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EDITAL 01/2024 CONVOCAÇÃO PARA ELABORAÇÃO DE COMPÊNDIO BIOGRÁFICO DOS PATRONOS DA ALITA

EDITAL 01/2024
ACADEMIA DE LETRAS DE ITABUNA – ALITA

CONVOCAÇÃO PARA ELABORAÇÃO DE COMPÊNDIO BIOGRÁFICO DOS PATRONOS DA ALITA

A Presidente da Academia de Letras de Itabuna – ALITA, Raquel Rocha, no uso de suas atribuições, convoca todos os membros da Academia para participarem da elaboração do compêndio biográfico dos patronos da ALITA.

1- OBJETIVO:
Publicação de um compêndio biográfico reunindo as biografias de todos os patronos da Academia de Letras de Itabuna.

2- PROPOSTA:
Produzir a biografia de cada um dos patronos da Academia de Letras de Itabuna, o que deverá ser feito pelo ocupante da cadeira correspondente ao patrono biografado.

3- ORIENTAÇÕES GERAIS:

3.1- Conceito de Biografia: A biografia é um gênero textual que relata a vida de uma pessoa, apresentando seus principais feitos, experiências e fatos importantes. O texto deve ser narrativo, escrito em terceira pessoa.

3.2 Estrutura da Biografia:
Para garantir coesão e fluidez na obra, sugerimos uma estrutura básica, mas encorajamos cada autor a trazer sua voz e estilo únicos à narrativa.

• Título: Nome do biografado acompanhado de uma frase ou expressão que o represente.
• Introdução: Texto inicial contendo data e local de nascimento, referências familiares, infância e formação educacional.
• Corpo do Texto: Relatos em sequência cronológica.
• Conclusão: Últimos momentos da vida do biografado ou últimas informações do recorte temporal escolhido, podendo incluir considerações sobre a importância do biografado.

3.3 Coleta de Dados:
As biografias deverão incluir os seguintes dados:

• Nome dos pais e profissão destes.
• Local e data de nascimento.
• Casamento.
• Filhos.
• Onde estudou e o que estudou.
• Onde viveu.
• Realizações, cargos e funções.
• Fatos importantes da vida e curiosidades.
• Produção literária/acadêmica.
• Data de falecimento.
• Construção da Linha do Tempo:

3.4 Inserção de Fragmentos da Obra:
As biografias podem incluir partes de textos, poesias, citações e afins do biografado.

3.5 Formatação:
• Os textos devem ser enviados em formato word.
• Extensão: de 2 a 4 laudas.
• Fonte: Arial, tamanho 11.
• Espaçamento: 1,5.
• O nome do autor deve constar no texto, abaixo do título.
• Uma breve apresentação do autor deve ser inserida ao final do texto biográfico e, antes das referências. Esta apresentação deve ser formatada em itálico e conter, no máximo, 60 palavras. Deve ser finalizada no mesmo padrão utilizado no site da instituição, informando cadeira e patrono.
• O arquivo deve ser nomeado da seguinte forma: Biografia de (Nome do patrono) por (nome do autor).
• Caso queiram inserir fotos dos patronos estas devem ser enviadas no formato JPG em alta resolução, no mesmo e-mail que que o texto biográfico. No e-mail também deve constar a legenda para a foto. Solicitamos que verifiquem se a foto tem direito autoral liberado antes de enviá-la.

4. PESQUISA:
Além da escrita, este é um trabalho de pesquisa. Dessa forma, cada membro deverá se dedicar a pesquisar sobre seu patrono em fontes literárias e em fontes orais como: familiares, amigos e historiadores, caso seja possível. É importante incluir as fontes pesquisadas nas referências.

5. ESTRUTURA DO LIVRO:
O livro será composto por 40 capítulos, cada um dedicado à biografia de um patrono. O membro responsável pela redação será formalmente reconhecido autor e terá sob a sua responsabilidade as informações biográficas escritas sobre o patrono.

6. IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO:
É muito importante que todos os membros escrevam sobre seus patronos para que sejam todos biografados. Em casos excepcionais, onde não se tenha a produção biográfica dentro do prazo estabelecido neste edital, será designada uma comissão para sanar essa desconformidade. Neste caso, a autoria do capítulo será do membro que escrever sobre o patrono cuja biografia não foi confeccionada pelo ocupante da cadeira.

7. PRAZO PARA SUBMISSÃO:
O material deverá ser enviado por e-mail para alitaitabuna@gmail.com até o dia 20 de setembro de 2024.

8. COORDENAÇÃO
O projeto será coordenado por Gustavo Cunha, Diretor de Projetos e Pesquisas e por Raquel Rocha, presidente da Instituição.
Contamos com a colaboração de todos os membros para a realização deste importante projeto literário.

Itabuna, 04 de julho de 2024.

Gustavo Cunha
Diretor de Projetos e Pesquisas

Raquel Rocha
Presidente

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PORTARIA Nº 02/2024

PORTARIA ACADEMIA DE LETRAS DE ITABUNA

Nº 02/2024

A Presidente da Academia de Letras de Itabuna – ALITA, Raquel Rocha, no uso de suas atribuições, lastreado no disposto nos Artigos 18, parágrafo III, do Regimento Interno.

RESOLVE

Designar a acadêmica Maria Luíza Nora de Andrade para representar a Academia de Letras de Itabuna – ALITA no lançamento da Comissão Henrique Simões para os festejos dos 500 anos de Ilhéus, da Academia de Letras de Ilhéus dia 26 de junho, às 18h30, em sua sede.

Itabuna, 26 de junho de 2024.

Raquel Rocha

PRESIDENTE

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POEMAS de Cyro de Mattos

EM MEU CANTO

Cyro de Mattos

 

Embora alguns não queiram,
Sou do bem, logo penso:
Existo blindado por Deus.

Nessa estrada comprida
O corpo reclamando,
Quero ficar no meu canto.

Desconheço o desencanto,
Na paz desse encontro melhor
Ouvir uma música primaveril.

Entre gorjeios e volteios,
Enquanto as nuvens passam
Conversar com os passarinhos.

II
Escritor

Dentro das letras viveu.
Nunca quis leitor aos montes.
Desejou o belo.

*********************

 

FLOR
Cyro de Mattos

Bela! bela!
Mal desponta,
Desaparece.
Mas a da alma
Sempre perdura
Porque na alma
Tece e acontece.

*********************

MALANDRINHO PEPEU
Cyro de Mattos

Sou pesado mesmo,
Quieto, isso não,
Meu dentinho no doce
Eta satisfação.

Ô papai, ô mamãe,
No domingo me levem
Pra brincar de nadar
Na onda azul do mar.

Só não me deixem afundar!

 

*********************

IMAGINANDO NAVIOS
Cyro de Mattos

Navio no mar
Com sereia e luar,

Navio no azul
Sopra nele o vento sul,

Navio encalhado
Chegará ao outro lado?

Navio no porto
Sob o sol de agosto,

Navio de pirata
Carregado de ouro e prata.

Navio na guerra
E o canhão que não erra,

Navio no fundo
E o silêncio profundo.

*********************

ALFAIATE

Cyro de Mattos

Pijaminha.
Calção.
Calça curta.
Farda.
Calça comprida.
Paletó.
Terno preto.

Nas mãos
caprichosas
o tempo
paciente
sempre
costurava
suas medidas
exatas.

*********************

 

SINO DE BELÉM
Cyro de Mattos

Blem blem blem,
Toca o sino de Belém.

Faça o bem, faça o bem,
Não importa a quem.

Tudo bem, muito bem,
Toca o sino de Belém

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RENÉE ALBAGLI: UMA REITORA IMENSA- Cyro de Mattos

Baiana de Ilhéus, a professora Renée Albagli teve uma atuação ímpar quando exerceu por dois mandatos sua elevada função de Reitora da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), acompanhada pela Vice-Reitora Margarida Fahel. Ela é graduada em Biologia pela Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro, com especialização na Universidade Católica de Minas Gerais e em Genética, na Unicamp. Fez especialização também em Gestão Universitária, na Universidade Estadual do Ceará, Mestrado em Gestão Universitária, na Universidade Estácio de Sá. A última etapa deste mestrado foi concluída na St. Paul University, em Chicago (EUA), e Doutorado em Educação foi terminado em 2010. Na FESPI (Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna), foi diretora acadêmica, diretora de graduação e extensão. Na UESC, foi pró-reitora de graduação e vice-reitora, e eleita reitora em 1996, tendo permanecido no cargo até janeiro de 2004, quando terminou seu segundo mandato. Foi membro e presidente do Conselho Estadual de Educação (CEE.

