Produção Literaria

CRÔNICA DE SÔNIA MARON –  Cyro de Mattos

Nunca vou dedicar um texto ou livro meu a quem andou comigo na jornada da vida. Não vou dedicar à Sônia Maron, inserindo abaixo do título o registro “de saudosa memória”. Recuso-me à submissão da homenagem com essa feição de saudade e afeto, memória e luto.  Simplesmente prefiro fazer assim: dedico à amiga Sônia, que sempre estará comigo. Fazendo parte de mim, não se desligará até quando chegar minha hora nessa verdade que pesa em cada um de nós.

O que tenho a dizer diante do inexorável, nessa hora que fere, dói, como dói? Viver é morrer o presente, houve quem dissesse. Lembro que ela brincava na matiné do carnaval infantil, animada no clube social.  Dava voltas no salão, cantando:

Chiquita bacana
Lá da Martinica
Se veste de uma casca
De banana nanica.
Não usa vestido,
Não usa maiô,
Inverno pra ela
É pleno verão,
Existencialista
Só faz o que manda
O seu coração.

Jogava confete, serpentina, cantava, não parava, seguia alegre dando volta no salão.

Era nossa infância como parte do encanto, igual à liberdade caminhava de mãos dadas com a inocência, a ternura e a esperança. Em noite clara, as meninas brincavam de ciranda na rua. Os meninos escutavam no passeio.

Ciranda, cirandinha
Vamos todos cirandar,
Vamos dar a meia volta,
A meia volta vamos dar

Prefiro lembrar a garota mais bonita de nossa juventude. Foi rainha dos estudantes, da primavera, da cidade. Foi rainha de tudo. Quando passava, arrancava suspiros dos rapazes com a pose de galã fatal. Já moça, nos bailes noturnos esbanjava alegria no carnaval do Grapiúna Tênis Clube. Às vezes romântica, no salão triste seguia, triste cantava.

Eu perguntei ao malmequer
Se meu bem ainda me quer
Ele então me respondeu que não.
Chorei, sofri, por saber que ele
Feriu o meu pobre coração.

Foi madrinha do time de futebol do Itabuna quando o Vasco da Gama do Rio veio jogar no Campo da Desportiva. Entregou um buquê de flores ao chefe da delegação dos visitantes. Uma flâmula da cidade ao capitão Belini do Vasco, que há pouco tempo tinha se sagrado campeão mundial de futebol pelo Brasil, nos campos da Suécia, ao lado de Garrincha, Didi, Vavá, Zagalo, Nilton Santos e outros craques. Fez um discurso improvisado, as palavras incandescentes, as imagens certeiras. Arrancou palmas de todos.

Um dia aconteceu como Juíza de Direito. Ficou assim para sempre no exercício eficaz da função. Atuava na Justiça criminal, gostava de presidir as sessões do Tribunal do Júri. Dizia: façam silêncio, se não vão sair do recinto. Estamos julgando duas paixões numa tragédia, a dos familiares do réu e a dos parentes da vítima, que teve a vida ceifada por motivo doloso.

Por mais que queira explicar o inexorável, nessa hora sob o peso do mistério, não consigo chegar perto, cambaleio.  Oi, Sônia, minha conterrânea, como eu e outros abnegados, gente sonhadora desta terra, foste fundadora da Academia de Letras de Itabuna. Com esforço, alma e vida fizemos o parto. Tenha cuidado agora, não se perca. Embora seja a hora escura, calada e fria, haverá na estrada a mão de Deus que guia.

CRÔNICA DE SÔNIA MARON –  Cyro de Mattos Read More »

UM ADEUS DE CORAÇÃO- Ruy Póvoas

Hoje, 21 de dezembro de 2021.

Natal se aproxima e a variante Ômicron se torna uma grande ameaça.

Um misto de alegria e temor nos envolve de um amanhecer a outro.

Como se isso não bastasse, ameaça maior rodeia e campeia as imensidades: é Iku, conforme o povo nagô denomina a morte. Impiedosamente, vai decepando o fio da vida de nossos queridos parentes, amigos, colegas, benfeitores. E hoje, Iku passou pelos nossos campos e cortou o fio da vida de Sônia Maron.

Em nós, que tanto bem lhe queríamos, um choro embargado faz doer a garganta. Mulher, mãe, avó, amiga, professora, juíza, fundadora da Academia de Letras de Itabuna, para além de inúmeras ligações outras que ele manteve com diversas instituições.

As frases, períodos e parágrafos que agora se negam a nos socorrer numa homenagem sincera, fluíam facilmente do intelecto de Sônia quando ela se dava ao trabalho de escrever. Suas crônicas e artigos permanecerão conosco, num testemunho de seu brilhantismo. Sônia Maron, professora exemplar. Sônia Maron, que com justeza aplicava a Lei nos seus julgamentos. Sônia Maron, senhora de um olhar mais espraiado e participou ativamente na FESPI e da fundação da UESC. Sônia Maron, nossa confreira fundadora da ALITA.

Gestada e nascida de dois Arquétipos Criadores: as Águas de Oxum Apará e o Fogo de Oyá, assim ela se definia para os íntimos que comungávamos de suas crenças. E o tempo-espaço deste aqui e deste agora tornou-se pequeno para sua alma grandiosa, generosa, atuante. Quando soou a trombeta do término de sua luta, verdadeiramente sua missão já tinha se cumprindo. Agora cabe à inteligência grapiúna velar por sua memória. Aos seus ex-alunos e ex-alunas, o exercício de seus exemplos. À classe jurídica, lições de como proceder quando a injustiça for praticada.

