CENTENÁRIO DA SANTA CASA DE ITABUNA- Silvio Porto de Oliveira.

Calixto Midlej Filho no leito de morte, profetizou: Silvio você , um dia, vai ser Provedor da Santa Casa. Pensei, o Estatuto da Instituição não permite isto. Foi no ano de 1984. No ano de 2001, 17 anos, depois, Edmar Margotto, me chama e diz: Vou mudar o Estatuto da Santa Casa e você vai ser o Provedor. Estava concretizada a profecia.

Calixto é uma unanimidade em Itabuna, na Santa Casa, e tudo que temos feito desde a sua morte , ainda é pouco para pagarmos o que devemos a ele.

Sobre Calixto, escrevi:  “05/07/1984 morre Calixto Midlej Filho, legítimo representante dos homens de Bem desta terra, a melhor  identidade dos homens que amam Itabuna, e grande responsável pelo engrandecimento da medicina da Santa  Casa.

Vai ser difícil imaginar a Santa Casa sem Calixto. Suas visitas matinais , cumprimentando médicos, enfermeiros, funcionários, operários , fiscalizando com minúcias e esmero as obras em curso. O Centro de Estudos era a menina dos olhos de Calixto. Quase sempre no final das atividades na sexta feira à noite, chegava ofegante, sempre com uma boa notIcia, de que tal aparelho estava sendo comprado, que fulano ou sicrano tinha doado algo para os hospitais.  Jamais seremos suficientemente gratos, por tudo que você representou para a medicina de Itabuna. A sua lição de amor e fraternidade e de servir ao próximo, jamais será esquecida”

 

Manoel de Souza Chaves, escreveu : A Calixtinho, o benfeitor.

“Levarás no esquife para os céus, a palma

Da grandeza mansa, da

Virtude austera

Realizou na vida, a perfeição

Da alma

Foi bondoso como a lua é calma

Foi um santo, sem saber que era”

Telmo Padilha, escreveu: Súplica:

“Senhor,

Este que queres levar contigo vai nos fazer muita

Falta.

Já são tão poucos os que fazem alguma coisa por

Nos!

Bem que poderias deixá-lo ficar um pouco mais,

Não apenas para concluir sua obra

Mas para vê-la crescer aos nossos olhos.”

 

Ainda Telmo, em Réquiem para Calixto Midlej Filho :

“Vejo-te no Mariano, o cafezinho

Fumegando nos dedos o cigarro

Em que te amparavas para sustentar a solidão

Do enigma itabunense, a voz ainda firme,

Vejo-te atendendo ao último enfermo

Que te procurou para um lugar a mais

Onde não havia  lugar para um novo leito

Vejo-te dando lições a Hipocrates

Ao novel médico, ânimo ao saturado,

Vejo-te amparando os que ignoravam

Que também precisavas de amparo”

 

Selem Rachid, escreveu Calixto, Calixtinho: “Eu era o palestrante convidado no Rotary, e como de costume, em tese, dei alfinetadas em nossos homens importantes, em nossos líderes. E aí fiz uma exceção. Uma única exceção. Falei que havia em toda região cacaueira , uma só pessoa, um só líder, que fugia a essa armadilha, denuncia construída por mim, o Cavalete Cultura, na tentativa de explicar o porquê de uma pobre região rica”.

 

Meu abraço a todos meus colegas  com quem compartilhei uma vivencia   durante estes  quase 50 anos que atuo nesta Casa , juntando o tempo acadêmico e profissional.  Aqui desde 1970 fiz uma carreira igual na Igreja Católica e  o Exército. Comecei como acadêmico, ocupei todos os cargos na hierarquia médica e cheguei ao cargo máximo da mesa administrativa. A todos os funcionários que também ao longo deste tempo convivi, sempre em harmonia.

Destaco como funcionários emblemáticos e  puro  sangue Santa Casa: André, Tereza Araújo , Lourdao, Lourdes Alves,  Mestre Ataide, Cássia, Cacia, Jorge Pedra, Arnaldo, José Sales, Jorge, Jarinalva, Clodoaldo, Renilda,Rose, Normalice, Loiola, Mestre Adauto, Alberto “Paulo Isidoro”,Heleno e Gel Takaci  in memoria, em nome de vocês , saúdo todos.