Sua gestão profícua na UESC, nos dois mandatos, traz como marcas importantes a ampliação do corpo docente e o projeto acadêmico. Encontrou a UESC com apenas 14 doutores e 48 mestres, deixando a Universidade com 102 doutores e 253 mestres.  Viabilizou essas características da Instituição através de um plano de capacitação docente arrojado, em parcerias com outras universidades brasileiras, por meio de  convênios, também encaminhando os professores para mestrado e doutorado no Brasil e no exterior. Estabeleceu uma política de concursos públicos somente para mestres e doutores, para acelerar o processo de competência. Como resultado positivo da proposta, conseguiu consolidar o processo de expansão na oferta de graduação.

Em 1997, implantou o curso de Medicina Veterinária; em 1998, Ciências da Computação; em 1999 foram implantados Comunicação Social, Biologia, Física e Química; em 2000 foi criado o curso de Medicina; em 2001, Ciências Contábeis; em 2002, Línguas Estrangeiras Aplicadas às Negociações Internacionais (LEA); e no vestibular 2004 a Universidade passou a oferecer três novos cursos: Engenharia de Produção de Sistemas, Educação Física e Biomedicina. Não se pode deixar de considerar  a implantação do curso de Formação de Professores para a educação infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental, a Licenciatura Plena em Pedagogia. Foram duzentas vagas em Camacan, Mascote, Santa Luzia, Arataca, Pau-Brasil, Juçari e Porto Seguro. Vale ressaltar que a UESC também passou a atuar na educação à distância, com o curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, participando de um esforço empreendido pelo Governo do Estado para habilitar docentes em nível universitário.

Nesse aspecto extensionista, merece destaque o Centro de documentação e Memória Regional, que agrega a pesquisa e a extensão objetivando a preservação do patrimônio regional, além de incluir projetos de arquivos públicos e implantação de museus, como O Museu da Casa Colonial, em Porto Seguro, e o Centro de Documentação e Memória da Costa do Descobrimento. Anote-se ainda o curso de LEA, que tem convênio com a universidade de La Rochelle e constitui-se numa experiência pioneira para ambas, já que o eixo de cooperação é inovador.

Com relação à Pesquisa, na sua gestão foi criada a Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado da Bahia (FAPESB), que se constitui num elemento essencial como política de pesquisa, ampliando a perspectiva de captação de recursos externos, que já se fazia através do Finep e do CNPq. Foi algo muito significativo não só para a UESC como para todo o Ensino Superior.

Nas áreas de pesquisa não se pode deixar de lembrara de animais silvestres com financiamento da União Europeia, que serviu para a implantação do mestrado em Zoologia Aplicada. Já na Rede Genômica Brasileira foi criado o projeto Biodiesel e o de Física Médica, que serve de suporte para a implantação do Centro de Controle de Qualidade Radiológica. Este projeto tem uma ação social muito forte, trata-se de um serviço que ainda não existia na região. A UESC também passou a atuar na Biodiversidade Marinha e Turismo, mantendo um projeto do curso de mestrado em Cultura e Turismo.

A incansável Reitora Renée Albagli, auxiliada por uma equipe eficaz, durante o exercício de sua digna missão, criou  a EDITUS – Editora da Universidade Estadual de Santa Cruz, que passou a integrar a Associação Brasileira de Editoras Universitárias do Brasil. A editora foi inaugurada com os livros Berro de Fogo e Outras Histórias, de Cyro de Mattos, Prêmio Nacional da Academia Pernambucana de Letras, Antônio Conselheiro, Louco?, de Flávio Simões, e Dicionareco das Roças de Cacau, de Euclides Neto. Possui um catálogo enorme, com centenas de títulos publicados em diversos gêneros. Agrega nas suas publicações livros da autoria do corpo docente e de autores regionais, renomados ou emergentes. Tornou-se há anos no Brasil uma das mais importantes no setor de assuntos universitários.

