NOVOS MEMBROS TOMAM POSSE NA ACADEMIA DE LETRAS DE ITABUNA

NOVOS MEMBROS TOMAM POSSE NA ACADEMIA DE LETRAS DE ITABUNA

Na noite de sexta-feira, 20 de setembro de 2013, Itabuna viveu mais um nobre momento  de   sua história cultural, com novos membros tomando posse na Academia de Letras de Itabuna – ALITA. As diferentes áreas da sociedade fizeram-se presentes na Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC e o recinto ficou pequeno para acolher autoridades, famílias,  convidados  e  amigos que foram recebidos na área de acesso ao auditório pelo simpático casal de acadêmicos Silmara Oliveira e Jorge Batista.

Os acadêmicos e mestres de cerimônia Lurdes Bertol Rocha e João Otávio Oliveira Macêdo, deram início aos trabalhos convidando inicialmente a presidente da instituição, Sônia Carvalho de Almeida Maron para compor a mesa e presidir o sodalício. Após a execução do Hino Nacional  pelo maestro Heleno José da Silva, da Filarmônica Euterpe de Itabuna, a presidente proferiu o discurso de saudação aos membros que seriam empossados convidando-os depois, para a leitura do juramento.    Concluída a saudação e a leitura do compromisso, foram chamados para a diplomação e assinatura no Livro de Posse. Cada acadêmico, ao tomar posse, teve um breve espaço de tempo para discorrer sobre o significado daquele momento em sua vida. .Após a cerimônia, foi oferecido um coquetel ao público presente.

Cadeiras, novos ocupantes e seus patronos:

CADEIRA Nº  MEMBRO  EFETIVO PATRONO
24 Celina Silva dos Santos CLODOMIR XAVIER DE OLIVEIRA
37 Gideon Alves Rosa LUIZ GAMA
28 Maria Delile Miranda de Oliveira FIRMINO ROCHA
36  Maria Rita Coelho Dantas JOSÉ BASTOS
38 Naomar Monteiro de Almeida Filho MANUEL SAMPAIO LINS
25 Raquel Silva Rocha ELVIRA SCHAUN FOEPPEL
32 Sérgio Alexandre Menezes Habib ITAZIL BENÍCIO DOS SANTOS
MEMBROS
CORRESPONDENTES
 

Cristiano Lôbo da  Silva

Edvaldo Pereira de Brito
Ivete Alves do Sacramento  

DISCURSO DE SAUDAÇÃO AOS  NOVOS  ACADÊMICOS

Sônia Maron

Recebidos generosamente, mais uma vez, nesta casa de ensino superior, aqui estamos para legitimar o ingresso de novos membros na Academia de Letras de Itabuna. Revendo o caminho percorrido, concluímos que o sonho de reinventar uma academia de letras em Itabuna assume, aos poucos, o contorno de realidade palpável. Nosso estatuto contempla toda manifestação literária, artística e das ciências humanas e não é por acaso. Em nossa caminhada, permanecemos atentos à imposição do momento histórico vivido por nossa região, ao qual poderíamos denominar, usando a expressão de Zygmund Bauman, de “sociedade líquida”. A denominação usada pelo filósofo polonês abrange a incapacidade de reter a forma por muito tempo, a propensão de mudar de forma sob a influência de mínimas, fracas e ligeiras pressões, como traço característico de nossa atual condição sociocultural. Acresce, ainda, os desvios decorrentes do uso inadequado das conquistas tecnológicas que levam a diluir e banalizar as interações humanas, deixando aos contatos superficiais e direcionados a falsa impressão de profundidade das relações. Os verdadeiros filhos desta região que inspirarama os romances de Jorge Amado e Adonias Filho e os poemas de Valdelice Pinheiro, Sosígenes Costa, Firmino Rocha, Telmo Padilha – patronos  lembrados como amostragem –   não aceitam o mundo líquido que nos condena a viver o fenômeno da multidão  solitária, estranho mundo onde as pessoas convivem lado a lado sem o genuíno relacionamento que enriquece a convivência entre os seres humanos. De repente, fomos surpreendidos com uma cidade sem alma, sem passado, sem memória e sem direito ao futuro. Aceitamos o desafio de reagir, com o propósito de provar que o futuro não é oferecido de antemão e cabe a nós recriá-lo a todo momento, buscando a superação de crises e conflitos, vencendo o desalento e a desesperança.