Jamais esquecerei o compromisso e o amor demonstrado por abnegados funcionários que criaram um movimento vitorioso, chamado Depende de Nós, idealizado por Hélder, Itamar, Lania, Lourdao, Vitorinha, Rose, Borba, Ana Galvão, entre outros.

A irmandade desta Santa Casa , minha eterna gratidão, que proporcionou uma oportunidade única na minha vida. Ter servido mais intensamente a esta Casa, ao permitir que eu pudesse ser Provedor, e incluir no meu curriculum este Título importante na minha carreira. Destaque especial ao meu amigo e ex Provedor Edmar Margotto, que me confiou a difícil tarefa de continuar o seu trabalho nesta Instituição.

Agradecer  Deus a oportunidade de conviver com médicos extraordinários e pessoas dedicadas  que fizeram história na história desta Casa.

Cheguei a Santa Casa pelas mãos de Urandi Riella, outro gigante nesta história, que ao lado de Galvão Filho, iniciaram a Oncologia Cirúrgica, e depois Urandi implantou o serviço de Quimioterapia , que funciona até hoje.

Urandi , foi Presidente do Centro de Estudos, Vice-Provedor, secretário da Provedoria e não foi Provedor porque não quis.

No meu tempo de acadêmico e estagiando no Hospital Santa Cruz, atual Calixto, aprendi muito, com os médicos da época que tive a honra de conviver.

Aprendi com Guilherme Belmiro de Matos, Clodoaldo Carvalho, Mário Peixoto, Orlando Matos, Raymundo Freire, John Leahy, Geraldo Moura e Silva, Galvão Filho, Julio Brito, João Otávio, Arthur Almeida, Afonso Malta, Nilton Barros, Otilia Moraes,Itamar Pitanga, Wilson Rosas,   Renato Costa, Julio Porto, Alberto Seixas, Amilton Gomes, Ivan Argolo, que foi o primeiro neurocirurgião a trabalhar na instituição.

Tive o prazer de fazer parte de um grupo de acadêmicos , que iniciaram na década de 70, a frequentar os hospitais da Santa Casa, como Urandi, Vieira, Waldemir, Luiz Carlos Duarte, Arcleide, Dóris, Álvaro, Luciano Peixoto, Ubiratan Riella, Josicelin, Eduardo Galvão, entre outros.

Convivi com religiosas admiráveis, como a Irmã Maria José, Irmã Almerina Moretti, Irmã Creuza, Irmã Irene.

Tive a felicidade de conviver com Calixto Midlej Filho, o Provedor do século , e pessoas como Alcides Bezerra, Ottoni Silva, Anisio Torres, Renato Cunha, Eduardo Fontes, Raimundo Seixas, José Oduque,  Alberto Lessa, Licio Fontes, José Orleans, Osvaldo Chaves, Geraldo Pedrassoli, Eduardo Paixão – Duduca, Clodoaldo Matta Virgem, Osmundo Teixeira, Gerino,Entre outros.

A minha equipe da Provedoria,  equipe médica, a minha homenagem citando Eric Ettinger de Menezes, Urandi Riella, José  Humberto Martins, José Antero, Arthur Almeida, Ramiro Aquino, José Lathyner, Ruy Souza, Isaac Ribeiro, Silvany Chaves, John Leahy Filho, Álvaro Andrade, Ricardo Amaral.

Minha gratidão ao ex Provedor José Carlos Macedo que me nomeou Diretor Médico em 1986.

Aos colegas que trabalhou na minha equipe, quando diretor, Jurandy Bezerra, Rene Andrade, Antônio Mangabeira, Mercia Margotto, Ricardo Kauark, Alair Castro, Fanny Reinel, Antônio Carlos Brito, Jurema Mendonça , John Leahy, Jaime César Nascimento.

Momento marcante da minha gestão em 2002, quando foi realizado o primeiro transplante renal da Santa Casa e do Sul, Sudoeste, e Extremo Sul da Bahia, no dia 26/10/2002, sendo a equipe médica de Itabuna João Correia, Fernando Cruz, Almir, Neide, Marcelo Araújo, Ruy Souza diretor médico.

