DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA 37 DA ACADEMIA DE LETRAS DE ITABUNA – ALITA – Por Jeffson Oliveira Braga

Excelentíssima Presidente, da Academia de Letras de Itabuna, confreira Raquel Rocha  

Digníssimos confrades e confreiras da Academia de Letras de Itabuna – ALITA, 

Distintos convidados,

Amigos e familiares,

Senhoras e senhores,

A Deus toda honra e glória, pelo desvelar da verdade e alcance da sua graça, hoje posso viver eternamente, condição primeira referente a imortalidade, agora, também, enquanto novo membro da ilustre Academia de Letras de Itabuna – ALITA. É com grande honra, entusiasmo e emoção, ebulição de sentimentos que encontro diante de todos vocês neste momento único. 

Instituição alçada ao título de utilidade pública do município de Itabuna, que representa espaço de preservação, valorização e divulgação da cultura, literatura e história local. Além de ser um importante fórum de diálogo entre intelectuais, escritores e amantes das letras.

Ao assumir esta posição, não apenas acolho a responsabilidade que ela implica, mas também me sinto profundamente grato pela confiança que me foi depositada. Ainda mais, para tomar assento a cadeira 37 desta nobre Academia, que tem como patrono o incomparável Luiz Gama — homem de letras, de luta e de liberdade.

Luiz Gama, tornou-se símbolo pela inquietude por não se conformar ao status quo da hegemonia intelectual brasileira da época, colocando então, enquanto resistência. Foi autodidata, jornalista, advogado e poeta. 

Libertou, com sua pena e sua coragem, mais de 500 pessoas escravizadas. Sua vida é uma devoção e convocação à justiça, ao saber e à palavra como forma de aproximação da verdade. Que honra carregar esse nome como referência de justiça, em tempos de desprezo dos pressupostos epistemológicos da ciência jurídica.

A ALITA, fundada com o propósito de valorizar a cultura literária, preservando e promovendo a produção intelectual da nossa região, é um símbolo do amor pelas letras e pela história de Itabuna. Repito, é um privilégio poder compartilhar este espaço de erudição, sabedoria e reflexão com escritores, poetas, acadêmicos e intelectuais que têm, ao longo dos anos, dedicado suas vidas ao exercício da palavra e ao fortalecimento da nossa identidade cultural.

Humildemente, me coloco à disposição desta academia para seguir o legado daqueles que vieram antes de mim e para, junto aos meus confrades e confreiras, continuar a missão de promover a literatura e as artes em nossa cidade, fortalecendo a região.

Tenho plena consciência de que o papel de um acadêmico vai além da simples produção literária; ele é também um guardião da memória, um criador de pontes entre o passado e o futuro, um facilitador do diálogo entre os diversos segmentos da sociedade. Com isso em mente, comprometo-me a colaborar de maneira ativa nas ações da ALITA, a apoiar novos projetos literários, a fomentar o debate cultural e a disseminar a literatura como um bem essencial à formação do caráter e da cidadania.

Preocupar-se com a memória, o legado, sempre foi uma das primeiras escolhas dos homens virtuosos, quando buscam deixar para posteridade seus feitos.

Desta feita, gosto muito da ilustração, do breve diálogo extraído das narrativas dos eventos da Guerra de Troia da Ilíada, do poeta grego Homero:   

– “O tessálico que vai lutar, com o senhor, ele é o maior homem que já vi. Eu não lutaria com ele”, disse o menino. 

– “Por isso que o seu nome nunca será lembrado” (Aquiles).

Perceba, este singelo diálogo entre um menino, que seguindo ordens de Agmanón considerado o rei dos reis entre os gregos, busca Aquiles para enfrentar um guerreiro da Tessália. A descrição ecoada para posteridade pela deusa que os gregos chamavam de “Mnemosyne”, Memória. 

Esta memória é o canto dos poetas, que registrava e deixava para as próximas gerações, a tradição, como: da Ilíada e da Odisséia, dos Cantos Cíprios e várias outras histórias que marcam nosso imaginário e são ilustradas por filmes como “Troia”.   

O que neste momento trago à tona, são máximas e sentimentos um pouco fora de moda. Sim, isso mesmo, ética, honra e respeito aos que antecederam, os antepassados. 

Certa feita, Bernardo de Chartres cunhou a seguinte frase: “Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes”. Apesar de ter ficado famosa e comumente atribuída a Isaac Newton, essa inscrição tem origem no século XII. Este, utilizou a metáfora dos anões estarem sobre ombros de gigantes, que expressa o significado de descobrir a verdade a partir das descobertas anteriores.

