administrador

Discurso de Cyro de Mattos em Ocasião da outorga do título de Presidente de Honra da Academia de Letras de Itabuna

Discurso da Gratidão
por Cyro de Mattos

Primeiramente minha gratidão a Deus, que me deu a vida. À minha esposa Mariza, meu suporte físico e espiritual durante 50 anos de união conjugal. Aos meus três filhos e seis netos, pelo incentivo.
À confreira Jante Ruiz, que teve a ideia dessa homenagem. À confreira Raquel e ao confrade Wilson pelo apoio. Aos confrades e confreiras que aprovaram a iniciativa generosa, mas penso que outros integrantes desta instituição mereceriam a honraria.

Já vai longe o tempo em que recebi a primeira distinção relevante no meu currículo de vida literária. Foi em 1968, no Rio. Vendi meus livros de Direito do escritório de advocacia, que havia estabelecido aqui em Itabuna, com uma clientela considerável proveniente da área trabalhista, quando então resolvi migrar para o Rio onde seguiria minha carreira literária. Paralelamente, optei pelo jornalismo para sobreviver lá na cidade grande.
O Rio e São Paulo naquela época formavam o tambor cultural do Brasil. Quem quisesse ter repercussão na carreira literária devia migrar cedo para uma das duas metrópoles. Já repórter e redator do Diário de Notícias no Rio, ainda como um moço do interior baiano espantado com a cidade de muita gente e edifícios que altos sinalavam para as nuvens, sentia-me estranho aos meios e costumes da metrópole. Foi aí que tive uma boa surpresa. Conquistava em 1968 o prêmio Internacional Miguel de Cervantes, patrocinado pela Casa dos Quixotes, para autores de língua portuguesa. O conto que me deu o prêmio foi Inocentes e Selvagens. Era a primeira vez que um autor brasileiro conquistava a láurea. Não preciso dizer da alegria.
Vieram outras conquistas literárias e distinções importantes, como foram ressalvadas aqui pela confreira Raquel Rocha. Veio minha entrega pela progressão e honra de nossa instituição, conforme destacou a confreira Janete Ruiz. A última de nossas conquistas literárias, sem dúvida a mais relevante, se deu recentemente com o Prêmio Literário Casa de las Americas, para o livro Infância com Bicho e Pesadelo e Outras Histórias.
Fico pensando agora como reagiria meu pai Augusto quando soubesse que tinha um filho como autor de 65 livros pessoais publicados no Brasil, 16 no exterior, com vários prêmios de categoria, distinções outorgadas por instituições importantes. Meu pai era um homem iletrado, aprendera a ler e a escrever por esforço próprio. Tudo ele fez com trabalho, esforço e economia para que os filhos fossem gente: o mais velho, José Orlando, se tornasse um médico respeitável, o mais novo, começasse a carreira de advogado nas pegadas de um profissional competente. O irmão mais velho tornou-se um médico de alto valor aqui em Itabuna. Cirurgião elogiado durante décadas de dedicação e amor à Medicina, foi provedor da Santa Casa de Misericórdia com louvores. O filho caçula fora uma decepção para o pai, trocara o certo pelo duvidoso.
O pai disse:
– Você pretende viver nas nuvens, seguindo uma profissão que não existe, não bota comida no prato, aqui na cidade ninguém dá importância a quem vive de escrever livros. – De rosto triste na expressão inconformada concluiu: – Esse negócio de ser escritor só serve pra quem não tem juízo.
Eu observei:
– Meu pai é o que gosto, ser escritor não dá dinheiro nem conceito, reconheço, mas vou seguir o meu destino.
Perguntei-lhe se ele já havia ouvido falar no famoso romancista Jorge Amado, era uma referência para quem quisesse seguir a carreira de escritor.
Ele respondeu que já ouvira falar em Jorge Amado, mas era um caso raro, acrescentando que devemos seguir a regra e não a exceção, onde para se alcançar as metas tudo é mais difícil.
O pai não podia pensar diferente, com o saber que aprendera na escola da vida, queria o melhor para mim.
Certamente hoje, se estivesse aqui comigo, ficaria calado, entre estranho e assustado.
Seria bom, agradável, se ele dissesse:
– Filho eu não sabia que o tempo estava preparando uma boa surpresa pra mim e pra sua mãe Josefina.
O tempo, esse avantajado cavaleiro soberano. Sabe das coisas, conhece os caminhos, dá e toma, tudo bebe e lambe.
Antes de se recolher para se reconfortar no sono, depois de mais um dia de trabalho, gostaria que o meu pai dissesse de voz calma:
– Meu filho, você é um escritor de verdade.
Passados tantos janeiros, entre dias alegres e tristes, estou recebendo neste momento singular distinção como Presidente de Honra da Academia de Letras de Itabuna, instituição com finalidades culturais que ajudei a fundar com um grupo de pessoas sonhadoras. Fico comovido com a iniciativa. Recebo a homenagem como reconhecimento ao meu legado, minha participação na instituição que se tornou um capítulo importante em minha vida.
Por isso mesmo, não vejo outra maneira de agradecer essa homenagem a não ser repetindo o que disse em meu poema de louvor à Academia de Letras de Itabuna e que hoje serve como a letra do hino oficial da instituição.

