O PATRONO
Cyro de Mattos
Adonias Filho nasceu em 27 de novembro de 1915, em Itajuípe, vila no sul da Bahia que pertencia ao município de Ilhéus. Filho de Adonias Aguiar e Rachel Bastos de Aguiar. Viveu grande parte de sua vida no Rio de Janeiro onde ocupou cargos importantes na administração pública brasileira. Nunca os cobiçou nem procurou confundi-los com a sua carreira de escritor. Sempre colocou de lado os interesses contrários à cultura. Atencioso, de gestos mansos, fala serena, lúcido nas observações que fazia da vida. Era um homem simples e cordial. Certa vez me disse que a criatura humana é o seu pedaço de chão, as raízes que cada um carrega para onde for, gente, linguagem, imagens, sensações, lembranças, bichos, saudade. É preciso ter viajado muito e ser velho para saber que nada mais vale do que o pedaço de chão que cada um leva no coração, completou.
O singular romancista de As Velhas lembrou ainda que a vida guarda muitos mistérios. Se ele não escolheu os pais, o chão, o povo, o momento de nascer e sair deste mundo pelo inevitável, que maiores mistérios podia saber do tempo? Para ele, não existia psicologia do povo mais rica do que aquela que está na intimidade do nosso chão.
Além de ser um escritor que transita em várias latitudes, caracterizando com habilidade o cenário onde se desenvolvem os acontecimentos vividos por seus personagens – Salvador, Rio de Janeiro, Luanda e Beira-, um romancista do homem e de suas verdades essenciais, em permanente mergulho no interior da vida, Adonias Filho é, ao mesmo tempo, um autor que engrandece a região cacaueira baiana no corpo de nossas letras. Escritor genuíno daquela civilização que ele viu nascer e desenvolver uma saga com a implantação da lavra do cacau, alimentada de cobiça e morte na época da conquista e povoamento da terra. Legítimo homem do cacau, transmudou a gente de sua terra para suas grandes criações, nas quais pulsa a paisagem bárbara de uma geografia específica, que interfere no destino de criaturas marcadas por sortilégios e paixões.
Conduziu pela vida a fora um amor de perdição por suas raízes plantadas na região cacaueira baiana. Tornou-se assim um clássico de nossas letras, onde permanecerá enquanto viva for a Língua Portuguesa, como salienta Jorge Amado, em seu discurso de recepção na Academia Brasileira de Letras.
Nos últimos anos de vida, mudou-se do Rio de Janeiro e foi morar com a esposa na sua fazenda Aliança, em Inema, perto de Itajuípe, no sul da Bahia. Depois de muito viajar pelos caminhos da cidade grande, retornava ao chão de suas origens. O poeta Telmo Padilha conta que, no relacionamento diário com os empregados da fazenda, ele era aquele mesmo homem simples e amigo, mais para ouvir do que para falar. Seus empregados moravam em casas dignas que tinham geladeira e televisão. Consideravam-no um pai que não tiveram. Alguns deles deviam-lhe favores, que não podiam pagar. Cheio de alegria, um deles chegou a exibir um relógio de pulso que ganhara de presente. Outro mostrou uma camisa que o “doutor” lhe trouxera da viagem aos Estados Unidos.
Certa ocasião Adonias Filho falou para universitários sobre sua novela juvenil Fora da Pista, que narra as aventuras de um velho e um garoto num caminhão pelas estradas do sul da Bahia. Ao ser indagado por um professor se a nossa civilização não devia fazer mais pela integração dos índios à nossa sociedade, respondeu que não podia e nem devia. Nós é que deveríamos nos integrar à sociedade indígena. Não temos nada a ensinar a eles. Quem tem muitas coisas a nos ensinar são os índios. Possuem uma noção de vida muito mais sábia e inteligente. Somente são agressivos quando tentam tirar-lhes o direito à vida. Curam-se com o remédio natural das plantas. E vivem com profundo sentimento comunitário. Amam os pássaros, os bichos, os rios. Não são ambiciosos senão o suficiente. Não foram eles que inventaram os produtos enlatados, as guerras nucleares, o terrorismo. Não brigam por causa de religião, mas amam a Deus à sua maneira. Não envenenam a água, a terra e o ar. Consideram a natureza como uma mãe generosa, que sempre se renova, mas se vinga quando agredida.