Para seus confrades da ALITA, a obrigação de seguir suas pegadas. Aos que morejam na UESC, a herança de quem soube batalhar pelo brilho da luz do saber.

E em todos uma imorredoura saudade de tão nobre pessoa. A ela devemos o privilégio da convivência com tão refinada criatura. Senhora de si e de seu destino. Portadora de gestos de nobreza e esmerado trato para com os demais.

Sônia Maron partiu, mas deixou conosco o que ele soube construir de melhor no processo de toda a sua existência. E isso se constitui dívida impagável por parte de quem ela contribuiu, de uma forma ou de outra, para um viver mais leve.

Saudades eternas de seus parentes, aderentes, amigos, confrades e colegas. E aqui, fico eu, seu babalorixá, para continuar o que, juntos, tantas vezes discutimos na nossa caminhada religiosa e intelectual. Axé!

Ajalá Deré – Ruy Póvoas

 

UM ADEUS DE CORAÇÃO- Ruy Póvoas Read More »

HOMENAGEM PÓSTUMA A SÔNIA MARON- Marcos Bandeira

Coube a mim, por determinação da presidente da Academia de Letras de Itabuna, Silmara Oliveira, prestar a última homenagem a nossa confreira querida, Sônia Maron, que nos deixa num momento ainda difícil e conturbado por que passa a humanidade.

Ainda não era meio-dia, quando recebi a triste notícia no silencio do meu lar. Algumas vozes distantes, o canto de um pássaro… E as asas da minha memória me levaram a um cenário, a um horizonte, onde encontrei uma grande mulher….

Sônia Maron, mulher de personalidade forte, perfeccionista, bonita, elegante, sensível e inteligente….

O dramaturgo Bertold Brechi deixou a seguinte lição:

“ há pessoas que lutam um dia e são boas ; há outras que lutam um ano e são melhores; há aquelas que lutam muitos anos e são muito bons ; mas há os que lutam toda a vida e estas são imprescindíveis”.

Sônia Maron era esta mulher pujante, guerreira, generosa, de personalidade forte, que defendia suas convicções com uma dignidade admirável. A tua bandeira era a educação como um meio de transformar o ser humano, a generosidade e a justiça como a razão de ser de sua luta.

A conheci de longe como magistrada, mas a sua boa fama já corria por todo o Estado da Bahia, delineada como juíza estudiosa e firme nas suas decisões. Assim de tanto admirá-la, acabei também me tornando magistrado; a tua postura como profissional exemplar serviu de inspiração para muitos, inclusive para mim!

Os ventos do destino me empurraram para a Universidade estadual de Santa Cruz– UESC, onde também fomos colegas na cátedra da ciência jurídica. Guerreira e com aguçado senso de responsabilidade, saía algumas vezes de salvador para ministrar aulas na UESC, instituição na qual ela se dedicou de corpo e alma. Chamava-me a atenção, a tolerância e o prazer com que ela orientava os discentes da UESC, e por essas e outras, acabou sendo professora também das minhas filhas, Michelle e Danielle.

Finalmente, por mais uma dessas coincidências ou caprichos do destino, fui morar no prédio do condomínio Carlos Drumond de Andrade. Ela morava no 6º andar, eu no 5º.  A sua sensibilidade era tamanha que recebeu toda a minha família com um buquê de flores e um jantar. Nunca me esqueci desse detalhe que revelava toda a sua lhaneza e sensibilidade no trato com as pessoas. Onde passava, nos corredores ou no elevador, deixava o aroma do seu perfume. Era exigente na preservação do condomínio e algumas vezes emprestava o seu apartamento para receber os confrades e confreiras da ALITA. Reuniões inesquecíveis com intelectuais, artistas, poetas, escritores e pessoas comuns, sempre com seu refinado trato e elegância, regado a um bom vinho e ao som de um violino.

Como magistrada, como professora, como acadêmica, escritora, não  permitia a si própria o auto elogio, pois como dizia sempre: “ elogio em boca própria é vitupério”.

Um certo dia, por mais uma dessas coincidências, a convidei em nome do acadêmico e escritor, Cyro de Matos, para fazer parte da Academia de Letras de Itabuna, que estava nascendo naquele dia 19/04/2011. Ela não hesitou e passou a contribuir decisivamente para a consolidação da academia, ajudando na elaboração do estatuto e do seu regimento interno. Participava ativamente de todas as reuniões. Fui o seu primeiro presidente e contei com sua inestimável ajuda até para sediar a academia no antigo escritório de seu filho, Otavio César. Ela me sucedeu e foi presidente por dois mandatos seguidos, realizando vários projetos voltados para a sociedade e propiciando as condições para a produção do conhecimento, através da revista Guriatã e do site da ALITA.

Querida confreira Sônia Maron, o seu corpo físico vai nos deixar, porque ele é material e perecerá, mas o teu legado imaterial jamais morrerá em nossos corações e nas nossas memórias, porque você será sempre uma pessoa imprescindível em nossa caminhada!

Agradeço pelo privilégio de compartilhar da tua amizade, e para despedir, permita-me recitar um verso de Saint Exupery:

Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”.

Obrigado!

Marcos Bandeira

 

 

HOMENAGEM PÓSTUMA A SÔNIA MARON- Marcos Bandeira Read More »

Homenagens dos Alitanos à querida Sônia Carvalho de Almeida Maron- Uma das fundadoras e ex-presidente da Instituição.

