Produção Literaria

AO GRANDE CYRO- Silvio Porto

“A vida é breve!
A arte é longa!
A vida e a arte e estão espelhadas na Alita!
Onde desponta Cyro de Mattos
Como a sua maior expressão
A imortalidade desejada
A fonte do saber duradoura.”

O poeta, cronista, jornalista, escritor e membro da Academia de Letras da Bahia e de Itabuna, Cyro de Mattos , foi alvo de uma homenagem merecida na noite do dia 27/05/2023 , onde foi reconhecido como Presidente de Honra vitalício da Alita e festejado por mais um prêmio literário na sua vasta obra produzida ao longo de sua carreira literária na Bahia , mas conhecida no Brasil e no mundo.
Hoje Cyro é um dos maiores escritores da Bahia.
Cyro podemos dizer que mora em
Itabuna , mas divide sua morada com um lugar chamado cultura e arte, e cada vez mais aumentando sua obra e com criações que mostra a sua grande capacidade intelectual .

Ninguém é forte sozinho. Na caminhada,
Cyro abraçou a Alita e com sua grandeza elevou a nossa Academia a um patamar valioso.
Há pessoas que fazem história por onde passa, mas com certeza na Alita , Cyro é a própria história:
Cyro hoje é a maior expressão literária do Sul da Bahia.
Os seus versos, suas poesias , suas crônicas, seus livros jamais serão
esquecidos e jamais morrerão.
A vida seria incompleta sem a literatura.
A nossa cultura seria incompleta sem Cyro.
O respeito, a gratidão, o reconhecimento de seus pares da Alita, demonstram o valor do nosso confrade para o mundo literário.

Montaigne já dizia que a admiração é o fundamento de toda filosofia, “revela a alma despida de egoísmo. A alegria de encontrar na grandeza do outro não parcelas da própria grandeza, mas da condição humana”.

Vida longa para Cyro!

Silvio Porto

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Discurso de Cyro de Mattos em Ocasião da outorga do título de Presidente de Honra da Academia de Letras de Itabuna

Discurso da Gratidão
por Cyro de Mattos

Primeiramente minha gratidão a Deus, que me deu a vida. À minha esposa Mariza, meu suporte físico e espiritual durante 50 anos de união conjugal. Aos meus três filhos e seis netos, pelo incentivo.
À confreira Jante Ruiz, que teve a ideia dessa homenagem. À confreira Raquel e ao confrade Wilson pelo apoio. Aos confrades e confreiras que aprovaram a iniciativa generosa, mas penso que outros integrantes desta instituição mereceriam a honraria.

