Maria Vitoria

Academia de Letras de Itabuna participa de Audiência Pública na Câmara Municipal de Itabuna

A Academia de Letras de Itabuna (ALITA) participou, na manhã de sexta-feira (24/10/2025), da Audiência Pública realizada pela Câmara Municipal de Itabuna para discutir a criação do Projeto de Lei de Patrimônio Histórico, Cultural e de Tombamento do Município.

O encontro, convocado pelo vereador Clodovil Soares (PL), reuniu autoridades, professores, representantes de instituições e estudiosos da memória e da cultura grapiúna, no Plenário Raymundo Lima.

A presidente da ALITA, Raquel Rocha, representou a instituição na mesa de honra e ressaltou, em seu pronunciamento, a importância da preservação da memória coletiva e dos registros históricos da cidade. Em sua fala, lembrou os documentários que dirigiu sobre a antiga estrada férrea Ilhéus–Itabuna, sobre o bairro de Ferradas e os 100 anos de Itabuna, destacando as dificuldades encontradas na busca por arquivos e registros. “Itabuna preserva pouco da sua história, e por isso este momento é tão importante. A maior dificuldade que encontrei, ao fazer documentários sobre a cidade, foi justamente a ausência de registros. Cuidamos pouco da nossa história, e é preciso mudar isso. A preservação da memória é o que assegura o futuro de uma cidade” afirmou a presidente Raquel Rocha

Durante a audiência, o vereador Clodovil Soares destacou a relevância do tema para o desenvolvimento urbano e cultural do município, enfatizando que o patrimônio histórico é parte essencial da identidade itabunense. “Preservar e conservar a imagem da nossa cidade, forjada na opulência do cacau, nas histórias de Jorge Amado e na poesia de Cyro de Mattos, é mais do que zelar por tijolos e concreto. É um ato de profundo respeito pela nossa história urbana e social”, declarou o parlamentar.

A secretária de Infraestrutura e Urbanismo, Sônia Fontes, representando o prefeito Augusto Castro, reafirmou o compromisso da gestão municipal com a recuperação de áreas degradadas e com a valorização dos espaços públicos: “Preservar o patrimônio histórico é essencial, mas também é necessário cuidar do patrimônio que está sendo construído. Essa missão nasce do sentimento de pertencimento e do amor à cidade”, disse.

Também integrante da ALITA e diretora do Centro Cultural Teosópolis, a professora Janete Macedo teve participação de destaque na audiência. Em sua fala, ela relatou a atuação da comissão “ALITA em Ação”, criada pela Academia após a demolição do sobrado histórico de Firmino Alves. Segundo Janete, a ALITA foi a primeira instituição a se manifestar publicamente sobre o episódio, publicando uma nota de repúdio e encaminhando ao Ministério Público uma notícia de fato redigida pelo confrade Sérgio Habib. A professora também defendeu a educação patrimonial como ferramenta essencial para despertar o sentimento de pertencimento nas novas gerações: “A gente ama o que conhece. Se os jovens não conhecerem Itabuna, esse amor vira apenas um slogan. É preciso ensinar a ver, a reconhecer e a valorizar o lugar onde se vive.”

Janete apresentou ainda o trabalho do Centro Cultural Teosópolis e do grupo de estudos que vem produzindo um levantamento detalhado do patrimônio arquitetônico da cidade, alertando para o risco de demolições recorrentes de bens históricos. Exibindo imagens de casarões desaparecidos, ela lembrou que “não basta reconstruir ou criar leis; é preciso formar consciência e educar para o cuidado”.

Ao final da audiência, foi encaminhada a proposta de criação de um Marco Regulatório para a preservação e o tombamento do patrimônio histórico e cultural de Itabuna, integrando o poder público, universidades e entidades civis em um esforço conjunto pela valorização da memória local.