Apaixonada pelas causas que abraçava, palavra forte, corajosa e, talvez até escondesse isso um pouco, capaz de grandes delicadezas. Recebi dela um enorme apoio quando resolvi fazer um lançamento bonito, em nome da ALITA, do meu segundo livro, em 1918. E, naquele momento, ela nem estava bem de saúde. Mas Sônia era assim: sincera, às vezes de franqueza muito fácil , mas um coração leve e pronto a ajudar. Dela, recebi sempre o carinho e a palavra incentivadora.
Bonita, vaidosa, orgulhosa do belo cabelo, porém pronta para qualquer luta, sem medo ou subterfúgios. Isso é apenas um pouco de Sônia Maron.
Que seus filhos e netos e nós, seus amigos que sempre a admiramos, a cubramos de bênçãos.

Margarida Fahel

 

Sônia querida, nos conhecemos ainda bem jovens, você no Quartel Velho, eu na Fazenda Castelo Novo e Ubaldo na Benjamin Constant. Você sempre linda, irradiando alegria e muita vontade de viver. Partilhamos de muitas festas na nossa cidade. Você sempre amorosa e muito delicada comigo e com Ubaldo. Você foi aquela mulher forte e corajosa, capaz de quebrar barreiras. Fez seu próprio destino e escolheu sua nobre missão. Passou por cima de inúmeros obstáculos, deixando para os que ficam um exemplo de coragem e persistência na sua trajetória de vida. Ficamos muito felizes quando se tornou juíza. Acompanhamos os seus sucessos na profissão. Desejamos que você feche esse círculo terreno com o mesmo vigor e a mesma esperança. Siga o caminho de luz que você mesma traçou, enquanto aqui esteve.

Descanse em paz.

Com eterno carinho Ritinha e Ubaldo.

 

Sônia Maron, elegância e simplicidade na mesma medida!  Ela abriu as portas da Academia de Letras de Itabuna para novos integrantes, apostando na soma entre a tradição e a modernidade em favor da literatura.
Gostava de compartilhar histórias, vivências, gargalhadas, sempre deixando à vontade todos que com ela convivessem. Avessa a formalidades, preferia ser chamada apenas de Sônia. Sem títulos que afastassem o interlocutor. Porque ela queria proximidade, amizade, afeto – palavras tão caras nesta era de “modernidade líquida”, da qual Zygmunt Bauman tanto nos falou (ele figurava, inclusive, como um dos autores favoritos dela).
Ah, Sônia! Seguimos daqui buscando escrever boas histórias pela vida afora e aplaudindo o caminho vitorioso que você percorreu e tanto inspira quem cruzou seu caminho.
Rogamos a Papai do Céu que a conduza por um caminho de luz e que seu brilho resplandeça para sempre em nossa memória.

Com imenso carinho,
Celina Santos

 

PESARES DE SÔNIA MARON

 

Cyro de Mattos

Quem entende esse gesto?
O passado não tem volta.
Não se esvaem as dores
Prisioneiras do presente.

O vento que se aloja
nessas asas fabrica
vozes em rito de pesares,
que não se decifram.

Ó tempo rigoroso
no musgo desse muro,
sinto frieza no meu peito,
como fere nesse inverno.

Até no encanto assustas,
a flor que aparece
é a mesma que breve
no pó desaparece.

Imutável nesse estar
que ceifa a inocência,
a solidão de anoitecer
teu enigma que ofertas.

Hora que não tem cura,
Vez que não tem volta
Enquanto a noite chega
Para soterrar o dia.

Ó tempo quão amargo
É teu rigor nesse gesto
Que só a ti pertence,
Sufoca no meu peito.

De ti em dó e lágrima,
o que dói não é o calor
que aqueceu o coração,
mas as coisas que não virão.

 

 

 

Nenhuma descrição de foto disponível.

Nenhuma descrição de foto disponível.

 

Nenhuma descrição de foto disponível.

 

Homenagens dos Alitanos à querida Sônia Carvalho de Almeida Maron- Uma das fundadoras e ex-presidente da Instituição. Read More »

O MENINO QUE VIA A VIDA ACONTECER- Sônia Carvalho de Almeida Maron

        O melhor mirante da cidade era o alto do telhado, de onde se via a vida acontecer no céu e na rua, por onde passavam personagens e fatos importantes que iriam marcar a vida do menino para sempre. (In: Cyro de Mattos, contracapa do livro Histórias do mundo que se foi, editora Saraiva, SP, em sexta edição, Prêmio Adolfo Aizen da União Brasileira de Escritores-RJ )

           Aquele menino da Rua Ruy Barbosa tinha mesmo um jeito diferente. Em nossa rua não existiam estranhos: do primeiro ao último quarteirões, famílias trocavam sorrisos e cumprimentos, das crianças aos mais velhos. E o menino passava para o colégio, muitas vezes em companhia do irmão mais velho, compenetrado e sério, segurando a pasta com os livros como se fossem uma carga preciosa. O irmão mais velho tinha o riso fácil e todas as vezes que passava em frente à minha casa sorria de forma amistosa. Os pais do menino gostavam de mim, eu tinha certeza, pois sabiam o meu nome e conheciam meu pai.

         Na vida mansa da nossa rua todos eram conhecidos e a maioria amigos de verdade. As famílias visitavam-se, sentavam-se em cadeiras colocadas nos passeios nos dias de domingo, enquanto as crianças pulavam corda, jogavam bola de gude, pulavam amarelinha e cantavam cantigas de roda nas noites de luar. O menino fazia parte desse nosso mundo, mas eu sentia que participava de uma forma diferente:  meus olhos de criança não sabiam definir se era tímido ou se não queria participar de nossas brincadeiras por ter coisa melhor para fazer. Eu desconfiava que fosse mais amigo dos livros do que de nós.

