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Cid Teixeira e Sonia Maron- Um duplo adeus

Cid Teixeira e Sonia Maron

Um duplo adeus. Direito e História vivem em mútua influência, a ponto de Ortolan ter afirmado que todo historiador deveria ser jurista e todo jurista deveria ser historiador. É hora da despedida a quem tão bem contou nossa terra e nossa gente, detalhe por detalhe, cada esquina da velha Cidade da Bahia. Alves Velho ensina que dia a dia, à medida que nossos conhecimentos avançam, vamos encontrar escondidas, na antiguidade, as sementes de todas as novas ideias, que até agora nos haviam passado despercebidas. A querida professora Sonia Maron, imortal da Academia de Letras de Itabuna,  jurista do Direito Penal, ensinava e vivia tudo isso, exímia que era em Humanidades e na fluência elegante e simples das palavras. Vão-se duas referências da internacionalmente reconhecida dime nsão historiográfica que obteve a minha Hermenêutica da Desigualdade. É uma apertada síntese cheia de gratidão, saudade e reconhecimento. Trata-se de um duplo adeus.

TAURINO ARAÚJO

 

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Adeus à juíza Sônia Maron exalta mulher “à frente de seu tempo”

Por Celina Santos


Muitas são as referências a marcar a trajetória da juíza aposentada Sônia Carvalho de Almeida Maron, que faleceu às 11h15min de terça-feira (21), após lutar por três anos contra uma leucemia. Nascida em Itajuípe e moradora de Itabuna, ela deixa, em 81 anos de vida, o exemplo de empoderamento feminino. Aliás, muito antes de esse termo ser cunhado.

Dra. Sônia foi juíza do Tribunal de Justiça da Bahia por 35 anos, atuou em Salvador e em Itabuna, na 1ª e 2ª Vara Crime. Na Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), lecionou no curso de Direito.

Já na esfera literária, foi uma das fundadoras da Academia de Letras de Itabuna (Alita), a convite do escritor Cyro de Mattos, contemporâneo dela. Ele usou as letras para despedir-se da amiga, a quem eleva votos de “merecido descanso na casa do pai eterno” (poema ao final desta matéria).

Amigo de infância, o médico João Otávio Macedo, carinhosamente chamado por ela de Tavinho, mostrava um olhar atento no velório – como se ali recordasse as brincadeiras compartilhadas e o visível afeto mútuo que demostravam. Ele também integra os quadros da citada entidade literária.

A atual presidente da Alita, Silmara Oliveira, atribui a “elegância e a competência como marcas indeléveis da querida confreira”. “Nos deixa saudades e gratidão de partilhar do seu convívio. Rogamos ao pai celestial que seja doce essa passagem e que sua família seja confortada pelo amor divino”, clama.

Mais manifestações de afeto

Outra confreira, a escritora Ceres Marylise também registra o carinho pela companheira de jornada. “Convivemos diariamente durante quase cinco anos. As horas alegres e prazerosas, cumplicidade e caminhada foram muitas. Que minha linda miss esteja descansando ao lado do Senhor!”, declarou.

Já o casal de vizinhos Rosana e Marcos Bandeira (ele também juiz aposentado e confrade), refere-se à moradora que os recebeu com flores, quando passaram a residir no mesmo prédio, no bairro Jardim Vitória.

Uma das últimas pessoas a servir uma refeição para Sônia, a cuidadora Célia Sousa falou da mulher autêntica, que era franca ao dizer às pessoas o que precisava ser dito. Ao mesmo tempo, sempre amorosa no convívio com todos.

Numa moção de pesar, o prefeito Augusto Castro mencionou Sônia Maron como um mulher de inteligência e cultura raras, elegante e de finíssimo trato. “A magistrada distribuiu Justiça ao longo de sua vida. Itabuna, a quem represento pela maioria da vontade de seu povo, lamenta sua morte”.

Uma legião de amigos e admiradores hoje compartilha a saudade vivida pelos filhos Otávio César e Ana Clara, mais os netos Beatriz, José Ricardo e Yasmin.

 

 

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Academia de Letras de Itabuna se despede de uma das suas fundadoras e ex-presidente Sônia Maron

Uma mulher firme, elegante, de olhar atento e raciocínio rápido. Em ligeiras palavras, assim era a juíza Sônia Carvalho de Almeida Maron, que faleceu na manhã desta terça-feira (21), em Itabuna. Aos 81 anos, a magistrada aposentada nasceu em Itajuípe e trilhou um sólido caminho nas esferas jurídica, acadêmica e literária.

Ela era uma das fundadoras da Academia de Letras de Itabuna (Alita), da qual foi presidente por dois mandatos e onde prezava pela valorização da tradição, da cultura e da educação neste município. Os amigos de infância, como o escritor e advogado Cyro de Mattos, lembram com carinho das histórias compartilhadas com Dra. Sônia. “Minha conterrânea que morava na rua do Quartel do Velho, onde moravam meus pais numa casa humilde. Ela merece o descanso na casa do pai eterno”, roga o escritor, também fundador da Alita.

A atual presidente da entidade, Silmara Oliveira, atribui a “elegância e a competência como marcas indeléveis da querida confreira”. “Nos deixa saudades e gratidão de partilhar do seu convívio. Rogamos ao pai celestial que seja doce essa passagem e que sua família seja confortada pelo amor divino”, clama.

O corpo dela será velado no SAF a partir das 17h30min e o sepultamento ocorrerá na manhã de quarta-feira (22).

Carreira eterna

 

Titular da cadeira 14 na Alita, cuja patronesse era a saudosa escritora Valdelice Pinheiro, Dra. Sônia era mestre em Direito Penal pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); foi professora da Uesc (Universidade Estadual de Santa Cruz) e atuou como juíza no Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-Ba) por mais de duas décadas. Neste período, atuou na 1ª e 2ª Vara do Júri, em Itabuna.

Afora a sala de aula, o vasto conhecimento dela foi compartilhado em palestras, artigos, bem como no livro “Legítima Defesa no Tribunal do Júri”.

Além da legião de amigos, deixa órfãos os filhos Otávio César, Ana Clara e três netos (Beatriz, José Ricardo e Yasmin).

Fonte: Diario Bahia- Celina Santos

Sonia Maron em ocasião da eleição da nova diretoria da Academia de Letras de Itabuna- ALITA.
Sonia Maron em ocasião da eleição da nova diretoria da Academia de Letras de Itabuna- ALITA.

 

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Sonia Maron em ocasião da posse dos novos membros da Academia de Letras de Itabuna- ALITA em 2013

 

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Sonia Maron no lançamento do primeiro número da Revista Guriatã da Academia de Letras de Itabuna- ALITA.