Participaram ainda os vereadores Ronaldão (Republicanos), Sivaldo Reis, Babá Cearense e Paulinho do Banco; os professores Antônio Balbino (UESC), Flávio Gonçalves (ANPUH-BA), Josanne Morais (AGRAL) e o ex-reitor da UESC Aurélio Macedo; além do médico Silvio Porto (Academia de Medicina de Itabuna), o advogado Murilo Reis (OAB Itabuna), representantes das lojas maçônicas Areópago Itabunense e Antônio da Silva Costa, o jornalista Paulo Lima, a chefe de Planejamento da FICC Bruna Setenta, professores, estudantes e convidados.

A presença da Academia de Letras de Itabuna reforça o compromisso da instituição com a preservação da memória cultural e histórica da cidade, missão que integra suas ações literárias, acadêmicas e documentais em favor da identidade grapiúna.

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DISCURSO — MEDALHA JORGE AMADO À FUNDAÇÃO DR. BALDOINO LOPES DE AZEVÊDO – Por Silvio Porto de Oliveira

Academia de Letras de Itabuna — 23 de outubro de 2025

Senhoras e senhores, confrades e confreiras, autoridades, amigos da comunidade, colaboradores e residentes do Lar dos Idosos: boa noite.

 Hoje a Academia de Letras de Itabuna abre o coração para celebrar uma obra que honra a nossa cidade com gestos diários de humanidade. Ao conceder a Medalha Jorge Amado à Fundação Dr. Baldoino Lopes de Azevêdo, a Academia reconhece um trabalho que transforma a palavra “solidariedade” em prática cotidiana — silenciosa, constante e luminosa.

A história que aqui reverenciamos começa em abril de 1988, quando a Fundação nasce voltada às crianças carentes do bairro de Fátima, pela Creche Pequeno Lar, com aulas e regime de semi-internato. Dois anos depois, em 1990, vem a Escola Estadual Dr. Aníbal Muniz Silvany, fruto de um convênio com a Secretaria de Educação do Estado da Bahia. Foram dez anos de serviço abnegado até que, diante do aumento da evasão escolar, a instituição — com sabedoria e fidelidade à sua missão — ajusta a rota.

É então que o médico e presidente da Fundação, Dr. Baldoino Lopes de Azevêdo, volta o olhar para outra fronteira de cuidado: o idoso em vulnerabilidade. Levanta apartamentos e enfermarias no conhecido Lar dos Idosos, que hoje abriga 73 pessoas em regime de internato. E faz questão de reafirmar: a Fundação não é casa de saúde; é uma instituição social — um lar que devolve pertencimento, segurança e afeto a quem mais precisa.

Essa obra nos comove porque se sustenta em dois pilares que definem a grandeza de Itabuna: trabalho e ternura. Trabalho, para manter o cuidado especializado funcionando todos os dias, sem feriado para a dignidade. Ternura, para que cada idoso seja chamado pelo nome, ouvido nas suas memórias, respeitado nas suas escolhas, amparado nas suas dores e convidado a recomeçar.

Ao evocarmos Jorge Amado — que fez do nosso chão grapiúna um território universal — lembramos que a literatura nasce do humano. E não há literatura mais alta do que salvar a dignidade de um semelhante. Nas páginas vivas da Fundação, cada quarto é uma crônica; cada gesto, um capítulo; cada sorriso restituído, um desfecho feliz que a vida insistiu em escrever.

Dr. Baldoino, receba nesta noite a gratidão de Itabuna. Na pessoa do senhor, a Academia saúda toda a equipe — dirigentes, colaboradores, voluntários e parceiros — que faz do Lar dos Idosos um abrigo de corpo e alma. O senhor nos ensina que medicina e compromisso social não se excluem: se completam. Que o bisturi da competência e o abraço da compaixão podem e devem caminhar juntos.

Por tudo isso, em nome da Academia de Letras de Itabuna, tenho a honra de conferir a Medalha Jorge Amado à Fundação Dr. Baldoino Lopes de Azevêdo, pelo conjunto de relevantes serviços prestados à nossa comunidade. Que esta medalha seja mais do que um reconhecimento: seja um abraço público da cidade aos que cuidam de seus velhos com profissionalismo e calor humano.

Que sigamos, inspirados por este exemplo, plantando árvores de cuidado em cada rua de Itabuna — porque quem cuida de gente cuida da história, e a história que cuidamos hoje é o futuro que desejamos colher.

