Registro Histórico, 1975: “Tica Simões lança Narrativa Portuguesa”

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Eu era aluno do curso clássico no colégio da Bahia (Central) quando escutei de meu professor Luís Henrique Dias Tavares que a Bahia e o Brasil são inseparáveis. Meu professor era um homem de estatura pequena, mas que carregava no coração um forte amor e na razão um grande saber pelos caminhos históricos da Bahia. Observara em sala de aula, naqueles idos de 1956, que essa união insuperável procedia do fato de que o Brasil exerceu sua verdadeira independência em solo baiano. Os mares da Bahia de Todos os Santos por sua vez deram seu abraço no entorno deste solo para que os baianos se libertassem do jugo do império português.
O movimento social e militar, iniciado em 19 de fevereiro de 1822 teve seu desfecho vitorioso em 2 de julho de 1823. O Dois de Julho tornou-se data importante para o povo baiano, que a festeja todos os anos com alma, força e vida. Celebra um movimento desejoso de incorporar a então provincia na unidade nacional brasileira. Um movimento assim veemente com o qual o sentimento federalista latejava verdades no espírito emancipador do povo baiano.
A independência do Brasil na Bahia não foi feita em gabinetes e salões, aconteceu nas ruas, nos campos de batalhas, com mortos e feridos. Contou com a participação decisiva do povo como protagonista. Indígenas, escravos libertos, gente humilde das classes baixas. Figuras de comando tiveram performance significativa no desenrolar da pugna. Sobressai o general Labatut como comandante de nossas forças militares no seco, enquanto Lord Cochrane foi o responsável pela guarda da Baía de Todos os Santos.

É imperioso mencionar a figura da mártir Joana Angélica, morta ao impedir que os portugueses tomassem o convento da Lapa. E a de Maria Quitéria, valorosa mulher que combateu os adversários portugueses no Recôncavo. Vestida numa farda de soldado, com a arma na mão, lutou com coragem incomum contra os portugueses na barra do Paraguaçu, em Santa Amaro e Cachoeira. Houve também Maria Felipa, uma negra catadeira de marisco, a mulher que comandou mulheres negras para seduzir os portugueses enquanto outras queimavam suas embarcações.
Fala-se que, na batalha final, João das Botas, um marinheiro português que aderiu à autoridade do príncipe Pedro, com o seu conhecimento instruiu Cachoeira, Santo Amaro e São Francisco do Conde na armação e comando dos barcos para combater a frota portuguesa. Foi singular sua atuação como trunfo na guerra.
Noutros falares, de como exatamente o corneteiro Luís Lopes tenha ficado no coração dos baianos ninguém sabe ao certo. Se a versão da história contada é verídica ou não, tudo se torna mais intrigante e ao mesmo tempo nebuloso. Sobre o assunto o que se sabe é que ele participou do conflito conhecido como a Batalha de Pirajá. Propaga-se no imaginário popular que em vez do toque de “recuar”, deu o sinal de “cavalaria avançar” e, em seguida, o de “degolar”. E quem acabou partindo em retirada foram as tropas lusitanas, imaginando que os brasileiros tinham recebido reforços.

O movimento que deflagrou a independência do Brasil na Bahia motivou a Castro Alves, o poeta mais amado dos baianos, a escrever um poema de versos magníficos. O poema “Ode ao Dois de Julho” vem expresso com o discurso eloquente, versos nas imagens candentes da esperança e da liberdade, aparecendo juntas numa só voz que evoca a peleja da treva e do clarão. O libertário construtor de uma poética solidária sobre a escravidão dos negros africanos, agora com versos incandescentes de esperança, canta a liberdade como o sentimento mais valoroso que envolve os baianos no palco do confronto. Como noiva do sol a liberdade, essa peregrina esposa do porvir, faz-se motivo de inspiração ao estro do poeta de alta voz condoreira.
Transcrevemos abaixo, como o final dessas anotações sobre O Dois de Julho, o poema do genial poeta baiano:
Ode ao Dois de Julho
Eras tu que, com os dedos ensopados
No sangue dos avós mortos na guerra,
Livre sagravas a Colúmbia terra,
Sagravas livre a nova geração!
