OS OPOSTOS REALMENTE SE ATRAEM? Raquel Rocha

Por Raquel Rocha*

Sabe aquele ditado que diz que os opostos se atraem? Esse é um conceito antigo, muito difundido culturalmente através da literatura, do cinema e da televisão. Mas seria verdade que os opostos se atraem?

Se observarmos bem, desde quando a humanidade existe, as pessoas procuram se agrupar com seus semelhantes. A explicação para isso seria que pessoas parecidas conosco inspiram mais confiança. O fato é que as pessoas costumam se apaixonar por outras com nível intelectual, moral, social, religiosos e políticos semelhantes.

A busca pelo conforto do semelhante é tão genuína que engloba até as características físicas. Uma pesquisa da New Scientist (2002) apresentou rapidamente uma série de imagens de rostos desconhecidos para os participantes. Dentre essas imagens estava uma foto do próprio participante manipulada com características do sexo oposto. E pasmem: esta imagem era considerada a mais atraente para os participantes. Esta pesquisa corrobora com o pressuposto psicanalítico formulado há mais de 100 anos, quando Freud desenvolveu a teoria do Complexo de Édipo revelando que nos apaixonamos pelas pessoas que têm características que nossos pais tinham em nossa infância, portanto características que nos são próprias.

Muito mais que a aparência, buscamos valores parecidos com os nossos. Uma outra pesquisa das Universidades do Kansas e do Wellesley analisou diversos casais e os pontos de vista de cada um dos parceiros, comprovando que eles possuíam gostos e traços de personalidade parecidos. O resultado demonstrou que as relações mais duradouras e com maior grau de intimidade eram justamente aquelas em que os participantes eram parecidos. “A similaridade é muito útil nesse contexto, e pessoas são atraídas por isso na maior parte do tempo”, afirma Chris Crandall, co-autor da pesquisa.

Se o ditado “os opostos se atraem” têm se revelado um mito nos estudos, um outro ditado faz total sentido nesta análise, o de que “toda regra tem exceção”. É claro que temos milhares de casais de pessoas que são diferentes, que pensam diferentes e estão juntos. É preciso e possível lidar com as diferenças.

No entanto, o mais comum é nos apaixonarmos por pessoas semelhantes a nós. Buscamos alguém parecido porque precisamos de alguém para compartilhar nossos medos, nossas indignações, nossas angústias, nosso hobbies, nossos planos, nossos sonhos, nossas paixões,  buscamos alguém para compartilhar aquilo que admiramos, para compartilhar nosso eu, alguém para rir junto e também chorar junto. Desejamos alguém que sabe aquela palavra que nos escapa, para completar nossas frases, para conversar através do olhar e sentir que somos compreendidos. Buscamos cumplicidade. Cumplicidade nas atividades, nas conversas, no ato de fazer amor.

O conceito de alma gêmea pressupõe “pessoas que combinam muito”, “pessoas que possuem afinidades”. Esta afinidade pode estar relacionada com “a similaridade, o amor, romance,  intimidade, sexualidade, espiritualidade, compatibilidade e confiança.” Você pode não acredita em almas gêmeas mas, ao que parece, a ciência tem demonstrado que seu conceito se aproxima da realidade. Pessoas semelhantes se reconhecem e ficam juntos. No fundo talvez buscamos alguém como a gente para sentirmos que somos compreendidos.

No filme Before Sunrise, de  Richard Linklater, Celine diz a Jesse: Se há algum tipo de magia no mundo, ela deve estar na tentativa de entender e compartilhar algo com alguém. Sei que é praticamente impossível conseguir. Mas e daí? A resposta deve estar na tentativa.”

Raquel Rocha é Psicóloga, Psicanalista, Especialista em Saúde Mental, Especialista em Terapia Familiar, Especialista em Neuropsicologia. Também é graduada nas áreas de Comunicação Rádio e Tv e Ciências Econômicas. Membro da Academia de Letras de Itabuna- ALITA.

 

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