Produção Literaria

OS OPOSTOS REALMENTE SE ATRAEM? Raquel Rocha

Por Raquel Rocha*

Sabe aquele ditado que diz que os opostos se atraem? Esse é um conceito antigo, muito difundido culturalmente através da literatura, do cinema e da televisão. Mas seria verdade que os opostos se atraem?

Se observarmos bem, desde quando a humanidade existe, as pessoas procuram se agrupar com seus semelhantes. A explicação para isso seria que pessoas parecidas conosco inspiram mais confiança. O fato é que as pessoas costumam se apaixonar por outras com nível intelectual, moral, social, religiosos e políticos semelhantes.

A busca pelo conforto do semelhante é tão genuína que engloba até as características físicas. Uma pesquisa da New Scientist (2002) apresentou rapidamente uma série de imagens de rostos desconhecidos para os participantes. Dentre essas imagens estava uma foto do próprio participante manipulada com características do sexo oposto. E pasmem: esta imagem era considerada a mais atraente para os participantes. Esta pesquisa corrobora com o pressuposto psicanalítico formulado há mais de 100 anos, quando Freud desenvolveu a teoria do Complexo de Édipo revelando que nos apaixonamos pelas pessoas que têm características que nossos pais tinham em nossa infância, portanto características que nos são próprias.

Muito mais que a aparência, buscamos valores parecidos com os nossos. Uma outra pesquisa das Universidades do Kansas e do Wellesley analisou diversos casais e os pontos de vista de cada um dos parceiros, comprovando que eles possuíam gostos e traços de personalidade parecidos. O resultado demonstrou que as relações mais duradouras e com maior grau de intimidade eram justamente aquelas em que os participantes eram parecidos. “A similaridade é muito útil nesse contexto, e pessoas são atraídas por isso na maior parte do tempo”, afirma Chris Crandall, co-autor da pesquisa.

Se o ditado “os opostos se atraem” têm se revelado um mito nos estudos, um outro ditado faz total sentido nesta análise, o de que “toda regra tem exceção”. É claro que temos milhares de casais de pessoas que são diferentes, que pensam diferentes e estão juntos. É preciso e possível lidar com as diferenças.

No entanto, o mais comum é nos apaixonarmos por pessoas semelhantes a nós. Buscamos alguém parecido porque precisamos de alguém para compartilhar nossos medos, nossas indignações, nossas angústias, nosso hobbies, nossos planos, nossos sonhos, nossas paixões,  buscamos alguém para compartilhar aquilo que admiramos, para compartilhar nosso eu, alguém para rir junto e também chorar junto. Desejamos alguém que sabe aquela palavra que nos escapa, para completar nossas frases, para conversar através do olhar e sentir que somos compreendidos. Buscamos cumplicidade. Cumplicidade nas atividades, nas conversas, no ato de fazer amor.

O conceito de alma gêmea pressupõe “pessoas que combinam muito”, “pessoas que possuem afinidades”. Esta afinidade pode estar relacionada com “a similaridade, o amor, romance,  intimidade, sexualidade, espiritualidade, compatibilidade e confiança.” Você pode não acredita em almas gêmeas mas, ao que parece, a ciência tem demonstrado que seu conceito se aproxima da realidade. Pessoas semelhantes se reconhecem e ficam juntos. No fundo talvez buscamos alguém como a gente para sentirmos que somos compreendidos.

No filme Before Sunrise, de  Richard Linklater, Celine diz a Jesse: Se há algum tipo de magia no mundo, ela deve estar na tentativa de entender e compartilhar algo com alguém. Sei que é praticamente impossível conseguir. Mas e daí? A resposta deve estar na tentativa.”

Raquel Rocha é Psicóloga, Psicanalista, Especialista em Saúde Mental, Especialista em Terapia Familiar, Especialista em Neuropsicologia. Também é graduada nas áreas de Comunicação Rádio e Tv e Ciências Econômicas. Membro da Academia de Letras de Itabuna- ALITA.

 

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SONETOS DA MÃE AUSENTE- Cyro de Mattos

 

A casa era pequena, mas em tudo
os dias tinham tuas mãos zelosas.
Colocavas nos vasos aquelas  rosas,
como sonho na manhã perfumando,

esbanjavam pelos ares ternura.
Davam vida à máquina de costura
tuas pernas ativas. Os bordados,
beleza tecida, sempre lembrados.

Como o mundo de Deus era grandão.
Dizias que primeiro a obrigação,
depois, filho, é que vem a diversão.