 

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Livro Canti della terra e dell’acqua de Cyro de Mattos

Editora na Itália Publica Livro de Cyro de Mattos

“Canti della terra e dell’acqua” é uma antologia do poeta Cyro de Mattos, reunindo 38 poemas, que foi publicada em final de  dezembro de 2011 pela editora Romar, de Milão, com seleção e tradução de Mirella Abriani. A tradutora já traduziu para o italiano Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade Com  esta antologia, Cyro de Mattos alcança a marca de cinco livros de poesia publicados no exterior, fato raro entre poetas baianos. Os outros livros são os seguintes: “Vinte Poemas do Rio”, edição bilíngüe, com tradução do poeta Manoel Portela para o inglês, e “Ecológico,  ambos editados pela Palimage, de Coimbra, Portugal; “Zwanzig Gedichte von Rio und andere Gedichte”, da Projekte-Verlag, Halle, Alemanha, com tradução de Curt Meyer Clason, e “Poesie della Bahia”, publicação da  Runde Taarn Edizoni, em Gerenzano (Varese), Itália, com tradução de Mirella Abriani.

A antologia “Canti della terra e dell’acqua” é constituída de quatro partes: Os Sinais da Terra, Águas do Rio, Alguns Bichos e Águas do Mar. No livro estão presentes poemas inspirados na infância, rio Cachoeira, bichos e meio ambiente.  Sobre o autor Cyro de Mattos disse Jorge Amado: “Cantor da terra e das águas. Cantor do amor. Pastor de diversos bichos. Tão esplêndido poeta, tão esplêndido ficcionista”. Já a escritora e professora Graziella Corsinovi, da Universidade de Genova, presidente do júri do XII Prêmio Internacional de Poesia Maestrale Marengo d’Oro, assim opinou: “Poesia do mais amplo horizonte histórico e existencial, que evoca mistérios da epopéia brasileira com grande poder de sugestão”.

 

 

Autor de 38 livros, com prêmios literários importantes, o escritor baiano (de Itabuna) Cyro de Mattos participa de várias antologias no exterior com poemas e contos, como “Der Alte Flub” , na antologia “Moderne Brasilianische Erzähler” (Modernos  Contistas do Brasil), Editora Walter, Alemanha/Suíça, 1968. Conto: “ O Velho e o Velho Rio”.Tradutor  Carl Heupel; “Starik e Staráia Reká”,  na antologia “K Iugu of Rio Grande” (Narradores da América Latina), Edições Molodáia Guardia, Moscou, 1973. Conto: “O Velho e o Velho Rio”. Tradutora Helena Riánzova; “Klagesang i Klippene”, na antologia “Latinamerikas Spejl” (Visões da América Latina), Editora Vindrose, Kopenhagen, Dinamarca, 1982. Novela: “Ladainha nas Pedras“. Tradutor Uffe Harder; “Cancioneiro 80”,  no  jornal “Letras & Letras”, n* 52, Porto, Portugal, 199l. Poemas: “Canção Ribeirinha”, “A Arara”, “Na Brisa”, “No Mar Enigma”, “Diante do Rio” e “A Águia”, foto do autor, seleção e  apresentação  de Ana Maria Saldanha Dias; “Contos Premiados no Concurso Joaquim Namorado”, Câmara Municipal de Figueira da Foz, Portugal, 1992. Conto “Berro  de  Fogo”, com o título “Olhos de Fogo”; “Antologia de Poesia Contemporânea Brasileira”, organização de Álvaro Alves de Faria, Editora Alma Azul, Coimbra, Portugal, 2000. Poemas: “Mar de Fernando Pessoa” e “Soneto Agônico do Cacau”; ”Poesia do Mundo/3”, antologia bilíngüe, organização de Maria Irene Ramalho de Sousa Santos, Edições Afrontamento, Porto, Portugal, 2001, reunindo poetas de dezesseis países. Poemas “ Versinverse in the Flora” (Do Versinverso da Flora) e “Dead River” (Rio Morto). Tradutor Manuel Portela; “Beacons”, revista da Associação de Tradutores Americanos e do Departamento de Inglês  da Faculdade  Estadual de  Plattsburgh, Nova York, número 9, 2003, reunindo poetas de  treze países. Poemas “Da Parição” (Giving Birth” e  “Antemanhã” (Pre-Dawn). Tradutor Fred Ellison; “Poetas Revisitam Pessoa”, organização de João Alves das Neves, reunindo cinqüenta poetas de Portugal e Brasil, Universitária Editora, Lisboa, 2003. Poema: “Mar de Fernando Pessoa”;  “Saudade”, revista de poesia dirigida por Antonio José Queirós, número 3, reunindo poetas de  dez  países, Amarante, Portugal, 2000. Poema : “Mar Morto”; “Poème Blanc”, em “Cahiers de Poésie JALONS”, número 84, Vichy, França, 2006. Tradutores  Christiane e Jean-Paul Mestas; “A Minha Vida É Uma Memória”, Cancioneiro Infanto-Juvenil para a Língua Portuguesa, 5* Concurso Poético, Instituto Piaget, Almada, Portugal, 2005. Poema: “O Menino e o Mar”; “Antologia di Natale di Pace e D’Amore”, organização de Marco Delpino,  Editora Tigullio Bacherontius, Santa Margherita Ligure, Itália, 2006. Conto: “Natale dei Bambini Neri”, tradução de Mirella Abriani; “Saudade”, revista de poesia, número 8, reunindo poetas de quatro países, Amarante, Portugal, 2006. Poema: “Poemeto do Pintor”; “Revista Oficina de Poesia”, números 8 e 9, edição comemorativa de dez anos de existência, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Palimage Editores, Viseu, Portugal, 2007. Poemas: “Os Ventos Gemedores” e “Campeio”; “The Dirty Goat”, revista de arte e literatura, número 17, editada por Joe Bratcher e Elzbieta Szoka, reunindo poetas de onze países, Host Publications, Austin, Texas, 2007. Poemas “Rio Definitivo”, “Canção Ribeirinha”, “Canoa”, “Soneto do Rio Cachoeira”, “Águas” e “Anotações sobre o Rio”. Tradutor Fred Ellison; “Saudade”, revista de poesia, número 9, reunindo poetas de  quatro países, Amarante, Portugal, 2007. Poema: “Olímpico”. Participa também de várias publicações das revistas eletrônicas “Ilha Negra”, patrocinada pela Unesco, editada por Humberto Impaglione, na Espanha,  e  “Poesie pour tous”, editada por Pedro Viana, na França.