A cidade contigo conhece
Que a vida não é coisa vã,
É a palavra solta a dizer
A beleza de cada manhã.

Imortal é tua maneira de ser,
Tua luz que nunca se apaga,
Ideal é a página que escreves
Pra voar com as asas da alma.

Tudo vale, tudo anda com Deus,
Que nos deu a razão e a emoção,
O sentido de viver com o amor
Pra dizer o que vem do coração.

O sentido de viver com o amor
Pra dizer o que vem do coração.

Obrigado a todos e a todas por este momento cativante.

*Discurso proferido por Cyro na homenagem que recebeu como Presidente de Honra da Academia de Letras de Itabuna, no auditório do Hospital de Olhos, em 27 de maio de 2023.

Discurso de Cyro de Mattos em Ocasião da outorga do título de Presidente de Honra da Academia de Letras de Itabuna Read More »

Poesia na Academia

O 2° ciclo do projeto Poesia na Academia retorna com as leituras críticas, os recitais literários e as performances musicais, no canal da Academia de Letras da Bahia, no
Youtube.
Sob a coordenação da acadêmica Heloísa
Prazeres, com a curadoria do acadêmico Aleilton Fonseca e da acadêmica Edilene
Matos, o Poesia na Academia tem como tema do primeiro encontro “JORGE DE LIMA
– 130 anos de nascimento e 70 anos de saudade” O professor e escritor Aleilton
Fonseca fará uma exposição sobre o homenageado, intitulada: “Jorge de Lima, as múltiplas cores da poesia”.
O recital literário terá atuação do acadêmico, professor e escritor Décio Torres Cruz (ALB), da acadêmica e escritora Mirella Márcia Longo Vieira Lima (ALB), da poeta e acadêmica cruzalmense Lita Passos e da acadêmica do Recôncavo da Bahia, poeta e cineasta Alba Liberato. A performance musical contará com a atuação da cantora Cláudia Cunha, paraense, residente em Salvador; cantora e compositora, Prêmio Braskem de Arte; premiada com o Troféu Caymmi, em 2010, Cláudia Cunha integrou o X e venceu o V Festival de Música da Educadora FM.
O projeto Poesia na Academia torna acessível importantes obras, acontecimentos, autores e autoras da literatura baiana, brasileira e mundial e faz parte das iniciativas da Academia de Letras da Bahia para promover a aproximação das letras, culturas e artes com a sociedade.
A Academia de Letras da Bahia tem apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e
Secretaria de Cultura da Bahia.
• 2° Ciclo do Poesia na Academia
25/05/2023
C A partir das 19 horas
© youtube.academiadeletrasdabahia.org.br
#ALB #PoesiaNaAcademia #Anoll

Poesia na Academia Read More »

A LEITURA E O DILEMA- Cyro de Mattos

                 Muito se fala sobre a questão do número “modesto” de leitores, em contraponto à volumosa quantidade de livros lançados a cada ano. Certa vez o repórter perguntou se há uma relação de causa e consequência. Como eu via essa questão.  Verdade, escreve-se mais para o menos. Uma enxurrada de livros me é enviada para que eu dê uma opinião. Dá medo. De boa qualidade poucos vão ficar, a maioria o tempo leva para a poeira do vento.

