Produção Literaria

QUANTO AMOR PODE CABER EM UMA DESPEDIDA? – Por Raquel Rocha

Há histórias que não se medem em números, mas em vidas tocadas. A da Escola Pio XII é uma delas, uma jornada de 56 anos iniciada pelas mãos firmes, humildes e visionárias de Eliabe Izabel de Moraes. E é também com ela que essa história se encerra.

Fundada em 1969 por Eliabe e sua irmã Eliúde, a Pio XII nasceu pequena, com apenas 36 alunos, em uma casa simples, com carteiras feitas pelo pai das duas moças. Mas desde o princípio carregava o amor à educação, o compromisso com o ser humano, a crença de que ensinar é também cuidar, acolher e transformar

Eliabe dedicou a maior parte da sua vida à escola. Educou três gerações. Viu pais voltarem com os filhos, e depois os filhos voltarem com seus filhos. Como diretora, conheceu de perto centenas de famílias. Acompanhou suas rotinas, desafios, erros e acertos. Viu esforços de mães e pais. Angústias, conquistas, momentos de crise e de superação de cada família. Orientou com firmeza e acolheu com empatia. Fez parte da vida de cada uma dessas família, como educadora, conselheira e, muitas vezes, como amiga.

Sou testemunha desse amor e dessa dedicação. Minhas duas filhas estudaram na Escola Pio XII. E, como toda mãe, eu também sentia aquele receio de deixar minhas filhas pequenas longe de mim. Mas na Pio XII eu não sofri, porque sabia que elas estavam seguras e amadas. Essa escola foi mais do que uma instituição de ensino: foi uma extensão da minha família. E sei que foi assim para muitas outras famílias também. O cuidado, a atenção, a presença constante de Eliabe criaram um ambiente de confiança e afeto que nenhuma mãe vai esquecer.

Agora, aos 56 anos de existência, a Escola Pio XII encerra seu ciclo. Não por falta de amor ou de força, mas porque sua fundadora, sem herdeiros para assumir a missão, entendeu que era hora de concluir com alegria e gratidão essa obra de uma vida inteira.

Encerrar esse CNPJ é, na verdade, eternizá-lo. A Pio XII continuará viva na memória dos que por ela passaram, nos ensinamentos deixados, nas amizades cultivadas, nas escolhas de vida que ali começaram. Eliabe encerra a jornada como começou: com coragem, serenidade e amor

Sua história não termina com o fim da escola. Ela permanece onde sempre esteve: no coração de cada aluno que aprendeu mais do que matérias, aprendeu valores. Permanece na cidade que cresceu junto com a escola. E permanece na certeza de que algumas missões são tão grandiosas que, mesmo quando se encerram, continuam a florescer por gerações.

Obrigada, Eliabe.
Por ter começado, sustentado e concluído com tanta beleza uma obra que é, ao mesmo tempo, escola e testemunho de dedicação.

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EM COMEMORAÇÃO DOS CINQUENTA ANOS DO ILÊ AXÉ IJEXÁ – Por Gustavo Velôso

Em 18/09/2025

Itabuna é palco de histórias que se cruzam como rios invisíveis sob a terra. Entre elas, a da Comunidade Ilê Axé Ijexá, que há cinquenta anos resiste e floresce como árvore antiga, de raízes fundas e copa aberta ao céu.

Para celebrar esse marco, escolhi a simplicidade do haicai — breve como um sopro, denso como um instante que guarda séculos. São três poemas que caminham entre a rua e o terreiro, entre a cidade e o sagrado, entre o eu e o coletivo.

Que o leitor os receba como quem escuta um eco ancestral: palavras pequenas, mas carregadas de eternidade.

Haicai 1

Caminho estreito,

cidade e terreiro —  

história pulsa

Haicai 2

Na rua branca,

silêncio inteiro cabe

dentro do tambor.  

Haicai 3

Orixá fala,

sou eu e não sou eu,

axé de ser.

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O BRANCO DA SEXTA FEIRA – Por Gustavo Velôso

Em 18/09/2025

Recebi pelo WhatsApp um convite incomum: a comemoração dos cinquenta anos do Ilê Axé Ijexá, uma comunidade religiosa de tradição afro-brasileira em Itabuna. O remetente — adivinhei logo — tinha a mão de meu querido amigo e confrade Ruy Póvoas, babalorixá, colega de antigas como servidor da UESC e hoje companheiro da Academia de Letras de Itabuna ALITA. O traje? Branco. Claudinha, previdente, já tinha. Eu, não.

A calça encontrei depressa, num clique. A camisa de linho, mangas compridas, surgiu na internet também, mas vinda de longe — chegaria quando o evento já tivesse transcorrido. Restou a solução tradicional: ir ao centro da cidade em busca do branco exigido. Fizemos isso, compramos camisa e tênis, e aguardamos o dia.

