Até a década de 1960, as casas comerciais da hoje Avenida Cinquentenário eram muito simples, não havendo preocupação com o visual. Eram bazares onde se encontrava de tudo um pouco. Mas, também, era nesta avenida que as decisões mais importantes eram tomadas pela classe dirigente, os desfiles cívicos passavam, os comícios políticos arrebanhavam seus eleitores, os carnavais tinham seu palco e sua festa.
A Avenida Cinquentenário continua sendo considerada o coração econômico da cidade, local de compras, de bancos, do comércio em geral.
Durante a semana, no horário comercial, a avenida está sempre muito movimentada: congestionamento de carros, pedestres acotovelando-se nas calçadas disputando espaço, clientes de bancos, pessoas que vão às compras, enfim, um vai-e-vem de cidadãos que buscam resolver seus problemas ou os dos outros. No entanto, esta movimentação ocorre mais no trecho compreendido entre a Praça Camacan e a Rua Adolfo Maron, próxima ao Banco Bradesco onde, principalmente em época de festas como o Natal, pedestres, ambulantes e motoristas disputam cada pedaço de chão. Observando-se as pessoas de um lado a outro na avenida, tem-se a sensação de que andam sempre apressadas, na azáfama de descobrir o sentido da vida, correndo na direção de seu infinito.
A Avenida Cinquentenário, coração econômico da cidade, esteticamente deixa a desejar. Como já foi uma rua onde a maioria das edificações não passava do segundo pavimento, a parte superior era residência e a parte inferior era ocupada por algum tipo de comércio. A maioria das famílias não reside mais em cima das lojas. Hoje as construções desta avenida, em sua maioria, ainda são de dois ou três pavimentos, poucas têm de quatro a seis andares. Somente os edifícios Cabral, Benjamim de Andrade e São Judas têm mais de cinco andares. Em toda a extensão da avenida, as construções formam um verdadeiro muro. Não há espaço entre elas. A parte superior das casas, em sua maioria, tem aspecto sombrio, desleixado.
A parte inferior das casas comerciais, também, em sua maioria, são apenas portas abertas que dão para os produtos a serem comercializados. Isto fica bem visível ao se andar pela avenida pela manhã, antes da cidade acordar. O que se observa, então, é uma fileira de edificações de um lado e do outro da avenida, coladas umas nas outras, no meio de um emaranhado de fios e cabos, postes escuros e poluídos com propagandas das mais variadas espécies. Pode-se dizer que a avenida não apresenta um aspecto dos mais agradáveis, faltando, aos comerciantes, preocupação com o visual de seus estabelecimentos.
“A Avenida Cinquentenário, na atualidade é uma avenida de tumulto, feia, de notória especulação imobiliária e financeira,
inchada, confusa, envergonhada. (…) A cidade tinha (…) lojas com suas vitrines bonitas, suntuosas, bem decoradas. Era uma atração todas as noites. (…) Hoje é um núcleo de desempregados, de camelôs, de pedintes, de mendigos. É nossa vergonha” (Jornal Agora, 28 de julho a 2 de agosto de 1997. Edição especial, p. 7).
À noite, nos feriados e nos finais de semana, toda esta movimentação cessa. A avenida fica praticamente vazia: poucos carros, alguns pedestres andando despreocupadamente pelas calçadas. A calma e o sossego imperam. Tem-se a impressão de que os responsáveis pela azáfama da semana estão dormindo ou se mudaram. As casas comerciais ficam fechadas, a não ser que seja uma data especial como Natal, Dia dos Namorados, Dia das Mães, quando tudo continua em atividade. Os jovens que, durante a semana, andam em grupos ou solitários pela avenida, não são vistos, pois, normalmente, vão às praias de Ilhéus e, a partir do ano 2000, com inauguração do Shopping Jequitibá passaram a fazer deste equipamento urbano seu ponto de encontro.
As calçadas da Avenida foram refeitas no governo do prefeito Capitão Azevedo, como presente entregue à cidade em 28 de julho de 2010, por ocasião de seu centenário. Ficaram mais largas, com piso tátil para deficientes visuais, alguns bancos ao longo do percurso e caqueiros com plantas. Contudo, o novo calçamento, feito de tijolos intertravados, não oferecem conforto para se caminhar nelas, principalmente para as mulheres, quando estão de sapato de salto.
Além disso, as pedras do calçamento estão se soltando, os vasos com plantas, em muitos lugares, transformaram-se em depósito de lixo, pois, não há cuidado por parte dos transeuntes nem dos lojistas, que não têm a cultura do cuidado com os equipamentos públicos.
Na verdade, o que falta à Avenida Cinquentenário é o charme da arborização, do jardim, de edificações de bom gosto arquitetônico, da conservação das construções antigas e a preocupação, principalmente por parte dos lojistas, de tornar seu estabelecimento um ambiente convidativo, agradável, com fachadas de bom gosto, mantendo assim a tradição de ser a rua mais importante para o comércio da cidade.
De qualquer forma, pode-se dizer que a Avenida Cinquentenário “(…) além de ser um lugar por onde se passa ou se deixa de passar [é] uma rua [que] está carregada de história, está carregada de memória, está carregada de experiências que o sujeito teve, que seu grupo teve e que a história de seu grupo naquele espaço teve [e tem]” (ROLNIK, 1992, p. 28).
*Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Sergipe (2006). Licenciada em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Teófilo Otoni (1974), Pós-graduação lato sensu em Geografia Humana (FAFITO) e Desenvolvimento e Gestão Ambiental (UESC). Mestrado em Geografia, na área de Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal da Bahia (2001). Professora titular da Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC, desde 1988. Pesquisadora na área de Geografia com ênfase na Fenomenologia, Semiótica, Geografia Humana e Cultural. Atua nas disciplinas de Metodologia e Prática de Ensino em Geografia.
Texto revisado, baseado na dissertação de Mestrado.