Tu que erguias, subida na pirâmide,
Formada pelos mortos do Cabrito,
Um pedaço de gládio — no infinito…
Um trapo de bandeira — n’amplidão!…
Cyro de Mattos (Itabuna, 1939). Jornalista, advogado, contista, novelista, romancista, ensaista. Membro da cadeira 22 da Academia de Letras da Bahia. Membro das Academias de Letras de Ilhéus e Itabuna. Já publicou mais de 60 livros, de diversos gêneros, bem como organizou dez antologias e coletâneas. É também editado em Portugal, Itália, França, Espanha, Alemanha, Dinamarca, Rússia e Estados Unidos. Possui prêmios literários no Brasil e exterior, e, entre eles, o Prêmio Nacional de Ficção Afonso Arinos, da Academia Brasileira de Letras, com o livro “Os Brabos”; Prêmio Jabuti (menção honrosa), para o livro “Os Recuados”, Prêmio da APCA para o livro infantil “O Menino Camelô, Prêmio Nacional de Poesia Ribeiro Couto, com o livro “Cancioneiro do Cacau”, Prêmio Nacional de Ficção Pen Clube do Brasil para o romance “Os Ventos Gemedores” e Prêmio Nacional Cidade de Manaus, para o livro “ Histórias de Encanto e Espanto”, dez vezes primeiro lugar nos concursos literários da União Brasileira de Escritores (Rio). Obteve o segundo lugar para obra publicada no Concurso Internacional de Literatura Maestrale Marengo d’Oro, Gênova, Itália, com o livro “Cancioneiro do Cacau” e segundo lugar para obra inédita com o livro “Poemas escolhidos/Poesie scelte”. Foi um dos quatro finalistas do Prêmio Internacional de Literatura da Revista Plural, no México, com a noveleta “Coronel, Cacaueiro e Travessia”. Em 2020 recebeu o Prêmio Conjunto de Obra da Academia de Letras da Bahia e Eletrogóes. É membro do Pen Clube do Brasil. Primeiro Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz (Bahia). Premiado com a Medalha Zumbi dos Palmares pela Câmara Municipal de Salvador (2020).
A feira livre é a maior expressão de cultura popular. A feira livre tem literatura de cordel, grafiteiros, CDs e DVDs de todos os cantores, de todos os gêneros, além de DVDs de histórias infantis vendidos nas barracas: Chaves, Chapolin Colorado, Chapeuzinho Vermelho, João e Maria, Os Três Porquinhos, Pinóquio, Rapunzel, Frozen e todas as histórias dos irmãos Grimm, filmes policiais, cowboys e filmes românticos.
A feira livre do São Caetano, bairro da cidade de Itabuna, talvez, seja a maior feira livre do interior da Bahia, mais que as feiras de Alagoinhas, de Feira de Santana, de Santo Antônio de Jesus, de Vitória da Conquista, pois ela é permanente, de Segunda-feira a Domingo, inclusive, feriados e dias santos.
A feira livre do São Caetano, certamente, não é maior do que a Feira Central de Campina Grande, nem a feira livre de Caruaru, a maior feira ao ar livre do Brasil, mas tem tudo pra chegar lá.
A feira livre são-caetanense está situada numa área de mais de 20.000 m², suas bancas e barracas são distribuídas pelas ruas: Cosme Damião, São João, Potomiano, as transversais, e, a praça Dr. Simão Fiterman. Ela possui uma área coberta com estrutura de zinco e “metalon galvanizado”, onde ficam os restaurantes, os bares, os pequenos frigoríficos, os açougues, as mercearias, as barracas de farinha e, no entorno, lojas de roupa, mercados, lojas de calçado, armarinhos e oficinas de conserto e venda de celulares e acessórios eletrônicos.
Os feirantes de frutas e verduras usam ao longo das ruas para distribuir suas bancas. Ali, o fereiro encontra tomate, berinjela, abobrinha, pepino, pimentão, manga, morango, açaí, jaca, mamão, coco verde, coco seco, todo o tipo de banana, limão mirim, limão rosa, todo tipo de laranja, pera, uva, maçã, jambo, etc.
A quantidade de verduras e legumes é grande: brócolis, cará, couve, feijão, jiló, maxixe, nabo, salsa, alho, cebola, cebolinha, mostarda, taioba, salsão, repolho, espinafre, grão-de-bico, lentilha, milho verde, amendoim, quiabo, cenoura, batata doce, batatinha, aipim, inhame, rúcula, agrião, e, um sem número de verduras e legumes.