Era sexta-feira, 5 de setembro de 2025, quando seguimos, fim de tarde, de Ferradas até a Rua Getúlio Vargas, 642, no Bairro Santa Inês. Escolhemos o caminho pelo centro — errada a escolha. O trânsito travado retardou o passo, coisa que não teria acontecido se tivéssemos ido pelo semianel rodoviário. Já perto do terreiro, dezenas de carros estacionados denunciavam que a festa seria grande.

Na entrada, dois rapazes recepcionavam: um de branco, outro em roupa comum. Lá dentro, rostos conhecidos acenavam, muitos com aquela alegria simples de reencontro. Preparava-se uma procissão. Depois dela, a concentração no pátio interno e, em seguida, todos ao salão do culto. Gente, em cadeiras de plástico, bancos de madeira ou no chão, aguardava. No palco, três músicos ajeitavam seus instrumentos. Ao lado, um altar discreto esperava a presença maior.

De repente, o batuque começou. O canto coletivo se elevou. Entrou o babalorixá. Silêncio.

Fez-se então um mergulho na memória: lembrou que, em 1975, pedras foram fincadas para erguer o Ilê. Ali não se cultuava apenas o sagrado, mas também a memória de Mejigã, africana escravizada no engenho de Santana, em Ilhéus colonial, e cuja força ancestral se prolongava na casa.

O discurso, sereno e firme, falava de paz, de natureza, de comunidade, de respeito aos mais velhos, de combate ao racismo e à intolerância. O Ilê Axé Ijexá, disse, era um “museu vivo”: um espaço onde memória e tradição se revelam não apenas na arquitetura, mas na dança, na comida, no gesto, no canto.

E havia verdade nisso. A cada oração, a cada cântico, percebia-se que o terreiro não era só um lugar de fé, mas também de política, de ética, de resistência cultural. Recebe pesquisadores do mundo inteiro, abre-se para quem busca cura nos modos afro-brasileiros, e se afirmar como território da vida.

Cantavam-se orikis, aduras, orin, malembes — palavras que, mesmo sem tradução imediata, soavam como música antiga, mais velha que as paredes do salão. Dançava-se não apenas com o corpo, mas com a alma.

E, no fim, a lição: é preciso acreditar.
Na divindade que mora no humano.
Na educação como força de mudança.
No respeito aos mais velhos, no valor do abraço, na fraternidade entre os homens.
E sobretudo — na celebração da vida.

Saímos tarde. O branco da minha roupa já não era o mesmo da vitrine: tinha agora o peso de cantos, de rezas, de suor e de axé. Claudinha me olhou como quem pergunta se valeu a pena. Eu não respondi. Sorri apenas.

Porque certas noites não se explicam. Guardam-se.

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O GRUPO QUE VAI RESISTIR AO TEMPO – Por Gustavo Veloso

O grupo que vai resistir ao tempo

Em: 04/09/2025

No pequeno quadrado iluminado do WhatsApp, onde vozes se encontram sem distância e sem idade, Bertol inaugura a manhã com um texto enviado por uma amiga. Era quase um sermão de vida, desses que parecem nascer do tempo vivido e não das páginas de qualquer manual. A mensagem falava dos ciclos da existência, do trabalho que cedo ou tarde nos descarta, da sociedade que aos poucos nos esquece, da família que se ocupa de suas próprias jornadas e, por fim, da Terra, que nos devolve ao pó. Tudo isso entremeado de uma oração simples, de gratidão e de súplica.

Rilvan, tocado pelo tom, respondeu:

— Concordo em gênero, número e grau.

O silêncio breve foi quebrado por Sione, que trouxe à lembrança a figura de um vizinho:

— Um vizinho nosso, casado com uma amiga da minha família, era uma pessoa extraordinária, de coração solidário.
Margarida, mais literária, pediu licença. Sua voz parecia sair de um livro:

— No meu segundo romance, havia um personagem que fora rico e poderoso. Ao final dos dias, sozinho, órfão de amigos e de família, passava as tardes à porta da casa, implorando por um dedo de prosa. Onde ficaram as festas, os cristais, as noites de discussão política? Restou-lhe apenas a solidão.

Bertol, sensível ao peso da cena, devolveu:

— Bem assim. É necessário respeitar o tempo e seus ciclos. De onde o adágio: “O tempo destrói aqueles que zombam dele”.
A conversa, como em roda de amigos à beira de uma praça, foi se aprofundando.

Margarida, agradecida:

— Vocês sabem coisas lindas e verdadeiras.

E Bertol arrematou com um sopro estoico:
— “Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida”.

O fio da prosa seguiu com pequenas confidências sobre a revista citada, sua circulação e o envio de exemplares por e-mail. Mas o ponto alto ainda estava por vir, quando Baísa, com o entusiasmo de quem encontra um farol literário, recordou:
— Gosto muito de uma frase de Gabriel García Márquez: “Envelhecer bem é fazer um pacto digno com a solidão”.

