UMA SALA, UM JARDIM E O QUE MAIS AS LETRAS PERMITIREM- Silmara Oliveira

 

Primavera do ano de 2021, neste vigésimo terceiro dia do mês de setembro, inauguramos novas folhas na Academia de Letras de Itabuna, ano de seu décimo aniversário. Estas folhas compõem-se de esperança nos homens e na literatura e, não há sombra que paire sobre si, fazem vivo o capítulo da existência, por meio da roupagem literária, os acontecidos do cotidiano.

 A literatura nos fuxica com detalhismo, dependendo do seu criador, o calor amarelo-morno do sol, aroma dos corpos, o barulho das águas, certo tiroteio na rua de baixo, folha nova molhada pelas gotículas de sereno, o frio na espinha de quem vê assombração, namoro novo no capinzal.

 

 Ela que conta com palavras para formar imagens, mostra-se como abóboda celeste recobrindo paisagens e criaturas humanas, criaturas não-humanas, sonhos das crianças pobres, ricas, meigas; a fome da criança no barco, ao atravessar o rio noite a dentro. A literatura ainda nos faz sabedores dos estupros nos ônibus; andar manso da bunda redonda da mulher com o tabuleiro na cabeça, pinta a cena dos pãezinhos de queijo.

A literatura nos assombra com as onças que devoraram a criança, o rifle no branco-claro da lua, na tocaia, e o estampido que paralisa sua vítima; a ligeireza do ladrão em fuga, o menino, escondido na trincheira dos sacos de cacau, sobreviveu a chacina de sua família; piano solitário nomeio da mata.

Letras e palavras em poemas e romances despertam nossa fome com o cheiro do feijão com charque e abóbora na casa de barro batido. Faz vingar a plantação novinha de milho verde; a música orquestrada pelo vento no capim doce, o silvar das cobras, coacho dos sapos; a roda dos carros no asfalto, pipa multicor no céu azul.

A Lítera-arte faz a linha de sangue subindo e descendo ladeira, sonho e loucura andarem juntos, ouro em tigelas no garimpo; A língua de uma que fala pela outra; O cego tátil na vulva; sonhos da impossível liberdade, a realidade ocultada por sílabas de amor. E vamos lembrar Macondo, a cidade que pulsa no coração da via latino-américa. Mas, é também pela literatura que chega a esperança da liberdade, notícias da vida real, de como fazer, de como aprender, de como Ser. As lutas, o sangue, a espada, e o clamor do povo.

Nesta noite, a crença de que já somos tudo isso que está posto nas páginas dos milhares de livros do mundo, aqui e em muitos lugares, nos traz a alegria de poder continuar nesta Sala, nesta universidade, como fator de soma, amparada pela institucionalidade federativa desta nação e, por isso, agradecemos a generosidade da Magnífica Reitora Joana Angélica, e a toda sua equipe, nos nomes, do Decano Fernando Gigante Ferraz, Cláudia Pungartinik, Raquel da Silva Santos, Fran Silva.  Agradecimento a todos os colaboradores desta casa UFSB.

Gratidão a ALITA nobres confrades e confreiras, Eugênio Nobre, artista da noite, gente de Itajuípe. E especial agradecimento a Ulisses Luedy e Júlia que me acompanham nas viagens físicas e oníricas.

Boa Noite!!! Viva a ALITA NOS SEUS DEZ ANOS, um salve especial a tão preciosas presenças na abertura desta sala e, ao reitor da Universidade Estadual de Santa Cruz, o confrade Alessandro Fernandes, o nosso desejo de ser também apoiada nesse construto que é a oferta da literatura em favor da nossa região.

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