COLO-COLO: UMA LIÇÃO INESQUECÍVEL! Por Marcos Bandeira

 

O Colo Colo nasceu de um sonho de idealistas que buscaram inspiração no time chileno com o mesmo nome e nas cores do Boca Junior, um dos times mais apaixonantes da Argentina. A saga de vencedor que seu hino entoa brotou do coração de todos aqueles que lutaram e construíram sua história nos gramados baianos.

Fundado em 1948, sagrou-se campeão baiano de profissionais no dia 28 de maio de 2006 no Barradão, contra o poderoso Vitória. A cada jogo do Colo Colo naquele campeonato, irradiava-se a vibração de seus atletas, a emoção da torcida, a esperança de uma boa participação e ao mesmo tempo a sensação experimentada por alguns de que o time já teria chegado longe demais.

É de louvar-se naquele campeonato a inesquecível habilidade e o compromisso do presidente José Maria Almeida de Santana, o Joseph Marie, que diante de gritantes adversidades soube liderar e construir um elenco de vencedores: a sua determinação, competência e paixão conquistaram a confiança de seus atletas com pequenos e significativos gestos, quando por exemplo, ofereceu um Natal digno aos jogadores que mesmo possuindo vínculo com o clube, ainda não recebiam salários.

Grandiosa foi a sua liderança ante o desalento dos atletas após uma cansativa viagem de ôni

bus quando sofreram uma derrota, substituindo um sermão por um churrasco, no propósito de fortalecer os laços daquela família de vencedores e transformando o time bom num time campeão. Inesquecíveis, a tranquilidade de Marcelo e suas portentosas defesas, a eficiência dos laterais Alexandro e Wescley nos aspectos defensivo e ofensivo, a qualidade técnica do zagueiro Rodrigo, a consistência de Sandro e Melqui na frente da zaga, a regularidade de Juninho, o talento de Jânio com seus dribles curtos e chutes de fora da área, a maturação de Gil, responsável pela maioria das articulações das jogadas e por vários gols de bola parada, a versatilidade de Jamaica e o encantamento do futebol de Ednei, artilheiro nato, que partia para o zagueiro, no estilo “Romário” dos bons tempos e que tinha como poucos, a tranquilidade necessária diante do arqueiro e qualidade apurada no arremate final.

Sem dúvida, o maestro Ferreira foi o melhor técnico da Bahia na época: pessoa simples, educada, estrategista e líder, sempre teve o time na mão, fazendo as correções no intervalo do primeiro para o segundo tempo e as alterações no momento certo e com a pessoa certa. A cada vitória, a cada avanço na tabela de classificação, o resgate da autoestima dos ilheenses carentes de uma grande conquista manifestada por sua frenética torcida utilizando bandeiras e camisas, transformou-se numa verdadeira “febre amarela ilheense”.

Mesmo apresentando um excelente futebol e tendo conquistado o 1º turno no Barradão contra o Vitória, o Colo Colo sempre foi visto com desconfiança por alguns jornalistas da capital, os quais, indiferentes, se referiam ao Vitória como o melhor time do campeonato e que a conquista do Colo Colo teria sido um acidente. Também a arrogância, a inquietude e a prepotência do técnico Arturzinho do Vitória contrastavam com a humildade, simplicidade, serenidade e competência do técnico Ferreira que enfrentou o Vitória por seis vezes e não perdeu nenhuma partida, ganhando três, duas delas na própria casa do adversário e conquistando títulos.

Aquela conquista do Colo Colo sob a liderança do grande técnico e o empenho incondicional de cada atleta servem até hoje como uma lição inesquecível a ser aplicada em qualquer atividade humana em grupo ou individual, pois a vitória final será sempre o resultado das perdas e ganhos das batalhas travadas ao longo de uma jornada: é preciso planejar, ter espírito de união, acreditar em si próprio, aglutinar forças em torno de um objetivo comum, liderar sem precisar utilizar o poder desmesuradamente, olhar além do horizonte, ter olhos de tigre, perseverar, respeitar o adversário sem se apequenar, ter serenidade para superar as adversidades mesmo que tudo pareça perdido e acima de tudo saber perder, pois a vida é feita de perdas e ganhos.

A conquista do Colo Colo no campeonato baiano de 2006 não foi somente de Ilhéus, mas de todo o interior da Bahia, por fazer acreditar que se pode construir uma equipe vencedora. Na verdade, essa conquista poderia servir de lição ao Bahia e ao próprio Vitória, pois assim, sem escamotear seus verdadeiros estágios, fariam seus dirigentes refletirem e repensarem seus projetos e reestruturarem seus elencos para retornarem à 1ª Divisão do Campeonato Brasileiro.

Grande admirador do Colo Colo e acompanhando quase todos os jogos, experimentei grandes emoções percebendo gradativamente a evolução da equipe e testemunhando o triunfo definitivo do time contra o Esporte Clube Vitória ao sagrar-se campeão baiano de 2006 no Barradão. Naquele dia glorioso, a convite do presidente da Federação Baiana de Futebol, tive acesso ao gramado do famoso estádio, dando a volta olímpica com a equipe do Colo Colo.

Ex-atleta do Colo Colo, aprendi a grande e inesquecível lição cravada na memória e na história do clube: um campeão não se faz de véspera e nem ocorre por acidente, como admitiu depois, o próprio técnico do Vitória, mas se constrói com muita luta, união, abnegação, respeito, competência, perseverança, simplicidade e serenidade. Aprendi que é preciso tempo para se formar uma equipe e que esta precisa de um líder que motive e incentive seus comandados extraindo o que de melhor cada um deles possa oferecer na certeza de que não há vitória sem luta, perseverança, humildade e respeito ao adversário, requisitos indispensáveis a um grande campeão.

*Marcos Bandeira – Juiz de Direito aposentado, advogado, professor de Direito da UESC, membro da Academia de Letras de Itabuna e ex-jogador de futebol do Colo Colo

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