E logo completou, quase como um conselho de avô:
— As possíveis soluções seriam gostar de sua própria companhia, ter vida interior e conservar os amigos que ainda estão vivos.

No fim, Raquel, mais leve, riu da própria expectativa:
— Eu tenho tanto filme pra assistir e tanto livro pra ler na minha velhice, que não vou me preocupar com a solidão.

E assim, entre reflexões filosóficas, lembranças de romances, citações de prêmios Nobel e promessas de filmes e livros, o grupo reafirmou sua razão de ser: a amizade que, mesmo no formato eletrônico, resiste ao tempo.

Porque, como dizia a mensagem inicial, quando tudo nos eliminar — o trabalho, a sociedade, a família e até a Terra — ainda haverá a alegria de um grupo de WhatsApp, onde um simples “bom dia” basta para devolver a sensação de que não estamos sozinhos.

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UM OLHAR SOBRE SAMBORÁ, DE RUY PÓVOAS – Por Margarida Cordeiro Fahel

Margarida Cordeiro Fahel

Ruy do Carmo Póvoas lançou o seu SAMBORÁ. Chegou ele em junho deste nosso 2025. Poeta avassalador, assim o vejo, no sentido de uma produção efervescente. Parece não dormir, nem labutar com o cotidiano da vida. Grande engano! O poeta descansa? Talvez muito pouco, pois trabalha,  estuda, pesquisa, ora, lidera e escreve. Parece que  versos em profusão recaem em cataratas sobre ele. Aliás, o poeta deve lembrar, com sua prodigiosa memória, de um sonho já de antigos anos, com uma velha casa, numa beira de estrada, na qual do seu reservatório, que deveria conter água, saiam pilhas em cachoeiras. PILHAS! Não pareciam mostrar a marca.Hoje, nesta lembrança chegada, imagino a analogia: estariam ali os versos borbulhantes que chegariam em cascata? E o poeta obedientemente os acolhe e lhes dá sua voz? Deve haver  uma  musa que faz dele o que quer. E ele obedece,   suponho, não importa o dia, não importa noite ou madrugada.

E esse seu SAMBORÁ encanta: às vezes, o verso é até doce como o mel, mas, em muitas outras, há uma certa acidez contida, ou mesmo meio escondida. Porém, numa sede de descobertas, SAMBORÁ indaga e ousa revelar. Para mim, o poeta não gostaria de tanto revelar-se. A culpa é  do SAMBORÁ… Os versos de Ruy Póvoas, numa cadência poética suavemente percebida, expressam a visão de mundo do poeta ou, mais exatamente, como ele o sente.  Sentir ou  pensar? Qual seria a percepção real? Uma visão convicta de mundo? Qual seria ela? A brevidade da vida? O inevitável das coisas? A impossibilidade de fugir ao previsto? Mas percebo então com surpresa, em alguns momentos, que o poeta já não se entristece, nem se revolta. E parece agora enxergar “o universo e a vida”, as coisas, as gentes e os fatos dentro de si mesmo, para assim melhor compreendê-los, interpretá-los e até perdoá-los. Em SAMBORÁ, quem sabe pela doçura do mel, o poeta até aconselha a aceitação, da qual  poderíamos mesmo duvidar. Entretanto, ali está dito, claro como mel.

O poeta Ruy Póvoas faz poesia filosófica, na maioria das vezes, embora em alguns momentos, brincando com as palavras, não sabemos se ele fala a sério. Ele é um sabedor das palavras e as usa com graça, por muitos momentos, em outros com empenho, com força, manipulando-as com seu profundo conhecimento e até esclarecendo-as, como pesquisador que é,  escolhendo  a cor e a textura que lhe convém.

Não estou, neste momento, fazendo uma análise crítico-literária dos poemas de SAMBORÁ, num sentido rigidamente acadêmico. Isso talvez fique para outro momento, quem sabe… Na verdade, preocupo-me  apenas em falar sobre como o senti, de como entendi e enxergo o poeta neste seu SAMBORÁ. E o vejo como uma alma sempre a expressar uma visão de mundo, e uma profunda necessidade de compreender, interpretar e aceitar a realidade, realidade que se faz história, na difícil caminhada humana sobre a terra. É algo vital, na profundidade maior do termo. Como ele a enxerga, como a recebe, e como a transforma e elabora em si mesmo.

Alguns poemas, tais como COSMOGONIA, COROLÁRIO, CONSCIÊNCIA, DINASTIA, ELA, ESCOLHA, GARANTIA, DESASTRE e ENIGMA, dentre outros, a mim  pareceram mais reveladores, mais evidentes do que  o poeta precisa ou quer demonstrar,  ou, ainda, daquilo que o persegue.Entretanto, cada leitor poderá descobrir muitos outros DADOS EVIDENTES,  conforme seu próprio entender, sentir, ou até decifrar. E aqui relembro que o “dado evidente” é algo fundamental na concepção literária desse escritor.