         E o tempo foi passando. Os colégios da cidade não permitiam que os jovens sonhassem com as carreiras mais nobres, não existiam faculdades. O menino e o irmão contaram com o apoio do pai e seguiram para a capital identificada pelos mais velhos como “Bahia”. Àquela época diziam com orgulho “meu filho foi estudar na Bahia”, como se Itabuna fosse um lugar distante e fora do mapa do Estado. É que o privilégio de estudar na capital era restrito aos mais abastados da classe média. As famílias de milhares de arrobas de cacau enviavam os filhos para os colégios e faculdades do Rio de Janeiro e São Paulo.

          Não é que o pai do menino fosse um homem arrogante e rico como muitos coronéis do cacau. Ao contrário. Era um homem simples e trabalhador, sem diplomas e títulos, mas vislumbrava um futuro grandioso para os filhos e, para ele, o estudo era o único caminho. Acertou em cheio e ganhou um filho médico e o outro advogado.

         O jovem advogado iniciou, sem muito entusiasmo, o caminho das lides forenses. Gostava mesmo era de escrever, escrever de verdade, coisa diferente das petições dos processos cíveis e criminais. E enfrentou o desafio. A força que o conduzia para a carreira sonhada era mais poderosa que o encanto dos embates da advocacia. Determinado, passo a passo, conquistou o reconhecimento do mundo literário do país conseguindo o que poucos alcançaram: Cyro de Mattos é um escritor. Não um escritor qualquer. O itabunense que via “a rua acontecer no céu e na terra, do alto do melhor mirante da cidade, o telhado de sua casa”, como podemos ler na contracapa de um dos seus livros, Histórias do mundo que se foi, coleciona prêmios e títulos como ficcionista, cronista, ensaísta, poeta e demais variantes que pode assumir um verdadeiro escritor. Por último, representará sua cidade na Academia de Letras da Bahia, na cadeira de nº 22, que teve como membro fundador o mais conhecido e ilustre dos baianos, Ruy Barbosa. Sem esquecer que leva em seu currículo os títulos de membro da Academia de Letras de Ilhéus e membro fundador e idealizador da Academia de Letras de Itabuna – ALITA.

         Cyro de Mattos é “prata de casa” da melhor qualidade. Todos sabem que seu currículo é conquista de poucos e nossas academias são citadas primeiro por motivo puramente sentimental.  Em resumida amostragem, registre-se o título de membro efetivo do Pen Clube do Brasil e Ordem do Mérito da Bahia, no Grau de Comendador. Em suas incursões pelo mundo integrou a delegação brasileira de Poetas da Universidade de Coimbra, em Portugal, e no XVI Encontro de Poetas Iberoamericanos da Fundação Salamanca Cidade de Cultura e Saberes, na Espanha. Foi agraciado com vários prêmios literários de expressão, sendo autor de mais de cinquenta livros no Brasil e no exterior.

         A Rua Ruy Barbosa, na cidade de Itabuna, Bahia, Brasil, passou à imortalidade. A geração de Cyro de Mattos, que é também a minha, festeja a conquista de um dos seus meninos do Ginásio Divina Providência. Festejamos o amigo que desenvolveu a admirável arte de observar o mundo com os olhos e o sentimento que só conhece quem adquiriu o conhecimento guardado nos livros, sobre terras, homens e tempos e serve de exemplo para a geração que se recusa a reconhecer a força mágica que o livro empresta à nossa vida.

  • Sônia Carvalho de Almeida Maron é escritora, juíza de Direito aposentada, ex-professora de Direito da UESC, uma das fundadoras da Academia de Letras de Itabuna, foi presidente da instituição por dois mandatos.
  • Fonte Alita, 2016

                                                          

O MENINO QUE VIA A VIDA ACONTECER- Sônia Carvalho de Almeida Maron Read More »

CARO AMIGO CYRO- Margarida Fahel

Aquilo que há de mais profundo e imorredouro em nossa memória, creio eu, são as vivências da infância e da adolescência. Talvez pela pureza que existe em todos nós, naquela fase da vida, vasos limpos de ideias inculcadas em nossas mentes e em nossos corações. Talvez uma tela a ser pintada pela vida, usando uma frase clichê. E as primeiras pinceladas sejam de puro encanto, de descobertas de prazer e surpresas diante do mundo ainda quase sem barreiras. Assim, lá, no lugar mais recôndito da criança que todos fomos, as cores, os raios de sol, a lua prateada, o verde das árvores, o desabrochar das flores, as cores do céu, tudo encontra espaços limpos, onde não há “ não pode”, “não deve”, “ agora não”. E, então, tudo fica ali, bem guardado.