           Bom lembrar que a literatura não tinha antes a concorrência de outros meios, como o teatro, o cinema e a tecnologia de hoje, com a linguagem visual, abrangente e instantânea. O autor tinha mais prestígio. Nem por isso parece que o livro vá desaparecer em seu formato físico, onde existe o ser humano está o sonho, a questão e a incerteza, que a palavra escrita gera. Mudou o suporte. A ferramenta visual da internet, que tem lá seus vícios e virtudes, agora possibilita nova leitura da vida, às vezes a narrativa ganha muito mais leitores, não se pode negar isso, às vezes o que produz é deficiente, celebra besteiras, não vinga. Deixando fora esse tipo de competição massificada, vê-se que a linguagem da arte é sempre específica e exige um leitor íntimo dos problemas estéticos, que têm a ver com a criatividade em si e a recepção do assunto.

                Como solucionar o grande enigma, o nó górdio da leitura no Brasil? É um problema do País, de educação, econômico e político. É preciso que haja uma postura séria que ataque as causas do problema. Cabe aos governantes, dirigentes e administradores fornecer os meios para o enfrentamento dessas causas, de natureza complexa. Não é impossível de ser pelo menos atenuado. Basta boa vontade e seriedade. Somos um país de iletrados, sem hábito de leitura, com um poder aquisitivo baixo pelas classes menos favorecidas.  Nesse conjunto de omissões falta uma política institucional pública eficiente para fornecer instrumentos com os quais a editora que está nascendo tenha assim algum suporte, estímulo para sobreviver e crescer.

É preciso também uma legislação que obrigue as universidades e colégios estudarem o autor no vestibular e na sala de aula. É preciso criar novas estratégias nos programas de apoio ao livro e de sua circulação nos espaços de leitura. Como está vamos continuar na mesmice. Pior ainda com a concorrência do fácil proposto pela tevê e o vídeo.

Uma questão central da contemporaneidade é a literatura em tempos de Inteligência Artificial, quando máquinas “pensam” e produzem textos cada vez mais subjetivos. Qual seria o desafio dos escritores hoje?

 A Inteligência Artificial não cria significado, só os humanos. É digital, desconhece as questões interiores e incertezas. O que sabe do amor? Do inexorável? De Deus?  Vê nascer e vê morrer sem nada poder fazer?  Se não tem a razão e a emoção como pretende enfrentar os atritos do enigma com o seu peso?  Tem seus ganhos, utilidade, mas por enquanto vou ficando no meu canto, escrevendo o meu tanto, com espanto e encanto.

A LEITURA E O DILEMA- Cyro de Mattos Read More »

Academia de Letras mostra resultado do concurso Crônicas do Rio Cachoeira

Premiação será entregue dia 27, às 19 horas, no Auditório do Hospital Beira Rio


A narrativa “Corredeiras com Muitas Histórias”, escrita por Ronaldo Oliveira Santos, aluno da Faculdade Estácio de Sá, em Ilhéus, foi a vencedora do 1º Concurso Literário Crônicas Sobre o Rio Cachoeira. Promovido pela Academia de Letras de Itabuna (Alita), o certame teve resultado divulgado nesta quinta-feira (18).

O segundo lugar foi conquistado por Lucas Correia Santos, com “Três Cidades e um Rio”. Ele está no 5º semestre do curso Interdisciplinar em Linguagens e Suas Tecnologias, na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).

Já o terceiro lugar, teve como vencedora a crônica “O Velho Homem e o Velho Rio”, assinada por Marcos Antônio Maurício da Costa, estudante do 5º semestre do curso de Filosofia, da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC).

A premiação será entregue no dia 27 de maio, às 19 horas, no auditório do Hospital de Olhos Beira Rio, em Itabuna. Os vencedores recebem prêmios em dinheiro e publicação na revista Guriatã, periódico da Alita. O primeiro lugar recebe R$ 3 mil, o segundo R$ 2 mil e o terceiro fica com R$ 1 mil.

O concurso, dirigido aos alunos das faculdades e universidades da região cacaueira, foi coordenado pelas escritoras e professoras Ceres Marylise Rebouças e Margarida Fahel.

Qualidade comprovada

O presidente da Academia de Letras de Itabuna, Wilson Caitano de Jesus Filho, disse que os vencedores estão aptos ao recebimento do prêmio, pois apresentaram a documentação requerida, bem como qualidade técnica e textual aprovada pela equipe julgadora.

O 1º Concurso Literário Crônicas Sobre o Rio Cachoeira tem como objetivos incentivar a criação literária e a revelação de novos talentos no campo da literatura; despertar para uma realidade crucial dessa região, especificamente da cidade de Itabuna e seu entorno, considerando circunstâncias geográficas, histórico-sociais e humanas.