 

Muito obrigado.

Silvio Porto de Oliveira

23/10/2025

 

 

HOMENAGEM AO DEDICADO MÉDICO

  1. BALDOINO LOPES DE AZEVÊDO

 

 

“Por sua dedicação incansável e cuidado compassivo, expressamos nossa profunda gratidão pelo compromisso em proporcionar atendimento humanizado, que tem feito a diferença na vida de idosos em situação de vulnerabilidade e de risco pessoal e social.”

 

 

Silvio Porto de Oliveira

Academia de Letras de Itabuna — 23/10/2025

 

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DISCURSO DE AGRADECIMENTO DA FUNDAÇÃO BALDOÍNO – Por Kátia Guedes de Azevedo

Boa noite a todos!

Quero cumprimentar a todos os presentes; autoridades, representantes da Academia de Letras de Itabuna, presidente, diretores, voluntários e demais convidados.

É com imensa gratidão e alegria que me coloco hoje para falar em nome de todos os que foram tocados pela nobre missão da Fundação Dr. Baldoino. Em nome do Instituidor, Baldoino Lopes de Azevedo, creche, diretores, conselheiros, voluntários, e crianças e principalmente os idosos, que são a razão de tudo isso.

Há quase 40 anos, a Fundação Baldoíno tem sido um farol de esperança e dignidade para inúmeras famílias. Em abril de 1985 começou a atuar com crianças, criando então a Creche Pequeno Lar, passado algum tempo depois a ter a parceria do Estado, na Escola Estadual Dr. Anibal Muniz Silvany, homenagem feita a seu orientador na anatomia patológica. Sentindo a necessidade de retribuir o cuidado que recebeu ao ir estudar em Salvador, veio a criar o abrigo Lar dos Idosos, hoje denominada ILPI. A Fundação também prestou auxílio a portadores de neoplasias através da Casa de Apoio, assim como aos portadores de HIV.

Hoje, mantemos em funcionamento apenas a creche Pequeno Lar (em parceria com o município) e a ILPI com 59 internos, atendendo na creche 106 crianças de 2 a 4 anos.

Na ILPI nem todos são pessoas idosos, 08 albergados têm menos de 60 anos e possuem patologias diversas.

Não se trata apenas de um espaço físico, mas de um verdadeiro Lar, onde cada pessoa é vista, ouvida e valorizada. A dedicação de cada voluntario e funcionário é prova de que a empatia e o carinho podem de fato transformar vidas.

Nossos idosos são a nossa história viva. São eles que carregam as memorias, as tradições e a sabedoria que moldaram nossa comunidade. Itabuna é um município com grande numero de idosos, em torno de 30 mil pessoas. Segundo o ultimo censo, mais de 17% da população esta inserida nos 60+. Precisamos de politicas públicas que envolvam aspectos de saúde e assistência social, com serviços oferecidos pela prefeitura e instituições especializadas.

A realidade do envelhecimento populacional no Brasil com seus desafios estruturais, também se reflete no crescente abandono e necessidade de adaptação dos serviços do município a demanda de uma população que envelhece rapidamente, exigindo ações e serviços como centros de referência em saúde e assistência em ILPI”s.

A Fundação Dr. Baldoino não apenas cuida deles, mas nos lembra da importância de honrar e respeitar essa valiosa etapa da vida.

Trabalhamos em prol de manter a dignidade e a qualidade de vida dessas pessoas. Não podemos parar, precisamos da ajuda da sociedade para continuarmos com nossas ações.

A Instituição nos inspira a olhar para o futuro com mais esperança. O que fazemos hoje para os nossos idosos, construímos para a nossa própria velhice e para os nossos filhos. Que esta homenagem sirva como um lembrete de que o verdadeiro valor de uma sociedade se mede pela forma como ela trata seus membros mais vulneráveis.

Mais uma vez nosso muito obrigada a todos.