Só de lembrar me dão água na boca
teus doces. Cativando com açúcar
das mãos divinas as amargas nunca.

II
A casa toda alegre, a manhã sente
tua voz comovendo desde cedo,
os afazeres no ar iluminado
por teu jeito de torná-la cantante.

No quintal do vizinho passarinhos
faziam o coro com outros cantos.
Não sei qual dos cantos era o mais lindo,
o teu com o filho contente, sorrindo

ou o deles na festa, entre tantos,
a manhã pura bicavam, afoitos.
Como se fossem hoje os teus gestos

ainda estão nítidos dentro de mim
ligados num sonho que não tinha fim.
Tua voz, mãe, não ouço, teve um fim.

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A DOR DA SAUDADE- Marcos Bandeira

O tempo passa inclemente,

O dia de sua partida, não se distancia,

A dor que me invade, me angustia

E você permanece inerte, indiferente.

Diga-me, por favor, aonde está agora?

Seu sorriso, seus problemas e seus sonhos?

Esperançoso, penso ainda em sua volta

Mas sei que não virá… E logo choro.

Sem você, a vida perdeu muito de sua graça

A dor de sua ausência fere e me estilhaça,

E o tempo, indiferente, simplesmente passa…

Algo na rua ou no infinito me lembra você,

As lágrimas denunciam a saudade incontida,

E resgatam lembranças que eu gosto de ter.

Marcos Bandeira

19.02.2000

(Pouco mais de dois meses depois da morte de seu querido irmão, Marcello Bandeira).

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DE DRUMMOND PARA CYRO DE MATTOS

UM CONTISTA BRASILEIRO

Com Os Brabos (1979) , Cyro de Mattos venceu por unanimidade o Prêmio Nacional de Contos e Novela da Academia Brasileira de Letras. Comissão julgadora: Alceu Amoroso Lima (relator), José Cândido de Carvalho, Adonias Filho, Afonso Arinos, Herberto Sales e Bernardo Elis. Autor de 54 livros, de diversos gêneros, com Os Recuados, contos, foi premiado com o Jabuti em 1988 (Menção Honrosa). Ficou entre os quatro finalistas do Concurso Internacional da Revista Plural, no México, com o conto “Coronel,  Cacaueiro e Travessia”, concorrendo com mais de 600 autores da América, Europa, África e Ásia. Premiado ainda pela Academia Pernambucana de Letras (duas vezes), União Brasileira de Escritores (duas vezes) e no Concurso Nacional Jorge Amado do IV Centenário de Ilhéus.

No gênero conto   tem nove livros publicados. Seus contos participam de antologias internacionais, como “Ladainha nas Pedras”, inclusa em Espelho da América Latina, publicada na Dinamarca, organizada por Peter  Poulsen e Uffe Harder, na qual figuram Jorge Luís Borges, Julio Cortázar, Juan Rulfo,  Alejo Carpentier, José Revueltas, Augusto Roa Bastos, Juan Carlos Oneti, Clarice Lispector, Mário de Andrade e Aníbal Machado, dentre outros. Seu conto  “O Velho e o Velho Rio” figura na antologia Ao Sul do Rio Grande, publicada na Rússia, ao lado de Rosário Castellanos, Julio Cortázar e Mário  Benedetti, e na Modernos Contistas do Brasil, de Carl Heupel, Alemanha, na qual estão os contistas Rubem Fonseca, Dalton Trevisan, Luís Vilela, Ricardo Ramos, José J. Veiga, Aníbal Machado, Mário de Andrade, Sônia Coutinho, Adonias Filho e  Hélio Pólvora, dentre outros. Além disso, Cyro organizou as antologias Contos Brasileiros de Futebol, O Conto em 25 Baianos e Histórias dos Mares da Bahia.

                        

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O MENINO JORGE AMADO- Cyro de Mattos

           Nos livros de ficção desse escritor popular percebe-se que o narrador de linguagem fluente dá voz aos humilhados e ofendidos, ao povo do candomblé, às gentes do cais, prostitutas, seresteiros, pescadores, operários, poetas populares, meninos de rua. Com esse elenco de tipos populares fica nítido que para ele é mais importante o conteúdo na trama, muitas vezes interligada com humor, do que a palavra com a qual a vida é recriada.