Além disso, visa suscitar o interesse e providências devidas por parte de órgãos públicos, de natureza científica e da população em geral, entre itabunenses e habitantes de municípios adjacentes.

Academia de Letras mostra resultado do concurso Crônicas do Rio Cachoeira Read More »

Resultado do I Concurso Literário da Academia de Letras de Itabuna

PORTARIA ALITA Nº 04/2023

O Presidente da Academia de Letras de Itabuna, no uso de suas atribuições, em conformidade com o Edital ALITA o  nº 02, de 16 de setembro de 2022, e retificado através da Portaria nº 03, de 04 de dezembro de 2022.

RESOLVE

Art. 1º  – Homologar o resultado do I Concurso Literário da Academia de Letras de Itabuna conforme relatório  apresentado pela  Comissão  Julgadora designada pela  sua Assembleia.


1 º lugar – Corredeiras com muitas histórias… – Ronaldo Oliveira Santos

 Curso – Teologia – ESTÁCIO – POLO ILHÉUS – 1º SEMESTRE


2º lugar- Três cidades e um rio – Lucas Correia Santos

Curso – Interdisciplinar em linguagens e suas tecnologias/ihac-ja – ITABUNA – UFSB  – 5º SEMESTRE


3 º lugar- O velho Homem e o Velho Rio – Marcos Antônio Maurício da Costa

Curso – Filosofia- UESC – 5º SEMESTRE.

WILSON CAITANO DE JESUS FILHO

Presidente

 Itabuna,18 de maio de 2023

Resultado do I Concurso Literário da Academia de Letras de Itabuna Read More »

EDITAL ALITA Nº 01/2023

Baixe em PDF no link abaixo:

EDITAL ALITA Nº 01-2023 Vacancia 26

EDITAL ALITA Nº 01/2023 ABERTURA DE INSCRIÇÕES

PROCESSO SELETIVO MEMBRO EFETIVO DA ACADEMIA DE LETRAS DE ITABUNA – ALITA

O Presidente da Academia de Letras de Itabuna – ALITA, no uso de suas atribuições, considerando o seu Regimento artigo 7.o, de 1.o junho de 2011, torna pública a abertura de inscrições para seleção das seguintes vagas: Cadeira N.0 3 , Patrono Nestor Passos; Cadeira N.0 10, Patrono Amélia Rodrigues; Cadeira N.0 19, Patrono Arcyldo Marques e Cadeira N.0 27,Patrono Fernando Sales, mediante condições estabelecidas neste Edital:

1.  DOS OBJETIVOS :

I. Preencher a cadeira vacante;
II. Fortalecer o quadro da academia;

2.  DO OBJETO

 A seleção, cujas inscrições são abertas pelo presente Edital, objetiva o preenchimento das Cadeiras N.0 3,10,19 e 27 da Academia de Letras de Itabuna -ALITA .

3.  DOS REQUISITOS DE PARTICIPAÇÃO

I. Ser brasileiro (a) ou possuir visto permanente no País;

II. Atuar em campos que constituem as finalidades da ALITA, conforme o 2.0 , do Regimento Interno, e se enquadrar no Art.4.0 do Estatuto – ALITA ” A ALITA tem a por finalidade o cultivo da língua portuguesa e a promoção da literatura, das artes e das ciências humanas, em suas diversas manifestações, bem como a preservação da memória da cultura nacional, especialmente a cultura de Itabuna e de toda a Região Sul da Bahia.”;

III. Ser morador de Itabuna, no caso das Cadeiras N.0 3,10 e 27 e morador das demais localidades da Bahia Cadeira 0 19.

4.  DAS INSCRIÇÕES

 4.1 PERÍODO De 12 de maio de 2023 a 20 de junho de 2023 .

As inscrições devem ser enviadas para o email alitaitabuna@gmail.com

 