Outro momento importante foi a implantação do CACON – Centro de Alta Complexidade em Oncologia na Santa Casa,  em  2003, contando com a presença de Galvão Filho, que deu nome ao novo Serviço, e contando com a participação decisiva no projeto da equipe Oncosul,  o Chefe do Serviço de Oncologia Urandi Riella, o Chefe da RadioterapiaFrancisco Vieira,  o secretário de saúde Edson Dantas,  o diretor médico Ruy Souza. Na solenidade de assinatura do ato em Brasília,  além dos citados, ainda tivemos as presenças do Ministro da Saúde Barjas Negri, o Secretário Executivo do MS Renilson Rehem, o diretor do INCA Jacob Kliegerman e o Sr. Humberto Riella que representou a Irmandade da Santa Casa no ato solene.

No Plansul, após uma assessoria especializada, implantamos um modelo de negócios compatível com as regras mercadológicas das operadoras de planos de saúde e contratamos o Dr. Carlos Benjamin Auad, experiente colega na gestão de operadoras e conhecedor dos normativos da ANS.

O Centro de Estudos , fundado pelo médico Renato Costa em 1974, foi outra grande ideia e responsável por manter o nível de qualidade e especialização dos médicos da instituição. Grandes médicos foram importantes para manter a longevidade do mesmo,  atuando como presidentes Urandi Riella, Perivaldo Almeida, Angela Setenta Ferreira, Célia Kalil Mangabeira, Wandick Rosa, Alair Castro, Augusto Lins, Almir Alexandrino, Antônio Rossi, Neide Vinhático,Marcelo Araújo.

Agradeço a Edmar e Paulo Bicalho a oportunidade de ser Presidente do Centro de Estudos, que na nossa gestão transformamos na Fundação , hoje conhecido como Funcepes.

Não posso esquecer o papel decisivo de Edmon Lucas, na pacificação da instituição  e que resultou na eleição de outro grande provedor deste século, responsável pela aquisição do primeiro tomógrafo do interior da Bahia em 1988, e o início da alta complexidade nos hospitais da Santa Casa.

Estou falando do Grande Ailton de Melo Messias.

Outra grande médica que ao meu lado iniciou a alta complexidade em imagem da Santa Casa, minha homenagem a Maria Helena Andrade.

Outros grandes médicos da Santa Casa, que tive o prazer de conviver, foram brilhar em outras cidades como Alberto Peregrino, que elevou o nome da Santa Casa, em Congressos Nacionais e Internacionais, com publicação de trabalhos científicos em revista de renome. Em Itabuna fundamos com Prof. Spina França a Sociedade de Neurologia Tropical do Brasil secção Bahia.Os clássicos trabalhos  inéditos sobre Neurocisticercose e Esquistossomose Mansoni do SNC na Bahia.

Desde Alicio Peltier de Queiroz, Galvão Filho, Alair Castro, Alberto Peregrino e atualmente Luís Jesuino, sempre a Santa Casa teve seu nome agregado aos trabalhos científicos dos médicos citados.

Outro itabunense, que também trouxe importante contribuição para Itabuna, e que modernizou a anestesiologia de Itabuna,  José Abelardo Garcia de Meneses, ao lado de  Ubiratan Riella, Isaac Ribeiro, Lucidio Liborio, Antonio Andrade Brito Filho, Angela Farias, Telma Dantas e Antônio Gomes.  Abelardo Foi trabalhar em Salvador e  galgou cargos importantes nas entidades médicas baianas e nacionais, com destaque para Conselheiro Federal do órgão máximo da medicina brasileira, o nosso Conselho Federal de Medicina , Presidente do Conselho de Medicina da Bahia, Coopanest e SBA.

Na história mais recente tive a oportunidade de conviver com pessoas do Bem e de grande futuro para Itabuna e para a Santa Casa, como Eric Ettinger Jr, Edmar Jr., Silvio Roberto, Ronaldo Abude, Peter Deviris, Clovis Aquino e Glaucio Mozer Carvalho.

Mas até para morrer em paz,  vou abrir uma homenagem pessoal ao meu colega  e amigo Manoel dos Passos Galvão Filho, primeiro médico com pós graduação a chegar em Itabuna  e trabalhar na Santa Casa na década de 1960, e que foi um divisor de águas na medicina de Itabuna, dentro da minha contemporaneidade.