 

Fonte: Revista Lusofonia

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Academia Brasileira de Letras lança Dicionário da Língua Portuguesa on-line

A partir de 7 de dezembro, site ganhará todo mês uma nova seleção de verbetes, que contará ainda com a participação dos usuários

Academia Brasileira de Letras apresenta os primeiros verbetes do Dicionário da Língua Portuguesa (DLP), disponível exclusivamente em versão on-line no site da Instituição, para que o público conheça a obra e acompanhe a sua construção, de forma transparente e interativa. Inicialmente, serão apresentados os primeiros verbetes de A a Z. O acesso será amplo e gratuito, em constante atualização, acompanhando a evolução do idioma. Todo mês, a partir de 7 de dezembro, o site ganhará uma nova seleção de verbetes, ampliando a abrangência lexical da obra. O objetivo é oferecer um dicionário sincrônico, funcional e democrático, feito com os falantes do idioma e para eles. Estima-se o registro de 200 mil entradas e subentradas. O projeto é do Acad&ec irc;mico Evanildo Bechara, presidente da Comissão de Lexicologia e Lexicografia da ABL.

O dicionário contará ainda com a participação dos usuários. Futuramente, o site abrirá espaço para que o público possa sugerir palavras e significados, a serem avaliados pela equipe de lexicógrafos. O intuito é que a obra acolha criteriosamente diferentes matizes linguísticas e atualizações nas diversas áreas do conhecimento, sobretudo para cobrir as variantes semânticas, conforme o melhor emprego do idioma em cada região do país. Em breve as entradas do DLP também estarão disponíveis na Língua Brasileira de Sinais (Libras).

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O PALHAÇO COCADA FOI EMBORA – Cyro de Mattos

Recebo do Conselho de Cultura de Itabuna a notícia desagradável.
A nota de pesar diz que lamenta profundamente o falecimento, nesta data de 1º de dezembro de 2021, de Raimundo Maia, agente de cultura que atuou no cenário grapiúna como ator, humorista, cantor, compositor, músico, instrumentista, artesão.

Despontou, sobretudo, como o famoso “Palhaço Cocada”, fosse realizando os seus shows, apresentando programa de TV, de rádio ou como garoto propaganda de vários empreendimentos empresariais, levando alegria, risadas, promovendo o que de melhor um artista nato pode fazer pela humanidade: a felicidade, o sorriso farto, solto e verdadeiro.

Palhaço Cocada entra para o rol dos grandes nomes que contribuíram, com o seu trabalho, para o enriquecimento da cultura itabunense.

Que Deus misericordioso receba o seu espírito em luz, ao tempo que dê força, resignação e compreensão aos amigos e familiares para que esse momento de profunda tristeza esteja transformado, com o tempo, na saudade mais macia que pede seja sentida por um ser humano que dedicou a sua vida a tornar melhor o dia a dia do povo.

Comento a notícia dada pelo presidente do Conselho de Cultura, Egnaldo França, ativista cultural no universo do negro afrodescendente, pelas terras de Itabuna.  O Palhaço Cocada, além de ser um poeta do riso no trânsito da vida, um artista múltiplo da cultura, era um homem simples, de bom coração. Sem ele, a vida fica privada de quem fazia do mundo uma criança com palhaço e lambança. Certamente vai fazer nos céus dos céus que os anjos se esbanjem na risada.

Também rogo a Deus, nosso pai eterno, que o receba para a morada alegre da paz. Sempre soube que o mundo encanta quando é feito em momentos ricos quando nos oferta a beleza do braço ao abraço, do sentido com o riso, da flor quando se entreabre na planta. E assim, no curso da beleza inexplicável da vida, tudo de bom nos oferece de graça, não quer nada em troca, a não ser o amor, nosso sentimento mais forte.

 

 

 

 

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Ofício com a Homologação do resultado das eleições para Diretoria 2022-2023

Itabuna, 20 de novembro de 2021

Confreira Silmara Santos Oliveira,

MD Presidente da Academia de Letras de Itabuna – ALITA

 

Assunto: Resultado da Eleição da ALITA

 

Prezada Confreira,

Ao cumprimentá-la cordialmente encaminho resultado do processo eleitoral para a nova diretoria da ALITA, gestão 2022-2023.

A eleição ocorreu no dia 18/11/2021 por meio eletrônico, tendo sido aberto o processo a partir das 8h e encerrado às 18h, com um total de 21 votantes, sendo 20 votos para a chapa única inscrita no pleito e 1 voto nulo.

Considerando o resultado comunicamos a homologação da chapa está eleita para o próximo biênio a se iniciar em 2022.

Codialmente,

Comissão Eleitoral

Joana Angélica Guimarães da Luz

Maria Luiza Nora

 

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Fundação da Academia de Medicina de Itabuna.

A idéia de criação da Academia de Medicina de Itabuna tem fundamentos de ordem local e de ordem geral. Sob o enfoque local, a Cidade de Itabuna revela notória vocação acadêmica em seu universo médico, traduzida, principalmente, pela existência de  profissionais que  se empenharam na obtenção de titulação pós-graduação, estando  vinculados ou não a universidades. Nossa história contemporânea mostra a justificativa do nosso sonho. A histórica e relevante medicina de Itabuna já merecia há muito tempo uma Academia de Medicina.
Itabuna sempre esteve na vanguarda da medicina Bahiana.

Na década de 1930 o Dr. Alicio Peltier de Queiroz criou em Itabuna a Sociedade Médico Cirúrgico de Itabuna. Calixto Midlej Filho, provedor da Santa Casa de Itabuna na década de 70 instituiu que só aceitava médicos no Corpo Clínico dos hospitais da Santa Casa de Itabuna qualificados com títulos de especialistas e/ou Residência Médica reconhecidos pelo MEC.