Enfim, este é apenas um comentário cujo propósito, repito, é evidenciar a força da palavra poética em Ruy Póvoas, conforme  a recebi do seu dourado SAMBORÁ, que é mel, mas não deixa de lembrar-nos o SAMBURÁ, um cesto artesanal  típico do viver  de  nossa gente. E  eu aqui o trago, evocando o  parentesco fonético, e o  que ele tem  de  belo no seu trançado, falando -nos de coisas também guardadas, às vezes doces, às vezes amargas, mal entrevistas através das  frestas do torcido emaranhado,  inteligente e belo que lhe dá forma.

 Assim, SAMBORÁ e SAMBURÁ: um dentro do outro. E brinco com o poeta, desculpando-me por essa breve mistura de mel e cipó…

 

Margarida Cordeiro Fahel

Cadeira 29 da Academia de Letras de Itabuna -ALITA. Patrono GIL NUNESMAIA.

 

PÓVOAS, Ruy do Carmo. SAMBORÁ,Ibicaraí, BA: Via Litterarum, 2025.

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O AMIGO JORGE AMADO – Por Cyro de Mattos

Enviei o primeiro livro que escrevi para Jorge Amado, seguindo conselho do amigo João Ubaldo Ribeiro, companheiro de geração. Não esperava que viesse alguma opinião dele sobre o meu pequeno volume de contos, riscado anos depois de minha bibliografia por ter sido escrito por autor imaturo. O texto envelheceu cedo. Fiquei surpreso por ver um livro de autor desconhecido ser apresentado à Academia Brasileira de Letras com palavras favoráveis do consagrado romancista Jorge Amado.

Outros livros meus foram merecedores de artigos com elogio por parte de Jorge Amado. Eram opiniões impressionistas, mas abonadas com a sensibilidade de quem mais conhece os caminhos do fazer literário na recriação da vida. E mais: ele publicava os artigos que escrevia sobre meus livros em jornais importantes como A Tarde, Jornal de Letras (Rio), Suplemento do Jornal do Brasil, Jornal do Comércio (Rio) e Suplemento Literário de Minas Gerais.

Esses gestos do criador de Tocaia Grande (Record,1984) aconteceram com outros escritores, emergentes, com obra em andamento, consagrados, baianos ou não. Ele sempre enriquecia o companheiro de letras com suas opiniões, sem esperar nada em troca. Prefácios, orelhas, artigos, depoimentos, apresentações à Academia Brasileira de Letras, um legado literário da melhor qualidade está aí espalhado com o abono do escritor tão lido e traduzido em língua portuguesa sobre livros de nossos escritores. Textos que formam um valioso legado, se coligidos, servindo como importante contribuição à nossa literatura.

Com João Ubaldo Ribeiro era diferente. Certa vez, o autor maiúsculo do romance Viva o povo brasileiro (Nova Fronteira, 1984), disse-me que não escrevia prefácio ou artigo para quem recorresse aos seus préstimos porque podia não gostar do livro e aí o suplicante, que certamente queria receber elogio, poderia com a sua sinceridade se tornar um inimigo dele. Além disso, não queria se desconcentrar de seu ofício, sempre estava escrevendo um livro ou texto, não ia deixar de lado o que estava escrevendo e centrar-se sobre quem devia abrir seus próprios caminhos com suas ferramentas e crenças, sem se apegar na muleta alheia, mas acreditando nas suas qualidades.

Neste sentido, sempre concordei e respeitei as atitudes de João Ubaldo. Ele se tornou um dos meus amigos prediletos, criatura do bem, espírito alegre, colega inesquecível da turma de 1962, na Faculdade de Direito da UFBA. Nunca quis me aproveitar de meu bom relacionamento com o consagrado ficcionista e receber dele a opinião favorável de meus escritos. Fiz minha carreira literária com os meus textos publicados em livros, meus prêmios relevantes, que tornaram minha obra com mais visibilidade. Enviei em vários casos os originais de meus livros para as editoras, sem temer que fossem aprovados ou não para publicação, depois da leitura crítica do conselho editorial.

Ao escrever sobre Palhaço Bom de Briga (L&PM Editores, 1993), um dos meus livros para as crianças, em artigo publicado em forma de missiva, dirigida ao romancista Josué Montelo, então presidente da Academia Brasileira de Letras, Jorge Amado chegou ao ponto de lembrar meu nome para fazer parte daquela importante instituição das letras brasileiras. Houve exagero. Só mesmo Jorge, com o seu coração doce como mel de cacau, podia distinguir assim meu nome, em gesto que comovia, servia como incentivo para que eu nunca desistisse em minha jornada literária. Embora eu já fosse autor nessa época de mais de vinte livros, entre volumes de contos, poesia e literatura infantojuvenil. Havia conquistado alguns prêmios literários importantes e, entre eles, o Prêmio Nacional Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras, por unanimidade, para o meu livro Os Brabos (Civilização Brasileira, 1979), o da Associação Paulista dos Críticos de Artes para O Menino Camelô (Atual Editora, 1992, 12ª. Edição), Menção Honrosa do Jabuti para Os Recuados (Editora Tchê!1987) e várias vezes fui agraciado com o primeiro lugar nos certames promovidos pela União Brasileira de Escritores (RJ).

