Discurso de posse na Academia de Letras de Itabuna
26 de outubro de 2023
Boa noite a todos!
Prezados confrades e confreiras, caríssimos convidados, amigos queridos, minha família.
Homenageio a todos na pessoa de Wilson Caitano nosso ilustre confrade, presidente da Academia de Letras de Itabuna.
É com imensa alegria que venho agradecer aos confrades e confreiras, pela confiança depositada em mim, votando para que eu possa a partir de agora, usufruir desse seleto grupo, de pessoas que pensam e se dedicam a cultivar a língua e literatura nacionais, criando livros, textos e poemas, que ficarão para a posteridade nos anais da Academia de Letras de Itabuna.
A Academia de Letras de Itabuna foi criada em 19 de abril de 2011 com patronos, membros fundadores e com orgulho hoje estou assumindo a cadeira 27, tendo como patrono Fernando Sales, poeta, crítico e ensaísta, conterrâneo da minha mãe, nascidos em Andaraí na Chapada Diamantina. e titular Maria Palma Andrade.
Sinto uma sensação de júbilo em poder assumir a cadeira da professora de Geografia, quando fiz a minha graduação de Estudos Sociais e Maria Palma Andrade foi minha professora de 1968 a 1970 na Faculdade de Filosofia de Itabuna (FAFI).
Pessoa gentil, delicada, bonita, comunicativa e competente, angariou a simpatia da primeira Turma de Estudos Sociais da FAFI, com 55 alunos, com a faixa etária de 18 a 60 anos, um grande desafio para a professora jovem, lidar com aquela turma eclética.
Após o término do curso, perdi o contato com a professora querida e não acompanhei a sua vida profissional e agora eleita para a cadeira 27 passei a fazer uma retrospectiva da trajetória acadêmica de Maria Palma Andrade.
Nasceu em Valença (Ba) em 04.06.1933, depois foi morar em Salvador, concluiu o Ensino Médio no Rio de Janeiro e fez na Universidade Federal de Minas Gerais, o Curso de Geografia e História.
O deslocamento constante da família, devia-se ao fato do pai ser funcionário do Banco do Brasil.
Após o casamento, com o senhor Alberto Andrade, veio morar em Itabuna. Ensinou na AFI, a convite de Amélia Amado, proprietária do colégio, depois no Colégio Nossa Senhora da Glória (Gato de Botas) e em 1968 passou a ser a titular da Disciplina Geografia Geral e Geografia do Brasil no curso de Estudos Sociais na Faculdade de Filosofia de Itabuna.
Com o seu jeito simples e tímido, incapaz de se irritar ou alterar a voz, demonstrava tranquilidade, conhecimento e competência do conteúdo que se propunha a ensinar.
Pesquisando os anais da UESC, encontrei fatos interessantes sobre a vida profissional de Maria Palma, como a Monografia apresentada por três alunas do 2º Semestre de História na Disciplina Introdução Estudos Históricos II, cujo título foi História da vida da professora Maria Palma Andrade titular de Geografia do Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais da UESC.
Quanto aos livros publicados pela professora Maria Palma Andrade citaremos:
- Itabuna, Estudo Monográfico
Salvador, Artes Gráficas – 1972/78
- Estudos Sociais da Bahia: Gente, Terra Verde, Céu Azul
São Paulo, Editora Ática – 1977
- Escolinha Integrada
São Paulo – Editora Ática – 1977
- Geografia da Micro Região Cacaueira
Ilhéus, CEPLAC – 1978
- Estudo Geo-Econômico da Bahia
Salvador, Editora Gráfica – 1978
- Estudos Sociais da Microrregião Cacaueira
São Paulo, Editora do Brasil – 1985
- Ilhéus: Passado e Presente
Salvador- Bahia, Editora BDA- Bahia Ltda – 1996
- De Tabocas a Itabuna – Um estudo Histórico Geográfico
Maria Palma Andrade
Lourdes Bertol Rocha
Editora Editus UESC – 2018
Faleceu no dia 14 de março de 2023 aos 90 anos. Por coincidência, neste dia a minha mãe completou 98 anos. No dia 30 de maio, minha mãe também descansou para o Senhor e para Maria Palma Andrade e minha mãe, incentivadora da minha trajetória profissional, eu dedico estes versículos da Bíblia;
“Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda”.
2, Timóteo 4. 7-8.
Sintetizei a trajetória da confreira Maria Palma Andrade a quem tive o privilégio de ser aluna e agora substituindo-a na cadeira 27, cujo patrono é Fernando Sales, também baiano e por coincidência da Chapada Diamantina como minha mãe.
Sou itabunense, nascida a 29 de março de 1949 no Bairro da Conceição.
Filha de Sinval Santiago de Moraes (carpinteiro) e Cletina Pereira Lima de Moraes (costureira). Vivíamos uma vida humilde, mas num ambiente harmonioso e cristão.
Somos três irmãs, criadas num lar onde meu pai além de cristão, tinha sido convocado para a Segunda Guerra Mundial. Não foi como pracinha para o front na Itália, mas ficou de sentinela no Morro de Pernambuco esperando a chegada de submarinos alemães, pois alguns navios brasileiros tinham sido torpedeados no nosso litoral.
Meu pai crente da Congregação Cristã no Brasil e minha mãe da Igreja Presbiteriana de Itabuna.
Fui criada neste ambiente, ouvindo hinos cristãos e hinos da pátria.