           Íntimo dos poetas populares, sua inspiração é dotada de um lastro humanitário que se expressa através da esperança na mensagem, da liberdade como o sentimento mais valoroso e o amor o mais forte.  A   solidariedade se faz presente na sua obra, na escrita irreverente que se transmite fascinante, tantas vezes sensual, mesclada com suas ondas de indignação.

           Aqueles que o conheceram sabem que ele tinha a amizade como uma coisa nata. Dava-se conta por isso que existia ainda o homem simples como o artista, embora fosse comum encontrar na vida   o artista vaidoso como o homem.  O compromisso que sempre teve com as letras foi o da verdade, honestidade, promoção do reconhecimento do valor no outro e a defesa da liberdade de expressão. Daí ser reconhecido por justeza como um legítimo romancista da vida, um poeta da prosa que encanta.

           Detentor das mais belas páginas de nossas letras. De O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, retira-se essa passagem, com sabor e saber que resultam de um criador que adota o simbolismo do amor como o sentimento mais poderoso no caráter do homem e da mulher. Ele alude que o mundo só tem graça e encanto quando se vive nele fora das prisões.

O mundo só vai prestar

Para nele se viver

No dia em que a gente ver

Um gato maltês casar

Com uma alegre andorinha

Saindo os dois a voar

O noivo e sua noivinha

Dom Gato e Dona Andorinha.

           Qualquer escritor que se preze gostaria de assinar uma joia de versos como essa, simbolizando o amor que a vida deve ter sem preconceitos e dominações. Uma joia singela com brilho de verdade.  O amor como eterna armadura sustentável na leveza do ser, que não se cala e diz que a vida é bela, muita gente quer vê-la  com desprezo,  sem dar o valor que ela merece.

           Tal como acontece com O gato Malhado e a andorinha Sinhá, depois que se acaba a leitura de A bola e o goleiro (1984), história escrita para o público infantil, como para o adulto que ainda não deixou de ser criança, certamente dirá, “uma pena, que um inventor de ingenuidades, com alma tão infantil, leve, cheia de humor, dotada de surpresas e sustos coloridos, que cativam e encantam, não tenha se dedicado mais à escrita de livros para os leitores pequenos.”

            Certo que a infância tenha recebido tratamento importante ao longo da construção de seu legado romanesco para o leitor crítico. Mas o que se lamenta, repito, é que no olhar para o mundo com visões líricas e reflexões críticas para o leitor generalizado, esse consagrado autor de uma soberba literatura adulta, rica de imaginação e sentimento popular do mundo, não fizesse de seu ofício também um recanto dedicado ao leitor infantil, amante da boa prosa e do verso engraçado, e não se deixasse ficar como um bissexto autor para crianças.

              Essas considerações agora vêm a propósito de O goleiro e a bola uma beleza de texto infantil, que tem o futebol, uma das paixões do povo brasileiro, como tema.  Com maestria fina, sutilezas e manhas, Jorge Amado escreve a história de amor entre a bola Fura-Redes e o goleiro Bilô-Bilô Cerca-Frango, que não se cansava de tomar gol, por razões óbvias era considerado o pior do mundo na posição. Até que um dia aconteceu o inesperado. Amor à primeira vista entre Fura-Redes, o pavor dos goleiros, e Bilô-Bilô Mão Podre.

           Depois chegou o dia de o Rei de Futebol fazer o gol milésimo da sua carreira, marca que jamais seria alcançada por qualquer goleador. Todas as bolas se ofereceram para ter a honra de ser a vítima do gol milésimo do Rei de Futebol. E o que aconteceu?

           Mudou Cerca-Frango de posição, fugindo rápido para o outro lado. Fura-Redes fez o mesmo, a buscá-lo. Assim ficaram os dois durante alguns minutos, um tempo enorme, correndo em frente às traves, de uma à outra, até que, desesperado, Bilô-Bilô disparou campo afora deixando o arco à disposição da bola. Mas Fura-Redes partiu atrás de seu goleiro e o perseguiu até que o alcançou diante do arco do adversário e em seu peito se aninhou redondinha e amorosa.

         Como terminou essa história futebolística entre a Bola Fura-Redes e o goleiro Cerca-Frango, que foi o pior e o melhor de todos?

          Se casaram e viveram felizes para sempre.

Referência

AMADO, Jorge. O gato Malhado e a andorinha Sinhá, Record, Rio de Janeiro, 1976.

              ——– A bola e a rede, Record, Rio de Janeiro, 1984.

  ………..

*Cyro de Mattos é autor de 80 livros, de diversos gêneros. É também publicado em Portugal, Itália, França, Espanha, Alemanha, Dinamarca, Rússia e Estados Unidos. Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México.