Já vai longe o tempo em que recebi a primeira distinção relevante no meu currículo de vida literária. Foi em 1968, no Rio. Vendi meus livros de Direito do escritório de advocacia, que havia estabelecido aqui em Itabuna, com uma clientela considerável proveniente da área trabalhista, quando então resolvi migrar para o Rio onde seguiria minha carreira literária. Paralelamente, optei pelo jornalismo para sobreviver lá na cidade grande.
O Rio e São Paulo naquela época formavam o tambor cultural do Brasil. Quem quisesse ter repercussão na carreira literária devia migrar cedo para uma das duas metrópoles. Já repórter e redator do Diário de Notícias no Rio, ainda como um moço do interior baiano espantado com a cidade de muita gente e edifícios que altos sinalavam para as nuvens, sentia-me estranho aos meios e costumes da metrópole. Foi aí que tive uma boa surpresa. Conquistava em 1968 o prêmio Internacional Miguel de Cervantes, patrocinado pela Casa dos Quixotes, para autores de língua portuguesa. O conto que me deu o prêmio foi Inocentes e Selvagens. Era a primeira vez que um autor brasileiro conquistava a láurea. Não preciso dizer da alegria.
Vieram outras conquistas literárias e distinções importantes, como foram ressalvadas aqui pela confreira Raquel Rocha. Veio minha entrega pela progressão e honra de nossa instituição, conforme destacou a confreira Janete Ruiz. A última de nossas conquistas literárias, sem dúvida a mais relevante, se deu recentemente com o Prêmio Literário Casa de las Americas, para o livro Infância com Bicho e Pesadelo e Outras Histórias.
Fico pensando agora como reagiria meu pai Augusto quando soubesse que tinha um filho como autor de 65 livros pessoais publicados no Brasil, 16 no exterior, com vários prêmios de categoria, distinções outorgadas por instituições importantes. Meu pai era um homem iletrado, aprendera a ler e a escrever por esforço próprio. Tudo ele fez com trabalho, esforço e economia para que os filhos fossem gente: o mais velho, José Orlando, se tornasse um médico respeitável, o mais novo, começasse a carreira de advogado nas pegadas de um profissional competente. O irmão mais velho tornou-se um médico de alto valor aqui em Itabuna. Cirurgião elogiado durante décadas de dedicação e amor à Medicina, foi provedor da Santa Casa de Misericórdia com louvores. O filho caçula fora uma decepção para o pai, trocara o certo pelo duvidoso.
O pai disse:
– Você pretende viver nas nuvens, seguindo uma profissão que não existe, não bota comida no prato, aqui na cidade ninguém dá importância a quem vive de escrever livros. – De rosto triste na expressão inconformada concluiu: – Esse negócio de ser escritor só serve pra quem não tem juízo.
Eu observei:
– Meu pai é o que gosto, ser escritor não dá dinheiro nem conceito, reconheço, mas vou seguir o meu destino.
Perguntei-lhe se ele já havia ouvido falar no famoso romancista Jorge Amado, era uma referência para quem quisesse seguir a carreira de escritor.
Ele respondeu que já ouvira falar em Jorge Amado, mas era um caso raro, acrescentando que devemos seguir a regra e não a exceção, onde para se alcançar as metas tudo é mais difícil.
O pai não podia pensar diferente, com o saber que aprendera na escola da vida, queria o melhor para mim.
Certamente hoje, se estivesse aqui comigo, ficaria calado, entre estranho e assustado.
Seria bom, agradável, se ele dissesse:
– Filho eu não sabia que o tempo estava preparando uma boa surpresa pra mim e pra sua mãe Josefina.
O tempo, esse avantajado cavaleiro soberano. Sabe das coisas, conhece os caminhos, dá e toma, tudo bebe e lambe.
Antes de se recolher para se reconfortar no sono, depois de mais um dia de trabalho, gostaria que o meu pai dissesse de voz calma:
– Meu filho, você é um escritor de verdade.
Passados tantos janeiros, entre dias alegres e tristes, estou recebendo neste momento singular distinção como Presidente de Honra da Academia de Letras de Itabuna, instituição com finalidades culturais que ajudei a fundar com um grupo de pessoas sonhadoras. Fico comovido com a iniciativa. Recebo a homenagem como reconhecimento ao meu legado, minha participação na instituição que se tornou um capítulo importante em minha vida.
Por isso mesmo, não vejo outra maneira de agradecer essa homenagem a não ser repetindo o que disse em meu poema de louvor à Academia de Letras de Itabuna e que hoje serve como a letra do hino oficial da instituição.

A cidade contigo conhece
Que a vida não é coisa vã,
É a palavra solta a dizer
A beleza de cada manhã.

Imortal é tua maneira de ser,
Tua luz que nunca se apaga,
Ideal é a página que escreves
Pra voar com as asas da alma.

Tudo vale, tudo anda com Deus,
Que nos deu a razão e a emoção,
O sentido de viver com o amor
Pra dizer o que vem do coração.

O sentido de viver com o amor
Pra dizer o que vem do coração.

Obrigado a todos e a todas por este momento cativante.

*Discurso proferido por Cyro na homenagem que recebeu como Presidente de Honra da Academia de Letras de Itabuna, no auditório do Hospital de Olhos, em 27 de maio de 2023.

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A LEITURA E O DILEMA- Cyro de Mattos

                 Muito se fala sobre a questão do número “modesto” de leitores, em contraponto à volumosa quantidade de livros lançados a cada ano. Certa vez o repórter perguntou se há uma relação de causa e consequência. Como eu via essa questão.  Verdade, escreve-se mais para o menos. Uma enxurrada de livros me é enviada para que eu dê uma opinião. Dá medo. De boa qualidade poucos vão ficar, a maioria o tempo leva para a poeira do vento.