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Projeto Videopoema Alitano 

A Academia de Letras de Itabuna (ALITA) vem desenvolvendo com entusiasmo o Projeto Videopoema Alitano, lançado em julho de 2025 com o propósito de divulgar a produção literária dos seus membros por meio da arte audiovisual.

Idealizado pela presidente Raquel Rocha, o projeto transforma textos em poesia e prosa em vídeos declamados pelos próprios autores, unindo voz, imagem e sentimento. As edições são realizadas com esmero pela estagiária Maria Vitória o que confere qualidade técnica das produções.

Até o momento, já foram publicados oito videopoemas, todos com a participação de membros da ALITA. Sã eles:

Eu Me Lembro, de Heloisa Prazeres

Os Protagonistas da História Grapiúna, de Clóvis Junior

A Gênese, de Ruy Póvoas

Era uma Caixa Tão Velha, de Margarida Fahel

Ode ao Meu Rio Cachoeira, de Sergio Habib

Ventos Gemedores, de Cyro de Mattos

Mudança e Tempo, de Tica Simões

Divino, de Sergio Sepúlveda

O projeto tem sido muito bem recebido e representa uma forma sensível e moderna de divulgar a produção literária grapiúna. “Nosso objetivo é dar asas à palavra e eternizar vozes por meio da sensibilidade e da tecnologia“, afirma a presidente e produtora dos vídeos, Raquel Rocha.

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ALITA inicia projeto “Documentários Alitanos” para registrar memórias dos acadêmicos

No ano de 2024, a Academia de Letras de Itabuna (ALITA) deu início ao projeto “Documentários Alitanos”, uma iniciativa que visa desenvolver uma série especial de documentários biográficos com os membros da instituição. O objetivo é preservar a memória da ALITA, valorizando a história de vida, a trajetória literária e a contribuição cultural de cada membro da instituição.

O projeto foi idealizado por Silvio Porto, diretor de comunicação da ALITA, com produção e direção geral da presidente Raquel Rocha. A direção de fotografia e edição de vídeo está a cargo de Sávio Lawinscky, e a trilha sonora original é assinada pelo músico Lima Junior.

Até o momento, já foram gravados e lançados os documentários de Ruy Póvoas, Lurdes Bertol Rocha, Cyro de Mattos e Marcos Bandeira. Nos filmes, os acadêmicos compartilham suas origens, vivências pessoais e profissionais, experiências com a literatura, a educação, a cultura regional e sua participação na história da ALITA.

A proposta é seguir com as gravações, registrando ao longo do tempo o depoimento de todos os membros da Academia, de modo a formar um acervo audiovisual duradouro, íntimo e acessível ao público. Os vídeos estão disponíveis gratuitamente no canal oficial da ALITA no YouTube.

“Mais do que homenagens, esses registros são legados. Eles inspiram, educam e aproximam o público das nossas letras e dos nossos membros”, destaca a presidente Raquel Rocha.

O projeto integra as ações comemorativas pelos 15 anos da ALITA, a serem celebrados em 2026, reafirmando o compromisso da instituição com a preservação da memória cultural e com a valorização de seus membros e da história literária grapiúna.

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QUANTO AMOR PODE CABER EM UMA DESPEDIDA? – Por Raquel Rocha

Há histórias que não se medem em números, mas em vidas tocadas. A da Escola Pio XII é uma delas, uma jornada de 56 anos iniciada pelas mãos firmes, humildes e visionárias de Eliabe Izabel de Moraes. E é também com ela que essa história se encerra.

Fundada em 1969 por Eliabe e sua irmã Eliúde, a Pio XII nasceu pequena, com apenas 36 alunos, em uma casa simples, com carteiras feitas pelo pai das duas moças. Mas desde o princípio carregava o amor à educação, o compromisso com o ser humano, a crença de que ensinar é também cuidar, acolher e transformar

Eliabe dedicou a maior parte da sua vida à escola. Educou três gerações. Viu pais voltarem com os filhos, e depois os filhos voltarem com seus filhos. Como diretora, conheceu de perto centenas de famílias. Acompanhou suas rotinas, desafios, erros e acertos. Viu esforços de mães e pais. Angústias, conquistas, momentos de crise e de superação de cada família. Orientou com firmeza e acolheu com empatia. Fez parte da vida de cada uma dessas família, como educadora, conselheira e, muitas vezes, como amiga.