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O LEITE DE MALU- Marcos Bandeira

O sol ainda brilhava no crepúsculo, quando Luan resolveu ligar para sua mãe Margarida, funcionária pública, que estava saindo do trabalho na prefeitura municipal de Albedaran. O motivo do telefonema era para que sua mãe comprasse o leite de Malu que havia acabado. Luan estava em casa sozinho tomando conta de Malu, sua filha com apenas dois anos de idade, e também se recuperava de uma fratura na tíbia, provocada por uma disputa de bola num jogo de futebol que ainda o obrigava a andar com o auxílio de uma muleta.

O dia escurecia rapidamente e um vento frio penetrava no quarto de Luan, situado no 1º andar de um prédio antigo, com uma garagem na parte térrea, e ao lado uma escada que levava ao 1º pavimento, onde Luan morava com a mãe, a avó e uma filha, fruto de um romance passageiro.

Luan era um jovem branco, com estatura mediana, vinte e dois anos de idade, estudava Direito e trabalhava como publicitário na agência “Midia em Ação” situada no centro da cidade. Sua mãe, Margarida, era divorciada, trabalhava na prefeitura havia mais de vinte e cinco anos e possuía cinquenta anos de idade. Ela mantinha uma relação muito afetiva com Luan, seu único filho. A avó de Luan, com os cabelos totalmente grisalhos, já tinha setenta anos de idade e adorava o neto, com quem sempre conversava e contava histórias. Agora, com a chegada de Malu, todas as atenções se voltaram  para a pequena.

O telefone continuava chamando. A campainha tocava, chamava, chamava, mas sua mãe não atendia. Certamente estava no silencioso. Depois de sucessivas chamadas Luan acabou desistindo..

Esse momento foi crucial, pois se a mãe de Luan tivesse atendido ao telefone, certamente os fatos se desenrolariam de forma diferente. Luan pensava: “poxa, por que mãe não atendeu? Daqui a pouco vai fechar o mercado e Malu não pode ficar sem leite”. Luan estava angustiado, pois estava sozinho em casa com sua filha e sua avó também havia saído. A noite já se precipitava e sua mãe não chegava.

Decorridas mais de duas horas, Margarida, visivelmente cansada, chegou em casa e pegou sua neta Malu no colo. Nesse momento, Luan se dirigiu a ela e perguntou: o que foi que houve que a senhora não atendeu ao meu chamado de telefone? Liguei várias vezes. Era para comprar o leite de Malu!

Margarida respondeu: Oh, meu filho me perdoe! Deixei o celular no silencioso no carro e fui fazer umas compras. Estou vendo agora que tem várias chamadas, me perdoe meu filho. Vixe, meu filho, então eu vou comprar!

Luan retrucou: de jeito nenhum! A senhora está exausta, e eu já estou bem; posso perfeitamente dirigir e ir até no Mercado Popular, aqui pertinho, comprar o leite de Malu.

Margarida não insistiu. Estava muito cansada. Havia trabalhado duramente o dia todo. De qualquer forma, o mercado fica aqui perto.  Luan pegou as chaves do carro e com o auxílio das muletas passou a descer as escadas em direção ao veículo.

Acomodou-se na poltrona do motorista e ligou a ignição, deixando as muletas na poltrona do carona. Seguiu em direção ao Supermercado Popular, que ficava situado no mesmo bairro onde morava, Palestina.

Eram 19h45 e o Supermercado Popular já estava com as portas semicerradas. Luan taxiava nas imediações para estacionar o veículo. Nesse mesmo momento, uma viatura, com dois policiais militares trafegava pelo bairro Palestina, quando recebeu uma informação de que naquelas imediações havia dois elementos suspeitos num veículo HB20 branco, coincidentemente, a mesma marca e cor do veículo guiado por Luan.

Na vida acontece coisas, que muitas vezes encontram alguma explicação num detalhe, ou numa terrível coincidência, quando o vento do destino muda completamente a vida das pessoas. A vida de Luan estava marcada pelo destino. Ali, naquele momento, tudo poderia mudar… e mudou!

A viatura se aproxima do Mercado Popular e os dois policiais observam um veículo Hb20 parado em frente ao estabelecimento, que já estava fechando. Já eram 20h a noite estava fria. A rua, iluminada apenas por um poste distante cerca de dez metros, trazia pouca iluminação para o local, que estava quase deserto, à exceção de alguns transeuntes que passavam indo para suas casas.