           Bom lembrar que a literatura não tinha antes a concorrência de outros meios, como o teatro, o cinema e a tecnologia de hoje, com a linguagem visual, abrangente e instantânea. O autor tinha mais prestígio. Nem por isso parece que o livro vá desaparecer em seu formato físico, onde existe o ser humano está o sonho, a questão e a incerteza, que a palavra escrita gera. Mudou o suporte. A ferramenta visual da internet, que tem lá seus vícios e virtudes, agora possibilita nova leitura da vida, às vezes a narrativa ganha muito mais leitores, não se pode negar isso, às vezes o que produz é deficiente, celebra besteiras, não vinga. Deixando fora esse tipo de competição massificada, vê-se que a linguagem da arte é sempre específica e exige um leitor íntimo dos problemas estéticos, que têm a ver com a criatividade em si e a recepção do assunto.

                Como solucionar o grande enigma, o nó górdio da leitura no Brasil? É um problema do País, de educação, econômico e político. É preciso que haja uma postura séria que ataque as causas do problema. Cabe aos governantes, dirigentes e administradores fornecer os meios para o enfrentamento dessas causas, de natureza complexa. Não é impossível de ser pelo menos atenuado. Basta boa vontade e seriedade. Somos um país de iletrados, sem hábito de leitura, com um poder aquisitivo baixo pelas classes menos favorecidas.  Nesse conjunto de omissões falta uma política institucional pública eficiente para fornecer instrumentos com os quais a editora que está nascendo tenha assim algum suporte, estímulo para sobreviver e crescer.

É preciso também uma legislação que obrigue as universidades e colégios estudarem o autor no vestibular e na sala de aula. É preciso criar novas estratégias nos programas de apoio ao livro e de sua circulação nos espaços de leitura. Como está vamos continuar na mesmice. Pior ainda com a concorrência do fácil proposto pela tevê e o vídeo.

Uma questão central da contemporaneidade é a literatura em tempos de Inteligência Artificial, quando máquinas “pensam” e produzem textos cada vez mais subjetivos. Qual seria o desafio dos escritores hoje?

 A Inteligência Artificial não cria significado, só os humanos. É digital, desconhece as questões interiores e incertezas. O que sabe do amor? Do inexorável? De Deus?  Vê nascer e vê morrer sem nada poder fazer?  Se não tem a razão e a emoção como pretende enfrentar os atritos do enigma com o seu peso?  Tem seus ganhos, utilidade, mas por enquanto vou ficando no meu canto, escrevendo o meu tanto, com espanto e encanto.

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DESVIADOS DA TERNURA- Cyro de Mattos

Dor é vida, sofremos porque vivemos, li no poeta Jorge de Lima. A vida torna-se leve quando habitada com amor. Há milênios que as religiões estão tentando mostrar ao ser humano que só o amor constrói. Braço ao abraço a rota fica mais fácil. Há milênios, nós os humanos estamos construindo a história de nossa condição com intolerâncias, violência, egoísmo, traição, infâmia, em atestado absurdo, quase sem fim, do quanto gostamos de cultivar o ódio, fazer uso da farsa e vaidade, escrever a vida às avessas. Desviados da ternura, mais para urubu do que para curió. O que sabe hoje o nosso pobre coração humano de Deus? Do enigma, da dor e do amor?

Essa lição fácil, dar alpiste aos desvalidos, injustiçados, pássaros tristes com as penas doídas, o filho unigênito de Deus, aquele homem de coração solidário, pleno de amor, ensinou no dia a dia. Por onde andou o seu coração foi para dizer que Deus existe. Podemos senti-lo na flor do coração. Basta amar o outro. A flor do coração sente-se em outros que em afeto se juntam. O semeador de esperança, curador de enfermidades, vencedor da morte, o que abriu as portas da esperança, o bem amado salvador da humanidade, no país dos que elegiam a vida sustentada com os valores materiais, em que o ouro e a prata ocupavam a primazia, disseminava que como cantiga plantada na ciranda do deserto a morada neste planeta se faz possível com todas as mãos numa só comunhão.