Essas reflexões refletem o sonho do pequeno grupo de fundadores desta academia de letras, composta, predominantemente, de acadêmicos que devem a formação às salas de aula do Ginásio Divina Providência e à Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna, hoje Universidade  Santa Cruz. Em verdade, procuramos trazer à lume valores postergados na sociedade líquida e imediatista, os valores que servem de alicerce na promoção de um mundo mais ético e mais justo. Reunimos, em nossa instituição, escritores, poetas, jornalistas, cineastas e psicanalistas, atores e educadores, idosos, pessoas de meia idade e jovens. Dir-se-ia que nosso “mosaico” é muito complexo e diversificado para o propósito de uma academia de letras. Enganam-se os que pensam assim. Nosso objetivo é tecer juntos, religar saberes, ter a ousadia de sair de nossa área de conhecimento para refletir sobre os problemas mais amplos da cultura, este vasto patrimônio criado por nós e para nós. Temos compromisso com nossa área de concentração, mas podemos e devemos sair dela, para contribuirmos no trabalho de preservação dos valores que nos conduziram até aqui e temos o dever de conservar e transmitir. Fortalecidos ainda mais,  a partir deste momento e honrados com a presença dos novos confrades e confreiras, a todos envolvemos no mesmo carinho e no mesmo abraço; bem-vindos ao nosso chão grapiúna que acredita em nós, filhos legítimos ou adotivos, com os mesmos sonhos e movidos pelo mesmo ideal.

Cumpre-me apresentar os novos acadêmicos às autoridades  e convidados que atenderam à nossa mensagem. Não esperem a leitura de biografias e elencos intermináveis de títulos, obras e prêmios. Não pretendo fixar-me na bagagem de cada um –  permitam-me a metáfora – alguns com muitas malas, admiráveis na aparência e na essência, gastas pelo longo caminho percorrido e outros com poucas malas, novas na aparência, no entusiasmo, nas ideias e propostas concretas de colaboração. Prefiro reconhecer  na bagagem de todos a griffe Louis Vuitton, vez que, segundo os entendidos, é mais que uma marca de malas, é uma lenda!

Seguindo a ordem alfabética dos membros efetivos, apresentada no convite, Celina da Silva Santos, é  jornalista,  graduada e pós graduada em comunicação, jovem portadora de um novo estilo, que se destaca pela sensibilidade e linguagem escorreita, enriquece o núcleo de comunicadores no qual pontifica Antonio Lopes, um dos fundadores da ALITA;

Gideon Alves Rosa, nascido em Itapé, veio com três meses para Buerarema. Graduado em Comunicação pela Universidade Federal da Bahia, jornalista, teatrólogo, concluiu o curso livre de arte dramática no Teatro Castro Alves e foi aprovado no concurso para ator na universidade citada. Detentor de inúmeros prêmios como melhor ator, acha que o conhecimento é a pedra de toque para qualquer atividade artística de qualidade, o que ele demonstra como autor de peças teatrais e filmes de curta e longa metragem. Acumulou prêmios como jornalista e volta à região onde nasceu com o sonho de transmitir a experiência e conhecimento adquiridos;

Maria Delile Miranda de Oliveira, nascida em Ruy Barbosa, educadora integrada à vida cultural da cidade que viu crescer, poetisa e cronista. Deve a formação em magistério ao Ginásio Divina Providência, templo do saber destruído em um dos momentos mais infelizes da administração pública em nossa cidade. Graduada em Pedagogia, uma das fundadoras da Faculdade de Filosofia de Itabuna, pioneira da educação superior, como docente,  nas salas de aula da Federação de Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna, origem da universidade hoje existente;

Maria Rita Coelho Dantas, Ritinha, para mim, sua amiga de infância; educadora incomum,  com graduação e doutorado em letras, escritora, eterna primeira dama de Itabuna, imortalidade que o povo já lhe conferiu. Pertence ao grupo de sonhadores que fundaram a ALITA, assim como Naomar Monteiro de Almeida Filho e Sérgio Alexandre Menezes Habib. Ritinha, sorriso aberto, espontânea e verdadeira, eterna namorada do adolescente Ubaldo Porto Dantas. Ritinha, no e-mail que me enviou, enaltecendo seu patrono, José Bastos, lembra a praça que resistiu ao tempo, que ela e todos nós, seus amigos e colegas do Divina Providência, percorriam  diariamente, em frente à estação ferroviária, à feira livre e barracas de fogos nos festejos juninos,  coincidentemente o mesmo chão onde foi construída a Prefeitura Municipal de Itabuna, o mesmo chão que nos acolhe neste momento sob a égide da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Itabuna. Haja coração, Ritinha querida!