As barracas de bolo de aipim, de puba, de beiju, de milho, doces e guloseimas saciam os pirralhos. Os adultos preferem as frituras: os pasteis, os quibes, as coxinhas e batatas fritas e acarajés. Ali, na feira livre do São Caetano, não faltam sucos de acerola, de limão, de laranja, caldo de cana e água de coco.
Quando é meio-dia, os empregados de lojas e mercados vizinhos correm para os restaurantes da feira livre caetanense e existe ali uma variedade de comidas para todos os gostos e preços. Claro que no cardápio não há filé mignon assado ou à parmegiana, mas carne no feijão, farofa amanteigada, dobradinha, ensopado, carne suína, carne de carneiro, feijão tropeiro, churrasco, caldos, arroz e macarrão.
Nos dias de sábado e domingo, a frequência é de mais de 10.000 fereiros, do centro da cidade itabunense, de outros bairros, de outras cidades, de quando em vez, turistas de outros estados ou de outros países. O enxame de gente é grande. Quando a feira é pra perto, usa-se a galinhota como meio de transporte, quando a feira é levada para outros bairros ou o centro da cidade, o fereiro mais aquinhoado usa o automóvel e o pobre vai de buzu.
A partir de Sexta-feira, as entradas das ruas e as transversais são fechadas por bancas de pequenos agricultores que descem de suas roças em animais com caçuás repletos de verduras e frutas, alguns alugam camionetes porque grande é a quantidade de produtos agrícolas.
As donas xepas deixam para ir à feira livre quando restou, somente, ao feirante, sobras de verduras ou de frutas e a queda dos preços se faz necessária, segundo a “Lei da Oferta e da Procura”, os produtos não perecíveis, a exemplo de farinha, do coco verde, do coco seco, dos óleos de coco e dendê, as carnes acomodadas em frigoríficos, as carnes salgadas e alguns cereais não vão à queima, ficam para final de semana vindoura ou vendido durante a semana.
As carnes são variadas: carne fresca de boi, carne de frango in natura, frango e galinha caipira vivos, carne de porco, carne de carneiro, dobradinhas, caças, jabá e carne-de-sol, além de peixes de todas espécies, caranguejos, camarões e pitus.
Os furtos e os roubos não prosperam, embora os produtos sejam cobertos por lonas plásticas e amarrados em suas bancas com cordas de “nylon”, de segurança vulnerável. Porém, a organização do feirante mantém vários vigilantes armados que rondam a feira livre toda noite, impedindo assim, as ações de meliantes.
O fato de barracas fixas, pouco e pouco, elas são usadas como moradia e lugar de perdição, corrupção e vícios.
A feira livre são caetanense não é contemplada como deveria ser com medidas efetivas do governo municipal de saneamento (fica à beira de um canal de esgotamento sanitário), limpeza e organização: o canal urge cobertura, a limpeza deveria ser diuturna, as barracas padronizadas, fiscalização e normas duras de higiene com o objetivo de evitar os desleixos e a falta de consciência comunitária da maioria dos feirantes.
Enfim, mazelas corrigidas, a feira livre do São Caetano, bairro itabunense, é a maior e mais atrativa do interior baiano, lá tem tudo, não levará tempo, o fereiro aquinhoado irá encontrar “stands” de venda de carrinhos de bebê, de motos, de bicicletas, de automóveis, de tratores e caminhões.
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NOITE DE ALITA- Ruy Póvoas Read More »
EM LOUVOR DE NOSSA SENHORA DA VITÓRIA
Cyro de Mattos
Tocai, sinos, tocai
na primeira vitória
de uma senhora santa
contra o bugre feroz
ferindo sangue ilhéu
por mais de uma cilada.
Tocai, sinos, tocai
na segunda vitória
de uma coragem santa
do heroico Catuçadas
contra ávido francês
e suas naves armadas.
Tocai, sinos, tocai
na terceira vitória
de uma guardiã santa
que sofridos ais ouve
e para longe da ilha
expulsa flamenga faca.
Tocai, sinos, tocai
enquanto houver na praça
uma noite de emboscada,
eis que no outeiro moram
a fé, a luz, a espada
da santa da vitória.