O Primeiro Centro de Estudos do interior da Bahia foi fundado em 1974 na SCMI, pelo médico Renato Costa, que consideramos a semente desta Academia.
O primeiro serviço de Hemodiálise do interior da Bahia foi instalado em Itabuna.
A primeira Tomografia Computadorizada do interior da Bahia foi instalada no Hospital Calixto Midlej Filho da SCMI.
O primeiro Congresso Médico do interior da Bahia foi realizado na cidade de Itabuna .
A primeira Unimed do interior da Bahia foi fundada na cidade de Itabuna.
O primeiro Serviço de Neurocirurgia do interior da Bahia foi criado em Itabuna, bem como o Serviço de Oncologia Clínica e Cirúrgica.
Foi criado o primeiro Serviço isolado de Quimioterapia no Hospital Calixto Midlej Filho da SCMI.
A primeira cirurgia por videolaparoscopia na Bahia foi realizada no Hospital Calixto Midlej em Itabuna.
Um núcleo de Neurologia Tropical da USP chefiado pelo Prof. Spina-França foi instalado na Santa Casa de Itabuna, sob a responsabilidade do médico neurologista da Instituição Dr. Alberto Peregrino onde estudamos os primeiros casos de neurocisticercose e esquistossomose medular na Bahia e pioneiro no Nordeste, com vários trabalhos publicados em revistas nacionais e estrangeiras.
O primeiro serviço de Neurocirurgia intervencionista no interior da Bahia foi criado em Itabuna no Hospital Calixto Midlej Filho com vários pacientes tratados de aneurismas cerebrais, mal-formações vasculares encefálicas e lesões de carótidas internas e bulbos extra-cranianas .
A primeira Radioterapia do interior da Bahia foi instalada em Itabuna.
O primeiro Centro de Terapia Intensiva do interior da Bahia foi instalado no Hospital Calixto Midlej Filho da SCMI.
O primeiro Serviço de Neurocirurgia Pediátrico do interior da Bahia foi criado no Hospital Manoel Novaes da SCMI.
O CACON depois transformado em UNACOM do interior da Bahia foi inaugurado em Itabuna na SCMI, unificando todos os serviços oncológicos.
O primeiro Serviço de Pediatria organizado para a Assistência Neonatal foi criado no Hospital Manoel Novaes da SCMI, sendo pioneiro no interior da Bahia e considerado um marco divisor da história da pediatria na. Nossa região.
A primeira CTI Neonatal do interior da Bahia foi criada no Hospital Manoel Novaes da SCMI.
O primeiro Serviço de Cirurgia do Aparelho Digestivo especializado em cirurgias bariátricas foi instalado no Hospital Calixto Midlej Filho da SCMI.
Na vanguarda foi criado o Serviço de hemodinâmica com cardiologia intervencionista e cirurgia cardíaca e procedimentos de marca-passo, filtro de veia Cava, TAVI entre outros.
A primeira cooperativa financeira médica da Bahia foi fundada em Itabuna.
Sempre Itabuna com relevantes serviços prestados à comunidade do Sul da Bahia pela sua vibrante e competente medicina.
Tivemos o primeiro médico a sair do Interior e ser aprovado na Cátedra como Titular de Ginecologia da Universidade Federal da Bahia o eminente médico Alicio Peltier de Queiroz.
São inúmeras vitórias, muito pioneirismo e conquistas nas área da saúde pelos nossos médicos ao longo dos anos.
Temos orgulho de nossa medicina e agora vamos imortalizar estes grandes médicos que construíram esta linda história na nossa querida cidade de Itabuna.
Com a vinda da Faculdade Medicina para a UESC , no eixo Itabuna/Ilhéus , pioneira
do interior da Bahia, surgiu mais forte ainda em Itabuna uma sementeira acadêmica que por si mesma sinaliza para uma ação unificadora destas atividades. Desta forma, a idéia de criação da Academia de Medicina de Itabuna é a resposta ao chamamento de uma realidade  percebida na vida médica profissional da nossa cidade.
Por outro lado, o cenário médico-científico e universitário existente  em Itabuna é um reflexo do panorama geral que caracteriza a ciência  mundial no século XXI. Os avanços técnico-científicos que marcaram a segunda metade do século passado e se exponenciam no século presente,  não deixam dúvidas quanto ao poder da ciência em tomar as rédeas da condução da história, interferindo diretamente na vida conjunta das sociedades tanto quanto na individualidade das pessoas.  Somente a firme consciência desta realidade e o decidido  empenho para não tramitar na contra-mão da história, impedirão que comunidades nacionais, estaduais e municipais tornem-se excluídas de compartilhar progressos e  promover bem estar para todos.
Devemos valorizar os médicos que por opção preferem fazer carreira no interior , fora dos grandes centros e são responsáveis pela sua qualidade e empreendedorismo de criar estruturas médicas relevantes de alta complexidade para atender nossa população longe dos grandes centros.
A percepção de tudo isto concretiza-se na  decisão de um grupo de médicos e médicas que, antevendo o caminho do futuro, unirão-se em 18/10/2021 para fundar a Academia de Medicina de Itabuna .

Coordenadores da Sessão Preparatória de Criação da Academia de Medicina de Itabuna:
João Otávio Oliveira Macedo
Mercia Silva Margotto
Renato Borges da Costa
Rosângela Carvalho Melo
Silvio Porto de Oliveira

• Reunião preparatória
A idéia foi apresentada aos médicos coordenadores e a receptividade e entusiasmo levou-nos à realização de uma reunião preparatória na qual consolidou-se a idéia de criação da Academia. Algumas deliberações essenciais foram tomadas nessa reunião conforme transcrição, a seguir, na respectiva Ata.

“ATA DA REUNIÃO PREPARATÓRIA PARA CRIAÇÃO DA ACADEMIA DE  MEDICINA DE ITABUNA

Aos vinte e três dias do mês de julho de 2021 às doze horas, os médicos João Otávio Oliveira Macedo, Mercia Margotto, Renato Costa, Rosângela Melo e Silvio Porto de Oliveira reuniram-se na sede da Unimed Itabuna na rua Firmino Alves número 118 na cidade de Itabuna com o propósito de discutir  idéias básicas para criação da Academia de Medicina de Itabuna , sendo delegado ao Dr Silvio Porto de Oliveira a coordenação dos trabalhos e a Dra Rosângela Melo como secretária para o registro dos trabalhos e encaminhamentos , iniciando-se a discussão pela avaliação da idéia, fundamentada na observação da existência em Itabuna de elevada densidade de médicos com capacitação pós-graduada e em exercício de atividades clínicas, científicas e acadêmicas, associadas ou não à docência,  condições essas apropriadas à criação de uma Academia de Medicina, a fim de congregar esses e outros   médicos, objetivando impulsionar o desenvolvimento da medicina em Itabuna.Após as devidas discussões as seguintes deliberações foram aprovadas por unanimidade: 1-Criar a Academia de Medicina de Itabuna. 2- Fazer um levantamento histórico de médicos que , desde a fundação da cidade, exerceram atividades clínicas em Itabuna a fim indicar  seus nomes como Patronos das respectivas Cadeiras da Academia; 3- Relacionar e convidar para  serem Membros Fundadores da Academia de Medicina de Itabuna todos os médicos que  possuem os requisitos exigidos aprovados pelos coordenadores além disso, que estejam exercendo atividades clínicas ou de docência em nível superior há pelo menos dez anos; 4- Marcar para o dia 07/08/2021 as 11h na sede da Unimed Itabuna na avenida Firmino Alves 118 nesta cidade, a reunião de implantação da Academia de Medicina de Itabuna com a presença dos referidos convidados, tendo  como ponto de pauta  a apresentação e discussão das propostas de Estatuto e de Regimento da Academia; 5- Providenciar a legalização da Academia de Medicina de Itabuna de modo a permitir-lhe competência legal para captação de recursos e implementação de atividades científicas; 6- Providenciar a confecção do brasão da Academia com o lema Medicina na região cacaueira. 7- Uma vez estabelecido o número de Membros Titulares Fundadores, decidir o número total de Cadeiras que comporá a Academia e, oportunamente, abrir inscrições para preenchimento das demais Cadeiras de Membros Titulares; 8- O preenchimento das Cadeiras referidas no item anterior seguirá o método tradicional das Academias no país conforme descrito no Capítulo I, Artigo 1o. da proposta de Regimento Interno. Finalmente, para registro visual desta reunião foram realizadas fotografias que, anexas a esta Ata,  passarão a compor a memória da Academia. Nada mais havendo a tratar, os presentes deram por encerrada a reunião às 13hs e, em trabalho conjunto, os Doutores Silvio Porto de Oliveira e Rosângela Melo lavraram a presente ata que após lida e aprovada será assinada pelos cinco médicos componentes da reunião.
Itabuna 23 de julho de 2021

 

Fundação da Academia de Medicina de Itabuna.