É de sua coordenação e autoria o livro Histórias e Memórias do Instituto Nossa Senhora da Piedade – 100 Anos de História -1916 – 2016, publicação da EDITUS.

Com esse trajeto de uma vida dedicada à gestão do ensino superior, faz-se visível que a Reitoria Renée Albagli é uma singularidade na História da Universidade Estadual da Bahia, daí ser reconhecida como a Eterna Reitora da UESC, essa valorosa Instituição do patrimônio do saber universitário na Bahia.

 

Cyro de Mattos

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SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE ITABUNA- Cyro de Mattos

A Santa Casa de Misericórdia de Itabuna nasceu quando a cidade ainda tropeçava nas pernas, estava prestes a completar seu sexto ano de emancipação política, com a finalidade de atender às precárias e muitas necessidades da população no setor da saúde, em especial para prestar atendimento às pessoas carentes. Veio acompanhada da expectante esperança para proteger a vida na experiência do cuidar.

Naqueles idos de 1900, a cidade estava em plena expansão econômica e social decorrente de sua pujante economia com bases na lavra cacaueira, que começava a se impor como uma auspiciosa fonte de divisas para a Bahia.  Itabuna, que no início havia sido um burgo de penetração, na época da conquista da terra, com o seu povo vocacionado para o trabalho necessitava de uma casa hospitalar digna. As precárias condições de saneamento favoreciam a eclosão de epidemias e a manutenção de endemias, que ensejavam altas taxas de doenças e mortalidade nos dias e anos.

Em boa e abençoada hora, na noite de 4 de julho de 1916, na residência do Monsenhor Moysés Gonçalves do Couto, reuniram-se trinta senhores da comunidade com o objetivo de fundar a Santa Casa de Misericórdia, que a princípio se incumbiria de criar um hospital e um cemitério, paralelamente à sua atuação se prestaria em atender às obras de caridade.

Segundo pesquisadores locais, em 28 de janeiro de 1917, tomam posse nessa humanitária instituição os que foram eleitos para o seu corpo associativo, tendo como seu primeiro provedor o Monsenhor Moysés Gonçalves do Couto. Fixada a data de 07/09/1922 como a de seu marco inicial, nesta foi inaugurado o Hospital Santa Cruz, hoje Calixto Midlej Filho; logo após veio o Cemitério Campo Santo, em 07/09/1925, e, em 29/06/1953, era a vez do Hospital Manoel Novaes acontecer e se incorporar ao seu patrimônio. Em 1993 criou-se o Plano Próprio de Saúde, como forma de agregação de receita, e em 2009 o Hospital São Lucas.

Ao longo de sua saga de natureza humaníssima, a Santa Casa de Misericórdia tem sido um espaço valoroso para o exercício da Medicina, em suas diversas manifestações de sacerdócio e sacrifício.  Tornou-se com a passagem das estações um centro de atuação médica exemplar, inovadora, com profissionais e equipes competentes fez-se referência maior no ofício de salvar e curar a vida, nessa atividade em que homens e mulheres de branco não se intimidam em lutar contra a morte.

Médicos ilustres exerceram sua vocação no Hospital Santa Cruz e contribuíram para o desenvolvimento das ciências médicas na comunidade e Região. E, entre eles, figuram na Galeria da Experiência do Cuidar o legendário Alício Peltier de Queirós, José da Silva Pinto, Sílvio Porto, José Orlando Mattos, Amilton Gomes, João Otávio, Raimundo Freire, Pedro Bezerra, Moacir Oliveira, Júlio Brito, Antônio Menezes, Pedro Bezerra e Ana Paula Shr Barreto. Alguns deles foram alçados ao patamar de Provedor da Santa Casa de Misericórdia.