Sou testemunha desse amor e dessa dedicação. Minhas duas filhas estudaram na Escola Pio XII. E, como toda mãe, eu também sentia aquele receio de deixar minhas filhas pequenas longe de mim. Mas na Pio XII eu não sofri, porque sabia que elas estavam seguras e amadas. Essa escola foi mais do que uma instituição de ensino: foi uma extensão da minha família. E sei que foi assim para muitas outras famílias também. O cuidado, a atenção, a presença constante de Eliabe criaram um ambiente de confiança e afeto que nenhuma mãe vai esquecer.

Agora, aos 56 anos de existência, a Escola Pio XII encerra seu ciclo. Não por falta de amor ou de força, mas porque sua fundadora, sem herdeiros para assumir a missão, entendeu que era hora de concluir com alegria e gratidão essa obra de uma vida inteira.

Encerrar esse CNPJ é, na verdade, eternizá-lo. A Pio XII continuará viva na memória dos que por ela passaram, nos ensinamentos deixados, nas amizades cultivadas, nas escolhas de vida que ali começaram. Eliabe encerra a jornada como começou: com coragem, serenidade e amor

Sua história não termina com o fim da escola. Ela permanece onde sempre esteve: no coração de cada aluno que aprendeu mais do que matérias, aprendeu valores. Permanece na cidade que cresceu junto com a escola. E permanece na certeza de que algumas missões são tão grandiosas que, mesmo quando se encerram, continuam a florescer por gerações.

Obrigada, Eliabe.
Por ter começado, sustentado e concluído com tanta beleza uma obra que é, ao mesmo tempo, escola e testemunho de dedicação.

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DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA 37 DA ACADEMIA DE LETRAS DE ITABUNA – ALITA – Por Jeffson Oliveira Braga

Excelentíssima Presidente, da Academia de Letras de Itabuna, confreira Raquel Rocha  

Digníssimos confrades e confreiras da Academia de Letras de Itabuna – ALITA, 

Distintos convidados,

Amigos e familiares,

Senhoras e senhores,

A Deus toda honra e glória, pelo desvelar da verdade e alcance da sua graça, hoje posso viver eternamente, condição primeira referente a imortalidade, agora, também, enquanto novo membro da ilustre Academia de Letras de Itabuna – ALITA. É com grande honra, entusiasmo e emoção, ebulição de sentimentos que encontro diante de todos vocês neste momento único. 

Instituição alçada ao título de utilidade pública do município de Itabuna, que representa espaço de preservação, valorização e divulgação da cultura, literatura e história local. Além de ser um importante fórum de diálogo entre intelectuais, escritores e amantes das letras.

Ao assumir esta posição, não apenas acolho a responsabilidade que ela implica, mas também me sinto profundamente grato pela confiança que me foi depositada. Ainda mais, para tomar assento a cadeira 37 desta nobre Academia, que tem como patrono o incomparável Luiz Gama — homem de letras, de luta e de liberdade.

Luiz Gama, tornou-se símbolo pela inquietude por não se conformar ao status quo da hegemonia intelectual brasileira da época, colocando então, enquanto resistência. Foi autodidata, jornalista, advogado e poeta. 

Libertou, com sua pena e sua coragem, mais de 500 pessoas escravizadas. Sua vida é uma devoção e convocação à justiça, ao saber e à palavra como forma de aproximação da verdade. Que honra carregar esse nome como referência de justiça, em tempos de desprezo dos pressupostos epistemológicos da ciência jurídica.

A ALITA, fundada com o propósito de valorizar a cultura literária, preservando e promovendo a produção intelectual da nossa região, é um símbolo do amor pelas letras e pela história de Itabuna. Repito, é um privilégio poder compartilhar este espaço de erudição, sabedoria e reflexão com escritores, poetas, acadêmicos e intelectuais que têm, ao longo dos anos, dedicado suas vidas ao exercício da palavra e ao fortalecimento da nossa identidade cultural.