Critérios de Admissão( sugestão para análise e aprovação na próxima reunião)

a) ser brasileiro. b) ser graduado em Medicina, por tempo não inferior a 10(dez)anos. c) apresentar memória ou dissertação inédita e de lavra própria. d) possuir atividade científico-profissional, comprovada mediante apresentação dos seus títulos e trabalhos.
e) comprovada atividade médica digna e comportamento ético exemplar sem nunca ter sofrido sanção disciplinar ética pelo CREMEB( apresentar certidão negativa emitida pelo CREMEB)
f)possuir título universitário por concurso público de professor. g) possuir título de Mestrado ou Doutorado em Medicina. h) ter ocupado cargo relevante nas entidades médicas, sociedades de especialidades nacionais ou estaduais, cooperativas médicas , órgãos públicos ligados à saúde , hospitais públicos ou filantrópicos.i) ser membro de Academia médica em outra localidade ou estadual/nacional ou ainda outras Academias relevantes. j)ser médico conceituado e reconhecido por relevantes serviços prestados à medicina e a comunidade. i) ter atuado na cidade de Itabuna no mínimo 05 anos.

Estatuto e Regimento será encaminhado no prazo de 10 dias para os coordenadores analisarem e fazerem as sugestões e contribuições .

A ideia de se fazer uma academia de medicina na cidade de Itabuna, se faz necessário para homenagear profissionais brilhantes , que abriram mão de trabalhar em capitais e centros mais evoluídos em saúde, para se dedicar a chamada medicina do interior, nem sempre reconhecida por ser considerado , centros menos evoluídos da saúde no nosso país.

Consideramos que este conceito é totalmente equivocado e não reflete a pujança de várias cidades do interior que conseguem manter nível elevado de sua medicina com médicos competentes e qualificados.

Itabuna, cidade localizada na Costa do Cacau no Sul da Bahia, ao longo de sua história sempre foi polo importante da medicina do Sul da Bahia , como também pólo cultural dessa região.

Suas matas revelam a história das fazendas de cacau, fruto que originou a riqueza patrimonial e o desenvolvimento regional. Ao criarmos a Academia de Medicina de Itabuna, estamos inserindo na sua história , um patrimônio médico relevante para homenagear os nossos antepassados, os ainda em atividades e servir de exemplo, estímulo e inspiração para os jovens médicos.

A questão da identidade local e o sentimento de pertencer a nossa história médica estará presente nos anais desta academia.

Não há dúvida que está Academia será importante para a nossa história médica contemporânea que terá a missão de ajudar a desenvolver e promover uma medicina de qualidade e estabelecer uma visão e valores éticos na profissão, estimulando novas lideranças médicas .

Os membros de todas as sociedades organizadas ,  se sentem unidos por experiências, trabalhos e referências comuns. É um sentimento de pertencimento , privilegiando  os grandes vultos que contribuíram para o prestígio da cidade, e assim temos a Academia de Letras de Itabuna na cultura e nas artes, e agora a nossa Academia de Medicina.

Este é o propósito.

Deve ser o compromisso dos 40 médicos indicada para começar este trabalho.

Que cada um de nós chegue aqui com paixão para  defender uma medicina ética, digna e contribuir para um mundo melhor.

Orgulho de ser Itabuna!

A Academia de Medicina  de Itabuna tem por finalidade:

Contribuir para o desenvolvimento e para o progresso da Medicina.

Promover palestras , seminários e congressos médicos.

Colaborar com as autoridades competentes em assuntos relativos à Saúde e problemas correlatos, apresentar sugestões e solicitar providências.

Manter intercâmbio com entidades afins e com Instituições com finalidades similares ou complementares às suas.

Cultivar a memória e as tradições da Medicina de Itabuna e organizar acervo sobre a nossa História da Medicina , na Bahia , no Brasil e no Mundo.

A Academia compor-se-á de 40 Acadêmicos Titulares e ainda de Acadêmicos Eméritos, Membros Correspondentes, Membros Honorários e Beneméritos.

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Genny Xavier escreve ensaio sobre duas obras da escritora Margarida Fahel.

BORDADOS DO TEMPO NOS TECIDOS DA MEMÓRIA- A narrativa de Margarida Fahel- Genny Xavier

“O tempo é uma superfície oblíqua e ondulante que só a memória é capaz de fazer mover e aproximar.”

(José Saramago, em “O Evangelho segundo Jesus Cristo”)

 

O tempo é mistério. Sobre suas dobras e nuances debatem-se filósofos, cientistas, artistas. Tempo que se tece absoluto ou relativo; que sobrepõe as horas, os dias, os anos; que se curva, se imbrica, ata ou desata suas pontas nas surpreendências dos fatos que se antecedem ou se sucedem.

O tempo que é apreendido em nossas caixas de memórias, apresenta-se nas diversas maneiras de como enfrentamos a realidade cristalizada no presente, criando elos em que as memórias nos dão parâmetros da nossa história, trajetória e ancestralidade. Em sua importância, a memória é responsável pela nossa identidade individual ou coletiva e, ainda, nos permite a inter-relação dessas duas esferas que, permanentemente, dialogam através dos campos que interagem com o pessoal e o histórico.

Em circunstâncias análogas, memória e literatura são segmentos intrínsecos às criações de historiadores e escritores contemporâneos. A criação literária, especialmente a narrativa ficcional, detém a memória através do fluxo das recordações e trajetórias dos envolvidos no contexto da narrativa, possibilitando ao escritor restaurar vivências individuais que se vinculam aos elementos históricos coletivos de determinada época. Nestes termos, podemos entender a assertiva do historiador francês, Jacques Le Goff, ao dizer que “a memória é crucial, tanto por sua importância ímpar e fundamental nos modos de organização da identidade humana, quanto por essa organização realizar-se a partir do cruzamento entre as suas manifestações na esfera individual e coletiva”. (LE GOFF, 1996).

Na perspectiva de apreensão do tempo que gravita entre o passado e o presente, o individual e o coletivo; bem como da utilização das memórias que seguem no fluir dos fatos, imagens ou sentidos que, em momentos, subvertem a cronologia, está a criação literária de Margarida Fahel. Sua recente produção ficcional apresenta grata satisfação de leitura e reflexões sobre os sentimentos que, nas vivências das suas personagens, revelam experiências inspiradoras em suas trajetórias humanas, cravadas por dramas pessoais e pela incidência dos fatos da história que as afetam.