Jorge Amado exercia a amizade como uma coisa nata, tão dele. E me mostrava sempre que com as mãos nas mãos, o gesto desprovido de interesses pessoais, desligado da religião do egoísmo, tudo fica mais fácil. Com ele não entravam no exercício da vida a inveja e a intriga. Dava-me conta por isso que existia ainda o homem simples como o artista, embora fosse comum encontrar na vida o artista vaidoso e invejoso como o homem.

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SEMPRE ALERTA – Por Silvio Porto de Oliveira

Sempre Alerta!

Naquele tempo em que a infância ainda cabia nos pés descalços e nos olhos curiosos, eu fui Lobinho. Tinha dez anos e o mundo era uma grande trilha a ser desbravada com coragem e alegria. Nosso Akelá – o guia da alcateia, o sábio da floresta das histórias de Kipling – chamava-se Baracat. Nome forte, rosto severo, mas com um coração que sabia sorrir quando via um de nós aprender algo novo.

Aos sábados, vestíamos o uniforme como quem se revestia de um sonho. Lenço no pescoço, meias até o joelho, boné com a insígnia bordada. Aquilo não era só pano e emblemas: era símbolo de pertencimento, de honra infantil. A disciplina vinha como vento que molda, e nossos pequenos corpos aprendiam o valor do esforço, do cuidado, da prontidão.

A estrutura dos Escoteiros da época era firme como tronco de jequitibá. O Major Dórea, figura imponente, coordenava tudo com olhar atento, disciplina militar, mas sempre justo. Sob seu comando, aprendíamos que a obediência não era submissão, mas escolha de caminho.

Foi como Lobinho que fiz minha primeira comunhão. Um momento sagrado vivido entre irmãos de lenço e promessas. Lá estavam Wandick, Bob, Nando, Carlos Auad, Samuel Luna… Nomes que ainda hoje sopram lembranças doces. A celebração foi na capela da Ação Fraternal de Itabuna — templo simples, mas repleto de fé e vozes suaves. A luz da manhã atravessava os vitrais e repousava sobre nossas cabeças como bênção invisível.

Lembro que, antes de comungar, revimos o nosso lema: “Sempre Alerta!”. Palavras curtas, mas com a força de um grito de vida. Estar alerta era mais do que vigiar: era viver com presença, respeitar o outro, estar pronto para servir.

Não foram apenas nós que crescemos naquela época. Foi também o caráter, a amizade, o espírito de coletividade. Fomos moldados na madeira dos bons valores, na rocha da fraternidade e no riso que brotava fácil, mesmo depois de uma trilha difícil ou uma tarefa malfeita.

Hoje, ao lembrar daquela alcateia, meu coração ainda se põe em formação. E o menino que fui continua ali, com o lenço no pescoço e os olhos brilhando, pronto para repetir o grito de guerra da infância que nunca nos deixou:

— Sempre Alerta!

Silvio Porto de Oliveira.
Em 02/08/2025

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GURIATÃ, O INTÉRPRETE (II) – Por Rilvan Santana

Guriatã, o intérprete (II)

R. Santana 

 

    Os poetas cantaram muito em seus versos o sabiá, o bem-te-vi, o zabelê, o curió, o beija-flor, o colibri, asa-branca, pombo-correio, pássaro-preto, rouxinol, mas eles foram um pouco injusto com o único intérprete da mata, para uns, guriatã, gurinhatã, guriatã-de-coqueiro; para outros, tico-tico-do-campo, gaturamo e baíra-amarela e para o douto: “Euphonia violacea”, Ammodramus humeraralis”, “Tangara cayana”, a mim que não sou doutor nem regionalista: “Guriatã, o intérprete”, pois o pequenino pássaro, o cantor da orla e da mata, imita com perfeição todos os outros.

     Em 1610, o padre português Jacome Monteiro, escreve ao rei de Portugal: “É o pássaro mais músico de quanto há nesta Província, porque arremeda a todos os mais, e por isso o chamaram de “guiranheenguetá”, que quer dizer pássaro que fala todas as línguas de todos os mais pássaros”. São mui prezados. Estes são os que de ordinário se conservam cá em gaiolas”.
     Moleques, nós embrenhávamos nas matas do cacau com gaiola de talas de bambu ou gaiolas de cortiça e taquara, pendurada no dedo ou na palma de uma das mãos e alçapão na outra. Quando não tínhamos dinheiro para comprar alçapão, lambuzávamos um galho com visgo de jaca com iscas de banana, milho ou milho-alpiste, escondíamos à distância, não levava muito tempo, o passarinho esperneava-se grudado no visgo pedindo socorro!…