Ghandy lembra que a cada dia a natureza produz o suficiente para nossas carências. Se cada um de nós tomasse o que lhe fosse necessário, não haveria pobreza no mundo. Ninguém morreria de fome. O genial Charles Chaplin fala do caminho da vida com beleza e liberdade. Lamenta que tenha ocorrido o desvio da ternura. Ressalta que a inveja, o ciúme e a cobiça envenenaram a alma dos homens, ergueram muralhas de ódio no mundo, fazendo-nos marchar a passos de ganso para a miséria e horror dos morticínios.

Gostava de oferecer um abraço de bom coração a qualquer um quando percorria a cidade, em seu rito de amar o próximo como se fosse a si mesmo. Em linguagem simples, com amenidade de nuvem, dizia que todos nós somos missionários. Consistia a prática em doar-se ao outro, semear o amor entre os excluídos de uma vida digna, muitos deles sem saber a razão da fome e sede. Ele assim prosseguia sereno, ao mesmo tempo que era o pai, o filho, o irmão.

Homem que doou a vida ao outro como a maior prova de amor.  Um libertador para os enfermos e possuídos do mal. O que foi enviado para ser crucificado como resultado da bondade que a todos ofertou. O que no último gemido ainda pediu ao Pai eterno que nos perdoasse, não sabíamos o que estávamos fazendo com o Amor.

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EDUARDO PORTELLA, PENSADOR DA CULTURA- Cyro de Mattos

Eduardo Portella era um desses intelectuais atuantes que argumentava com lucidez sobre assuntos de nossas letras e cultura. Graduado pela Faculdade de Ciências Sociais e Jurídicas da Universidade Federal de Pernambuco. Professor Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, lecionou até os últimos dias de vida. Ministro da Educação no governo do Presidente João Figueiredo, lutou pela anistia, foi demitido por ter dado apoio à greve dos professores universitários.

Seu discurso de vida dirigiu-se para os parâmetros de um humanismo solidário com base na ordem da verdade. Foi interditado por aqueles que pensam ser suficiente para valer na dotação humana o poder que você exerce com o cargo. Dele é a célebre frase: “Não sou ministro, estou ministro”, para afirmar com isso, no tácito entendimento da palavra enunciada, que tudo é transitório ante o eterno que fica.

Crítico, pesquisador, conferencista, editor, advogado e político brasileiro. Ocupou a presidência da Conferência Mundial da UNESCO. Integrante do Pen Clube do Brasil.  Foi diretor das Edições Tempo Brasileiro, divulgador de Heidegger no Brasil e do formalismo russo de Yuri Tynianov. Membro titular da Academia Brasileira de Letras, recebido por Afrânio Coutinho. Naquela instituição recebeu Alfredo Bosi, Cândido Mendes de Almeida, Carlos Nejar, Celso Furtado, Ivan Junqueira, João Ubaldo Ribeiro, Lígia Fagundes Telles, Merval Pereira e Zélia Gattai.

Propôs um método crítico de base hermenêutica, teórica e filosófica para a aferição axiológica da obra literária. Sem inclinações para a interpretação da obra literária com base na inserção de autor e legado nos períodos históricos, nem decorrente de gratuitas impressões sobre a massa do que foi escrito,  optou por uma crítica literária em função do estilo em que se funda e marca a obra  na expressividade da escrita, tanto na forma  como no conteúdo.

Esteve  à frente dos níveis usuais da crítica e interpretação da obra literária, foi o responsável pela introdução da análise estilística nas letras brasileiras. Filtrou os pressupostos, métodos e ferramentas dos espanhóis Carlos Bousoño e Dámaso Alonso, tendo o julgamento como ato final na análise literária, após a captura do fundamento que transita entre linguagem e uso da língua metamorfoseada, responsável pela literariedade. Este fundamento é a visualização do entretexto.  Sua tese de doutorado foi publicada sob o título Fundamento da Investigação Literária (1973), refundida em 1974.