Seus romances, “Nas dobras do tempo” (2015) e “Entre margens” (2018), transpõem para a narrativa ficcional fatos da identidade local, ambientados na região cacaueira do sul da Bahia, revelando afinidades entre o imaginário e o histórico. Os fatos ficcionais e históricos são vivenciados por personagens de segmentos sociais diversos e nos dobramentos de suas trajetórias no tempo, porém, suas vozes revelam a voz inequívoca da própria autora. Sua narrativa busca revelar, na trama das obras, seus pontos de vista e posicionamentos críticos em que as relações de poder não se cristalizam apenas no universo econômico e político da região, mas, especialmente, na análise dos costumes de uma sociedade patriarcal que, desde os primórdios da sua formação, moldou-se no machismo que aprisionou, diminuiu e vitimizou a mulher, independentemente do grupo social em que estavam inseridas. Nesse ponto, a narrativa da autora apresenta um olhar diferenciado ao de escritores como Jorge Amado e Adonias Filho, cujo foco centralizou de forma mais contundente essa mesma   região forjada pelas histórias dos homens. É possível perceber esta diferença nos fios tecidos dos relatos de suas personagens femininas, como Luísa, em Nas Dobras tempo:

Um nome, uma estirpe, de um lado; as terras, as arroubas de cacau, de outro. Eram os acordos, as vidas num prato de balança. Assim eram aqueles tempos. (…) Os títulos e as arroubas de cacau tudo isso ocultavam… Assim eram os ajustes, os negócios em família. E as dores das pessoas? E as vidas? Por que alguns se declaravam deuses a nortear e destruir caminhos? Por que manejavam destinos, por que colocavam interesses e ambições acima dos sentimentos e esperanças? (FAHEL, 2015, p. 32).

Margarida Fahel caminha por outras direções, revela os rumos da história da sua própria região através da ótica sensível e, ao mesmo tempo cheia de coragem e força, das suas personagens femininas, que vão bordando suas memórias nos tecidos das suas trajetórias, narrando, elas mesmas, suas próprias experiências e a de outras mulheres que lhes antecederam ou sucederam nas dobras do tempo e nas margens de suas vidas. Estas marcas estão, sobretudo, no fluxo do vai e vem das lembranças de suas protagonistas, Luísa (Nas dobras do tempo) e Valquíria (Entre Margens), ambas viventes das dores, amores, revezes da sorte, reviravoltas do destino, construtoras de caminhos e redenções; ambas desenhando seus destinos como em colchas bordadas pelas linhas do tempo as costuras e os pontos das suas decisões. São delas a coragem e as resoluções que delimitam rumos e ações:

Uma noite, no entanto, numa hora de desesperado sofrimento, as palavras de minha bisa Maria Bertha, que estranhamente me alcançaram, numa outra noite, agora tão distante, naquela Fazenda Alegria, bateram nos ecos da minha lembrança como flecha certeira: “O amor te salvará”. No mesmo instante, a memória também me trouxe aquilo que Justina sempre repetia: “Tenha esperança! Esperança tem pés, mãos e boca”. Ali, juntando aquelas frases como fita em que se dá um laço, compreendi o alcance daquelas palavras: a esperança, nós a fazemos. Tenho pés, mãos e boca, portanto, nada me falta! Levantei-me resolvida. Vou procurar ajuda! Preciso saber de Ivan, preciso chegar àqueles homens que o encarceraram. (…) No outro dia, outra Luísa emergia daqueles lençóis. O medo de repente se foi: O amor te salvará.  (FAHEL, 2015, p. 130-132).

Como fugi daquela fazenda, como fugi daquele bordel, eu também daqui fugirei. Fugirei destas belas cortinas rendadas, dos cristais tão cuidadosamente polidos, dos lençóis de linho bordado, das ruas agora calçadas desta cidade, dos boninais floridos, e até deste rio que aprendi a amar. Eu fugirei de João Vitório, que outro não é senão aquele José Alfredo dos Anjos, que numa noite nunca passada minha vida destroçou… Eu nada lhe devia. (FAHEL, 2018, p. 135).

Através delas, dos seus relatos de lembranças e memórias apreendidas, emergem também outras vozes, de outras mulheres em que elas se inspiram ou que por elas são inspiradas. Porém, é no olhar feminino da própria autora que suas personagens apresentam suas nuances, em que sua criação ficcional se constitui muito particularizada por sua interpretação do universo em que elas gravitam em suas condições de mulheres viventes de um tempo talhado por homens de mando e poder. Neste aspecto, o discurso feminino de Margarida Fahel ganha seus contornos, pois, como mulher, “vivendo uma condição especial, representa o mundo de forma diferente” (XAVIER, 1991, p. 11). Dela, emerge a sensitiva percepção de Luísa para captar, no vai e vem das memórias, as alegrias, amores e dores de suas antecessoras: a bisavó, Maria Bertha; a avó, Maria Élise e a mãe, Maria Teresa, em Nas dobras do tempo. Dela, também se descortina a saga de Valquíria, no relato da sua odisseia pelos caminhos do tempo, desde a infância de sabores, cheiros e detalhes felizes; ao infortúnio das perdas, sonhos desfeitos, aprisionamento da adolescência e juventude, fugas que dão voltas ao mesmo ponto; até a conquista da liberdade e redenção, em Entre Margens. Na narrativa de Fahel o feminino emerge em duas perspectivas: da própria autora e das suas personagens, Luíza e Valquíria, donas dos relatos de suas vidas e, ainda, das vidas de outras mulheres que interagem ao longo da trama dos dois romances. Essa assertiva reafirma a relação, proposital ou intuitiva, entre a narração das personagens e o discurso subjacente da autora, deixando no leitor a sensação de que uma mulher sabe bem entender e expressar o universo particular de outra(s) mulher(es), criando assim uma literatura que revela a psiquê do feminino de uma forma muito pessoal, pois “(…) quando uma mulher articula um discurso este traz a marca de suas experiências, de sua condição (…)” (XAVIER, 1991, p. 13).

Quanto aos recursos narrativos que expressam a sensibilidade criativa da autora em “Nas dobras do tempo” e “Entre Margens”, está sua abordagem na apresentação da passagem do tempo, montada como um painel não linear definido pelo fluxo das memórias e cronologias dos relatos, cartas, diário e escritos das suas personagens. Desta forma, Fahel passeia pelo tempo e fatos que historicamente o determinam. Os trajetos de vida dos envolvidos nas tramas dos dois romances são o foco, porém, as ocorrências históricas incidem como pano de fundo e contexto que as influenciam. Os romances mesclam a vida das personagens ficcionais aos fatos históricos que lhes situam no espaço-tempo inerentes das épocas e dos grupos sociais que fazem parte. Desta forma, ficcionalidade e história constituem um conjunto de intensões das quais a autora vai apresentando o painel cultural dos objetivos críticos da sua narrativa ao expor sua ótica dos fatos, sua visão histórica da ordem mundial, do Brasil e da sua região.

