SONETOS DA MÃE AUSENTE- Cyro de Mattos

 

A casa era pequena, mas em tudo
os dias tinham tuas mãos zelosas.
Colocavas nos vasos aquelas  rosas,
como sonho na manhã perfumando,

esbanjavam pelos ares ternura.
Davam vida à máquina de costura
tuas pernas ativas. Os bordados,
beleza tecida, sempre lembrados.

Como o mundo de Deus era grandão.
Dizias que primeiro a obrigação,
depois, filho, é que vem a diversão.

Só de lembrar me dão água na boca
teus doces. Cativando com açúcar
das mãos divinas as amargas nunca.

II
A casa toda alegre, a manhã sente
tua voz comovendo desde cedo,
os afazeres no ar iluminado
por teu jeito de torná-la cantante.

No quintal do vizinho passarinhos
faziam o coro com outros cantos.
Não sei qual dos cantos era o mais lindo,
o teu com o filho contente, sorrindo

ou o deles na festa, entre tantos,
a manhã pura bicavam, afoitos.
Como se fossem hoje os teus gestos

ainda estão nítidos dentro de mim
ligados num sonho que não tinha fim.
Tua voz, mãe, não ouço, teve um fim.

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