Dizem que escrever para Papai Noel é bobagem e perda de tempo. Que ele é apenas personagem de uma antiga lenda cristã cada vez menos crível. Mesmo assim, insisto em escrever esta carta:
Querido Papai Noel
Se até hoje você vive na alma de tantas crianças, se permanece na recordação nostálgica dos adultos mergulhados momentaneamente na memória de suas infâncias, se ainda é capaz de evocar tantos sonhos e fantasias em cada mágica madrugada na véspera de Natal, se ainda desperta energia criadora, força e esperança; então, você está muito mais vivo e palpável do que muitas pessoas que vivem enclausuradas nos próprios egoísmos.
Quando criança, a magia de Natal sempre me envolvia ao escrever cartinhas para você, num esforço desesperado de listar supostos atos de bondade durante o ano inteiro querendo receber em troca bonecas com roupinhas bonitas e conjuntos de panelinhas. Depois, eu as entregava aos meus pais convencida de que eles sabiam executar o impossível serviço postal que os levaria até o bom velhinho sentado sobre um trenó puxado por renas num longínquo lugar coberto de neve e cheio de pinheiros.
Sim, era essa magia que me impulsionava a fazer num cantinho da sala de visitas sobre um pouco de areia e folhas de pitangueira, um pequenino presépio cheio de bichinhos de brinquedo e uma caminha de palha com o menino Jesus.
Era magia o que me mantinha acordada certa de que poderia ver entre as sombras da noite e no silêncio da madrugada, sua figura se esgueirando para colocar presentes nos meus sapatinhos ao lado da cama.
Era magia o que enchia as ruas de crianças na manhã seguinte, mostrando seus brinquedos umas às outras, convertendo o mundo numa cidade feliz.
Um dia, puseram fim à magia do meu encanto: uma vizinha, crendo que me fazia um favor, contou-me que Papai Noel, não existia. Naquele instante, o mundo se transformou: Papai Noel eram nossos pais, era a invenção publicitária das lojas,
eram os políticos levando esmolas para os bairros pobres em troca de votos… Como pode haver espaço para a magia num mundo assim?
Mas nesta véspera de Natal, a criança que sobrevive em mim se apossa de minha mão e me impulsiona a escrever esta carta para você, Papai Noel, e ficará dentro de um velho sapatinho ao lado de minha cama com os meus pedidos.
Traga-me de presente forças para ainda crer que é possível construirmos um Brasil e um mundo melhores. Que apesar de tanta corrupção e impunidade, os brasileiros não caiam na desesperança e no erro de que já não vale a pena clamar e lutar. Que apesar de tantas notícias ruins, também acontecem coisas boas e belas. Que ainda há gente honesta, idealista e o melhor está ali, real e ao nosso lado, nas casas vizinhas onde seus moradores dividem conosco as tristezas e alegrias do dia-a-dia. Que nos faça descobrir que podemos nos ajudar uns aos outros, desprovidos do veneno da arrogância e do egoísmo. Que ainda podemos nos unir superando as diferenças e pensando no Brasil que queremos deixar para nossos filhos e netos.
Abraça-lhe com todo encanto da magia de Natal, sua eterna menina:
Lise