4.2    DOCUMENTAÇÃO

1 Ficha de inscrição preenchida (ANEXO I);

2 Currículo Lates ou similar comprovado;

3 Envio de uma redação em língua portuguesa explicitando sobre as intenções e interesse em participar da ALITA;

4 Cópia da Carteira de identidade e CPF;

5 Comprovante de pagamento da taxa de inscrição. (R$ 100,00 – PIX alitaitabuna@gmail.com)


5.  DA SELEÇÃO:

5.1 A Seleção será efetivada no período de 27 de junho a 25 de agosto de 2023 . A seleção terá duas etapas:

I. Exame dos currículos e das redações que será realizado pela comissão formada por três acadêmicos indicados pela Plenária que examinará os currículos no prazo se 30 dias e emitirá parecer sem emissão de preferências e será enviado para todos os confrades e confreiras ativos com antecedência de 15 dias a contar da data da Plenária

II. O Parecer da Comissão será lido em reunião Plenária convocada para efeito da eleição que será realizada por voto secreto;

III. Para ser considerado eleito, o candidato deverá obter voto de pelo menos metade mais um dos Membros Efetivo em pleno gozo dos seus diretos, conforme o Estatuto ALITA, 7.0 , alínea f;

IV. Não tendo nenhum candidato obtido o requisitos citado no III serão realizados tantos os escrutínios quantos necessário, eliminando-se em cada um o menos votado, conforme Art. 7.0 do Estatuto ALITA ;

V. Havendo um só candidato, à eleição poderá ser feita por aclamação.


6.  DO RESULTADO

I. O resultado da eleição será proclamado pelo presidente, após a apuração dos votos na Plenária que foi convocada para fins específico da eleição;

II. A posse pública e solene será marcada dentro do prazo máximo de 6 meses e publicada no site da ALITA.

 

Itabuna, em 10 de maio de 2023.

WILSON CAITANO DE JESUS FILHO

Presidente

 

EDITAL ALITA Nº 01/2023 Read More »

Cyro de Mattos Ganha o Prêmio Literário Casa das Américas 2023

 

            Cyro de Mattos conquistou o Prêmio Casa das Américas 2023 com o livro Infância com Bicho e Pesadelo e Outras Histórias, segundo anunciou no dia 28 o diretor Jorge Fornet da Casa das Américas, em Havana, Cuba. O Prêmio Casa das Américas consiste no valor de 3000 dólares e a edição do livro premiado em dez mil exemplares pelo Fondo de Cultura Editorial da Casa das Américas.

          Os escritores e críticos brasileiros Mário Araújo e Clara Dias, junto com a crítica cubana Ingrid Brioso Riemont, integraram a comissão julgadora dos livros de ficção publicados em português entre 2020 e 2022. Concorreram 452 candidatos. A Comissão Julgadora decidiu premiar o livro Infância com bicho e pesadelo (e outras histórias), de Cyro de Mattos, “por ser un libro que absorbe al lector por sus narraciones poéticas de una inquietante levedad, que cautivan a quien lee, y que revelan un sor­prendente dominio del lenguaje. El volumen posee una calidad literaria única que refleja la madurez del autor”.

        As obras Mesmo sem saber pra onde, de JR Bellé, e Máquina rubro-negra, de Gustavo Castanheira, receberam menções nesta categoria de Literatura brasileira. Mais de 450 candidatos concorreram ao certame na categoria Conto.

          Um dos mais antigos e prestigiados certame de literatura no Continente, tendo atuado nele  como jurado Alejo Carpentier, Mário Vargas Llosa, Carlos Fuentes, José Saramago, João Ubaldo Ribeiro, o Prêmio Literário Casa das Américas já foi conquistado pelos brasileiros Oduvaldo Viana Filho, Ziraldo, Chico Buarque de Holanda, Nélida Piñon, Ledo Ivo, Ângela Leite,  Maria Valéria Rezende, Rubem Fonseca,  Moacyr Scliar e Silviano Santiago, entre outros.

Cyro de Mattos Ganha o Prêmio Literário Casa das Américas 2023 Read More »

DESVIADOS DA TERNURA- Cyro de Mattos

Dor é vida, sofremos porque vivemos, li no poeta Jorge de Lima. A vida torna-se leve quando habitada com amor. Há milênios que as religiões estão tentando mostrar ao ser humano que só o amor constrói. Braço ao abraço a rota fica mais fácil. Há milênios, nós os humanos estamos construindo a história de nossa condição com intolerâncias, violência, egoísmo, traição, infâmia, em atestado absurdo, quase sem fim, do quanto gostamos de cultivar o ódio, fazer uso da farsa e vaidade, escrever a vida às avessas. Desviados da ternura, mais para urubu do que para curió. O que sabe hoje o nosso pobre coração humano de Deus? Do enigma, da dor e do amor?