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POEMAZUL DE ILHÉUS
Cyro de Mattos
Deuses empurraram líquidas vastidões
por te querer verde no seio da enseada,
flor conclusa, marinheiro território,
léguas de promissão ouro vegetal sendo
falam sombras de casarões antigos,
vozes ausentes em água, céu e chão,
velhas armaduras domando geometria,
em gestos de outrora urdidas solidões
navega meu barco em teus mares
luminosos de balanço pela praia,
ao vento triunfavam jubas brancas
de turmalinas e esmeraldas a ciranda
no marujo guerreando mil piratas
sobretudo sem dunas nem salsugem
entre Barra de Itaipe e Olivença
simplesmente o azul de rica fábula
desenhando nuvens nos meus olhos
caju, coco mole, fruta-pão, manga
nesse mar estava o sabor do infinito
no alcance com peixes multicores
anoitecida de azul a cidade repetida,
atabaques repercutem nos oiteiros
evocando teus mistérios africanos,
barra afora vagalume enormemente
luas ofertam-me prata pelas ondas,
cantigas de sereia no meu peito,
nos meus olhos piscam águas-marinhas,
flutuam em verde brisa meus cabelos
no entanto barco ao largo em avaria,
encalhes não importam nas salinas,
nas espumas busco-te sentimento
de um mundo todo azul em que navego
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POEMA DO VIAJANTE E DO TEMPO
MINHAS FLORES
Cyro de Mattos
A flor de Mariza
Brinca na brisa,
A flor de André
Com a bola no pé,
A flor de Josefina
Como bailarina,
A flor de Adriano
Pousando em Solano.
Suave na brisa
A flor de Mariza,
Alegre no pé
A flor de André,
A dançar na colina
A flor de Josefina.
Na nave do sonho
A flor de Adriano.
Ou essa ou aquela
Quando brilha a sua cor,
Trazem às crianças
Os anúncios do amor.
*Este poema infantil pertence ao livro Tiquinho de Ternura,
que integra a Coleção O Menino Poeta, formada com mais
quatro livros: Existe Bicho Bobo? Poesia de Calça Curta,
Responda Certo, Se For Esperto, A Poesia É Um Mar, Venha
Comigo Navegar, publicação da EDITUS, editora da UESC.
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O SABIDO GRILO CRICRILO, IMBATÍVEL NO SALTO E NO TRILO
Cyro de Mattos
Me chamo Cricrilo,
Sou um grilo falante,
Invencível no salto,
O melhor de todos
Quando estou trilando
Em dia inspirado.
Sei que é um risco
Ser de meu tamanho
E viver entre os grandes,
Deus quis assim,
Eu não me queixo.
O que é que adianta
Ser grande por fora
E triste por dentro?
Coisas más que fazem
Com a mãe natureza,
Não consigo entender.
Como o arco-íris
Lamento, fico triste
Quando vejo o rio
Descer sem as águas
Claras de antigamente.
Dói quando vejo
Toda essa judiação
Com o pobre coitado.
Ele não sabe o que fazer
Para limpar a sujeira
Que despejam nele,
Matando seus peixes
De dia e de noite.
(Trechos de um poema infantil, longo,
com os falares de um grilo sábio
e inconformado com as coisas ruins
que fazem com a natureza que nos
cumpre zelar para melhor viver)
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I Concurso Literário da Academia de letras de Itabuna
Comissão:
Margarida e Ceres- responsáveis pelo Projeto.
Margarida Fahe l( Diretora de Projetos e Pesquisa)
Jorge Batista – responsável pelo processo de Inscrição e Elaboração Final dos resultados fornecidos pela Comissão.
Comissão Julgadora:
Tica Simões
Ruy Póvoas
Maria Luísa Nora
Ceres Marylise Reboucas
Margarida Fahel.
Fotos: Título de Presidente de Honra a Cyro de Mattos e Premiação do concurso literário. Read More »
“A vida é breve!
A arte é longa!
A vida e a arte e estão espelhadas na Alita!
Onde desponta Cyro de Mattos
Como a sua maior expressão
A imortalidade desejada
A fonte do saber duradoura.”
O poeta, cronista, jornalista, escritor e membro da Academia de Letras da Bahia e de Itabuna, Cyro de Mattos , foi alvo de uma homenagem merecida na noite do dia 27/05/2023 , onde foi reconhecido como Presidente de Honra vitalício da Alita e festejado por mais um prêmio literário na sua vasta obra produzida ao longo de sua carreira literária na Bahia , mas conhecida no Brasil e no mundo.
Hoje Cyro é um dos maiores escritores da Bahia.