Na trama do romance “Nas dobras do tempo”, as memórias desfiam o tempo desde o final da década de 20, quando Luísa, ainda muito jovem, é impedida de viver seu amor por Ivan e, encarcerada grávida pelo pai na Fazenda Alegria, relembra e revive o passado das suas antecessoras. No vai e vem do foco narrativo, o tempo se desdobra entre o presente e o passado revelando suas marcas históricas, como os sofrimentos do período escravista do séc. XIX, reconstruído na jornada da escrava Jovanina e, adiante, da sua neta, Justina e da sua bisneta, Adelaide, já livres da escravidão, mas não das suas consequentes dores; como a chegada dos alemães e de outros imigrantes europeus no sul da Bahia para desbravar terras, plantar a cana e erguer seus engenhos, bem antes do cacau, a exemplo da história do francês, Pierre e da alemã, Bertha; ou nas referências sobre a década de 30 do século XX, na tomada do poder por Getúlio Vargas e instalação do Estado Novo, especialmente nos relatos de Luísa sobre a repressão e prisões de Graciliano Ramos, Carlos Prestes e do personagem Ivan, seu marido.

Em “Entre Margens”, o tempo da jornada de Valquíria nos é passado através do seu relato em forma de um livro escrito para presentear sua filha, Adéline, ao completar 18 anos:

Há trinta dias, quando completei meus dezoito anos, você, maman, entregou-me este livro. “É o livro de minha vida”, assim disse na dedicatória. Você escreveu para mim. Um exemplar único, contando suas dores, esperanças e alegrias. Falou da sua terra, do seu amargor e de suas doçuras, de suas riquezas e de suas misérias; relembrou generosidades, injustiças – quantas! – e traições. (…). (FAHEL, 2018, p. 17).

A narrativa dos seus escritos começa na Ilhéus do início do século XX em que suas memórias se voltam para a infância e adolescência marcada pelas alegrias familiares e drama abrupto de perdas e infortúnios. Perda do pai, Davi, assassinado para que sua propriedade rural lhe fosse usurpada; da mãe costureira, Adélia, vítima fatal da saudade e desencanto pela morte do marido:

(…) Dias depois, minha mãe a dizer-me: – Tomaram nossa terra. Mostraram-me uns papéis que dizem que a terra foi pagamento de dívida, que foram cobrar a dívida e seu pai reagiu. Nenhuma culpa tiveram, somente se defenderam, foi o que disseram. Agora, minha filha, é trabalhar nesta máquina para comer, pagar o aluguel da casa e o pouco vestir.

Muitos meses assim se passaram. O cantar da máquina de costura havia perdido as notas da alegria. Minha mãe cada vez mais triste, assim definhava. Compreendi que o riso de meu pai é que lhe alimentava a alma. (…) Quase dois anos depois da morte de meu pai, ela também se foi. Fiquei só. (…). (FAHEL, 2018, p. 29).

Numa artimanha do destino, logo depois da morte da mãe, Valquíria tem sua pureza roubada pela violência de um gesto equivocado de vingança. Seu algoz: João Vitório, o mesmo José Alfredo dos Anjos, o homem que a aprisionaria em grande parte de sua trajetória, subjugando-a em vários momentos de sua vida, mas não calando sua força e luta para dele se libertar ao encontro do seu único amor: Jonathan, o valoroso suíço que conhecera em sua longa e penosa vivência na cidade de Itabuna, para onde fugira e, num revés da sorte, fora novamente encarcerada nas teias do destino.

A odisseia de Valquíria, revela a maneira de como as mulheres do seu tempo se submetiam aos padrões misóginos impostos pela sociedade da época, especialmente no sul da Bahia. Tentar sair da situação de submissão muitas vezes custava a humilhação, o banimento social, a vergonha, o medo, que as faziam agir segundo os costumes. Porém, a transgressão foi a marca da personagem que, na sua trajetória de dor, repressão, violência e até traições daqueles que julgava confiar, em cada vicissitude da vida, se vestiu de força e determinação para, de fuga em fuga, encontrar sua liberdade e o amor do homem por quem se apaixonou.

O sistema cultural, no qual Valquíria estava inserida, fruto do machismo preponderante do coronelismo das décadas iniciais do século XX na região cacaueira do sul da Bahia, cobrava-lhe submissão, virtude e fidelidade, pois a imagem feminina estava qualificada como frágil e como objeto do poder masculino. Valquíria, contudo, distancia-se dessa premissa, pois se rebela contra esse sistema e contra um casamento realizado através de uma trama de falsidades ao buscar lutar por seus sonhos e felicidade. Desta forma, ela é uma representação das mulheres que se recusaram aceitar às injustiças de seu tempo.

Em ambos os romances aqui abordados, a narrativa de Margarida Fahel parece incorporar a perspectiva romântica do século XIX e, desta forma, sujeitar-se ao risco da crítica contemporânea de taxa-la como temática ultrapassada. Porém, a autora não cai nesta expectativa e sustenta com graça e beleza lírica suas histórias com imprescindível crença na força do amor que move suas personagens, especialmente as femininas, em detrimento aos poderes e poderosos do seu tempo.

Ainda, em relação a passagem do tempo, embora a autora o aborde, em sua cronologia, através dos fatos históricos ou pessoais que gravitam entre o passado e o presente nas memórias das personagens,   há uma evidente perspectiva subjetiva, quase mística, na forma em que os sentidos do tempo se impõem nas pontas que entrelaçam os destinos de cada um. Assim, o tempo é visto num complexo de tensões, emoções e existências humanas que, misteriosamente, tramam seus fios como redes. Esse poderoso complexo é apresentado nas linhas e entrelinhas das narrativas de ambas as obras: no seu estilo, discurso, fluxo e ritmo narrativo. Dessa maneira, é importante salientar que, de forma geral, nem o presente e nem o passado são apresentados isoladamente nas obras da romancista, ao contrário, esses elementos estão intrinsicamente conectados.

As narrativas de Margarida Fahel nos romances “Nas dobras do tempo” e “Entre margens”, fazem do tempo uma colcha onde seus bordados são ricamente elaboradas pelos fios da memória: uma metáfora da vida que abre o seu tecido para que seus personagens, sensivelmente construídos, estendam a colcha do tempo para apreciarmos, nas cores das linhas, os mil pontos dos desenhos que bordam as histórias contadas. Tempo, memória e personagem, são os elementos essenciais da construção de ambos os textos, fazendo-nos compreender o que diz historiadora Margarida Neves:

“(…) na memória se cruzam passado, presente e futuro; temporalidades e espacialidades; (…) dimensões materiais e simbólicas; identidades e projetos. É crucial porque na memória se entrecruzam a lembrança e o esquecimento; o pessoal e o coletivo; o indivíduo e a sociedade, (…). Crucial porque na memória se entrelaçam (…) história e ficção; revelação e ocultação.” (Neves, 1998, p. 218).