Essa lição fácil, dar alpiste aos desvalidos, injustiçados, pássaros tristes com as penas doídas, o filho unigênito de Deus, aquele homem de coração solidário, pleno de amor, ensinou no dia a dia. Por onde andou o seu coração foi para dizer que Deus existe. Podemos senti-lo na flor do coração. Basta amar o outro. A flor do coração sente-se em outros que em afeto se juntam. O semeador de esperança, curador de enfermidades, vencedor da morte, o que abriu as portas da esperança, o bem amado salvador da humanidade, no país dos que elegiam a vida sustentada com os valores materiais, em que o ouro e a prata ocupavam a primazia, disseminava que como cantiga plantada na ciranda do deserto a morada neste planeta se faz possível com todas as mãos numa só comunhão.

Ghandy lembra que a cada dia a natureza produz o suficiente para nossas carências. Se cada um de nós tomasse o que lhe fosse necessário, não haveria pobreza no mundo. Ninguém morreria de fome. O genial Charles Chaplin fala do caminho da vida com beleza e liberdade. Lamenta que tenha ocorrido o desvio da ternura. Ressalta que a inveja, o ciúme e a cobiça envenenaram a alma dos homens, ergueram muralhas de ódio no mundo, fazendo-nos marchar a passos de ganso para a miséria e horror dos morticínios.

Gostava de oferecer um abraço de bom coração a qualquer um quando percorria a cidade, em seu rito de amar o próximo como se fosse a si mesmo. Em linguagem simples, com amenidade de nuvem, dizia que todos nós somos missionários. Consistia a prática em doar-se ao outro, semear o amor entre os excluídos de uma vida digna, muitos deles sem saber a razão da fome e sede. Ele assim prosseguia sereno, ao mesmo tempo que era o pai, o filho, o irmão.

Homem que doou a vida ao outro como a maior prova de amor.  Um libertador para os enfermos e possuídos do mal. O que foi enviado para ser crucificado como resultado da bondade que a todos ofertou. O que no último gemido ainda pediu ao Pai eterno que nos perdoasse, não sabíamos o que estávamos fazendo com o Amor.

DESVIADOS DA TERNURA- Cyro de Mattos Read More »

EDUARDO PORTELLA, PENSADOR DA CULTURA- Cyro de Mattos

Eduardo Portella era um desses intelectuais atuantes que argumentava com lucidez sobre assuntos de nossas letras e cultura. Graduado pela Faculdade de Ciências Sociais e Jurídicas da Universidade Federal de Pernambuco. Professor Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, lecionou até os últimos dias de vida. Ministro da Educação no governo do Presidente João Figueiredo, lutou pela anistia, foi demitido por ter dado apoio à greve dos professores universitários.

Seu discurso de vida dirigiu-se para os parâmetros de um humanismo solidário com base na ordem da verdade. Foi interditado por aqueles que pensam ser suficiente para valer na dotação humana o poder que você exerce com o cargo. Dele é a célebre frase: “Não sou ministro, estou ministro”, para afirmar com isso, no tácito entendimento da palavra enunciada, que tudo é transitório ante o eterno que fica.

Crítico, pesquisador, conferencista, editor, advogado e político brasileiro. Ocupou a presidência da Conferência Mundial da UNESCO. Integrante do Pen Clube do Brasil.  Foi diretor das Edições Tempo Brasileiro, divulgador de Heidegger no Brasil e do formalismo russo de Yuri Tynianov. Membro titular da Academia Brasileira de Letras, recebido por Afrânio Coutinho. Naquela instituição recebeu Alfredo Bosi, Cândido Mendes de Almeida, Carlos Nejar, Celso Furtado, Ivan Junqueira, João Ubaldo Ribeiro, Lígia Fagundes Telles, Merval Pereira e Zélia Gattai.

Propôs um método crítico de base hermenêutica, teórica e filosófica para a aferição axiológica da obra literária. Sem inclinações para a interpretação da obra literária com base na inserção de autor e legado nos períodos históricos, nem decorrente de gratuitas impressões sobre a massa do que foi escrito,  optou por uma crítica literária em função do estilo em que se funda e marca a obra  na expressividade da escrita, tanto na forma  como no conteúdo.