Também vivi em sua/nossa cidade. No meu caso, a partir dos dez anos, quando me esperava o famoso exame de admissão ao ginásio. Nasci e vivi até aquela idade numa cidadezinha ainda muito menor que a sua/nossa. Sem calçamento, sem luz elétrica. O Grupo Escolar, um pouco afastado do pequeno centro, uma pequena igreja, um grande barracão, no meio da enorme praça de chão batido, que servia para feiras e festas. Tudo, entretanto, muito limpo, como se um vento diário tudo varresse. Naquela praça, alguma vez, o mundo maravilhoso do circo.  “Para o ano eu vou voltar,” cantavam em coro os artistas, parodiando Asa Branca, de Luís Gonzaga. Aquilo era visão de felicidade… Daquela pequena cidade, então distrito da “sua/nossa”, guardo sabores, aromas, sons e imagens que, quantas vezes, se apossam de mim. E o sentimento é o mesmo! Alegria, encanto, graça. E saudade. E lá está a goiabeira do quintal da tia Raquel, ali estão as poças d’água prateadas nos dias de chuva, a cantoria de roda, meninas e meninos na enorme praça vazia… E o cheiro quente do “joão duro”, um biscoito duro como pau, saído do forno da padaria ali mesmo na esquina… E a voz de Dona Milu, uma senhora bem magra e alta, muito limpa,  de pele lustrosa, que diziam “ não ser boa da cabeça”, e que batia de porta em porta, pedindo: “ banana… banana… banana…”

E vem mais. Vem minha melhor amiga daquela meninice, minha vizinha Hildete. Hildete, da qual nunca tive notícias, passados aqueles anos. Sentadas em caixotes baixinhos, um outro a nossa frente, recortávamos velhas revistas, para costurar vestidos de papel. Terá se tornado ela uma modista, ou costureira? Eu me tornei professora. De gente pequena, de gente grande, nunca mais recortei vestidos de papel…

E me vem a voz de Dona Quequé, nossa vizinha, com sua vara na mão pelas madrugadas, concretizando com força os gritos com que esperava o jovem filho rapaz, que teimava em chegar das farras ao nascer do dia.

Mas ficou daqueles tempos a lembrança de alguns anos vividos numa fazenda de gado dos meus pais. Rio, pequenas enchentes, árvores a sombreá-lo… Bois, vacas e os bezerros dando cabriolas. A fogueira acesa todas as noites para espantar cobras, mas também porque era bonito de ver, dizia meu pai. E, sol nascendo, tinha leite tomado quente junto da vaca (Os nomes de duas delas até hoje me lembro: Andorinha e Espanhola).

Mas havia mais e isso, talvez, responda um pouco ao que me tornei depois: por ali passavam para pernoitar, ante um caminho mais longo, dois conhecidos de meu pai. O nome de um nunca se esqueceu de mim, Pedro Martins, um contador de histórias. Meu sono não vinha, não adiantava minha mãe insistir, enquanto ele tivesse voz para contar…Eram noites de príncipes e princesas, de bichos e gentes à luz da fogueira reavivada. Sem contar que meu pai também era, para mim, um frequente e bom contador de histórias. Histórias que se passavam na Espanha eram as suas preferidas. Sevilha, Barcelona, Andaluzia… Através delas, comecei a caminhar por terras distantes, por lugares desconhecidos. E ele contava, contava e cantava…

Cyro, a tudo isso seu encantador “romance de infância” me levou… E a muito mais…

Então, agradeço a sempre consideração e amizade, e parabenizo-o por mais um livro e por esse veio de lembranças de um tempo de paz. A paz do menino que se tornaria um grande escritor. E que nunca se esqueceu de cantar a sua terra.

Um abraço fraterno para você e para Marise.

Margarida Fahel.

Salvador, fevereiro de 2021.

Cyro de Mattos, Nada Era Melhor, da Editus, , 2020

CARO AMIGO CYRO- Margarida Fahel Read More »

AI, SAUDADE DÓI- João Otavio Macedo.

Todos os seres vivos estão condenados à morte desde o momento de sua concepção e nós, situados no topo da escala animal , passamos a nos preocupar e discutir esse assunto com as pessoas mais velhas, os amigos, os religiosos já que a finitude da vida ´é inexorável e brutal, levando uns mais cedo, outros mais tarde e a morte acaba fazendo parte da vida. Não importa a causa, a morte permeia o pensamento da maioria das pessoas e dela não escapamos.

Todos lamentam e choram os seus mortos levando Saint Exupéry a acrescentar que “cada pessoa que passa em nossas vidas, passa sozinha, mas não vai só nem nos deixa sozinhos; leva um pouco de nós mesmos: deixa um pouco de si mesmo”.

Hoje, 12 de novembro, completa um ano que perdemos a nossa querida e sempre lembrada Zina, a doutora Zina para quem as crianças constituíam o seu mundo e era pior elas amada. Cuidar dos pequeninos era a missão maior do seu trabalho. Na nossa família, eu, nossos filhos, netos , noras, parentes e amigos perdemos um verdadeiro tesouro e a comunidade regional deixou de receber a dedicação de uma pediatra que, por 51 anos, cuidou de muitas crianças de Itabuna e da região , sempre com um sorriso suave a emoldurar uma face  serena  e amiga.

Ainda choramos a sua partida pois, como dizia Shakespeare “chorar é diminuir a profundidade da dor” e, vez por outra, chegamos a acreditar na afirmação de Guimarães Rosa que “ as pessoas não morrem, ficam encantadas!, pensamento parecido com outro gigante da literatura, o bardo lusitano Fernando Pessoa quando exclama que “a morte é a curva da estrada. Morrer é  não ser visto”.

Não há dor parecida com a perda de um ente querido; nenhuma dor física, por mais renitente e penetrante, atinge as dimensões da dor de uma saudade. Por isso mesmo usei o título de uma composição de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga para iniciar a nossa conversa:” Ai, Saudade Dói “. O escritor Coelho Neto também deu sua colaboração sobre o tema ao escrever que “a saudade é a memória do coração”.

