Aleilton Fonseca. Sonhos de Viver. Salvador: Camarurê Publicações, 2022.
Os seis contos que integram o livro Sonhos de Viver, de Aleilton Fonseca, são mesmo contos exemplares, como bem disse André Seffrin, no prefácio que abre o livro.
A dedicatória já dá pista ao leitor sobre o pessoano “fingimento” do narrador. E a “dor que deveras sente” pode ser sentida ao longo dos contos, por nuances diversas: seja na temática que evidencia sempre o singular olhar de viveres diversos: seja na linguagem lírica que potencializa a sua observação da vida; seja nos temas de cada conto, temas esses relacionados, de uma forma ou outra, aos sonhos, às artes e à natureza.
Em todos os contos, forte é o sentimento do outro, a solidariedade, a humanidade. Assim, elegendo personagens menos favorecidos que, no entanto, habitam e convivem com a faixa mais abastada da sociedade, AF foca-os ressaltando, com especial sensibilidade, os abismos sociais, que povoam sonhos de viver, na ficção e na vida…
O primeiro conto, Os Acordes da Banda, encanta pelo sentimento contido nas ações do maestro Chico Augusto; por seu grande amor à arte a ponto de perdoar uma tão grande traição do maestro Lídio.
As Lições do Jardineiro faz pensar e entender como aprender a cultivar jardins de vida. Neles, lindas rosas que simbolizam sonhos, “o jardineiro é […] um poeta das plantas e das flores” (p.40).
O olhar pelo foco social – Vidas de Barro, O homem da Calçada e Diarista Exemplar – evidenciam a luta dos mais fracos, ressaltando o amor que dá força para vencer até intempéries, mesmo ante a indiferença dos mais aquinhoados.
Mas é o conto Dona Tute que fecha, com chave de ouro, a proposta anunciada na dedicatória e sutilmente revelada pelo narrador ao falar do “filho adotivo. Ele que agora reinventa, nesta escrita, as suas aventuras, com as cores e as metáforas do coração […] para celebrar a sua trajetória de vida” (p.62). Uma bela homenagem a quem o livro é dedicado!
Em 10/4/2023
Tica Simões