Humildemente, me coloco à disposição desta academia para seguir o legado daqueles que vieram antes de mim e para, junto aos meus confrades e confreiras, continuar a missão de promover a literatura e as artes em nossa cidade, fortalecendo a região.

Tenho plena consciência de que o papel de um acadêmico vai além da simples produção literária; ele é também um guardião da memória, um criador de pontes entre o passado e o futuro, um facilitador do diálogo entre os diversos segmentos da sociedade. Com isso em mente, comprometo-me a colaborar de maneira ativa nas ações da ALITA, a apoiar novos projetos literários, a fomentar o debate cultural e a disseminar a literatura como um bem essencial à formação do caráter e da cidadania.

Preocupar-se com a memória, o legado, sempre foi uma das primeiras escolhas dos homens virtuosos, quando buscam deixar para posteridade seus feitos.

Desta feita, gosto muito da ilustração, do breve diálogo extraído das narrativas dos eventos da Guerra de Troia da Ilíada, do poeta grego Homero:   

– “O tessálico que vai lutar, com o senhor, ele é o maior homem que já vi. Eu não lutaria com ele”, disse o menino. 

– “Por isso que o seu nome nunca será lembrado” (Aquiles).

Perceba, este singelo diálogo entre um menino, que seguindo ordens de Agmanón considerado o rei dos reis entre os gregos, busca Aquiles para enfrentar um guerreiro da Tessália. A descrição ecoada para posteridade pela deusa que os gregos chamavam de “Mnemosyne”, Memória. 

Esta memória é o canto dos poetas, que registrava e deixava para as próximas gerações, a tradição, como: da Ilíada e da Odisséia, dos Cantos Cíprios e várias outras histórias que marcam nosso imaginário e são ilustradas por filmes como “Troia”.   

O que neste momento trago à tona, são máximas e sentimentos um pouco fora de moda. Sim, isso mesmo, ética, honra e respeito aos que antecederam, os antepassados. 

Certa feita, Bernardo de Chartres cunhou a seguinte frase: “Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes”. Apesar de ter ficado famosa e comumente atribuída a Isaac Newton, essa inscrição tem origem no século XII. Este, utilizou a metáfora dos anões estarem sobre ombros de gigantes, que expressa o significado de descobrir a verdade a partir das descobertas anteriores.

Desse modo, acompanhar os trabalhos dos integrantes da ALITA sempre foi um ideal quase romântico, hoje, realidade estando próximo de confrades e confreiras com envergadura intelectual ímpar, expertise, maestria na articulação das palavras eleva todo aquele que se debruça nos escritos de nosso presidente de honra Cyro de Mattos.  

Como Ruy Póvoas em seus escritos marcados, como deve ser, de sua relação com o divino, manifestado em cada estrofe. Dissociar a vida na sua integralidade, desprezando a manifestação cultural, é um tipo de paralaxe cognitiva, um total disparate, como diz Roger Scrutom “a cultura não é um detalhe: é a alma de um povo”. Em Ruy Póvoas, sua alma fica registrada em cada verso.

Finalmente, aos cidadãos de Itabuna, cidade que tanto admiro e que sou privilegiado por ter sido adotado como filho, dedico minha posse como um ato de compromisso com o fortalecimento da nossa identidade cultural e com o desenvolvimento da nossa produção literária. Que nossa cidade continue a florescer como um centro de cultura, sabedoria e criatividade, inspirando as futuras gerações a valorizar o poder das palavras. 

Sempre fui um entusiasta das letras, da arte e cultura. Minha trajetória literária se inicia ainda na tenra infância, aos 7 anos, quando concluir a leitura completa da Bíblia Sagrada, obra que moldou não apenas meu vocabulário, mas sobretudo minha cosmovisão. 