      Naquela época, os moleques se dividiam em grupo de ideias de gente grande e o grupo de amadores. O grupo mais profissional, o de gente grande, só criava curió, canário, pássaro preto, sabiá; o outro, o amador, que valorizava o prazer, o divertimento, a brincadeira e não o dinheiro, pegava o pintassilgo, a rolinha, o bem-te-vi, o sanhaço e o guriatã… caiu na rede era peixe, minto, caiu no alçapão era passarinho…

      Não me incomodava com a sujeira (cocô) que o guriatã fazia na gaiola, a minha mãe Judite é que não ficava prosa, porém, o seu canto quebrantava-lhe o ânimo. Se por descuido deixasse a gaiola aberta e o guriatã batesse asas, ela rendia homenagem ao pássaro, cantarolando a composição “Guriatã de Coqueiro” de Severino Rangel de Carvalho, o Ratinho, cantor e compositor paraibano da dupla Jararaca e Ratinho de tempos idos:

 

“… Eu não sei por que motivo
     Guriatã foi-se embora
     Foi-se embora e me deixou
     Também a minha viola
     Companheira inseparável
     Que minha mágoa consola”

      Porém, se a minha intrusa peraltice invadisse esse momento, corrigia-a para distante ouvir a minha musa, a minha tia, a mulher que me criou voltar a cantarolar:


     “…Vou fazer uma promessa
     Ao meu santo protetor
     Pra fazer ele voltar
     Esse pássaro cantador
     Pra alegria do meu rancho
     Que nunca mais se alegrou”,

          Hoje, os tempos se foram, os cabelos loiros encaneceram, mas no espírito o moleque permanece, também, os cuidados daquela avezinha de muitos cantos, de penas de azul escuro brilhante em cima e penas amarelas ao longo do corpo e na fronte da cabecinha, uma coroinha de penugens cor de ouro que Deus colocou, longe no tempo, ouço viva a voz de minha mãe Judite:

 

  “Guriatã de coqueiro
     Bateu asas e foi-se embora…”

 

 

Autor: Rilvan Batista de Santana

Licença: Creative Commons

Membro da Academia de Letras de Itabuna – ALITA

Imagem: Google

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VERSOS DESNUDOS — POEMAS EM TEMPOS TENSOS, DE AGENOR GASPARETTO – Por Tica Simões

Maria de Lourdes Netto Simões

 

São 40 poemas ‘desnudos’,  com olhares sobre esses ‘tempos tensos’.    E como? ‘Desnudo’ é mesmo palavra-chave. Seja pela apresentação despojada do livro  com uma capa branca, sem desenhos ou outras cores;  seja por uma estrutura sem os paratextos costumeiros; seja pelos versos livres. Esses são, já, uma forma de  “fala” do olhar.  

  O processo de criação poética ocorre sem consultar, como revelado em  Inspiração, poema que abre o livro.  Surge   Musa atrevida ,   pedra bruta a versejar.  Assim  acontece a Poesia, inesperadamente, motivada por questões muitas, fruto de observações, sensações, sentidos…  Esses dois primeiros poemas  sinalizam o processo criador,   e como que anunciam, introduzem o subtítulo:  poemas em tempos tensos.

Daí, a estrutura do livro  vai se configurando em relação à proposta “desnuda” do fazer literário.  Tematicamente, os poemas dizem das linguagens, dos materiais, dos temas, dos focos das problemáticas que os olhares enxergam no processo da vida, e em tempos difíceis…

A  cada foco, a linguagem cresce em possibilidades que provocam:  nuances, sentidos, intertextualidades, “ditos” que se aproximam da oralidade…     E a estrutura do livro se resolve entre os focos dos elementos da natureza: Terra, Agua, Fogo e Ar, intercalados por poemas acrescentadores do tema geral.  Cinco  poemas  integram  cada foco que formam os blocos temáticos. Caminhos é um bloco que se acrescenta aos quatro elementos,  enfatizando as escolhas  nos tempos difíceis.    

Nos poemas do elemento Terra, titulado  Pedras,  destacam-se  recursos de sinonímia, comparação por metáfora ou analogia, oralidade: …Rocha…Calhau…Cascalho… ‘Dormir como pedra’…. As intertextualidades acrescentam a significação, como no poema IV, com Drummond, Pedra no Caminho ;  pedra sobre pedra .