Luan saiu do Mercado, caminhando com o auxílio das muletas e segurando o leite de Malu, dirigiu-se ao seu veículo, quando foi abordado pelo policial Antônio Presépio, alto, negro, com quarenta e dois anos de idade, conhecido matador, frio e calculista, que já contava à época mais de trinta mortes nas costas, entretanto, nunca fora punido. Diz-se que tem um coronel padrinho que o protege. As famílias das vítimas também, com medo de morrer, acabavam silenciando.

Antônio Presépio abordou Luan e com a arma na mão perguntou: cadê o seu comparsa? Vamos, rapaz, diga logo, senão você vai morrer!

Luan, apoiando-se nas muletas, responde: eu não tenho nenhum comparsa. Eu vim aqui para comprar o leite de minha filha. E mostrava a lata de leite.

Antônio Presépio, bastante irado, ordenou: deixe de conversa mole, rapaz. Entre aí no veículo e me dê as chaves. Luan entregou as chaves e ficou do lado do carona. Antônio Presépio dirigiu o veículo, enquanto o outro colega, Luiz, dirigia a viatura. Os veículos foram em direção à Ponte da Ilha, distrito rural, distante mais de 6 km da sede, com apenas uma ruela no meio do matagal na escuridão daquela noite fria.

Luan não estava entendendo nada, e pensava consigo mesmo:” esses caras vão me matar”!

Voltou a falar para Presépio: eu não fiz nada. Por que vocês estão me trazendo para aqui? Não deveria ser para a Delegacia?

Antônio Presépio, então falou: “Vamos ter uma conversinha primeiro!”

Os veículos pararam, numa parte da estrada, distante um pouco do povoado, e Antônio Presépio arrancou violentamente Luan do veículo e o empurrou com muleta e tudo no chão, dizendo em alto som: “agora, você vai me dizer quem estava com você no seu carro. Vamos, rapaz, diga logo, senão você vai morrer aqui!

Luan voltou a dizer que o veículo era de sua mãe e que estava sozinho no carro, mas Antônio Presépio não acreditava no que ele falava e passou a esmurrar Luan, que pulava com um pé só, segurando a muleta, caindo no chão novamente.

Antônio Presépio tentava puxar as unhas de Luan com um alicate. Luan começou a chorar de dor, quando recebeu um golpe no pescoço e caiu novamente no chão.

Antônio Presépio continuava a torturar Luan, Luiz Santos, seu colega, manuseava o celular, quando, de repente, recebeu uma mensagem de Whats App informando sobre a abordagem que acontecera em frente ao supermercado Popular.

Enquanto isso acontecia na Ponte da Ilha, um transeunte que passava pela rua do Supermercado Popular, no momento em que Luan era abordado pelos policiais, passou na casa de Luan e avisou à mãe dele: “A polícia prendeu Luan em frente ao Supermercado Popular. Acho que o levou para a Delegacia”.

Margarida, bastante nervosa, entrou em contato com sua amiga Cecília, que é investigadora policial e trabalha na Polícia Civil, informando sobre a prisão de Luan. Inicialmente achou que fosse porque Luan estava sem a carteira de habilitação, já que ele pegou o veículo apenas para comprar o leite de Malu. Imediatamente, pegou um uber e foi para a Delegacia de Albedaran, enquanto Cecília colocava uma mensagem pelo Whats App no grupo de policiais militares comunicando a prisão de Luan. Foi essa a mensagem que Luiz Santos, parceiro de Antônio Presépio, recebeu em seu celular.

Antônio Presépio se esmerava nas espécies de torturas cometidas contra Luan, que chorava copiosamente, apoiando-se nas muletas. No local, apenas o barulho provocado pelas rãs e a escuridão sem fim. Antônio Presépio pegou uma pistola 40 e mandou Luan segurá-la. Luan, com muito medo e chorando, segurou a pistola. Neste momento, Luan pensou: “Eles vão me matar. Agora, tenho certeza. Depois vão justificar que eu estava portando uma arma e resisti à prisão”.

Nesse momento, Luiz Santos chamou Antônio Presépio e disse, mostrando o celular: “olhe aqui. Já sabem que estamos com o garoto. Temos que levá-lo para a Delegacia. Agora, temos que encontrar uma justificativa. Antônio Presépio se dirigiu até a viatura e, na parte de trás do veículo, dentro de uma sacola, pegou um pacote de cocaína, com uma embalagem vermelha com alguns detalhes, que havia sido apreendida dois dias antes, no centro de Albedaran. Havia várias sacos de cocaína, mas pegou apenas um deles. Saiu da viatura e foi direto para o veículo de Luan onde plantou a droga.