Desta feita, pertencer a ALITA ultrapassa não só a agremiação para produção, artística e cultural, mas, também contrabalancear, frente relativista, que busca desconstruir a alta cultura, deformando consequentemente o imaginário, afetando o desenvolvimento humano. Tenho aqui, amigos, amigas e irmãs, que pertencem a essa confraria, como a confreira Eliabe – somos da Igreja Presbiteriana do Brasil, saudosos professores Marcos Bandeira e Raimunda Assis, reforça a ideia de almejar estar em um lugar, como meu pai dizia: “meu filho, tenha amizade com pessoas melhores que você”. 

Sem saber, sua instrução se aproxima muito no que Aristóteles em sua ética, ao desenvolver seu sistema de virtudes “eudaimonia” (felicidade), entende que seria um tipo de escolha atingido pelo desenvolvimento prático – proceder. Então, aqueles que não tem autonomia suficiente para escolher o que é virtuoso, deve fazer pelo hábito. 

Neste sentido, quando as virtudes vêm por meio do hábito, a busca da felicidade requerer que se faça pela mimesis (imitação) daqueles que tem uma vida virtuosa. Logo, “ter amizade com pessoas melhores que você”, permite elevar o padrão dos comportamentos para o plano da ética, disciplina filosófica prática, que permite a orientação das decisões e ações humanas.   

Ingressar nesta Academia é como retornar ao lar — um lar de ideias, de memórias, de compromisso com a cultura itabunense. Aqui se reúnem os que não permitem que a história se perca, que a literatura se cale, que o pensamento se estanque. 

Sabemos que as letras permitem construir o imaginário coletivo, pedagogicamente instrutivo para a saída da menoridade, como diz Kant, para uma condição de autonomia, reverberada pela projeção intelectual. 

Lembrando que o silêncio é a última fronteira da liberdade. Liberdade essa que só as letras nos permitem ter

Agradeço, com humildade e gratidão:

– Aos ilustres confrades e confreiras, por sua confiança.  

– À minha família, alicerce de minha jornada.  

– Aos meus primeiros mestres e leitores, que regaram as sementes da palavra em minha alma.  

– E sobretudo a Deus, que é o autor da vida e da sabedoria.

Neste momento, firmo o compromisso de zelar por esta cadeira com dignidade, e de honrar o legado de Luiz Gama, promovendo a literatura como instrumento de liberdade, consciência e comunhão.

Que as letras que aqui semeamos germinem não apenas em livros, mas em vidas. Muito obrigado.

 

Itabuna-BA, 12 de setembro de 2025

 

 

 

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Pietro Nasseti. 4 ed. São Paulo: Martin Claret, 2008.

OF SALISBURY, Jonh. THE METALOGION: A Twelfth-Century Defense oh the Verbal and Logical Arts oh the Trivium. Editora Paul Dry Books, 2009.  

SCRUTOM, Roger. A CULTURA IMPORTA: Fé e sentimento em um mundo sitiado. São Paulo, LVM Editora, 2024.  

TROIA. Direção: Wolfgang Petersen | Roteiro David Benioff | Elenco: Brad Pitt, Erica Bana, Orlando Bloom | Título original Troy, 2004, 2h 35min.

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DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA 04 DA ACADEMIA DE LETRAS DE ITABUNA – ALITA – Por Ademilton Batista Santos

Saúdo os confrades, confreiras e convidados, com especial gratidão aos doutores Clóvis Nunes Aquino, Gláucio Mozer e Peter Devires, cuja dedicação foi essencial para que eu permanecesse entre os vivos após o infarto e o AVC que enfrentei em 2021.
Não tive medo da morte, mas sim de viver sem realizar meus sonhos. Agradeço ao meu Bom Jesus Cristo pela nova oportunidade e ao meu filho, Vitor, meu amigo e companheiro, por ter sido instrumento dessa salvação.

Durante os longos dias de recuperação, o sol que atravessava a janela reacendeu em mim o desejo de viver. O tempo, com suas voltas e silêncios, me conduziu a novas estradas e reflexões sobre o propósito de minha existência. Foi quando compreendi que “Vencer o Tempo”, título do meu primeiro livro, não era apenas uma obra, mas uma missão pessoal.