E mergulhado nesse oceano de dor e de saudade, vou atrás   de um menestrel do Cariri, o cearense Antônio Gonçalves da Silva, muito conhecido como Patativa do Assaré quando exclama:

Saudade dentro do peito

É qual fogo de monturo

Por fora tudo perfeito

Por dentro fazendo furo

Há dor que mata a pessoa

Sem dó e sem piedade

Porém não há dor que doa

Como a dor de uma saudade”

E assim, prezados leitores, externei meus pensamentos sobre a perda de um ente querido; é um assunto assaz complexo para ser resumido em poucas   linhas; o povo costuma dizer que “cada cabeça, é um mundo” e é a mais pura verdade.

João Otavio Macedo.

AI, SAUDADE DÓI- João Otavio Macedo. Read More »

O GRAFITEIRO POETA – Cyro de Mattos

O Grafiteiro Poeta

Cyro de Mattos

          Ultrapassada a fase criativa sob o domínio da inspiração e da transpiração, um dia o autor imagina que o primeiro livro está pronto para ser editado. Vai ser útil ao outro na leitura do mundo. Ainda não sabe como é complicado publicar um livro por editor no circuito nacional, principalmente quando se trata de poesia. Com o mineiro Ney Mourão não foi diferente. Durante vinte anos, o poeta de Notas dispersas pelas paredes vinha   batalhando a publicação de seu primeiro livro. Chegou a ter uma ideia desesperadora nesse desejo de vê-lo finalmente editado. Começou a grafitar poemas nos muros da cidade.

            Assinava-se “poeta à procura de editor”. Ante o espanto de alguns e indiferença de muitos, grafitou cerca de duzentos poemas. Andou quilômetros, em três anos, a pé e de ônibus. Cobriu quase todos os bairros da cidade. Várias vezes foi preso e humilhado. Serviu como tema de redação nas escolas. Foi dado como morto. Souberam que o poeta estava vivo. Foi entrevistado e virou notícia na mídia. Mas nada de encontrar até então o editor de seu livro de estreia.

            Em seu destino de ser poeta, com a marca da vida e do sonho nos muros, nunca desistia. Fazia, no itinerário das madrugadas de um homem só, que Belo Horizonte amanhecesse riscada de versos comoventes. Como estes do conhecido poemeto “Lampejo”: “Apague/a rua/que a lua/tá linda!”. Ou ainda estes de “Light”, de conotação surrealista: “Às vezes / de tão feliz/ ela acorda/ e sai por aí/ a t r o p e l a n d o b o r b o l e t a s”. Ou também nestes de “mercadolivrepontocom”: “Troco/ um apito de fábrica/por um canto de pássaro”. Entre tantos poeminhas, que lembram o haicai, pela síntese construtiva, intencionalidade de grande beleza imagética, não posso deixar de citar estes versos primorosos de “Litúrgico”: “Grafite de Deus/é arco-íris/ no horizonte!”.

            Em sua composição técnica e estética, como numa peça sinfônica, o conjunto destas gritantes Notas dispersas pelas paredes reúne poemas curtos na maioria das vezes. Acordes no elétrico emocional do espírito para iluminar o ar. Repercutir nas ruas e invadir as casas. Coexistem, em sua partitura musical, como elementos constituintes do discurso terno quase sem o liame entre o poeta e o leitor, leia-se ouvinte, eliminando-se o que se considera ser tão-somente um formalismo desnecessário, na esperança de aumentar em suas conexões sensoriais o poder emocional que emerge em cada verso.

Mas esse mineiro criador de uma poesia nas paredes e tapumes também se sai bem quando escreve o poema com desdobramento da razão emotiva. Nesse particular, anotem como fatura exemplar do eu lírico os textos denominados “Inventário”, “Poema Musical para Roer as Unhas” e “Indo”. Neles o poeta não pretende explicar a vida, o que para o poeta Drummond, o trivial lírico de Itabira, é inexplicável. Sob aspectos pungentes, transmite a beleza inevitável da poesia na vida, também inexplicável, em momentos de chuva, lágrima e solidão colados em nossa condição humana, nestes agudos ritos de passagem no sempre.

            Trata-se de uma poesia de captação fácil, como talvez deva ser nos tempos atuais de velocidade, como quer Calvino. Seu discurso articula-se com rapidez para ser ouvido pelo outro mais o mundo, seduz com a enunciação sensitiva de seu conteúdo. O leitor vai encontrar nessas estridentes Notas dispersas pelas paredes o andamento da beleza com motivações múltiplas no exercício da vida.

            Nos tempos de hoje, em cujo ritmo uma sociedade pós-industrial impele-se pela automação, pela massificação e pelo consumo, vale a pena tomar conhecimento da estreia desse poeta mineiro. Sua voz de grafiteiro poeta lateja emoções lindas. Em nervura e cumplicidade de palavras polivalentes, mostra o quanto o homem tem de grandeza em sua consciência grafitada com razão e emoção.

Cyro de Mattos é escritor e poeta. Membro Titular da Academia de Letras da Bahia e do Pen Clube do Brasil. Primeiro Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz.

O GRAFITEIRO POETA – Cyro de Mattos Read More »

DISCURSO DA FUNDAÇÃO DA ACADEMIA DE MEDICINA DE ITABUNA- Silvio Porto

Academia de Medicina de Itabuna!

Sejam todos bem vindos , para presenciarmos o nascimento da Academia de Medicina de Itabuna, Marco histórico da nossa cidade e vamos lembrar de vários médicos que fizeram história no sul da Bahia.