Antônio Presépio tinha o modus operandi já conhecido, de plantar drogas em veículos e imóveis de pessoas perseguidas pela Polícia. Na semana passada, ele adentrou numa edifício no centro da cidade, onde foi surpreendido e filmado plantando drogas na casa do suspeito, que fora preso mas logo liberado pelo juiz, após ter acesso a essas imagens. Apesar disso, ele continuava se escudando na farda da Polícia e protegido por pessoas poderosas da própria Polícia, onde tinha licença para matar. Estava certo da impunidade e assim, continuava sua caminhada criminosa, maculando a boa imagem da briosa corporação.

Antônio Presépio pegou Luan pela gola da camisa e violentamente o jogou no banco de trás da viatura, e voltou-se para o veículo de Luan, guiando-o em direção à Delegacia.

Margarida estava muito nervosa e a toda hora olhava o relógio. Já estava na Delegacia há mais de uma hora e nada de notícia de seu filho. À medida que o tempo passava, mais aumentava a sua apreensão. Finalmente, estava chegando uma viatura. Margarida viu Luan no banco de trás, algemado. Logo atrás da viatura chegava também o seu veículo, guiado por outro policial.

Na Delegacia, Antônio Presépio apresentou Luan e a droga – um saco de cocaína – ao Delegado, dizendo: É um flagrante de tráfico de drogas. Pegamos essa droga no veículo dele, Dra.

Luan, chorava e disse: Não é verdade! Essa droga não é minha. Eu não mexo com isso! Antônio Presépio retrucou: cale a boca, vagabundo, Você está preso!

Margarida tentou entrar na sala da Delegacia para ver seu filho! O Delegado permitiu e ela procurou saber o que havia acontecido. Luan, apenas chorava e dizia que não fez nada.

Não houve jeito. Luan foi preso e flagrado por tráfico de droga. Após ser ouvido, foi encaminhado para o Presídio de Itabuna. A mídia, principalmente, a sensacionalista, proclamava aos quatros ventos: Polícia prende o estudante de Direito, Luan, traficante de drogas. O traficante estava portando um kg de cocaína e foi conduzido para o Presidio de Itabuna.

E assim, o destino se encarregou de mudar a vida de Luan. Um jovem estudante de Direito, que trabalhava com publicidade, e que nunca havia se envolvido com drogas ou qualquer crime. Seu único hobby era jogar futebol. Foi jogando futebol que fraturou a tíbia, de cuja lesão estava se recuperando. Agora, o estudante, trabalhador e pai de uma menina de dois anos, era traficante e estava preso! A segunda notícia não importa, ninguém lembra. A pecha de um jovem envolvido com a droga é que fica.

Luan já estava preso havia três meses e não conseguia recuperar sua liberdade. A mãe de Luan então contratou um advogado experiente, Dr. Filgueiras, criminalista, cuja primeira atitude foi visitar o cliente no Presídio. Lá chegando, depois de passar pela fiscalização dos agentes, dirigiu-se ao parlatório, quando conheceu e conversou com Luan. Este disse, com lágrimas nos olhos: “Doutor, acredite em mim. Sou inocente, estou limpo. Eles plantaram essa droga no carro de minha mãe. Tudo não passou de 10 minutos, quando saí de casa e fui abordado por esses policiais.

Dr. Filgueiras respondeu: Eu acredito em você. É por isso que estou aqui. Agora, eu quero que você me fale tudo o que aconteceu.

Luan passou a contar com detalhes toda a história, até que o Dr. Filgueiras se desse por satisfeito. Já ia se retirar, quando Luan disse: “Espere um pouco, Dr. Por favor me tire daqui. Não é só por mim não. É por minha mãe e minha avó, que sofrem muito por me verem aqui, além de passar por muitas humilhações. Por favor, Dr. me ajude! Sensibilizado com a ponderação do garoto, disse o seguinte: Vou lutar por você, vamos ver o que podemos fazer. Um abraço.

Dr. Filgueiras ingressou com um pedido de revogação de preventiva e juntou provas muito fortes, inclusive provou que a droga plantada possuía o mesmo invólucro das drogas que foram apreendidas na casa de um traficante pelo mesmo Antônio Presépio, inclusive com as imagens de outra abordagem feita pelo referido policial, quando foi filmado plantando a droga no apartamento de um perseguido pela Polícia.