Percebi que a vida nos escolhe — não o contrário — e nos confia tarefas que revelam o sentido de nossa passagem. Assim aceitei o destino e suas veredas, permitindo que o tempo me guiasse até este momento de renascimento. Hoje, sinto-me honrado por ser empossado como membro imortal da cadeira nº 4 da ALITA, tendo como patrona a professora e escritora Helena de Borborema.

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*Ademilton Batista Santos é poeta, escritor, ator e apresentador de Rádio e Tv.  Autor do livro “Vencendo o Tempo”, “Incrível Amor”, “O Meu Céu”, entre outros. É idealizador do projeto “Poesia que Cura” e criador do programa “Café com Poesia e Cinema” na TVI. É membro efetivo da Academia de Letras de Itabuna – ALITA. E-mail: ademiltonbatista.escritor@gmail.com.

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Helena foi uma mulher de memória e sensibilidade. Em obras como Terras do Sul, Retalhos e Lafayette de Borborema – Uma vida, um ideal, registrou o espírito e a cultura da nossa gente com emoção e humanidade. Seguir sob sua inspiração é perpetuar a memória e a esperança de um povo.

Agradeço aos confrades e confreiras pelos votos que me conduziram a esta casa. Itabuna é a cidade onde renasci, onde construí minha nova família literária e de onde emergem meus sonhos.
Sinto-me profundamente grato por fazer parte desta instituição que honra as letras, a arte e o pensamento humanista.

Minha trajetória começou cedo, aos sete anos, quando ajudava meu pai, vendedor de frutas e verduras em Salvador. Aos 19, fui jogador juvenil do Bahia e, depois, bancário no Bamerindus por uma década.
Em 1989, mudei-me para Itabuna e, desde então, a cidade tem sido o palco das minhas transformações. Foi aqui que reencontrei o sentido da vida e recebi meu maior presente: meu filho Vitor Augusto.

Quando pensei que a vida havia se esgotado em mim, Vitor — então com 16 anos — me convidou para atuar em seu filme Arthur. Esse convite foi a centelha que reacendeu meu espírito criador.
Da experiência com o cinema, nasceram meus primeiros poemas e, com eles, o poeta e o escritor que hoje vos fala.
Desde então, passei a transformar a dor em arte, o tempo em poesia, a memória em eternidade.

Foi também em Itabuna que nasceu o projeto “Café com Poesia e Cinema”, que começou no rádio e, em 2018, chegou à TVI, conquistando público em diversas partes do mundo.
Agradeço à minha esposa e ao meu filho pela paciência e amor que sustentam essa caminhada.

Assumir hoje um lugar na ALITA é, para mim, coroar uma jornada de fé, superação e propósito. Nenhuma força contrária é capaz de deter o que vem da luz. Tomo posse com humildade e com o coração entregue à missão de servir à literatura e à vida. 

Que o projeto “Poesia que Cura”, agora apresentado à Academia, floresça com o apoio dos confrades e confreiras, levando conforto, arte e esperança a quem mais precisa.

Que Deus ilumine nossos caminhos.


Viva a poesia, vida longa à ALITA!
Ademilton Batista Santos

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EM COMEMORAÇÃO DOS CINQUENTA ANOS DO ILÊ AXÉ IJEXÁ – Por Gustavo Velôso

Em 18/09/2025

Itabuna é palco de histórias que se cruzam como rios invisíveis sob a terra. Entre elas, a da Comunidade Ilê Axé Ijexá, que há cinquenta anos resiste e floresce como árvore antiga, de raízes fundas e copa aberta ao céu.

Para celebrar esse marco, escolhi a simplicidade do haicai — breve como um sopro, denso como um instante que guarda séculos. São três poemas que caminham entre a rua e o terreiro, entre a cidade e o sagrado, entre o eu e o coletivo.

Que o leitor os receba como quem escuta um eco ancestral: palavras pequenas, mas carregadas de eternidade.

Haicai 1

Caminho estreito,

cidade e terreiro —  

história pulsa

Haicai 2

Na rua branca,

silêncio inteiro cabe

dentro do tambor.  

Haicai 3

Orixá fala,

sou eu e não sou eu,

axé de ser.

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