Deixou um legado constituído de vinte e três obras e, entre elas, Dimensões I (1958), Dimensões II (1959), África colonos e cúmplices (1961), Literatura e realidade nacional (1963), Dimensões III (1965), Teoria da comunicação literária (1970), Vanguarda e cultura de massa (1978) e A Sabedoria da Fábula (2011). Recebeu prêmios literários e títulos honoríficos de muito prestígio, como Gran Cruz de la Orden del Mérito Civil, Madri (2001), Doutor Honoris-Causa da Universidade Federal da Bahia (1983), Gran-Cruz de la Orden Civil de Alfonso X, el Sabio, Madri (1980), Grã-Cruz da Ordem do Rio Branco, Brasília (1979).

Em assunto que trate da teoria literária, análise e interpretação da obra, aprende-se muito com Eduardo Portella. Lucidez e conhecimento são meios importantes na análise estilística da obra, de maneira coesa e convincente. Com o título de Dimensões (I, II e III), sua análise crítica é fatura exemplar do que se tem escrito sobre a obra literária de diversos autores brasileiros. O leitor fica preso aos argumentos inteligentes e raciocínios proveitosos sobre a obra e muito aprende com seus estudos e interpretações.

Acompanhou a carreira literária minha desde o nascimento, há sessenta anos. Prestigiou-me como autor no longo curso da jornada.  Prefaciou o nosso livro   Cancioneiro do Cacau, que inédito recebeu  o Prêmio Nacional  de Poesia Ribeiro Couto da União  Brasileira de Escritores (Rio), ao ser publicado conquistou o Segundo Prêmio Internacional de Literatura Maestrale Marengo d’Oro, em Gênova, Itália,  o Terceiro Prêmio Nacional de Poesia Emílio Moura da Academia Mineira de Letras e foi finalista do Jabuti.

É dele essa observação sobre o livro: “ Mas o seu poema  não irrompe de qualquer abalo sísmico, ou de qualquer intempérie facilmente previsível. Ele eclode da história revigorada, nasce do fundo do homem e das coisas, da sua raiz em curso, da origem protegida do menor sedentarismo… Cyro de Mattos se compraz em revalorizar a raiz, e reverenciar a origem, em reconhecer o fundamento radicalmente imune ao fundamentalismo. O poeta enraizado e, no caso, porque enraizado, generoso, recorda para a frente.  Como quem retira dos filtros do passado, e dos detectores de metais do presente, lições, mesmo que enviesadas, para a construção do amanhã.”

Que melhor prêmio poderia receber autor e obra do que essa opinião do enorme ensaísta? Humanista, sincero, elegante, intelectual de primeira grandeza. A última vez que estive com ele, na Academia Brasileira de Letras, quando fomos proferir palestra sobre os mares trágicos de Adonias Filho, disse-me que estava escrevendo um livro sobre Adonias Filho e outro sobre Jorge Amado.

A ensaísta e professora universitária Nelly Novaes Coelho dizia que para ter um salvo-conduto que abonasse a obra o autor precisava receber a análise literária de quem era portador de instrumental crítico avançado ou possuidor de obra consagrada.  Claro que o leitor generalizado ou de visão crítica, de intimidade com os valores estéticos, torna-se meio importante para que a obra circule e permaneça viva quando for visitada. Surpreenda como instrumento que ilumina a parte noturna do ser, como observa Octavio Paz. Neste sentido, posso dizer que, no primeiro entendimento de Nelly Novaes Coelho, vejo-me inserido, sou autor privilegiado ao receber o prefácio de Eduardo Portella como rica apresentação sobre nosso cancioneiro.

Baiano de Salvador, nascido em 8 de outubro de 1932, Eduardo Portella passou desse plano terrestre para outra dimensão no dia 2 de maio de 2017.

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TRAÇO DE MIGUEL ELIAS- Cyro de Mattos

Meu retrato

Por Miguel

É perfeito.

 

Tão sereno

Está meu rosto

Nesse gesto.

