Discurso da Reitora Magnífica
Por Cyro de Mattos
Ilustre confreira Raquel Rocha, presidente da Academia de Letras de Itabuna. Ilustre confrade Alessandro Fernandes, Reitor da UESC, na sua pessoa estou saudando os integrantes da mesa oficial. Autoridades presentes e representadas, senhores e senhoras.
Digo com o genial poeta português, Fernando Pessoa:
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Sabemos que Reitores competentes, dotados de práxis relevante, integram a história da Universidade Estadual de Santa Cruz. Não cito agora nomes desses importantes gestores do ensino superior para não cometer o pecado da omissão. Um deles, em boa hora, está sendo homenageado hoje pela Academia de Letras de Itabuna com a Medalha Jorge Amado. Trata-se de Renée Albagli. Essa mulher ilheense, de sangue judeu, exerceu o mandato de reitora na UESC por duas oportunidades, tendo ao seu lado a vice-reitora Margarida Fahel, outra mulher compromissada com o ensino superior, competente e dinâmica.
A professora doutora Renée Albagli virou a chave fazendo com que a Federação de Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna se tornasse na Universidade Estadual de Santa Cruz. Sua gestão profícua na UESC por dois mandatos traz como marcas valorosas a ampliação do corpo docente e o projeto acadêmico. Encontrou a UESC com apenas 14 doutores e 48 mestres, deixando a Universidade com 102 doutores e 253 mestres. Viabilizou as características da Instituição através de um plano de capacitação docente arrojado, em parcerias com outras universidades brasileiras, por meio de convênios, também encaminhando os professores para mestrado e doutorado no Brasil e no exterior. Estabeleceu uma política de concursos públicos somente para mestres e doutores, para acelerar o processo de competência. Como resultado afirmativo da proposta visionária, conseguiu consolidar o processo de expansão na oferta de graduação. Entre outros cursos na UESC, ela implantou o de Veterinária em 1997 e o de Medicina em 1998.
A incansável Reitora criou a EDITUS – Editora da Universidade Estadual de Santa Cruz, em 1996. Esta casa editorial começou com a publicação de três livros: Antônio Conselheiro, Louco?, do Professor Flávio Simões, Dicionareco das Roças de Cacau, de Euclides Neto, e Berro de Fogo e Outras Histórias, de nossa autoria. A EDITUS possui hoje em seu catálogo 465 livros publicados nos diversos campos do conhecimento, como literatura, educação, saúde, direito, economia, história e africanidades. Possui o projeto Editus Digital. É integrada à Associação Brasileira de Editoras Universitárias e goza de elevado conceito no âmbito da universidade.
Convém ressaltar que Renée Albagli teve atuação destacada como membro do Conselho Estadual de Educação e quando exerceu a presidência da instituição. Coordenou o livro Histórias e Memórias do Instituto Nossa Senhora da Piedade – 100 Anos de História -1916/2016, publicação da EDITUS.
É apanágio de seu caráter gostar muito de trabalhar para plantar o bem e valorizar a vida, em especial nos campos do ensino superior e educação. Só mesmo quem teve o privilégio de conviver com essa digna mulher sabe o quanto ela é solidária nas horas críticas, ética no desempenho da função pública quando vemos ser comum o uso do cargo em proveito próprio.
Sugiro sem hesitar que a Universidade Estadual de Santa Cruz crie o Prêmio de Humanidades Renée Albagli, de âmbito nacional, para autores de livros que valorizem os temas do ensino superior e da educação. O prêmio deve consistir em considerável valor monetário, diploma e edição do livro vencedor pela EDITUS.
Por tudo que essa mulher fez pelo desenvolvimento do ensino superior e pela educação, a Academia de Letras de Itabuna concede-lhe hoje a Medalha Jorge Amado e à Santa Casa de Misericórdia, por se tratar de uma instituição humanitária que há anos se inspira no princípio do Cuidar da Vida, sua história de fazer o bem aos outros se confunde ao longo do tempo com a própria história de Itabuna. Estamos aqui com muita honra para cumprir o que determinou em assembleia a Academia de Letras de Itabuna.
Antes, peço permissão e tolerância a todos, para terminar minha fala com o poema que escrevi hoje e que é dedicado à Renée.
Eis o poema:
Poema da Reitora
Vejo-te banhada de crenças de Israel
Vejo-te entre verdes e azuis de Ilhéus
Vejo-te sob palmas de nossos ancestrais
Vejo-te saberes nas lentes da UESC
Vejo-te nesses sonhos para ter e ser
Vejo-te incandescente de ternura
Vejo-te vestida de simplicidade
Vejo-te com os fios de ouro da verdade
Vejo-te solidariedade na hora triste
Vejo-te desafio no amanhecer áspero
Vejo-te como chuva irrigando na sala
Vejo-te tanto sem nada querer
Vejo-te flor que não desaparece
Vejo-te sob o sorriso de gerações
Vejo-te beleza pondo ovos nessa casa
Vejo-te em nossas mãos de gratidão
Vejo-te lágrima latejando o coração
Vejo-te na razão canto e plumagem
Vejo-te sombra em abano de árvore
Vejo-te nos verdes aos montes
Vejo-te na colmeia dos maduros
Vejo-te na passagem desses ventos
Generosos ensinando-nos a viver
Ó esplêndida grapiúna, magnífica,
Vejo-te reger, não canso de assistir.
Discurso proferido em 11 de outubro de 2024