Lutas e conquistas marcam a trajetória dos nossos médicos que construíram uma imagem vitoriosa da nossa medicina. Esta Academia vem para ser reverenciada principalmente pelos que a mais entende e compreende: os próprios médicos. Vida longa para esta casa e que ela venha engrandecer ainda mais a nossa valorosa classe médica e defender a boa medicina e o bem estar da população. O lema da nossa Academia será sempre pelo respeito aos médicos do nosso passado, a união dos médicos no presente e o compromisso de buscar que os nossos médicos mais jovens e os nossos acadêmicos de medicina trilhem o caminho da ética, da justiça, da beneficência e da não maleficência pilares do nosso compromisso bioético.

Hoje 19/11/2021 , estamos fazendo História. Fico feliz e contribuo mais uma vez com a minha querida cidade de Itabuna ao ter a ideia de imortalizar a medicina de minha terra com esta Academia.  Chega tarde, mas chega a tempo de resgatar os nomes de médicos que construíram uma história de glórias da medicina grapiuna. Trabalho difícil escolher 40 nomes entre patronos e acadêmicos fundadores entre centenas de valorosos médicos que viveram entre nós e foram importantes e expoentes na nossa trajetória ao longo dos anos.  Alício Peltier de Queiroz na década de 1930 , no século XX, criou em Itabuna a Sociedade Medico-Cirúrgica.

Na nossa opinião foi o início de tudo que seguiu, e tempos depois em 1974, o médico Renato Costa teve a ideia com a ajuda de João Otávio e Mercia e do Provedor Calixto Midlej Filho, de plantar outra semente cientifica na nossa história médica Contemporânea, ao fundar o Centro de Estudos Professor Edgard Santos na estrutura da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna.
Este evento coincidiu no mandato do então Provedor Calixto Midlej Filho, que embora não sendo médico foi um dos grandes responsáveis pela transformação da medicina de Itabuna, dando início a valorização da pós graduação e especialização do corpo clínico dos médicos da instituição.

Alguns anos depois, tivemos a revitalização da Associação Bahiana de Medicina Regional de Itabuna, com um magnífico trabalho de Luís Boanerges Lima Fortunato Pereira na Presidência e Alair Rocha de Castro na Secretaria Científica. Este trabalho possibilitou no ano de 1985, realizarmos o I Congresso Médico do Cacau, marco histórico da nossa medicina regional.

A História que estamos contando não é um livro fechado, um veredicto final. Numa sociedade democrática , pode ser corrigida. O que estamos fazendo agora é uma reconstrução do que ocorreu desde 1930, elegendo médicos que mudaram o curso da nossa história com relevantes serviços prestados a sociedade e a medicina, bem como outros que contribuíram para elevar o nosso ensino a um patamar respeitado em toda Bahia e Brasil, haja visto o prestígio do nosso Curso de Medicina da UESC , da nossa recente Faculdade de Medicina Santo Agostinho, e do nosso Curso de Medicina da Universidade Federal Sul da Bahia, que embora a Faculdade de medicina esteja na cidade de Teixeira de Freitas , Itabuna e a sede da Reitoria e outros que buscaram maior qualificação como mestrado e doutorado e outros que produziram trabalhos científicos importantes .

Outro fato relevante é que estamos nascendo com o apoio da Faculdade de Medicina Santo Agostinho, primeira Escola Médica Particular de Itabuna, e que gentilmente nos cede uma sala para funcionar a nossa sede. Esta Academia vem premiar médicos que ofereceram condições de melhorar a qualidade de vida da população do Sul da Bahia. Médicos que individualmente ou coletivamente se dedicaram ao progresso científico e tecnológico da evolução do nosso modelo de saúde existente hoje na nossa cidade. Espero que esta Academia chegue para ficar, e que seja mais um instrumento de desenvolvimento e consolidação da nossa medicina. Que faça reverberar em luz, para os novos médicos que estão chegando a nossa cidade e seja uma fonte de inspiração para estimular a ética, a dignidade de ser médico e construam uma vida exemplar, valorizando a grandeza do conhecimento científico que é a alma nutriz da sabedoria médica associado ao trabalho diário , unindo o conhecimento, a sacrossanta missão de cuidar das pessoas, de instruir e educar o jovem ou não tão jovem profissional e fazendo-o entender que está nas suas mãos e atitudes o futuro da nossa profissão.

Esta Academia nasce com o propósito de estimular o progresso científico e profissional, porque o médico que estuda estabelece o fundamento , a causa e a finalidade de toda instituição que procura servir a sociedade e que na área médica se torna essencial. Espero que esta casa transmita ciência e arte com o firme propósito de construção de uma sociedade médica em Itabuna que procure sempre personalidade ética e moral e conhecimento. Estamos hoje plantando neste solo grapiuna, que produziu o fruto do cacau e que foi a maior riqueza da Bahia sob a proteção da Mata Atlântica , a nossa Academia de Medicina.

O solo, a terra existe para sempre. Os nossos médicos que já morreram e hoje são fonte de inspiração para os que honradamente estão se Imortalizando ao entrarem neste solo da ciência em vida. Que o saber médico seja uma semente fecunda nesta terra.  O que era um sonho, hoje se transforma em realidade. Que a semente de hoje, acorde amanhã como uma realidade para Itabuna, para a Bahia.

É considerado imortal todo aquele que fez ou faz de sua vida uma obra a ser lida, a ser internalizada. É objetivo da Academia de Medicina de Itabuna manter viva, na memória de todos, a contribuição que ilustres homens e mulheres deram, no sentido de colaborar para o aperfeiçoamento da sociedade e da humanidade. O meu desejo que esta Academia simbolize elos de união com todas gerações de médicos que passaram por Itabuna , como uma corrente que une todos que um dia pertenceram e os que ainda pertencem a esta maravilhosa cidade .