 

Só o Elias

Flagra tudo

Do meu jeito.

 

Desenhista

Expressivo

É de fato.

 

No seu traço

Fica eterno

O momento.

 

*Miguel Elías é um pintor espanhol conhecido como Pintor dos Poetas. Professor  doutor da Universidade de Salamanca. Ilustrou o livro Guitarra de Salamanca, de  Cyro de Mattos, publicado no Brasil e Espanha.

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ADONIAS E JORGE NO JARDIM- Cyro de Mattos

 

No domingo azul de verão fui fazer meu passeio matinal e aproveitar o banho de sol no jardim. Oportunidade em que vejo crianças no ritmo da infância brincando com os pombos, subindo na escadinha da pequena casa e descendo pelo caminho enladeirado feito com a madeira macia. Nessa hora da infância livre como sonho, sorridentes todas elas, com gestos contínuos que se propagam em ondas de alegria e cantares afoitos de passarinho, pelo chão e ar iluminados.
Foi então que tive uma surpresa agradável quando avistei aqueles dois senhores sentados em um dos bancos perto do coreto. Não havia dúvida, eram Adonias Filho e Jorge Amado, os consagrados romancistas, em conversa mansa, fraterna, provavelmente falando das coisas da terra onde nasceram. Das longes terras do sem fim em que uma civilização foi forjada com caracteres próprios graças à saga do cacau, o fruto que valia como ouro.
Aproximei-me deles, dei meu bom dia, disse da alegria em encontrá-los naquele momento marcado pelos céus. Eles sorriram ao mesmo tempo. Adonias foi logo dizendo que se sentia um privilegiado por ter seu nome escolhido para ser o paraninfo da Academia de Letras de Itabuna. Acrescentou que isso era generosidade dos membros da instituição, mas que não fazia justiça ao Jorge, que havia nascido em Itabuna, no distrito de Ferradas, na fazenda Auricídia. Jorge interveio frisando que a homenagem era justa. Disse que embora Adonias tivesse nascido em Itajuípe, antigo Pirangi, distrito de Ilhéus, era antes de tudo um grapiúna, um filho legítimo da civilização do cacau. Afinal, comentou, somos todos irmãos, filhos de uma mesma nação. Ressaltou que se dava como satisfeito em ser o patrono da cadeira 5, que tinha como fundador o escritor Cyro, um de seus autores emergentes preferidos, da geração que veio depois da sua, em terras grapiúnas, com Jorge Medauar, Hélio Pólvora, Elvira Foeppel, Sônia Coutinho, Telmo Padilha, Florisvaldo Mattos e Marcos Santarrita, entre outros.
Não preciso dizer o quanto me senti lisonjeado com a observação de Jorge, mas fiquei com um sorriso tímido, sem graça até, pois não esperava tanta gentileza por parte do célebre autor de Gabriela, Cravo e Canela. Sem dúvida, como o Adonias, Jorge era um autor grandão de nossas letras, eu não passava de um nanico.
Tanto Adonias como Jorge pediram que eu transmitisse aos membros da Academia de Letras de Itabuna (Alita), carinhosamente chamados de alitanos, que estavam sorrindo de contente com uma entidade que se dedicava com competência às letras, ainda na idade de 12 anos. Uma menina moça, mas que vinha fazendo com suas atividades continuas papel de gente grande, desempenho bonito, ao divulgar com amor a cultura.
Despediram-se, depois do fraternal abraço que recebi de cada um deles. Provavelmente iam participar de algum encontro de escritores promovido pelos anjos. Lá, no teatro do céu, atapetado de nuvem no ambiente, acariciado na plateia pelo vento suave, que abana como um leque sem fim os instantes do eterno.

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RESENHA DO LIVRO SONHO DE VIVER- Tica Simões

Aleilton Fonseca.  Sonhos de Viver. Salvador: Camarurê Publicações, 2022.

Os seis contos que integram o livro Sonhos de Viver, de Aleilton Fonseca, são mesmo contos exemplares, como bem disse André Seffrin, no prefácio que abre o livro.

