POEMAS DE CYRO DE MATTOS

Historinha da preguiça
Cyro de Mattos

Nasceu, comeu, dormiu.
Cresceu, comeu, dormiu.
Pariu, comeu, dormiu.
Ao ouvir falar em trabalho
teve um mal súbito.
Na mesma árvore
pendeu e morreu.

 

 

Crença
Cyro de Mattos

Entendo ser real
Estar na relva
Com o meu canto
Sedento de amor.
Neste rumor secreto
Verde minha palavra
De brotar em cada um.
Se não sou semente
Dos sonhos que beijei
Cantando na chuva,
Lá dentro trancado,
Cúmplice do eterno
Riscado num instante
Direi não sou de fato
E no caos desencanto-me.

 

 

BICHOS
Isca

Quando vem à tona
como se arrisca.

Gambá

Com o seu spray
fedorento
afugenta o inimigo.

Leão

O e l é t r i c o n o a r
até o vento corre.

Hiena

Gargalhada da fome
amedronta até a morte.

Procurado

Procura-se cão pequinês,
é algo fenomenal,
nunca fez pipi
na cama do casal.

Papagaio

De cadeia ao pé
Humanamente bêbado.

Paixão

Com tanta saudade
da bailarina foca,
o solitário camelo
foi morar no gelo.

Caranguejo

Falou tano dos outros
que perdeu o pescoço
e caiu dentro do poço.

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