POEMAS de Ruy Póvoas

PIXANINHO

A saudade dormia
um sono profundo
e não foi casual o seu acordar,
meu Pixaninho fez isso por mim.
A saudade emergiu
do antigo lajedo
e veio me dizer
também fazer parte
do complexo de mim.
Depois, Pixaninho
se foi, talvez, para sempre,
mas comigo deixou
uma doce saudade
daquele momento.
Subiu no meu colo
e rolou para lá,
rolou para cá.
Foi o bastante
para minha saudade,
de vez, acordar.
Todos os dias,
volto ao lugar
onde meu Pixaninho
também se sumiu.
Oh, meu Pixaninho,
onde você estiver
que seja um lugar
zelado e quentinho
igual à saudade
renascida em mim.

Ruy Póvoas
25/7/24

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XIRÊ

A roda gira no mundo,
o mundo gira na roda,
a gira vai com a roda,
a roda se move na onda.
A sala está repleta,
cada um no seu lugar.
O agogô marca o ritmo,
a cabaça acompanhará.
O rumpi faz a marcação,
o runlé a segunda voz.
O xirê está começando,
o Dono da Rua esperando
os pedidos que vai levar.

Ruy Póvoas
27/5/24

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ENCHENTE

A sopa grossa
desceu as encostas
e levou de roldão
as casas, as ruas,
o casebre e a mansão.
A correnteza de entulhos,
irada, raivosa,
rodopiando a destruição,
rompeu, agressiva,
os liames da vida,
tão provisórios, tão frágeis,
já sem noção.
Ficaram os abismos
na alma, no chão,
na alma enchacada
de desilução.
Sobrou desalento,
restou desamparo
e grande amargura
no coração.

Ruy Póvoas
27/5/24

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VERBALIDADE

Oh, verbo defectivo,
me valha mesmo
com seus defeitos.
Ensina-me não ter
todas as pessoas.
Algumas bastam
para um viver tranquilo.
Teu parente,
o impessoal,
é por demais arrogante
e atua sem pessoa alguma.
Diferente dele,
sou a própria pessoa
que precisa de pessoas
no meu viver em rumas.

Ruy Póvoas
13/4/24

 

 

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