Cyro podemos dizer que mora em
Itabuna , mas divide sua morada com um lugar chamado cultura e arte, e cada vez mais aumentando sua obra e com criações que mostra a sua grande capacidade intelectual .
Ninguém é forte sozinho. Na caminhada,
Cyro abraçou a Alita e com sua grandeza elevou a nossa Academia a um patamar valioso.
Há pessoas que fazem história por onde passa, mas com certeza na Alita , Cyro é a própria história:
Cyro hoje é a maior expressão literária do Sul da Bahia.
Os seus versos, suas poesias , suas crônicas, seus livros jamais serão
esquecidos e jamais morrerão.
A vida seria incompleta sem a literatura.
A nossa cultura seria incompleta sem Cyro.
O respeito, a gratidão, o reconhecimento de seus pares da Alita, demonstram o valor do nosso confrade para o mundo literário.
Montaigne já dizia que a admiração é o fundamento de toda filosofia, “revela a alma despida de egoísmo. A alegria de encontrar na grandeza do outro não parcelas da própria grandeza, mas da condição humana”.
Vida longa para Cyro!
Silvio Porto
AO GRANDE CYRO- Silvio Porto Read More »
Discurso da Gratidão
por Cyro de Mattos
Primeiramente minha gratidão a Deus, que me deu a vida. À minha esposa Mariza, meu suporte físico e espiritual durante 50 anos de união conjugal. Aos meus três filhos e seis netos, pelo incentivo.
À confreira Jante Ruiz, que teve a ideia dessa homenagem. À confreira Raquel e ao confrade Wilson pelo apoio. Aos confrades e confreiras que aprovaram a iniciativa generosa, mas penso que outros integrantes desta instituição mereceriam a honraria.
Já vai longe o tempo em que recebi a primeira distinção relevante no meu currículo de vida literária. Foi em 1968, no Rio. Vendi meus livros de Direito do escritório de advocacia, que havia estabelecido aqui em Itabuna, com uma clientela considerável proveniente da área trabalhista, quando então resolvi migrar para o Rio onde seguiria minha carreira literária. Paralelamente, optei pelo jornalismo para sobreviver lá na cidade grande.
O Rio e São Paulo naquela época formavam o tambor cultural do Brasil. Quem quisesse ter repercussão na carreira literária devia migrar cedo para uma das duas metrópoles. Já repórter e redator do Diário de Notícias no Rio, ainda como um moço do interior baiano espantado com a cidade de muita gente e edifícios que altos sinalavam para as nuvens, sentia-me estranho aos meios e costumes da metrópole. Foi aí que tive uma boa surpresa. Conquistava em 1968 o prêmio Internacional Miguel de Cervantes, patrocinado pela Casa dos Quixotes, para autores de língua portuguesa. O conto que me deu o prêmio foi Inocentes e Selvagens. Era a primeira vez que um autor brasileiro conquistava a láurea. Não preciso dizer da alegria.
Vieram outras conquistas literárias e distinções importantes, como foram ressalvadas aqui pela confreira Raquel Rocha. Veio minha entrega pela progressão e honra de nossa instituição, conforme destacou a confreira Janete Ruiz. A última de nossas conquistas literárias, sem dúvida a mais relevante, se deu recentemente com o Prêmio Literário Casa de las Americas, para o livro Infância com Bicho e Pesadelo e Outras Histórias.
Fico pensando agora como reagiria meu pai Augusto quando soubesse que tinha um filho como autor de 65 livros pessoais publicados no Brasil, 16 no exterior, com vários prêmios de categoria, distinções outorgadas por instituições importantes. Meu pai era um homem iletrado, aprendera a ler e a escrever por esforço próprio. Tudo ele fez com trabalho, esforço e economia para que os filhos fossem gente: o mais velho, José Orlando, se tornasse um médico respeitável, o mais novo, começasse a carreira de advogado nas pegadas de um profissional competente. O irmão mais velho tornou-se um médico de alto valor aqui em Itabuna. Cirurgião elogiado durante décadas de dedicação e amor à Medicina, foi provedor da Santa Casa de Misericórdia com louvores. O filho caçula fora uma decepção para o pai, trocara o certo pelo duvidoso.
O pai disse:
– Você pretende viver nas nuvens, seguindo uma profissão que não existe, não bota comida no prato, aqui na cidade ninguém dá importância a quem vive de escrever livros. – De rosto triste na expressão inconformada concluiu: – Esse negócio de ser escritor só serve pra quem não tem juízo.