Depois que a esposa morreu em 1990, Adonias Filho caiu em grande tristeza. Ficava deprimido, em seus vagares pela casa-sede da fazenda. Dizem os conterrâneos que morreu de amor, em 2 de agosto daquele mesmo ano, na casa-sede de sua fazenda, no sul da Bahia. Não conseguiu suportar a solidão com a perda da mulher e companheira, Rosa Galeano.
Cyro de Mattos
FOTO HISTÓRICA
A foto registra uma das primeiras reuniões para a fundação da Academia de Letras de Itabuna, realizada na sala da diretoria da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania – FICC, cedida pelo presidente Cyro de Mattos, em 2010. Da direita para a esquerda, alguns dos membros fundadores: Ruy Póvoas, Lurdes Bertol, Sione Porto, Gustavo Veloso, Cyro de Mattos, Marcos Bandeira, Marialda Silveira, Maria Luiza Nora de Andrade, Ari Quadros e Carlos Eduardo Passos. Na oportunidade, Cyro de Mattos apresentara a relação de nomes dos patronos e de membros para constar no quadro associativo da entidade.
QUADRO SOCIAL DA ALITA
PATRONO: ADONIAS FILHO
Atualizado em Julho de 2024
CAD. |
ACADÊMICO |
PATRONO(A) |
1 |
Marcos Antônio Santos Bandeira |
Ruy Barbosa |
2 |
Silmara Santos Oliveira |
Sosígenes Costa |
3 |
Carlos Eduardo Lima Passos (1951-2022) Rafael Gama |
Nestor Passos |
4 |
Dinalva Melo do Nascimento |
Helena Borborema |
5 |
Cyro Pereira de Mattos |
Jorge Amado |
6 |
Lurdes Bertol Rocha |
Milton Santos |
7 |
Sione Maria Porto de Oliveira |
Telmo Padilha |
8 |
Maria Luiza Nora de Andrade |
Euclides Neto |
9 |
Rilvan Batista de Santana |
Walker Luna |
10 |
Ary Quadros Teixeira (1944-2022) Sérgio Sepúlveda |
Amélia Rodrigues |
11 |
Marialda Jovita Silveira |
Minelvino Francisco da Silva |
12 |
Antônio Laranjeira Barbosa |
Afrânio Peixoto |
13 |
Ruy do Carmo Póvoas |
Plínio de Almeida |
14 |
Sonia Carvalho de Almeida Maron (1940-2021) Heloisa Prata e Prazeres |
Valdelice Soares Pinheiro |
15 |
Gustavo Fernando Veloso Menezes |
José Haroldo Vieira |
16 |
Ceres Marylise Rebouças de Souza |
Abel Pereira |
17 |
Joana Angélica Guimarães da Luz |
Machado de Assis |
18 |
Raimunda Alves Moreira de Assis |
Anísio Teixeira |
19 |
Gustavo Cunha Carvalho |
Aracyldo Marques |
20 |
Renato de Oliveira Prata |
Ariston Caldas |
21 |
Wilson Caitano de Jesus Filho |
Augusto Mário Ferreira |
22 |
Aleilton Fonseca |
Castro Alves |
23 |
Carlos Válder do Nascimento |
Sabóia Ribeiro |
24 |
Celina Silva dos Santos |
Clodomir Xavier de Oliveira |
25 |
Raquel Silva Rocha |
Elvira Shaun Foeppel |
26 |
Jorge Luiz Batista dos Santos |
Fernando Leite Mendes |
27 |
Maria Palma Andrade (1933-2023) Eliabe Izabel Lima de Moraes |
Fernando Sales |
28 |
Maria Delile Miranda Oliveira (1924 – 2018) Sílvio Porto de Oliveira |
Firmino Rocha |
29 |
Margarida Cordeiro Fahel |
Gil Nunesmaia |
30 |
João Otávio O. Macedo |
Hélio Nunes |
31 |
Maria de Lourdes Netto Simões |
Ildásio Tavares |
32 |
Sérgio Alexandre Menezes Habib |
Itazil Benício |
33 |
Alessandro Fernandes de Santana |
João da Silva Campos |
34 |
Luiz Antonio dos Santos Bezerra Clóvis Silveira Gois Junior |
Jorge Calmon |
35 |
Reheniglei Rehem |
Jorge Medauar |
36 |
Maria Rita Coelho Dantas |
José Bastos |
37 |
Jorge de Souza Araújo |
Luiz Gama |
38 |
Naomar Monteiro de Almeida Filho |
Manuel Sampaio Lins |
39 |
Janete Ruiz de Macedo |
Manoel Fogueira |
40 |
Charles Nascimento Sá |
Natan Coutinho. |