POEMAS de Gustavo Cunha

VÔO RASANTE

                                Gustavo Cunha

A travessa que atravesso traduz
Toda Tormenta da travessia
De quem travou tantas histórias
De páginas viradas ao dia,

Para a noite chegar em espasmos
De ausência de luz e de cor,
Onde então se escondeu o amor,
Extinto para nos deixar pasmos.

Grito: – dor, vai-se embora de mim,
Já não tenho mais o remédio!
Vai-se, medo! Vai-se tédio!
Vai-se logo, ó ave ruim.

 

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ORAÇÃO

                                Gustavo Cunha

Fechem as portas da Terra,
Não deixem vir mais ninguém!
Ouça, ouvido do além:
Encerra as portas! Encerra!

A guerra diverte a morte,
Na esquina mais um corpo cai.
A espada acerta o corte,
E mais uma vida se vai

Uma hora homem vivo:
Força, movimento e emoção.
Outra hora uma alma sem abrigo,
Um corpo degradado sob o chão.

Quem fere, quem mata,
Nasce , e por quê?
E de quem a vida escapa?
Por que nascer?

Por isso lhe peço esse feito,
Por isso lhe rogo em verso,
Tranca todas as portas do universo:
Esse mundo já não tem jeito.

 

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CASA DO NORTE

                                Gustavo Cunha

Nada vinga naquele lugar.
O agouro dos ventos fortes
Chega cheio de morte,
Ceifando as vidas de lá.

A água, sua vizinha,
Outrora azul e marinha
Hoje é caldo cinza de mar.

O branco alvo d’areia
Nem mesmo a lua cheia
Conseguiu fazer voltar.

E foi buscando melhor sorte,
Que tudo de lá que estava em mim
Correu em um caminho sem fim,
Para longe das agruras do norte.

 

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