A Bahia, Itabuna, a Santa Casa de Misericórdia de Itabuna deve uma justa homenagem a  esse acreano, cuja história medica se confunde com a história da própria instituição.

A medicina contemporânea  de Itabuna tem dois períodos : antes e depois de Galvão Filho. Galvão está no mesmo patamar de outro medico que marcou a nossa história, Alicio Peltier de Queiroz, em outro tempo.

Os médicos mais novos, precisam saber da importância de Galvão para este momento que vivemos.  Todos sabemos da história patrimonialista que sempre conduziu a pratica medica na nossa região, e Galvão teve como missão principal resgatar o que ele chamava dos filhos da terra, para o exercício da medicina em Itabuna. Galvão naqueles tempos difíceis, levou o nome da Santa Casa para o Brasil e para o mundo, participando de Congressos e treinamentos no exterior. E clássico o seu trabalho sobre  prevenção do câncer ginecológico na região rural da zona cacaueira.

Hoje a alta complexidade,  a oncologia , os transplantes renais, a cirurgia cardíaca, a hemodinamica, a Neurocirurgia, a cirurgia bariatrica, Unidade Coronariana, a cirurgia videoendoscopica entre outros,  teve seu inicio quando Galvão introduziu a laparoscopia em nosso meio.

Meus amigos, ninguém tira frutos de raiz. Para se colher os frutos , tem que ter alguém para trazer a semente, semear em terreno fértil, cuidar da arvore e depois colher, e as vezes nem sempre quem colhe  e o mesmo que plantou.

Galvão você foi sempre um mestre para todos nos medicos de sua geração. Pela sua competência e pela grandiosidade de sua trajetória profissional.

Disse o poeta: Amigo e coisa para se guardar no lado esquerdo do peito. Mas você Galvão eu guardo nos dois lados do peito.

Galvão sempre incentivou os jovens medicos, e eu me incluo nesta lista. Galvão que o seu exemplo continue a inspirar os medicos e dirigentes desta Santa Casa. Que o seu exemplo seja fonte permanente da busca da excelência na saude da nossa região.

Para terminar nao poderia deixar de mencionar duas poesias , sobre  a nossa querida cidade de Itabuna e a nossa Santa Casa , autoria de Valdelice Pinheiro e de Cyro de Mattos representantes dignos da cultura itabunense , que hoje   tem duas Academias de Letras.  Onde despontam figuras como Cyro de Mattos, Marcos Bandeira, Sônia Maron, Sione Porto, João Otávio Macedo,Jaime César do Nascimento Oliveira, Lurdes Berthol, Raquel Rocha, Silmara Oliveira , entre tantos outros, e que orgulham a nossa cidade.

No cemitério,

no chão puro,

no ar,

no tempo que passou,

em tudo,

aqui,

vive tudo de mim;

meu pai e minha mãe

sob uma legenda e flores,

os meus primeiros sons,

a primeira imagem

de meus pés andando por si sós

e todos os meus olhos

se estirando

pelo verde dos cacaus abertos na mata

como um mar que desse frutos de ouro

e frutos de fome.

Aqui cresceram as minhas mãos

com ânsias de infinito e cheias de agonia.

Aqui nasceram e morreram

as minhas dores mais reais

e mais as ilusões de minhas alegrias.

Aqui eu aprendi o sentido da Paz,

a extensão do amor,

o quanto vale o homem

e de que tipo

de suor,

de força,

de coragem,

de doces e tristes coisas

é feita a vida.

Eu sou plantada neste chão.

Este chão sou eu.

Valdelice Pinheiro.

“Santa Casa de Misericórdia, Era preciso um leito/ na última agonia// Para curar e aliviar,/ era preciso um leito/ Monsenhor Moysés Couto/ sem hesitar dizia./ Fez-se a planta/ numa colina./ Canto de um dia novo/ andou na cidadezinha./ Santa casa que clareia,/ Santa  Casa  das dores./ Até hoje no leito/ duelam a noite e o dia”.

Cyro de Mattos: “Quem ama Itabuna, ama a Santa Casa de Itabuna. “

Obrigado Santa Casa! Obrigado Itabuna!

Silvio Porto de Oliveira.

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