A dedicatória já dá pista ao leitor sobre o pessoano “fingimento” do narrador. E a “dor que deveras sente”  pode ser sentida ao longo dos contos, por nuances diversas: seja  na temática que evidencia sempre o singular  olhar de viveres diversos:  seja na linguagem lírica que  potencializa a sua observação da vida; seja nos temas de cada conto, temas esses relacionados, de uma forma ou outra, aos sonhos, às artes e à natureza.

Em todos os contos, forte é o sentimento do outro, a solidariedade, a humanidade. Assim, elegendo personagens menos favorecidos que, no entanto, habitam e convivem com a faixa mais abastada da sociedade, AF foca-os ressaltando, com especial sensibilidade, os abismos sociais, que  povoam sonhos de viver, na ficção e na vida…

O primeiro conto, Os Acordes da Banda, encanta pelo sentimento contido nas ações do maestro Chico Augusto; por seu grande amor à arte a ponto de perdoar uma tão grande traição do maestro Lídio.

As Lições do Jardineiro faz pensar e entender como aprender a cultivar jardins de vida. Neles, lindas rosas que simbolizam sonhos, “o jardineiro é […] um poeta das plantas e das flores” (p.40).

O olhar pelo foco social – Vidas de Barro, O homem da Calçada e Diarista Exemplar – evidenciam a luta dos mais fracos, ressaltando o amor que dá força para vencer até intempéries, mesmo ante a indiferença dos mais aquinhoados.

Mas é o conto Dona Tute que fecha, com chave de ouro, a proposta anunciada na dedicatória e sutilmente revelada pelo narrador ao falar do “filho adotivo. Ele que agora reinventa, nesta escrita, as suas aventuras, com as cores e as metáforas do coração […] para celebrar a sua trajetória de vida” (p.62). Uma bela  homenagem  a quem o livro é dedicado!

Em 10/4/2023

Tica Simões

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O SONHO DE VOAR- João Otavio Macedo

Por algumas vezes, já abordei o problema do nosso aeroporto, contando as suas histórias e a luta travada para manter um aeroporto na cidade. Apesar dos 12/13 anos, já me interessava pelos problemas de Itabuna, bem menores do que temos presentemente e já dava longos passeios dominicais, junto com a família até aquele local conhecido como “stand”, onde os atiradores do nosso Tiro de Guerra praticavam o tiro com fuzil; o local já havia sido demarcado por alguns moradores, como Tertuliano Guedes de Pinho, Mário dos Santos Padre, Ottoni José da Silva e outros itabunenses vibrantes que há muito sonhavam com a existência de um aeroporto, por menor que fosse, mas que atendesse as exigências da cidade e da região. Nos anos 50, Mário Padre, juntamente com Raminho fizeram a ação pioneira de trazer pescado de peixes de Itacaré, utilizando um teco-teco; a experiência não durou muito tempo, mas mostrou a viabilidade do projeto.

Ressalte-se que o aeroporto de Ilhéus já funcionava regularmente desde maio de 1938. O aeroporto de Ilhéus já servia a contento, embora com o eterno problema de se buscar novas áreas para ampliar as áreas de serviço.

A nossa Itabuna nos anos cinquenta fervilhava de progresso e a cultura cacaueira mostrava que se encontrava aí para valer; jovens itabunenses se agrupavam na UNIÃO DOS ESTUDANTES SECUNDÁRIOS DE ITABUNA (UESI) e na FRENTE ITABUNENSE DE AÇÃO RENOVADORES (FIAR): Esses jovens lutariam pelo aeroporto, pela telefonia, por novos colégios na cidade, enfim, naquele caldeamento as ideias surgiram e havia pressa.

Pois bem, em 1953 desceu em nossa cidade o primeiro DC-3, ampliando o leque de atendimento aos usuários do serviço aéreo; a pista do aeroporto não era pavimentada e as instalações para o atendimento ao passageiro eram precárias; mas com todas essas precariedades, o aeroporto funcionou por alguns; quando foi inaugurada a nossa estação de passageiros e a pista pavimentada, o aeroporto foi desativado.