A seguir esse primeiro foco, outros poemas apresentam títulos temáticos que provocam analogias e promovem reflexões:    ProfundezasInfinitos profundos/ Abismos sem fim […] SolidãoDistânciasDa indiferença humana  […]  Da ausência de sentido. Pesado e LevePesado/ qual  consciência […] Leve / qual sono inocente; E os poemas abordam também as formas de espiritualidade e religiões que, para alguns, funcionam como muletas.  Tábuas da Lei:  Duas pedras,  dez mandamentos […] frágeis, quebradiças; Vida PenitenteReligião/ Pecado […] Condenação / Penitência. Estado de Graça: Alma flutuando […] Andar leve. Velhice Abandonada: Labuta incansável […] Rugas na alma. Magia e Milagre: Divino milagre da vida.  Somente, aqui, citando alguns poemas.  Os demais seguem em similar estratégia de produção textual, aprofundando o foco da existência sobre questões éticas, do mundo virtual fachada esplendorosa. O sem sentido da guerra, mortal, desalmada.  Reflexão sobre o Tempo,  momentos de uma vida que é  tão breve. Se cicatriza rusgas, também  cria memórias. E observando a natureza, vê nela  divino milagre da vida

No  segundo bloco,  Águas, a oralidade fica também ressaltada pelos ditos populares   –  tirar água de pedra -, nos  cinco poemas.  As intertextualidades, com propriedade,  remetem a Fernando Pessoa (“Rio da minha aldeia”), Heráclito,  Baumman, Tom Jobim… nesses poemas de Águas, associações intertextuais  com Aguas de março,  induzem ao olhar político:  Águas rasas, profundas [..]  Lavagem de roupa suja

Daí, os Caminhos suscitam reflexões existenciais, relacionados à inexorabilidade da vida, às buscas de cada um:  Ser feliz; escolha de caminhos, incerto risco/ Descaminho ou fortuna ; Fé na Ciência/ Fé na religião.  Dois poemas sobre Guerra traduzem  o seu sentido avassalador, mortal/ desalmada. A perplexidade de pensar: Por quem matar? […] Por quem morrer?…

 Fogo, mais um bloco  tematizado,  é chama de vida;  lutas de cada um: Histórias recontadas/ Memórias revividas. E os “ditos” enriquecem as reflexões: Brincar com fogo/ Lenha na fogueira/A ferro e fogo, e a voz de Guimarães Rosa é chamada em conclusão: Perigoso é viver .  Mas,  do mesmo autor G Rosa,  enquanto leitora, digo: “o que a vida quer da gente é coragem!”.  E parecendo responder, o poema V, com otimismo,  traz Camões – amor é fogo – e também  Raul Seixas: Tente outra vez...

Ar, o último bloco temático:  É bandeira tremulando;  é  Fúria, força, energia é  Don Quixote e os Moinhos de Ventos . Depois, ainda intertextualizando e concluindo, é Mudar de ares … E o Vento Levou .   Entre o céu e a terra, Shakespeare!/ O tempo e o Vento, Érico Veríssimo , diz o poeta: Outros ventos, outros ares, outros mundos/ outros viventes, graças a Deus!

Os poemas, seguintes aos blocos, suscitam o tempo e o seu passar…   Numa sequência quase narrativa, desde  Tempos imemoriais, a Pegadas na areiaMudança no Horizonte… que chega ao Mundo Virtual em que vivemos em Solidão,/ Malancolia, /Vazio.   E em Busca, Buscas sem fim.  Evolução insinua o caminhar da humanidade, que Domou o fogo, a planta, o animal/ Domou a energia, Domou o outro, irmão […] Mais poder, mais riqueza  e a idéia da ambição que norteia a humanidade…   E a inexorabilidade  do tempo  segue,  nos demais  poemas, considerando momentos de magia e trégua, com no Carnaval. Mas o destino é nascer e morrer, Vestir e Despir. O Tempo: Atemporal, imemorial, eterno  .  A ironia é sinalizada  na nostalgia do Passado Glorioso.  Tudo passa… Ficam as Reminiscências, Mergulho nos tempos de criança

Afinal, os cinco últimos poemas, destacados  em italic, trazem esperança.  Falam de Semeaduras e Colheitas. Falam de “sentimentos de sombria e pungente colheita”, aqui e acolá.  A  intertextualidade com   Por quem os Sinos Dobram,  de Hemingway, conclama: “Toquem por eles, toquem sem cessar/ até o pesadelo despertar!”  Com o título de Tolstoi, recorre a Guerra e Paz, mas ironicamente, conclui: “Quem foi que disse que a paz se faz / Com sangue de vidas?”

Sutil e ironicamente, então, a voz poética mostra a sua incredulidade ao propor um recomeçar: “Quem falou em Arca em asa de meteoro?/ Quem falou em ovo novo, de novo? Quem falou serpente mais uma vez? “   

Recomeçar tudo outra vez? O leitor se pergunta!

E o poema que encerra o livro instala a dúvida. Entre a tigresa de Caetano, “de unhas negras/ e íris cor de mel” e a Monalisa de  Leonardo da Vinci, ou mesmo o tigre de Capinam e Macalé,  resta a descrença de mudança “Tormento sem azuis manhãs”

Nesse singular processo criador, por estratégias diversas, narrativizando poeticamente, Agenor Gasparetto  faz, também, a sutil  crítica social a esses  tempos tensos.

 

 

Em agosto de 2025.