Naomar Monteiro de Almeida Filho, nascido em Buerarema, que eu conheci filho de Naomar Monteiro de Almeida e Dona Lourdes: Naomar, o pai, respeitado e conhecido pela retidão com que exerceu diversos cargos públicos, o mesmo Naomar que não hesitou em concluir o curso supletivo para prestar o primeiro vestibular da FESPI. Já era meu amigo e tornou-se colega no curso de Direito. Dona Lourdes, proprietária de uma loja e ateliê de artigos femininos, com a ousadia da mulher que não aceitava a passividade, tinha no marido o incentivador. Naomar, o filho, médico, seus títulos transcendem a profissão escolhida. Foi Magnifico Reitor da maior universidade baiana em duas gestões, voltando, agora, à sua região tão sofrida e desfigurada, escolhido para o cargo de Reitor da Universidade Federal do Sul da Bahia, simbolizando a esperança de redenção através do único caminho eficaz: a educação. Seu currículo e títulos, conhecidos de todos nós, que orgulhosamente acompanhávamos a brilhante trajetória do conterrâneo, assumem especial significado pertencendo ao portador de valores que dignificam o ser humano e enobrecem a comunidade que se regozija com o seu retorno.

Raquel Silva Rocha, régio presente que São Paulo enviou. Nascida na locomotiva do país, adotou Itabuna a ponto de realizar sua formação universitária de graduação e pós-graduação na UESC. Graduada e pós-graduada em Economia e Comunicação, enriqueceu seu currículo com o curso de Psicanálise, disposta ao mergulho interior do auto-conhecimento, ferramenta  poderosa para conviver e compreender  o semelhante. Como cineasta, educadora ou psicanalista, diversifica as áreas de atuação com competência e indisfarçável amor ao conhecimento, sua busca permanente. Possui vasto currículo como cineasta e produtora, trazendo às fileiras da academia o entusiasmo e vibração da sua juventude;

Sérgio Alexandre Menezes Habib, itabunense, advogado, mestre em Direito Penal e professor da Universidade Federal da Bahia. Filho de Afonso Habib e Dinalva Menezes Habib, representante da  colônia libanesa desta região no que existe de melhor no plano da intelectualidade. Portador de vasto currículo, no qual convivem obras jurídicas e literárias, volta à sua cidade natal para caminhar ao nosso lado, contribuindo para o soerguimento da vida cultural desta região;

Na relação de membros correspondentes, obedecendo ao mesmo critério, figuram:

Cristiano Lôbo da Silva, que se integrou à comunidade, a todos cativando com seu cavalheirismo e engajamento, dirigiu a unidade local da FTC com rara desenvoltura e competência. Graduado e pós-graduado em Administração, professor e gestor hábil e equilibrado, colaborou de forma decisiva para a difusão dos mais diversos segmentos da cultura, sendo o parceiro providencial do primeiro momento da academia que agora também é sua e enriquecerá na condição de membro correspondente com sua contribuição;

