A Academia de Letras de Itabuna, carinhosamente chamada ALITA, foi instalada em 19 de abril de 2011, data em que se comemora o Dia do Índio, esse primeiro habitante do Brasil, que com a sua gente indefesa foi usurpado e massacrado pelo colonizador europeu, e que até hoje caminha nos rastros da desgraça. Essa instituição acaba de alcançar neste ano de 2021 dez anos de atividades nas áreas das letras e do saber. Tudo aconteceu quando, depois de exaustivas reuniões, na sede da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania, da qual eu era o presidente, ela foi criada numa manhã de alegria, tendo como patrono o escritor Adonias Filho.
A ideia de sua criação veio em razão da dissidência que tive na primeira reunião para a instalação da Academia Grapiúna de Letras, pois não me sentia bem com as perspectivas na constituição do quadro de associados daquela primeira instituição. Logo depois os juízes de direito Marcos Bandeira e Antônio Laranjeiras afastaram-se também da Academia Grapiúna de Letras, e, com o promotor Carlos Eduardo Passos, voltaram a insistir comigo para que fosse criada outra academia de letras em Itabuna.
Resisti a princípio quanto à minha participação na segunda academia, depois resolvi aderir à ideia por amor a Itabuna e devoção à literatura. Cedi a sala de diretoria da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania para as reuniões preliminares. Em nossos primeiros encontros discutimos a respeito do quadro de patronos e de membros efetivos, sobre a elaboração do estatuto e do regimento. As confreiras Sônia Maron e Sione Porto tiveram papel importante na confecção desses documentos. Indiquei a maioria dos nomes para compor o quadro de patronos e de membros.
A Academia de Letras de Itabuna vem se mantendo com dificuldades, ao longo desses dez anos. Sem recurso financeiro para responder aos seus propósitos, Deus sabe como teima em existir com base na determinação e sonho de alguns abnegados.
Destacam-se, nessa fase de sua infância, entre as suas atividades principais, os eventos seguintes:
Solenidade de instalação no salão nobre da FTC, com o presidente da Academia de Letras da Bahia, o escritor Aramis Ribeiro Costa, dando posse aos novos acadêmicos Janete Ruiz, Antônio Laranjeiras, Carlos Eduardo Passos, Cyro de Mattos, Rui Póvoas, Carlos Valder, Ari Quadros, Ceres Marylise, Sione Porto, Sônia Carvalho de Almeida Maron, Maria Palma de Andrade, Maria de Lourdes Neto Simões, Marcos Bandeira e Baísa Nora; a criação do site com destaque para as atuações de Ceres Marylise no início e ano depois Raquel Rocha; programação especial do Centenário Jorge Amado; Mês da Consciência Negra, com o tema Códigos da Pele, no terreiro de candomblé do professor e babalorixá Rui Póvoas; comemoração do Dia do Índio; posse dos acadêmicos Hélio Pólvora, Edivaldo Brito, Celina Santos, Raquel Rocha, Jorge Batista, Ritinha Dantas, Raimunda Assis, João Otávio, Silmara Oliveira, Delile Moreira, Cristiano Lobo, Aleilton Fonseca e Renato Prata; criação da logomarca “Litteris Amplecti”, Letras em Abraço; lançamento dos livros Atalhos e Descaminhos” , de Ceres Marylise, Corpo e Alma, de Sione Porto, Sendas e Trilhas, de Delile Moreira, Entre Margens, de Margarida Fahel, O Canto Contido, de Valdelice Soares Pinheiro, Histórias Dispersas de Adonias Filho, Os Ventos Gemedores, romance, e O Velho Campo da Desportiva, os dois últimos livros de nossa autoria; o Natal da Alita no espaço cultural do Montepio dos Artistas; Projeto Roda de Leitura, de autoria de Raquel Rocha, com contação de histórias pelos alitanos nas escolas; participação na comemoração do Centenário de Adonias Filho em Itajuípe; e o lançamento de três números da revista Guriatã, da qual fui idealizador e sou o editor atual.
Nesses dez anos de ousadia e sonho, ressalte-se na presidência da Academia a atuação dos juízes de direito Marcos Bandeira e Sônia Carvalho e, atualmente, da professora Silmara Oliveira, que vem recorrendo à realização de “lives” para a discussão de assuntos internos e temas importantes, como o do legado de nosso patrono Adonias Filho e o da situação do menor na sociedade de hoje.
Nesse percurso de dedicação e sacrifício, não se pode deixar de agradecer à Faculdade de Tecnologia e Ciência, na pessoa de seu diretor geral Cristiano Lobo, nosso confrade, pelos serviços que nos vem prestando em parceria generosa.
Apesar dos tempos difíceis, agravados com a traição da noite exercida sem piedade pelo coronavírus, e até mesmo como resistência em nossa cidadela do saber para ser, exorto nesse instante a caminhada árdua dessa instituição, dizendo contente, avante, ó Academia de Letras de Itabuna, com o seu espírito de corpo constituído de valores indiscutíveis e formas de conhecimento da vida desde o seu amanhecer, andamento para o bem das letras e grandeza da cultura local, da Bahia e do Brasil. Concluo minha breve exposição, talvez com formato de crônica, lembrando os versos de Fernando Pessoa, o genial poeta português:
Deus quere, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.
*Texto do escritor Cyro de Mattos intitulado Dez anos da Academia de Letras de Itabuna, proferido no dia da cerimônia de aniversário de 10 anos da Academia de Letras de Itabuna.