Esteve  à frente dos níveis usuais da crítica e interpretação da obra literária, foi o responsável pela introdução da análise estilística nas letras brasileiras. Filtrou os pressupostos, métodos e ferramentas dos espanhóis Carlos Bousoño e Dámaso Alonso, tendo o julgamento como ato final na análise literária, após a captura do fundamento que transita entre linguagem e uso da língua metamorfoseada, responsável pela literariedade. Este fundamento é a visualização do entretexto.  Sua tese de doutorado foi publicada sob o título Fundamento da Investigação Literária (1973), refundida em 1974.

Deixou um legado constituído de vinte e três obras e, entre elas, Dimensões I (1958), Dimensões II (1959), África colonos e cúmplices (1961), Literatura e realidade nacional (1963), Dimensões III (1965), Teoria da comunicação literária (1970), Vanguarda e cultura de massa (1978) e A Sabedoria da Fábula (2011). Recebeu prêmios literários e títulos honoríficos de muito prestígio, como Gran Cruz de la Orden del Mérito Civil, Madri (2001), Doutor Honoris-Causa da Universidade Federal da Bahia (1983), Gran-Cruz de la Orden Civil de Alfonso X, el Sabio, Madri (1980), Grã-Cruz da Ordem do Rio Branco, Brasília (1979).

Em assunto que trate da teoria literária, análise e interpretação da obra, aprende-se muito com Eduardo Portella. Lucidez e conhecimento são meios importantes na análise estilística da obra, de maneira coesa e convincente. Com o título de Dimensões (I, II e III), sua análise crítica é fatura exemplar do que se tem escrito sobre a obra literária de diversos autores brasileiros. O leitor fica preso aos argumentos inteligentes e raciocínios proveitosos sobre a obra e muito aprende com seus estudos e interpretações.

Acompanhou a carreira literária minha desde o nascimento, há sessenta anos. Prestigiou-me como autor no longo curso da jornada.  Prefaciou o nosso livro   Cancioneiro do Cacau, que inédito recebeu  o Prêmio Nacional  de Poesia Ribeiro Couto da União  Brasileira de Escritores (Rio), ao ser publicado conquistou o Segundo Prêmio Internacional de Literatura Maestrale Marengo d’Oro, em Gênova, Itália,  o Terceiro Prêmio Nacional de Poesia Emílio Moura da Academia Mineira de Letras e foi finalista do Jabuti.

É dele essa observação sobre o livro: “ Mas o seu poema  não irrompe de qualquer abalo sísmico, ou de qualquer intempérie facilmente previsível. Ele eclode da história revigorada, nasce do fundo do homem e das coisas, da sua raiz em curso, da origem protegida do menor sedentarismo… Cyro de Mattos se compraz em revalorizar a raiz, e reverenciar a origem, em reconhecer o fundamento radicalmente imune ao fundamentalismo. O poeta enraizado e, no caso, porque enraizado, generoso, recorda para a frente.  Como quem retira dos filtros do passado, e dos detectores de metais do presente, lições, mesmo que enviesadas, para a construção do amanhã.”

Que melhor prêmio poderia receber autor e obra do que essa opinião do enorme ensaísta? Humanista, sincero, elegante, intelectual de primeira grandeza. A última vez que estive com ele, na Academia Brasileira de Letras, quando fomos proferir palestra sobre os mares trágicos de Adonias Filho, disse-me que estava escrevendo um livro sobre Adonias Filho e outro sobre Jorge Amado.

A ensaísta e professora universitária Nelly Novaes Coelho dizia que para ter um salvo-conduto que abonasse a obra o autor precisava receber a análise literária de quem era portador de instrumental crítico avançado ou possuidor de obra consagrada.  Claro que o leitor generalizado ou de visão crítica, de intimidade com os valores estéticos, torna-se meio importante para que a obra circule e permaneça viva quando for visitada. Surpreenda como instrumento que ilumina a parte noturna do ser, como observa Octavio Paz. Neste sentido, posso dizer que, no primeiro entendimento de Nelly Novaes Coelho, vejo-me inserido, sou autor privilegiado ao receber o prefácio de Eduardo Portella como rica apresentação sobre nosso cancioneiro.

Baiano de Salvador, nascido em 8 de outubro de 1932, Eduardo Portella passou desse plano terrestre para outra dimensão no dia 2 de maio de 2017.

EDUARDO PORTELLA, PENSADOR DA CULTURA- Cyro de Mattos Read More »