Os jovens que batalham pela reativação do aeroporto, pertencente ao Aero Club de Itabuna estão novamente às voltas para a reativação do nosso aeroporto. Encontro OLIVIO BRAGA OLIVEIRA, um dos líderes do nosso Aero Club que, com um sorriso de pura satisfação, salienta que a Prefeitura já deu os primeiros sinais para iniciar conversações.

Será verdade, ou mais um sonho? Pelo que já ouvi e já li, é viável o retorno do movimento aeroviário utilizando a pista e as instalações e, como temos, no momento, um prefeito que é humilde e bem atento às coisas do nosso município, é bem possível que esse desiderato seja conseguido. Aí soltaremos fogos de verdade!

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DO ILUMINISMO À BADERNA- João Otavio Macedo

Aprendemos, no curso escolar, a colaboração que cientistas e pensadores deram na formulação do comportamento das sociedades; desde o homem das cavernas até o que observamos presentemente, muitas coisas rolaram neste mundo; guerras e mais guerras eclodiram matando um número de pessoas, além das conhecidas e sempre citadas duas guerras mundiais, ambas na primeira metade do século passado, com um raio de destruição jamais observado e quando foi utilizado, pela primeira vez, o recurso nuclear, que assombrou o mundo; até hoje, e o exemplo mais flagrante são as ameaças do dirigente russo que, vez por outra, ameaça soltar os seus indomáveis artefactos nucleares, capazes de destruir boa parte do mundo.

Para que tanta ganância quando os estudos mostram claramente que os recursos existentes seriam suficientes para matar a fome no mundo e promover o desenvolvimento daqueles países e regiões que se mantêm alheios ao desenvolvimento; porque a comunidade científica internacional que, em alguns momentos colocou-se contra a barbárie e bem poderia continuar nessa batalha, ajudando a jogar para longe o espectro da guerra, que só miséria traz aos que nela se envolvem.

O mundo ocidental sofreu uma grande influência do mundo greco-romano e, depois, de outros países que surgiram na constelação das nações líderes do mundo. Estudamos as revoluções que surgiram na Grã-Bretanha e na França, da revolução industrial, da revolução francesa e de outros movimentos que, verdadeiramente, modificaram a face da terra; a máquina a vapor, a eletricidade, o carro, a aviação, várias e várias contribuições do gênio humano ao desenvolvimento dos povos; essas conquistas seriam mais realçadas caso estivessem todas elas voltadas para o bem-estar das pessoas; aqueles milhões de mortos nas duas grandes guerras e um incalculável número de prédios, estradas, navios, veículos, aviões, destruídos nas lutas que se travaram no ar, em terra e nos mares e oceanos, todo esse recurso, caso houvesse sido aplicado na agricultura, na medicina, na pesquisa, teríamos, hoje, um resultado bem diferente; quando vemos os prédios destruídos na Ucrânia, a indignação aumenta, pois sabe-se que, mais dia, menos dia, aqueles prédios destruídos serão reconstruídos, desperdiçando material e mão-de-obra, que poderiam estar sendo usados em atos nobres e pacíficos.

Vendo, na TV, atos de vandalismo nas ruas e avenidas da decantada Paris, com lojas sendo incendiadas, fico pensando o que diriam os enciclopedistas e iluministas que moldaram o pensamento do povo francês; toda essa confusão pelo fato de o governo querer aumentar a idade da aposentadoria, passando dos 62 para os 64 anos de idade; tem razão o governo? Têm razão os franceses que são contra? Não haveria outra maneira de se discutir o problema que não fosse a destruição, o incêndio.

Quando no final da segunda guerra mundial, Hitler vendo-se derrotado, ordenou ao seu Comandante Militar em Paria que incendiasse Paria. Felizmente, o militar, mesmo sabendo do tremendo risco que estava correndo, desobedeceu a ordem de Berlim e aquele incalculável patrimônio da humanidade, existente em Paris, foi salvo.

Convido o prezado (a) leitor uma reflexão sobre esses acontecimentos nefastos que, por força do poder das comunicações, somos avisados no mesmo momento que o fato ocorre.

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