Eu observei:
– Meu pai é o que gosto, ser escritor não dá dinheiro nem conceito, reconheço, mas vou seguir o meu destino.
Perguntei-lhe se ele já havia ouvido falar no famoso romancista Jorge Amado, era uma referência para quem quisesse seguir a carreira de escritor.
Ele respondeu que já ouvira falar em Jorge Amado, mas era um caso raro, acrescentando que devemos seguir a regra e não a exceção, onde para se alcançar as metas tudo é mais difícil.
O pai não podia pensar diferente, com o saber que aprendera na escola da vida, queria o melhor para mim.
Certamente hoje, se estivesse aqui comigo, ficaria calado, entre estranho e assustado.
Seria bom, agradável, se ele dissesse:
– Filho eu não sabia que o tempo estava preparando uma boa surpresa pra mim e pra sua mãe Josefina.
O tempo, esse avantajado cavaleiro soberano. Sabe das coisas, conhece os caminhos, dá e toma, tudo bebe e lambe.
Antes de se recolher para se reconfortar no sono, depois de mais um dia de trabalho, gostaria que o meu pai dissesse de voz calma:
– Meu filho, você é um escritor de verdade.
Passados tantos janeiros, entre dias alegres e tristes, estou recebendo neste momento singular distinção como Presidente de Honra da Academia de Letras de Itabuna, instituição com finalidades culturais que ajudei a fundar com um grupo de pessoas sonhadoras. Fico comovido com a iniciativa. Recebo a homenagem como reconhecimento ao meu legado, minha participação na instituição que se tornou um capítulo importante em minha vida.
Por isso mesmo, não vejo outra maneira de agradecer essa homenagem a não ser repetindo o que disse em meu poema de louvor à Academia de Letras de Itabuna e que hoje serve como a letra do hino oficial da instituição.
A cidade contigo conhece
Que a vida não é coisa vã,
É a palavra solta a dizer
A beleza de cada manhã.
Imortal é tua maneira de ser,
Tua luz que nunca se apaga,
Ideal é a página que escreves
Pra voar com as asas da alma.
Tudo vale, tudo anda com Deus,
Que nos deu a razão e a emoção,
O sentido de viver com o amor
Pra dizer o que vem do coração.
O sentido de viver com o amor
Pra dizer o que vem do coração.
Obrigado a todos e a todas por este momento cativante.
*Discurso proferido por Cyro na homenagem que recebeu como Presidente de Honra da Academia de Letras de Itabuna, no auditório do Hospital de Olhos, em 27 de maio de 2023.
O 2° ciclo do projeto Poesia na Academia retorna com as leituras críticas, os recitais literários e as performances musicais, no canal da Academia de Letras da Bahia, no
Youtube.
Sob a coordenação da acadêmica Heloísa
Prazeres, com a curadoria do acadêmico Aleilton Fonseca e da acadêmica Edilene
Matos, o Poesia na Academia tem como tema do primeiro encontro “JORGE DE LIMA
– 130 anos de nascimento e 70 anos de saudade” O professor e escritor Aleilton
Fonseca fará uma exposição sobre o homenageado, intitulada: “Jorge de Lima, as múltiplas cores da poesia”.
O recital literário terá atuação do acadêmico, professor e escritor Décio Torres Cruz (ALB), da acadêmica e escritora Mirella Márcia Longo Vieira Lima (ALB), da poeta e acadêmica cruzalmense Lita Passos e da acadêmica do Recôncavo da Bahia, poeta e cineasta Alba Liberato. A performance musical contará com a atuação da cantora Cláudia Cunha, paraense, residente em Salvador; cantora e compositora, Prêmio Braskem de Arte; premiada com o Troféu Caymmi, em 2010, Cláudia Cunha integrou o X e venceu o V Festival de Música da Educadora FM.
O projeto Poesia na Academia torna acessível importantes obras, acontecimentos, autores e autoras da literatura baiana, brasileira e mundial e faz parte das iniciativas da Academia de Letras da Bahia para promover a aproximação das letras, culturas e artes com a sociedade.
A Academia de Letras da Bahia tem apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e
Secretaria de Cultura da Bahia.
• 2° Ciclo do Poesia na Academia
25/05/2023
C A partir das 19 horas
© youtube.academiadeletrasdabahia.org.br
#ALB #PoesiaNaAcademia #Anoll
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