Os serviços prestados por essa instituição de valor inestimável são reconhecidos com prêmios e distinções por excelência, em nível estadual e nacional. Sua marca de importância ímpar consolida-se cada vez mais por meio de padrões nacionais de qualidade, com foco no ensino, inovação, pesquisa e sustentabilidade. Seus ideais são cristãos, sua ética prima pela transparência, responsabilidade social, ambiental e cultural. A galeria de profissionais competentes que vem atuando nos seus diversos setores, médicos, enfermeiros, técnicos, funcionários e outros servidores formam um corpo consistente em cuja alma aflora a força da Medicina para sustentar a vida.

Capítulo de rico significado na história de Itabuna, a Santa Casa de Misericórdia motivou-me a escrever um poema, que está incluído em nosso livro Cancioneiro do Cacau, uma epopeia da saga grapiúna, evocativa de seus mistérios e da caminhada do homem na selva hostil e impenetrável, rumo à construção de uma civilização com caracteres próprios, desde os tempos primitivos na infância da selva aos da vassoura de bruxa.  Transcrevo abaixo o poema:

Santa Casa de Misericórdia

Cyro de Mattos

Era preciso um leito
que abrigasse a agonia.
Para aliviar, curar
era preciso um leito.
Monsenhor Moysés Couto
sem hesitar dizia.
A esperança plantou-se
lá no alto da colina.
Canto de um dia novo
soube a cidadezinha.
Santa Casa que aclara,
Santa Casa das dores.
No leito esse duelo
da noite contra o dia.

———–

 

Poema Santa Casa de Misericórdia, de

Cyro de Mattos, fixado em monumento,

como homenagem ao Monsenhor Moysés

Couto.

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O ESCRITOR E O MUNDO CONTURBADO DE HOJE

Entrevista de Helena Parente Cunha a Cyro de Mattos

Helena Parente Cunha nasceu em Salvador de Bahia. Depois de lecionar no Curso de Letras, da Universidade Federal da Bahia, transferiu-se para o Rio de Janeiro onde viveu há décadas, foi reconhecida como Professora Emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro e se tornou docente da Pós-Graduação da Faculdade de Letras. Autora de trinta livros publicados (poesia, conto, romance, ensaio, crítica literária) e quase uma centena de volumes com outros autores, no Brasil e no exterior. Seus livros receberam prêmios em concursos de expressão nacional. É dessa mulher de caráter afável, erudita, criativa, que procuramos saber sobre a condição do escritor e os caminhos da literatura no mundo massificado de hoje, cheio de fortes agressões e cobranças.

Cyro de Mattos – Thomas Mann acha que ser escritor é uma maldição, que começa cedo, terrivelmente cedo. Para você, que caminha nessa estrada feita de solidões e desejos, dores e ternuras, o que é ser escritor? Destino, profissão, missão?

Helena Parente Cunha – Como escritora, vejo-me levada a tentar dizer o que sinto no turbilhão de emoções em que a vida nos coloca. E também tentar dizer o que penso neste mundo de violência e atravessado de contradições e desacertos. Como a realidade é sempre mais do que as palavras podem abarcar, muitas vezes, na tentativa de dizer o indizível, é preciso ultrapassar a língua, mesmo desrespeitando a gramática e as normas da correção. Mas não pelo simples gosto da transgressão e sim pela urgência do dizer.
Não acho que ser escritor seja maldição. Escrever é muitas vezes doloroso na busca da palavra que se recusa a vir à tona. Mas é sempre altamente gratificante e prazeroso.

CM – Hoje vivemos em uma sociedade que prioriza o estômago, o corpo e o poder. Que função tem a literatura em um mundo que cada vez mais concebe os valores éticos e espirituais como expressão de nadas?

HPC- Acredito que a literatura não tenha obrigações salvacionistas, mas tem um compromisso com seu tempo, expressa as tendências da sua época, misérias ou grandezas, frustrações ou vitórias, vícios, esperanças.