Enfim, o filósofo e linguista búlgaro, Tzvetan Todorov, em sua obra “As estruturas narrativas”, afirma que “o romance é um ser vivo, uno e contínuo, como qualquer outro organismo” (TODOROV, 2003, p. 82). É certo, os romances de Margarida Fahel ganham vida própria no curso da narrativa, possuem a poderosa força das histórias contadas com sensibilidade exposta e a simplicidade que prescinde elaborações complexas para encantar seus leitores. A autora incorpora seu imaginário no vigor do seu contar, comprovando o que ainda nos fala Todorov: “(…) toda narrativa é uma escolha e uma construção; é um discurso e não uma série de acontecimentos.” (TODOROV, 2003, p. 108). Essa forma de assumir seu estilo próprio e singular, seus temas, discurso, concepções críticas e visões de mundo na tessitura da sua escrita, revelam o compromisso da autora com sua narrativa como um trabalho vital, fazendo-nos reportar, mais uma vez, às falas do filósofo búlgaro: “(…) contar é igual a viver. (…) A narrativa é igual à vida(…)”. (TODOROV, 2003, p. 127 e 128).

REFERÊNCIAS:

FAHEL, Margarida. Nas Dobras do tempo. Itabuna: Mondrongo, 2015;

FAHEL, Margarida. Entre Margens. Ibicaraí: Via Litterarum, 2018;

LE GOFF, Jacques. Enciclopédia EnaudiMemória-História. Lisboa: Imprensa Nacional; Casa da Moeda, 1996;

NEVES, Margarida de Souza. História e Memória: os jogos da memória. In: MATTOS, Ilmar Rohloff (org.). Ler e escrever para contar: documentação, historiografia e formação do historiador. Rio de Janeiro: Access, 1998;

TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. São Paulo: Perspectiva, 2003;

XAVIER, Elódia. Tudo no femininoa mulher e a narrativa brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1991.

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Margarida Fahel

A itabunense, Margarida Cordeiro Fahel é docente aposentada da Universidade Estadual de Santa Cruz, UESC – Bahia, onde atuou por longos anos como Professora Titular de Literatura Brasileira. Além de atuar como docente, exerceu vários cargos acadêmicos, tendo sido Vice-Reitora no período de 1996 a 2004. Foi Coordenadora Editorial da Revista FESPI e da Revista ESPECIARIA, periódicos científicos da Universidade. Foi membro do Conselho Estadual de Educação da Bahia no período de 1998 a 2006, onde fazia parte da Câmara de Educação Superior. Atualmente reside em Salvador. Tem três filhos e seis netos. Permanece ligada à sua cidade, Itabuna, onde preserva amigos, colegas e familiares.

Margarida Fahel é membro da Academia de Letras de Itabuna, ALITA. Como escritora, publicou artigos, resenhas e estudos críticos na área de Literatura Brasileira. Atualmente atua como palestrante de temas da sua área e dedica-se aos estudos de escritores como Jorge Amado e Adonias Filho. Destaca-se, ainda, como romancista, como as publicações dos romances “Nas dobras do tempo” (Editora Mondrongo,2015) e “Entre margens” (Via Litterarum, 2018).

Genny Xavier escreve ensaio sobre duas obras da escritora Margarida Fahel. Read More »

Editus lança mais um livro do escritor Cyro de Mattos

 

 A Editus, Editora da UESC, acaba de lançar mais um livro de Cyro de Mattos. Intitulado “Gabriel García Márquez e outras crônicas”, a publicação reúne 43 crônicas distribuídas em três segmentos: crônicas literárias, crônicas de futebol e crônicas de natureza diversa. Na primeira parte do livro, o autor mostra o quanto é amarga a memória da indesejada, que chega para nos privar da companhia do companheiro de letras nessa viagem em que não há retorno. Ficam apenas as lembranças do personagem que inventou mundos com a palavra, o aceno daqueles que na passagem por este planeta dedicaram-se à arte literária com alma, força e vida. Assumiram a solidão de ler a vida através da linguagem tomada emprestada à fantasia.

Em comovidas pinceladas, o cronista ressalta as veredas percorridas pelo escritor ou poeta, que fez da vida crença e sonho, meta e persistência, solidão e ternura. João Ubaldo Ribeiro, Gabriel García Márquez, Monteiro Lobato, Sonia Coutinho, Francisco Carvalho, Telmo Padilha, Salim Miguel, Nelly Novaes Coelho, Jorge Amado e Caio Porfírio Carneiro dentre outros são os personagens que motivam as crônicas enfeixadas na primeira parte do livro, ora com a poesia da vida, ora com a tristeza que a morte marca no seu julgado irreversível.

Já na segunda parte, Crônicas Esportivas, o futebol é o assunto que centraliza o texto, ora focado no futebol amador, jogado com arte e encanto no campo esburacado da terra natal do cronista, ora é a tragédia que alcançou o time da chapecoense, matando em desastre aéreo quase o time todo. O evento sinistro fez nascer do pesar imenso a união na dor entre o povo brasileiro e o colombiano.

A terceira parte apresenta-se com o assunto de natureza diversa, ora pende da aventura humana na fase da infância, que era pura curtição no azul dos dias, quando ainda não existiam os divertimentos de hoje com os jogos eletrônicos, ora circula pela cidade grande, com sua agitação no cotidiano, disputa pelo espaço, medo de ser atingido por uma bala perdida quando se rezava na missa. O cronista também logra extrair da vida o caso da mulher pobre que teve quatro filhos duma só vez, gerando apreensões para criá-los no marido, um simples dono de uma venda.  São crônicas em que se pretende revelar que a vida passa e não se basta em si mesma,  é acrescida de significados pela linguagem literária quando articulada com sentimento e razão, o que dá valor a ela.

        Cyro de Mattos é autor de mais de cinquenta livros, de diversos gêneros.  Publicado também em Portugal, Itália, Espanha, França, Alemanha, Dinamarca, Rússia, México e Estados Unidos. Agraciado com o Prêmio Afonso Arinos, da Academia Brasileira de Letras, em 1970, livro Os Brabos, novelas, o Jabuti em 1988, Os Recuados, contos, e o Prêmio de Ficção Pen Clube do Brasil, com Os Ventos Gemedores, romance, em 2017. Membro das Academias de Letras da Bahia, de Itabuna e de Ilhéus. Primeiro Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz (Sul da Bahia). Na Rubem, revista digital de crônicas, publicada em Curitiba, escreve quinzenalmente, às quintas-feiras. A revista foi criada há cinco anos como homenagem a Rubem Braga, o grande cronista brasileiro.

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