do seu município sede, no prazo de até quarenta e oito horas após a data da realização das eleições.

  9. DO EMPATE DE RESULTADOS: Em havendo mais de uma chapa inscrita e o resultado das eleições der empate, será eleita aquela que tiver entre os seus candidatos o acadêmico com mais tempo de empossado.

  10. DA POSSE: A posse da chapa eleita será realizada no dia do aniversário da ALITA (19 de abril) do ano seguinte da eleição (2024).

  11. DOS RECURSOS: Os recursos poderão ser interpostos somente por um dos membros representantes da chapa candidata. Admitir-se-á um único recurso no prazo de até quarenta e oito horas, para cada chapa e etapa do processo seletivo, protocolado para o e-mail oficial da comissão eleitoral <eleitoralita@gmail.com>. (Utilizar sempre o Anexo para Recursos).

  12. DO FORO: Fica eleito o foro da Comarca de Itabuna para dirimir quaisquer conflitos de interesses relativos a este Edital.

  13. DAS DISPOSIÇÕES GERAIS:

  14. A inscrição dos candidatos nesse processo implica, desde logo, o conhecimento e aceitação tácita das condições estabelecidas no presente Edital, seus Anexos, das informações e das demais alterações publicadas, caso ocorram.

  15. Dúvidas relativas a este Edital poderão ser dirigidas para a Comissão Eleitoral pelo e-mail eleitoralita@gmail.com, observando-se os prazos estabelecidos no item 01 (um).

  16. A ALITA e a Comissão Eleitoral não se responsabilizam por e-mails enviados fora do prazo, incompletos e/ou corrompidos.

  17. Os documentos que necessitem de assinaturas deverão ser digitalizados e legíveis.

  18. CASOS OMISSOS: Sendo omissas as disposições constantes no Estatuto, Regimento e neste Édito, regular-se-á o que deliberar o plenário pelos votos de 2/3 (dois terços) da maioria absoluta dos membros efetivos da Academia presentes à sessão, consignando-se na ata a decisão tomada, para a sua adequada aplicação de caso e situação específicos neste Edital nº 02 de 20/10/2021.

  19. O presente Edital entra em vigor na data de sua publicação no site oficial da ALITA (https://academiadeletrasdeitabuna.com.br/) e/ou outros meios de comunicação do seu município sede.

Publique-se.

Itabuna- BA, 20 de Outubro de 2023.

Comissão Eleitoral: Raimunda Alves Moreira de Assis

                                       Heloisa  Prata e Prazeres

                                     Janete  Ruiz de Macedo

ARQUIVOS

edital Nº 2 eleição 2023 Atualizado

FICHA DE INSCRIÇÃO DA CHAPA 2024-2026

Ficha Individual dos Candidatos 2024-2026

EDITAL Nº 02/2023 – ELEIÇÃO DA DIRETORIA ADMINISTRATIVA DA ACADEMIA DE LETRAS DE ITABUNA BIÊNIO 2024-2026 A Read More »