CM – Atualmente, em várias cidades brasileiras, sei da existência de inúmeros grupos de poetas e poetisas que se reúnem periodicamente, uma vez por semana ou por quinzena, por exemplo, para dizer poemas da própria autoria, sentindo-se estimulados para escrever sobre temas variados que podem transformar-se em livros individuais ou coletivos. Pelo que entendi, produzem por indiscutível prazer em criar e divulgar sua produção no próprio grupo ou na internet ou em performances em várias cidades e até estados. Por não haver sido ainda legitimada pelos críticos ou pelos cursos de Letras, essa produção fica um tanto à margem da chamada literatura oficial. De uma forma ou de outra, constitui uma das belas características de nossa pós-modernidade multifacetada, onde convivem os extremos positivos e negativos.

HPC – A sociedade contemporânea cultiva, em grande escala, a imagem e o som como linguagens para dizer a vida. O suporte do livro tradicional mudou com a chegada dos meios eletrônicos. O livro impresso está na fase terminal?
Não acredito nesta visão um tanto apocalíptica. Da mesma forma que a fotografia não acabou com a pintura nem o cinema desbancou o teatro, acho que a riqueza do real exige novas linguagens para ser expressa, sem que uma necessariamente derrube a outra.

CM – Não se pode deixar de considerar que o texto literário abraçou um novo espaço democrático graças à internet, através do exercício usual de blogs, jornais e revistas eletrônicas. Isso faz bem ou mal à literatura?

HPC – Cada época tem seu modo específico de considerar o texto literário. Nossa época se caracteriza por mudanças radicais ocorridas em tempo recorde, o que resulta na coexistência de vários aspectos díspares e contraditórios que disputam espaço na página ou na tela. A especificidade do ser literário também se altera ao sabor das características temporais. No novo espaço democrático oferecido pelos meios eletrônicos, sinto que há mais flexibilidade para o gosto não só das elites acadêmicas, mas também para um espaço democrático.

CM – Com a presença forte da televisão e dos meios eletrônicos, a literatura passou a ter grandes concorrentes como instrumentos de lazer e forma de conhecimento. De que maneira isso afeta o autor, que já foi muito prestigiado em outros tempos?

HPC – Houve tempos em que o poeta era cultuado como um profeta ou enviado dos deuses. Em outros tempos se destacava como porta-voz da ideologia vigente.
E hoje, onde a tendência se volta para a multiplicidade de expressão, muitas vezes o autor ou a autora se vê pressionado pela originalidade do texto e pela urgência em inovar, o que pode redundar em extravagâncias e obsessão pelo ineditismo. O prestígio vivido pelo escritor no passado me parece obscurecido pela excessiva valorização do poder econômico e seu afã de abranger e deformar valores e princípios.

CM – Uma enxurrada de autores continua a passar por debaixo da ponte. Hoje se escreve mais para menos leitores?

HPC- Não sei se hoje se escreve mais para menos leitores, entretanto, talvez por conta da democratização trazida pelos meios eletrônicos, um número maior de autores encontrou mais possibilidades para suas publicações, considerando-se ainda as atuais tendências para abolir hierarquias e hierarquizações, rejeitar regras e formulações que em outros tempos se impunham para a criação literária.

CM – Seu romance, Mulher no Espelho, Prêmio Nacional Cruz e Sousa, da Fundação Cultural de Santa Catarina, já em décima edição, é um marco na moderna ficção feminina, a partir da década 70. Fale um pouco desse romance maior em nossas letras.

HPC – Como disse, escrevo para dizer o que sinto e também o que penso e muito do que imagino. E para apontar abusos, injustiças, violência da sociedade patriarcal, desesperos do sentimento de culpa, hipocrisias das fórmulas vazias da falsa convivência de uma sociedade refém das aparências, as certezas de verdades mentirosas, os preconceitos contra os excluídos, o desejo, o corpo, mulheres anuladas ante o todo-poderoso pai ou marido, distorções da cultura machista, dilaceramento entre dúvidas e milenares perguntas sem respostas. Entre momentos líricos, irônicos, satíricos, dramáticos, trágicos, se sucedem monólogos, reflexões e angústias.
Escrever este livro foi aprendizado cruel que me levou a mais de um ano de depressão. Mas o prazer dessa escrita me trouxe a recompensa de sentir que vale a pena ser escritora.

