NOITE DE ALITA- Ruy Póvoas

Hoje, neste 27 de maio de 2023, estamos em uma noite especial: noite de ALITA, noite de vencedores de concurso, noite de Cyro de Mattos.
A ALITA, se constrói em margens de gigantes; os vencedores do concurso ampliam suas vozes em ressonâncias magnéticas. E Cyro? Bem; Cyro é metaforicamente o próprio rio: hora manso, hora bravio. Chora o choro e ri o riso em frases sonoras que deslisam por nossos sentimentos e emoções. E ainda põe nossa imaginação no mesmo fio.
Mas ele já construiu um mundo de seguidores. E por isso lhes trago hoje em homenagem a Cyro, aos vencedores do concurso e à própria ALITA 3 poemas de 3 autores diferentes.
Não declamarei, pois isso é para privilegiados iguais a Jorge Batista, Aldo Bastos e Alba Cristina. Apenas lerei.
1. ORAÇÃO PELO RIO, da poeta Baísa Nora:
ORAÇÃO PELO RIO
Senhor, juntos, nós, parceiros, amigos,
apaixonados, queremos Lhe pedir pelo rio.
Não é um rio qualquer,
ainda que todo rio seja bom e sagrado
ou, quando nada, pudesse ser.
Esse rio pelo qual queremos pedir é muito especial.
É o rio de Jorge Amado, de Valdelice Pinheiro, Telmo Padilha,
Cyro de Mattos, Adonias…
No entanto, ele é mais importante
(e nossos escritores e poetas com certeza sabem disso)
por ser o nosso rio, do povo humilde,
da gente simples,
que nele tem Água e Pão, Consolo e Caminho.
Esse rio, o Cachoeira,
formado pelo Colônia, Salgado e Piabanha,
também ele é mais belo que o Tejo,
por ser o rio que percorre e redime nossa Região.
E hoje, nós todos que queremos salvá-lo,
que queremos preservá-lo,
aqui estamos para dizer-Lhe
que muito foi feito e muito mais será preciso realizar.
Juntos, queremos prometer não fugir da luta, ainda que árdua,
e continuar doando um pouco do nosso tempo,
um tempo de nossa vida, para que, amanhã,
o Cachoeira possa, novamente, passar a caminho do mar
— bonito, limpo, puro e cheiroso – como já foi um dia.
E, então, poderemos afirmar que mais belo está o rio
E mais plenas as nossas vidas.
2. MEU RIO CACHOEIRA , do poeta pernambucano, Agnísio Marques de Souza.
Meu rio cachoeira, eu gosto tanto de você!
Mansinho, vadio, meu rio-criança,
que dá cambalhotas, que salta, que ri,
que faz cineminha na tela das águas
de galhos dançantes, de sol, de luar.
Tão doce, tão terno, menino quieto,
no berço de areia, de musgo, de pedras escuras,
fazendo negaços por entre itabunas,
macio a rolar.
Meninos nuinhos, brincando nas margens,
“Galinha gorda!” Tibungo. Tibungo.
Mergulho nas águas – mergulho na vida –
surgindo adiante com o prêmio na mão.
Lavadeiras nas pedras, lavando roupinhas,
cantarolando cantigas de amor,
as saias subindo, subindo, subindo…
— Cuidado que o home tá te espiando!
E o rio-menino, travesso, rolando,
sorrindo inocente, sem nada maldar.
As chuvas caíram dos montes, das nuvens,
as águas ficaram mais grossas, então.
Zangado, o menino virou uma fera.
Invade as campinas, derruba os mocambos,
arrasta os casebres, não tem compaixão.
Regouga, raivoso, rugindo, roncando,
danado da vida, dançando uma dança
de destruição.
Lá vai um anjinho boiando nas águas.
Uma saia rasgada, uma mesa, uma cama,
um anel de brilhante enterrado na lama,
um choro, um lamento, uma voz, — tom de mágoa –
“– Tudinho que eu tinha o rio levou!
Maldito esse dia que o rio desceu!”
– Paciência, sa dona. Vá, reze ao Divino,
e nunca se esqueça, e nunca se esqueça:
O rio é a gente que foi pequenino,
e um dia cresceu.
3. Por último, um poema de minha autoria, RIO CACHOEIRA
Este rio é minha memória
o cordel de minha estória
minha sela e minha espora
criador de lavadeiras
sevador de areeiros
salvação de pescadores
arquivo de minha história
intuição de meus artistas
um riscado no meu chão
divisor de meu espaço
diástole de meu tempo
sístole de minha fome
minha artéria esclerosada
quadro-negro da escola
sobre o qual estão os versos
de minha gênese e de meu fim.
Este rio é minha sorte
com ele aprendi a vida
com ele estudo a velhice
com ele adivinho a morte
na corrida para as águas
do oceano que há em mim.

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