Desse modo, acompanhar os trabalhos dos integrantes da ALITA sempre foi um ideal quase romântico, hoje, realidade estando próximo de confrades e confreiras com envergadura intelectual ímpar, expertise, maestria na articulação das palavras eleva todo aquele que se debruça nos escritos de nosso presidente de honra Cyro de Mattos.  

Como Ruy Póvoas em seus escritos marcados, como deve ser, de sua relação com o divino, manifestado em cada estrofe. Dissociar a vida na sua integralidade, desprezando a manifestação cultural, é um tipo de paralaxe cognitiva, um total disparate, como diz Roger Scrutom “a cultura não é um detalhe: é a alma de um povo”. Em Ruy Póvoas, sua alma fica registrada em cada verso.

Finalmente, aos cidadãos de Itabuna, cidade que tanto admiro e que sou privilegiado por ter sido adotado como filho, dedico minha posse como um ato de compromisso com o fortalecimento da nossa identidade cultural e com o desenvolvimento da nossa produção literária. Que nossa cidade continue a florescer como um centro de cultura, sabedoria e criatividade, inspirando as futuras gerações a valorizar o poder das palavras. 

Sempre fui um entusiasta das letras, da arte e cultura. Minha trajetória literária se inicia ainda na tenra infância, aos 7 anos, quando concluir a leitura completa da Bíblia Sagrada, obra que moldou não apenas meu vocabulário, mas sobretudo minha cosmovisão. 

Desta feita, pertencer a ALITA ultrapassa não só a agremiação para produção, artística e cultural, mas, também contrabalancear, frente relativista, que busca desconstruir a alta cultura, deformando consequentemente o imaginário, afetando o desenvolvimento humano. Tenho aqui, amigos, amigas e irmãs, que pertencem a essa confraria, como a confreira Eliabe – somos da Igreja Presbiteriana do Brasil, saudosos professores Marcos Bandeira e Raimunda Assis, reforça a ideia de almejar estar em um lugar, como meu pai dizia: “meu filho, tenha amizade com pessoas melhores que você”. 

Sem saber, sua instrução se aproxima muito no que Aristóteles em sua ética, ao desenvolver seu sistema de virtudes “eudaimonia” (felicidade), entende que seria um tipo de escolha atingido pelo desenvolvimento prático – proceder. Então, aqueles que não tem autonomia suficiente para escolher o que é virtuoso, deve fazer pelo hábito. 

Neste sentido, quando as virtudes vêm por meio do hábito, a busca da felicidade requerer que se faça pela mimesis (imitação) daqueles que tem uma vida virtuosa. Logo, “ter amizade com pessoas melhores que você”, permite elevar o padrão dos comportamentos para o plano da ética, disciplina filosófica prática, que permite a orientação das decisões e ações humanas.   

Ingressar nesta Academia é como retornar ao lar — um lar de ideias, de memórias, de compromisso com a cultura itabunense. Aqui se reúnem os que não permitem que a história se perca, que a literatura se cale, que o pensamento se estanque. 

Sabemos que as letras permitem construir o imaginário coletivo, pedagogicamente instrutivo para a saída da menoridade, como diz Kant, para uma condição de autonomia, reverberada pela projeção intelectual. 

Lembrando que o silêncio é a última fronteira da liberdade. Liberdade essa que só as letras nos permitem ter

Agradeço, com humildade e gratidão:

– Aos ilustres confrades e confreiras, por sua confiança.  

– À minha família, alicerce de minha jornada.  

– Aos meus primeiros mestres e leitores, que regaram as sementes da palavra em minha alma.  

– E sobretudo a Deus, que é o autor da vida e da sabedoria.

Neste momento, firmo o compromisso de zelar por esta cadeira com dignidade, e de honrar o legado de Luiz Gama, promovendo a literatura como instrumento de liberdade, consciência e comunhão.

Que as letras que aqui semeamos germinem não apenas em livros, mas em vidas. Muito obrigado.

 

Itabuna-BA, 12 de setembro de 2025

 

 

 

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Pietro Nasseti. 4 ed. São Paulo: Martin Claret, 2008.

OF SALISBURY, Jonh. THE METALOGION: A Twelfth-Century Defense oh the Verbal and Logical Arts oh the Trivium. Editora Paul Dry Books, 2009.  

SCRUTOM, Roger. A CULTURA IMPORTA: Fé e sentimento em um mundo sitiado. São Paulo, LVM Editora, 2024.  

TROIA. Direção: Wolfgang Petersen | Roteiro David Benioff | Elenco: Brad Pitt, Erica Bana, Orlando Bloom | Título original Troy, 2004, 2h 35min.

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