HPC – Fale também sobre Impregnações na Floresta, seu último livro de poesia, motivado por uma viagem feita à Amazônia. Um belo livro revestido das percepções íntimas, interiorizado por seu sentimento e sensibilidade decorrente do seu estar no mundo. Como a crítica e seus leitores receberam o livro?
– Foi um livro que procurou reviver momentos de silêncio e contemplação no encantamento indizível da floresta. Acho que, por este motivo, as pessoas que se comunicaram comigo me pareceram, de certo modo, integradas naquela magia.

CM –. Embora sua obra seja de alto nível, elaborada em várias frentes, estudada em universidades, não desfruta da mídia que privilegia um pequeno grupo. Como você encara esse tempo que divulga inverdades e valores duvidosos?

HPC- Para lhe dar uma resposta justa, teria que ler mais sobre o que a mídia publica e mais dos livros com que a mídia se ocupa.

CM – Entre suas atividades literárias, qual a que mais lhe completa, a de ficcionista, poeta, ensaísta, crítica ou professora universitária?

HPC – A depender do meu estado de espírito, eu percebo o gênero que mais me convém naquele momento. Quando me deixo levar pela emoção, pela fantasia, escolho o lírico, porquanto me parece que o poema curto concentra melhor o transbordar do sentimento. Diante de realidades concretas que me chamam a atenção pelo abuso do poder, intolerância, discriminação, prepotência, etc, prefiro narrar e assinalar minha revolta ante os absurdos de muitos dos relacionamentos humanos. Nessas circunstâncias, é preferível o conto ou o romance. No ensaio proponho um estudo sobre questões de ordem cultural, social, psicológica e que em geral tem a ver com minhas pesquisas ou temas de minhas aulas. Quando escrevo sobre escritores, jamais critico, mas se o texto não me agrada, prefiro me calar.

Nota – Essa entrevista foi concedida para figurar no livro Palavras, de Cyro de Mattos, ainda inédito. Helena Parente Cunha faleceu em 11 de fevereiro de 2023.

Helena Parente Cunha. Professora Emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro, docente da Pós-Graduação da Faculdade de Letras, Pesquisadora Sênior do CNPq, autora de trinta livros publicados (poesia, conto, romance, ensaio, crítica literária) e cerca de uma centena de volumes com outros autores.no Brasil e no exterior. Várias vezes premiada em certames literários relevantes. sua obra tem sido estudada através de teses, dissertações, monografias, apresentação em congressos, artigos, ensaios.

UMA OPINIÃO

Helena Parente Cunha: “A sensibilidade poética de Cyro de Mattos nos aproxima deste mistério que vivenciamos através da magia de sua palavra. Na celebração realizada nos poemas deste livro, todos nós, leitores e leitoras de Cyro de Mattos, deixamo-nos envolver pelo mistério escondido no esplendor da Grande Mãe Terra.”

(In Ecológico, de Cyro de Mattos, prefácio de Helena Parente Cunha, O Projeto Ecopoético de Cyro de Mattos, editora Palimage, Coimbra, Portugal, 2006)

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POEMAS de Gustavo Cunha

VÔO RASANTE

                                Gustavo Cunha

A travessa que atravesso traduz
Toda Tormenta da travessia
De quem travou tantas histórias
De páginas viradas ao dia,

Para a noite chegar em espasmos
De ausência de luz e de cor,
Onde então se escondeu o amor,
Extinto para nos deixar pasmos.

Grito: – dor, vai-se embora de mim,
Já não tenho mais o remédio!
Vai-se, medo! Vai-se tédio!
Vai-se logo, ó ave ruim.

 

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ORAÇÃO

                                Gustavo Cunha

Fechem as portas da Terra,
Não deixem vir mais ninguém!
Ouça, ouvido do além:
Encerra as portas! Encerra!

A guerra diverte a morte,
Na esquina mais um corpo cai.
A espada acerta o corte,
E mais uma vida se vai

Uma hora homem vivo:
Força, movimento e emoção.
Outra hora uma alma sem abrigo,
Um corpo degradado sob o chão.

Quem fere, quem mata,
Nasce , e por quê?
E de quem a vida escapa?
Por que nascer?