Próximo do Natal, ainda na rua, Dr.Filgueiras recebeu a notícia de que o juiz havia revogado a prisão de Luan. No escritório de Dr. Filgueiras, todos: advogado, estagiário e funcionários, estavam vibrando com a soltura do rapaz, pois se tratava de celebrar a vitória de um inocente.

Dias felizes. Margarida apareceu com Luan para conversar com Dr. Filgueiras. Luan narrou toda a história. Disse que voltaria à sua vida normal, retornando à Faculdade de Direito. O Dr. Filgueiras recomendou cuidados, no sentido de evitar o máximo de sair de casa. E assim aconteceu, Luan voltou para o aconchego de seu lar, abraçando a sua filhinha Malu, que já estava sentindo falta do pai. Vida que agora, seguia normal. E uma injustiça reparada!

O tempo passou e Luan estava muito empolgado com o curso de Direito, onde tirava boas notas e era sempre elogiado pelos professores. Transcorrido quase quatro meses depois que saiu do cárcere, numa noite de abril, Luan pegou sua moto e foi para a Faculdade estudar. Nesse dia ele iria fazer uma avaliação. E assim o fez. O professor despediu-se dele que foi para o pátio da faculdade e ligou sua moto para retornar à sua casa.

Os ventos fortes do destino ainda não haviam se acalmado. Luan, no instante em que ligou a moto de volta para casa não sabia o que lhe esperava. Só não via a hora de chegar em casa, pegar Malu no colo e depois dormir a seu lado. A moto saiu da faculdade. A noite já estava mais fria, pois caía uma chuva fina. Uma moto, a escuridão, o Terminal Rodoviário e um tiro no escuro. A moto se desgovernou e caiu. Havia um corpo estendido no chão. Luan no chão enquanto o sangue escorria. As pessoas se aglomeravam em torno do corpo que agonizava. Alguns tiravam fotos. Vida interrompida!

Adeus Malu, adeus sonhos dourados, adeus o projeto de ser advogado um dia, adeus minha mãe, adeus minha avó! Adeus vida cruel e estúpida! Fui engolido pelo destino. Antônio Presépio realizou o seu desejo de me expulsar deste mundo e aumentou ainda mais o número de suas vítimas!

O celular encontrado com Luan constavam mensagens dando conta de que Presépio estava atrás dele. Ele havia passado uma mensagem para o pai, que era separado da mãe e morava no Rio de Janeiro, informando isso e pediu para que o pai não informasse à mãe para não preocupá-la. Ele sabia que Presépio estava lhe perseguindo, mas não acreditava que ele fosse capaz de lhe matar.

Infelizmente, nada poderia ser feito. A mãe procurou o Ministério Público para denunciar, mas a investigação não evoluiu. Presépio continua praticando seus crimes contra pessoas inocentes, escudado e protegido pela sua farda! Vida que segue… e vidas que continuam sendo interrompidas!

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QUEREMOS UM MUNDO SUSTENTÁVEL!- Silvio Porto de Oliveira.

“Não posso fazer todo o bem que o planeta precisa, mas o planeta precisa de todo bem que eu puder fazer”

Porque a Sustentabilidade é pauta prioritária do mundo corporativo do século XXI.

Não poderia deixar de opinar sobre algumas questões levantadas sobre a importância de uma agência cooperativa financeira ser sustentável na obra e no conceito para os seus associados, colaboradores e a comunidade.

Como Presidente do Conselho de Administração da Sicredi Sul da Bahia, tenho que olhar a estratégia e inovação, finanças, governança e jurídico, recursos humanos e riscos. Não pode faltar na minha agenda de gestor do século XXI , informações sobre sustentabilidade, trazer fatos históricos e movimentos atuais de investidores, reguladores, bancos, bolsas e empresas, além de enfatizar a importância da liderança – CEO e conselhos – para o avanço desta agenda.

Sustentabilidade tem que ser um tema transversal e interconectado, ao econômico, desenvolvimento,social e governança. No Fórum Econômico Mundial de Davos, o termo mais ouvido foi “capitalismo de stakeholder (parte interessada)” enquanto os cinco principais riscos em termos de probabilidade, pela primeira vez na história do Relatório de Riscos Globais, publicado pelo fórum, foram ambientais.