A nossa intenção agora é cerrar fileira ao lado da Academia da Bahia e de Feira de Santana na defesa da boa medicina e estimular outras cidades a seguirem o mesmo caminho. Os integrantes das Academias de Medicina do país (nomes reconhecidos por suas trajetórias técnicas, científicas, educacionais e éticas) consideram que as ações das nossas entidades médicas ao lado da FBAM – como uma das entidades médicas nacionais – se alinha com suas parceiras institucionais: Associação Médica Brasileira (AMB), Associação Nacional dos Médicos Residentes (ANMR), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Federação Nacional dos Médicos (Fenam).

Vamos lado a lado lutar para atender às expectativas da população brasileira de melhora na assistência, objetivo que será atingido apenas com a adoção de medidas estruturantes, como o aumento de investimentos no setor e a criação de uma carreira de Estado para o médico do Sistema Único de Saúde (SUS) e outros profissionais. Nosso próximo passo após a instalação em março de 2022 será a nossa filiação a Federação das academias de medicina brasileiras (FAMB) tendo como madrinha a Academia de Medicina de Feira de Santana , com o apoio da Academia de Medicina da Bahia e da Academia Nacional de Medicina.

Nós somos da Bahia! Bahia de todos os Santos e de todos orixás!
Somos da terra de Nosso Senhor do Bonfim !
Somos Itabuna!
Somos Brasil!
Deus seja louvado!

Silvio Porto de Oliveira.

 

Homenagem da Academia de Medicina de Itabuna ao Dia do Médico- 18/10/2021!

Dia do médico!
Dia de homenagear a dedicação dos profissionais médicos, que nesta pandemia foram para o front de batalha contra o Coronavírus, sem medo de morrer.
Todos sabiam que estavam indo para uma guerra sanitária, jamais vista no mundo.
E todos sabemos que quando vamos para a guerra , podemos salvar ou morrer.
A Classe Médica Brasileira deu um exemplo gigantesco de solidariedade, coragem, entrega, amor, fraternidade nesta luta.
Morreram mais de 600mil, mas saltávamos mais de 20milhoes que foram atingidos.
Valeu a pena!
Temos que agradecer pela atuação de todos médicos nesta batalha, e enaltecer a força da nossa medicina em prol da saúde brasileira.
Vamos saudar com louvor nossos médicos brasileiros em especial os da nossa cidade que com respeito, ética, cuidado , zelo e muita atenção cuidaram da nossa população do Sul da Bahia.

DISCURSO DA FUNDAÇÃO DA ACADEMIA DE MEDICINA DE ITABUNA- Silvio Porto Read More »

POEMAS DO NEGRO Por Cyro de Mattos (DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA)

 

Abolição

Na zoeira do terreiro

Batucam que batucam

Tambores sem cambão.

Trepidam nesses punhos

O suor, a lágrima, o sangue

Nos rastros do negro fujão.

Todos batem nesse tambor,

Pode até não ser de fato

A tão esperada abolição.

Mas é o começo duma hora

Que se faz tão grandiosa

Como o verde na amplidão.

 África agora é uma só voz

Na esperança das manhãs

Sem o ferro do vilão.

……….

Canga

Não se logra extrair

Os ossos dessa massa,

Os músculos mutilados

No esforço dos anos.

Tuas mãos, escravas,

Alimentadas na turva

Ferida, dor sem cura.

A atrocidade no ferro

Que furou o coração,

 A enchente na vala

Que transbordou de mágoa,

Nuvens não tocadas.

Nunca será paga a conta

Na mancha que envergonha.

Como herança os rastros

Dessa noite escura na pele

Que te lança nos muros,

Agarra-te  nas  manhãs

Com sua claridade vista

Apenas pelos não pretos.

Até quando barreiras

De tua  cor opaca farão

Da vida  uma coisa qualquer,

Desigual, desvão sem canto?

…………….

Pelourinho

Como suportar?

Treze… trinta… cinquenta…

Até o último gemido.

Os outros olhando

Cada chibatada. Tristes,

Sem nada fazer.

Ladeiras gastas.

E esse vento que recusa

Ao largo a desgraça.

……….

Escravo

Uma mão

Feito casca

Não lava

A outra

Feito lixa.

Ásperas

As duas

Feito bucha

Limpam

As duas

No esmero

Do senhor.

Limpam

As sobras

Ou  largura

Depois de lá

De dó em dó.

Perto

De o dia

Clarear

Até o sol

Morrer.

……………
Zumbi

Falo Zumbi,

Digo Palmares,

Ritmo da liberdade.

Falo Zumbi,

Digo Palmares,

Batuque da igualdade.

Falo Zumbi,

Digo Palmares,

Manual da fraternidade.

Falo Zumbi,

Digo Palmares

Sem o açúcar insaciável.

Falo Zumbi,

Digo Palmares,

Gente em grito, indignada.

Falo Zumbi,

Digo Palmares,

No abismo a África salta.

………………….

Cyro de Mattos é jornalista, cronista, contista, romancista, poeta e autor de livros para crianças. Publicado em Portugal, Itália, França, Espanha, Alemanha, Rússia, Dinamarca, México e Estados Unidos. Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna. Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz.

POEMAS DO NEGRO Por Cyro de Mattos (DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA) Read More »