Vivi muitas histórias, vi o crescimento do bairro, que não possuía nenhuma infraestrutura. Minha mãe lavava nossa roupa no Rio Cachoeira, buscava água nas cisternas onde hoje é o Largo dos Eucaliptos, não existia esgoto, nem calçamento e energia elétrica era privilégio de poucos. Eu tinha nove anos quando o meu pai conseguiu iluminar a nossa casa. Até essa idade a iluminação que tínhamos era candeeiro, placa e lamparina.
Só tínhamos a ponte estreita Góes Calmon, que hoje é usada para pedestre, mas na minha infância os carros passavam. Quando um passava, o outro esperava na entrada da ponte. Também, existiam poucos carros na cidade. Passava também pela ponte, boiadas que vinham das fazendas da margem direita do Rio Cachoeira. Era um desespero, pois só tínhamos os pequenos abrigos que na nossa ingenuidade nos livraria da agressão de um animal.
Optávamos então em atravessar o rio por uma ponte estreita e baixa, bem próxima ao nível da água, chamada ponte do Tororó ou dos Velhacos. Ela estava localizada a atual Câmara dos Vereadores e do outro lado, saia na rua da Maçonaria Areópago Itabunense.
Quando mudamos do Bairro da Conceição e fomos morar no final da Avenida Nações Unidas, o bairro tinha passado por um grande desenvolvimento. ruas calçadas, energia elétrica, água encanada, algumas igrejas, como a Nossa Senhora da Conceição, Congregação Cristã no Brasil, Igreja Teosópolis.
O meu avô e o meu tio eram grandes leitores e tinham uma estante com muitas coleções e fui atraída pelos volumes encadernados com capas elegantes. Aos oito anos, fiz da leitura de grandes autores, como: Monteiro Lobato e a sua coleção do Sítio do Picapau Amarelo, uma grande viagem com Pedrinho, Narizinho e a boneca Emília, descobrindo um mundo fantástico e o prazer de conhecer a Mitologia grega, lendo os Doze Trabalhos de Hercules e Dom Quixote de La Mancha e os moinhos de vento. Iracema e O Guarani de José de Alencar. Cresci lendo Cipriano Barata: A sentinela da liberdade e outros escritos, a coleção completa de Jorge Amado, inclusive, Subterrâneos da Liberdade, obra censurada e enterrada por meu tio no quintal no período do Regime Militar. Sherlock Holmes, Machado de Assis, e outros.
Eu viajo no mundo encantado dos romances, além dos livros didáticos que faziam parte da minha educação formal.
Hoje na Escola Pio XII temos uma biblioteca que em breve estaremos inaugurando uma placa em homenagem a juíza, admirada e amada por todos nós, a Dra. Sônia Maron e na minha casa, tenho uma grande estante com os meus livros de Educação e uma grande quantidade de romances, em sua maioria históricos e aqui destaco os livros de Aydano Roriz, um baiano de Juazeiro, que mora em Portugal e vive pesquisando os documentos portugueses na Torre do Tombo, para fundamentar os romances que escreve.
Tenho na leitura o meu principal entretenimento. Compro livros, e leio todos com prazer. Minha última coleção foi Outlander, 11 volumes, alguns com 1165 páginas. Li todos os volumes com grande avidez.
Gosto de livros e séries históricas, e livros de Educação.
Escrevi textos sobre educadores que me ensinam como ensinar e como aprender a ser professora.
“Feliz é aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”. Cora Coralina.
Faço editoriais para o Jornal da Escola, Tribuna do Saber e já estamos na XXXIII edição. Escrevi o livro da História da Escola Pio XII nos seus 50 anos, fazendo lindas histórias sempre. Também escrevi “Sexualidade na Adolescência e a interferência na aprendizagem escolar” e estou concluindo o livro “19 de junho de 2021: marcou para sempre as nossas vidas”. Eu relato fatos da Covid-19 e presto homenagem póstuma ao meu genro que faleceu com esse vírus cruel.
Minha irmã Eliúde está cobrando que eu faça um livro para os 55 anos da Escola e estou pensando escrever sobre “Histórias dos alunos da Escola Pio XII ontem e hoje”.
Eu sou Eliabe Izabel Lima de Moraes, filha, mãe, amiga. Tenho dois filhos e três netas.
Sou professora, diretora e coordenadora pedagógica da Escola Pio XII.
Comecei a ensinar aos 17 anos em 1967 em Itaju do Colônia, aprendendo ali o que é viver fora do seu aconchego familiar, conhecendo o lado dolorido da vida em grupo.
Sou aposentada da Educação do Estado da Bahia como Coordenadora Pedagógica, Concursada.
Fundadora da Escola Pio XII com a minha irmã Eliude. Me tornei a diretora da Escola e carrego o título inédito de diretora que está no cargo há 54 anos.
Graduada em Estudos Sociais (História, Geografia, Educação Moral e Cívica, Organização Social e Política), FAFI (Faculdade de Filosofia de Itabuna) 1970;
Graduada em Pedagogia com Supervisão, FESPI 1986; Pós graduada em Supervisão Escolar – PUC Minas Gerais – 1994;
Mestre em Educação em Inovação Pedagógica – Universidade Pública da Madeira – Funchal- Portugal- 2008.
Estou aqui, entre pessoas queridas, a quem a partir de agora estarei chamando de confreiras e confrades, agradecendo a confiança depositada em mim, uma simples mortal, que vive a vida com intensidade e tem Isaias 40:31 sua grande mensagem de vida: “mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam”.
QUEM SOU EU
Sou uma pessoa feliz,
Amo muito a vida
E dela sou aprendiz;
Tenho várias paixões,
Mas, como qualquer um,
Possuo imperfeições;
Se os caminhos desta vida
Ainda não sei de cor,
Pelo menos busco,
A cada dia,
Tornar-me alguém melhor.
Dennys Távora