É uma pauta ainda delicada, pois a mentalidade de muitos gestores, ainda não foram além das questões econômico-financeiros palpáveis e a sustentabilidade ainda não reconhecida como agregadora de valor.

Não poderíamos deixar fora da pauta a pandemia e seus impactos, o que trouxe uma troca interessante sobre o “velho e o novo normal”. Um valioso output desta dinâmica foi o entendimento de que sustentabilidade é assunto de todas as áreas da empresa e precisa estar na pauta do conselho. O mundo corporativo está diante de um enorme desafio, a solução dos graves problemas globais não pode ser deixada exclusivamente para o poder público. As empresas precisam estar mais atentas às necessidades da sociedade e não apenas aos interesses fiduciários de seus acionistas.

O entendimento da Sustentabilidade também transita pela saúde populacional. A saúde em qualquer parte do planeta está associada ao acesso a serviços básicos como água tratada, coleta e tratamento de esgoto.

O valor da saúde é inquestionável e que enfermidades evitáveis como as epidemias de dengue, zica e atualmente Covid-19 estão associadas à forma como se interage com o meio ambiente. A governança corporativa propõe o correto balanceamento do atendimento às partes envolvidas e não justifica o descaso com que os administradores das empresas de saneamento atendem às cidades. O desafio que esta pandemia nos deixa é a necessidade de uma “consciência sanitária”.

Nos médicos temos muito que aprender com os veterinários que sabem fazer uma política preventiva e de isolamento na pecuária de controle das enfermidades como febre aftosa e com os agrônomos que sabem muito bem a importância da proteção das florestas e como o desmatamento prejudica a lavoura com pragas, e a utilização correta de defensivos agrícolas evitando os agrotóxicos.

No campo financeiro não podemos financiar no crédito rural ou empresarial, quem compactua com o trabalho escravo, trabalho infantil, exploração ilegal das florestas e a falta de compromisso ambiental. Além de mobilizar, cada vez mais, a sociedade para pressionar as empresas a ganhar luz com a sustentabilidade.

Os princípios do chamado capitalismo consciente, em que os negócios podem contribuir para solucionar os principais desafios sociais, econômicos e ambientais da sociedade, começam a produzir um modelo econômico mais inclusivo, equitativo e regenerativo , com ações e mudanças sistêmicas  que beneficiarão as pessoas e o planeta.

 A visão macro da sustentabilidade se estruturam em três pilares inter-dependentes:

As pessoas , empresa e planeta.

Geração de empregos, satisfação dos clientes, equidade de gêneros, redução de impactos ambientais, estímulo à energia renovável e redução da emissão de carbono e resíduos.

No Brasil, que tem a maior riqueza e variedade de vida em todos os ecosistemas existentes , precisam ser preservadas.

Temos a maior biodiversidade do mundo e nossos seis biomas: Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado, Amazônia, Pantanal e Pampas, são importantes para o equilíbrio do planeta.

Em tempos de Governança Ambiental,Social e Corporativa nossas empresas precisam colaborar para que a nossa biodiversidade seja valorizada e preservada.

Todas as empresas têm o papel de integrar os biomas nos meios de produção em todos os mercados.

Nosso grande desafio!

 Esta nascendo junto com a nova sede da Sicredi Sul da Bahia um espaço cultural.

Uma ideia para ajudar a fazer a diferença na nossa cidade e levar conhecimento e oportunidades através da arte, cultura, sustentabilidade e cooperativismo.

Vou juntar a outros projetos do Sicredi como os programas a União faz a vida, Pertencer, Crescer, Informação e Memória, cuidando do público externo nas comunidades, escolas, e também do nosso público interno, associados e colaboradores, participando de atividades nas oficinas de arte, música, fotografia, cinema, teatro, livros, poesias e pintura.

O nosso objetivo é fazer a diferença.

Somos um time nascido para superar dificuldades, movimentar a vida das pessoas, compartilhando oportunidades, dignidade, conhecimento e surpreendendo sempre buscando melhorar a vida das pessoas no lazer, cultura e vida saudável e no lado financeiro.

O nosso DNA e cuidar das pessoas e fazer sua vida muito melhor e muito, mais muito mais cooperativa.

A cooperação e a nossa essência!

E lembrar Giles Deleuze:

“A arte é o que resiste: ela resiste à morte, a servidão, a infâmia, a vergonha”

Silvio Porto de Oliveira.

QUEREMOS UM MUNDO SUSTENTÁVEL!- Silvio Porto de Oliveira. Read More »