 

VERSOS DESNUDOS — POEMAS EM TEMPOS TENSOS, DE AGENOR GASPARETTO – Por Tica Simões Read More »

ITABUNA SEMPRE – Por Rilvan Santana

Gente deveria ser igual cidade que o tempo não destroi, mas constroi. O homem quando nasce, nasce bonito, se velho morre, morre pelancudo, murcho, desdentado, envergado, calvo, pele enferrujada, dor aqui, dor acolá, o tempo não perdoa… A cidade nasce com ruas tortas e estreitas, caminhos, casebres de taipas, de adobes, de tijolinhos, esgoto a céu aberto, iluminação precária ou sem iluminação, abastecimento de água improvisado, etc., etc., porém, à medida que o tempo passa, torna-se arquitetada, bonita, atraente, confortável, iluminada, ruas largas, água na torneira, casas planejadas, prédios, arranha-céus, transportes de massa, escolas, postos de saúde, hospitais, segurança pública, justiça, assim ocorreu em Paris, em Londres, em Roma, em Jerusalém, em Washington e em Itabuna.

Itabuna nasceu às margens do rio Cachoeira sob os olhares dos índios aimorés, tupis, tupiniquins e a força econômica dos tropeiros que faziam passagem para Vitória da Conquista na rancharia “Pouso das Tropas” na Burundanga, de José Firmino Alves. O sobrinho do cacauicultor Félix Severino do Amor Divino e filho de José Alves, Firmino Alves, foi o verdadeiro fundador de Itabuna, em 1906 ele doou as terras para sede administrativa do município, antes foi o Arraial de Tabocas, Vila, enfim, Itabuna, desmembrada de Ilhéus em 28 de Julho de 1910 e seu primeiro prefeito o engenheiro Olynto Batista Leone um dos apaniguados do coronel do cacau e político Firmino Alves.

O historiador Adelindo Kfoury registra que Firmino Alves não foi somente um grande fazendeiro, um coronel do cacau, tanto quantos muitos de sua época, mas um homem de excepcional capacidade administrativa, ainda jovem, com a morte do seu pai, mudou-se de Burundanga para o Arraial de Tabocas e construiu na Rua da Areia (Miguel Calmon), uma moradia suntuosa para os padrões da época e um armazém de cacau.

Firmino Alves além de empreendedor, foi um político de quatro costados, desde cedo, articulou junto às autoridades do estado a independência de Itabuna. Alguns anos antes do desmembramento de Ilhéus, Itabuna ainda Vila de 10.000 habitantes, estimulou a vinda de profissionais qualificados, em pouco tempo, engenheiros, médicos, professores, agrônomos, topógrafos, agrimensores, dentre outros profissionais, desembarcaram aqui com a promessa de um novo El Dorado.

Hoje, Itabuna não lembra de longe o Arraial de Tabocas, não é uma metrópole, mas é uma cidade grande: comércio forte, indústria incipiente, agricultura doméstica, sistema de saúde significativo, escolas para todas as faixas de idade, faculdades privadas, universidade, centro administrativo, bom sistema de segurança pública, justiça que atende às demandas, transporte de massa satisfatório, infraestrutura em expansão, ruas e avenidas asfaltadas, arquitetura moderna, uma frota significativa de automóveis e dezenas de bairros em torno.

Porém, a marca principal de Itabuna é o seu povo. Itabuna foi construída por gente simples e ordeira que migrou de outros estados do Nordeste, principalmente, o estado de Sergipe. O itabunense é alegre, bondoso, solidário, prestativo, acolhedor, trabalhador e inteligente. Não é à toa que o forasteiro não se sente forasteiro pouco depois que chega a este pedaço de terra do Sul da Bahia.

A cultura itabunense tem atuação expressiva no cenário nacional. Os nossos poetas, os nossos escritores e os nossos artistas são reconhecidos aqui e lá fora. Não se pode negar a contribuição às letras e às artes de Itabuna, de Jorge Amado, Valdelice Pinheiro, Firmino Rocha, Hélio Pólvora, Cyro de Mattos, Telmo Padilha, Plínio de Almeida, Minelvino Francisco Silva, Walter Moreira, José Bastos, José Dantas de Andrade, Adelindo Kfoury, Jorge Araújo, Ruy Póvoas e tantos outros que a memória e o tempo impedem-me de nomeá-los, mas, eles não têm contribuição menor.

No próximo 28 de Julho, Itabuna completará mais de cem anos de cidade, uma adolescente comparada às suas irmãs de milênios! Mais de cem anos de acolhimento aos seus filhos aqui gerados e aos seus filhos adotados. Mais de cem anos de luta, de intempéries, de espoliações, de estagnação, mas, também de desenvolvimento, de alegrias e vitórias.

Itabuna mãe, madrasta, amiga, Itabuna sempre.

Autor: Rilvan Batista de Santana
Licença: Creative Commons (Recanto das Letras)

Membro da Academia de Letras de Itabuna

 

 

Rilvan Santana

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