Por isso lhe peço esse feito,
Por isso lhe rogo em verso,
Tranca todas as portas do universo:
Esse mundo já não tem jeito.

 

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CASA DO NORTE

                                Gustavo Cunha

Nada vinga naquele lugar.
O agouro dos ventos fortes
Chega cheio de morte,
Ceifando as vidas de lá.

A água, sua vizinha,
Outrora azul e marinha
Hoje é caldo cinza de mar.

O branco alvo d’areia
Nem mesmo a lua cheia
Conseguiu fazer voltar.

E foi buscando melhor sorte,
Que tudo de lá que estava em mim
Correu em um caminho sem fim,
Para longe das agruras do norte.

 

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Cerimônia de Posse da Diretoria 2024-2026 da Academia de Letras de Itabuna.

CERIMÔNIA DE POSSE DA NOVA DIRETORIA DA ACADEMIA DE LETRAS DE ITABUNA
BIÊNIO 2024-2026

Uma noite de Tributos

A Academia de Letras de Itabuna-ALITA, viveu momentos de grande emoção e celebração na noite de sábado, 20 de abril de 2024, durante a cerimônia de posse de sua nova Diretoria, realizada no Rotary Club Itabuna. O evento simbolizou o início de um novo capítulo para a instituição que se dedica à promoção e preservação das letras e da cultura local.

A solenidade foi acompanhada pelo lançamento da quinta edição da revista Guriatã, editada por Charles Sá, e por uma tocante apresentação do Coral CEPLAC. Além das festividades, a gestão do biênio 2022/2023, Wilson Caitano e Janete Ruiz, apresentou os projetos realizados.

Durante a cerimônia foi feita uma homenagem ao escritor André Rosa, da Academia de Letras de Ilhéus, que faleceu recentemente, reconhecendo sua contribuição à literatura regional.

O presidente da Academia de Medicina de Itabuna e também membro da ALITA, o Dr. Silvio Porto fez um belíssimo discurso saudando a nova diretoria: “Raquel essa é a casa de todos confrades e confreiras vivos da Alita e mais de Sônia Maron, de Delile Oliveira, de Adonias Filho, de Telmo Padilha, de Firmino Rocha, Valdelice Pinheiro, Jorge Amado, Carlos Eduardo Passos, Gil Nunes Maia, Sosígenes Costa, Hélio Pólvora, entre outros gigantes da nossa Academia. Você sempre estará bem acompanhada, seja com exemplos ou boas lembranças. “E ressaltou a importância do compromisso assumido. “Você hoje assume um compromisso. Um compromisso de manter viva  a arte e a cultura no sul da Bahia, na Bahia e no Brasil.”

A nova presidente, Raquel Rocha, junto com os outros membros da diretoria – Lurdes Bertol, Eliabe Izabel de Moraes, Maria Luisa Nora, Gustavo Veloso, Marcos Bandeira, Margarida Fahel, Sérgio Sepúlveda, Clovis Junior, Heloísa Prazeres, Rafael Gama  e Gustavo Cunha – foram oficialmente empossados.

Durante seu discurso, Raquel Rocha agradeceu às gestões anteriores, agradeceu família e amigos e prestou tributo ao escritor Cyro de Mattos, presidente de honra da ALITA, e a Sônia Carvalho de Almeira Maron, ex-presidente da academia que faleceu em 2021, destacando a importante contribuição de ambos em sua trajetória na Academia.

Em seu discurso a escritora pontuou sua relação com as artes: “Tenho uma crença inabalável no poder das artes: da poesia, da literatura, da música, do cinema. As artes têm o poder de transformar o mundo, mudar vidas e, acima de tudo, nos fazer seres humanos melhores” e finalizou agradecendo à sua diretoria: “E essa jornada só será possível mediante um trabalho em conjunto. Por isso expresso meus mais sinceros agradecimentos à esta diretoria, que está sendo empossada junto comigo”

O evento não só reafirmou o compromisso da ALITA com as artes e a cultura, mas também reforçou os laços comunitários através da literatura, garantindo uma noite inesquecível para todos os presentes.

Cerimônia de Posse da Diretoria 2024-2026 da Academia de Letras de Itabuna. Read More »