EM LOUVOR DE NOSSA SENHORA DA VITÓRIA
Cyro de Mattos
Tocai, sinos, tocai
na primeira vitória
de uma senhora santa
contra o bugre feroz
ferindo sangue ilhéu
por mais de uma cilada.
Tocai, sinos, tocai
na segunda vitória
de uma coragem santa
do heroico Catuçadas
contra ávido francês
e suas naves armadas.
Tocai, sinos, tocai
na terceira vitória
de uma guardiã santa
que sofridos ais ouve
e para longe da ilha
expulsa flamenga faca.
Tocai, sinos, tocai
enquanto houver na praça
uma noite de emboscada,
eis que no outeiro moram
a fé, a luz, a espada
da santa da vitória.
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POEMAZUL DE ILHÉUS
Cyro de Mattos
Deuses empurraram líquidas vastidões
por te querer verde no seio da enseada,
flor conclusa, marinheiro território,
léguas de promissão ouro vegetal sendo
falam sombras de casarões antigos,
vozes ausentes em água, céu e chão,
velhas armaduras domando geometria,
em gestos de outrora urdidas solidões
navega meu barco em teus mares
luminosos de balanço pela praia,
ao vento triunfavam jubas brancas
de turmalinas e esmeraldas a ciranda
no marujo guerreando mil piratas
sobretudo sem dunas nem salsugem
entre Barra de Itaipe e Olivença
simplesmente o azul de rica fábula
desenhando nuvens nos meus olhos
caju, coco mole, fruta-pão, manga
nesse mar estava o sabor do infinito
no alcance com peixes multicores
anoitecida de azul a cidade repetida,
atabaques repercutem nos oiteiros
evocando teus mistérios africanos,
barra afora vagalume enormemente
luas ofertam-me prata pelas ondas,
cantigas de sereia no meu peito,
nos meus olhos piscam águas-marinhas,
flutuam em verde brisa meus cabelos
no entanto barco ao largo em avaria,
encalhes não importam nas salinas,
nas espumas busco-te sentimento
de um mundo todo azul em que navego
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POEMA DO VIAJANTE E DO TEMPO
MINHAS FLORES
Cyro de Mattos
A flor de Mariza
Brinca na brisa,
A flor de André
Com a bola no pé,
A flor de Josefina
Como bailarina,
A flor de Adriano
Pousando em Solano.
Suave na brisa
A flor de Mariza,
Alegre no pé
A flor de André,
A dançar na colina
A flor de Josefina.
Na nave do sonho
A flor de Adriano.
Ou essa ou aquela
Quando brilha a sua cor,
Trazem às crianças
Os anúncios do amor.
*Este poema infantil pertence ao livro Tiquinho de Ternura,
que integra a Coleção O Menino Poeta, formada com mais
quatro livros: Existe Bicho Bobo? Poesia de Calça Curta,
Responda Certo, Se For Esperto, A Poesia É Um Mar, Venha
Comigo Navegar, publicação da EDITUS, editora da UESC.
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O SABIDO GRILO CRICRILO, IMBATÍVEL NO SALTO E NO TRILO
Cyro de Mattos
Me chamo Cricrilo,
Sou um grilo falante,
Invencível no salto,
O melhor de todos
Quando estou trilando
Em dia inspirado.
Sei que é um risco
Ser de meu tamanho
E viver entre os grandes,
Deus quis assim,
Eu não me queixo.
O que é que adianta
Ser grande por fora
E triste por dentro?
Coisas más que fazem
Com a mãe natureza,
Não consigo entender.
Como o arco-íris
Lamento, fico triste
Quando vejo o rio
Descer sem as águas
Claras de antigamente.
Dói quando vejo
Toda essa judiação
Com o pobre coitado.
Ele não sabe o que fazer
Para limpar a sujeira
Que despejam nele,
Matando seus peixes
De dia e de noite.
(Trechos de um poema infantil, longo,
com os falares de um grilo sábio
e inconformado com as coisas ruins
que fazem com a natureza que nos
cumpre zelar para melhor viver)