Edvaldo Pereira de Brito, na opinião de um jornalista de nossa cidade, dispensa apresentação e comentário. Principalmente de minha parte, impedida pelos laços estreitos de amizade, que já assumem o caráter de parentesco. Existem irmãos e irmãos: os irmãos biológicos, que não são escolhidos, mas impostos pela vida e os irmãos escolhidos pelo coração; é nesta última categoria que está situado o sentimento que nos une. Os títulos que ornam seu extenso currículo dizem pouco do ser humano incomum, exemplo de superação, professor emérito da UFBA, professor de pós-graduação da universidade Mackenzie, em São Paulo, jurista com área de atuação em direito público, notadamente Constitucional e Tributário e atualmente vereador da cidade de  Salvador. Para mim, seu lugar natural seria no Congresso, na vaga de Josafá Marinho. Paciência. Às vezes é preciso uma luz no fundo do túnel. Na convivência fraterna de mais de três décadas, revelou-se o amigo de todos os momentos. Consegue a façanha de acumular imortalidades, no plural mesmo,   pertencendo a outras academias, como a de Ilhéus e a sua específica, de Direito Tributário, no Rio de Janeiro. Bem vindo, meu irmão. É confortador tê-lo  ao meu lado e poder contar com sua mão servindo de apoio e indicando o caminho.
Ivete Alves do Sacramento encerra, nesta solenidade, a relação de membros correspondentes. Ausente por compromissos inesperados e inadiáveis, merece da nossa parte, o mesmo destaque dos demais confrades recém-empossados. Primeira reitora negra do Brasil, dirigiu a UNEB com a competência e habilidade da educadora  vocacionada. Graduada em Letras pela UFBA e com mestrado em Letras pela Universidade de Quebec e Montreal, no Canadá, atualmente empresta seu talento à Secretaria de Reparação Social da Prefeitura Municipal de Salvador.

Senhores convidados, estes são os novos acadêmicos da ALITA, livres dos títulos pomposos que ostentam da produção literária, poética, artística ou técnica que ornamentam seus currículos e servem de orgulho à cidade que tem as marcas dos primeiros passos da maioria. Voltaram para ficar, na regra das academias: são, agora, imortais, a partir da cerimônia de posse. Conhecendo-os, acredito que oferecem a Itabuna exemplos da prática de amar que, segundo Erich Fromm, exige disciplina, concentração e paciência. Tais requisitos serão exercitados e ensinados por eles e por todos desta instituição porque acreditamos, como leciona Fromm, “que o amor é a única resposta sadia e satisfatória ao problema da existência humana”.  Eles trazem na bagagem lições de amor. Quem sabe, encontraremos olhos para ver e ouvidos para ouvir nossa mensagem.

DISCURSO DE POSSE DA ACADÊMICA CELINA SILVA DOS SANTOS

Boa noite a todos!

Quero saudar a mesa na pessoa da presidente da Academia de Letras de Itabuna, Drª Sônia Maron, que nos acolheu de forma tão afetuosa. Entre os acadêmicos da ALITA, saúdo em especial o escritor Cyro de Mattos, de quem partiu a indicação para que eu hoje aqui estivesse – o que muito me orgulha, porque ele leva o nome desta cidade a várias partes do mundo.

Permitam-me uma ligeira reminiscência: logo que ingressei na primeira turma da faculdade de Comunicação Social da UESC, há 14 anos, fui apresentada ao pensamento do teórico americano Nicholas Negroponte. Naquele momento, ele antevia que o mundo inteiro se uniria em comunidades virtuais. A ideia nos parecia demasiadamente abstrata. Era um engano, porque o mundo está, sim, unido em “comunidades virtuais”. Presenciamos, por exemplo, a amplitude alcançada pelo Facebook e tantas outras redes sociais.

Do ponto de vista do comportamento humano, porém, as tais “comunidades virtuais” demonstram um afastamento das pessoas do mundo real, da origem, das ditas raízes, do aprofundamento e da reflexão. É neste contexto que ganha, cada vez mais força, a importância de instituições como uma Academia de Letras, espaço de fomento à cultura, às letras, às ciências e às artes em suas variadas vertentes.

Lembro-me do pensamento do antropólogo argentino Néstor Canclini, quando se refere ao nível de tensão existente entre a cultura global, para a qual nos arrastam as redes sociais e a cultura local, aquela arraigada aos saberes de quem nos avizinha. Mais uma vez, encontramos a importância da Academia de Letras de Itabuna. Ela tem entre seus membros escritores como Ceres Marilyse, cuja poesia é reconhecida em vários espaços Brasil afora e Cyro de Mattos, autor de obras traduzidas em muitos países.

A ALITA, que tem como patrono o brilhante Adonias Filho, mostra que o local pode, sim, ter tanta importância quanto o global, a despeito de todas as imposições da identidade cultural que se configura na chamada pós-modernidade, da qual tanto trata o sociólogo jamaicano Stuart Hall. É nesse sentido que agradeço imensamente a oportunidade de fazer parte da Academia de Letras de Itabuna.

Como elucida Michel Foucault, um dos precursores da Análise do Discurso, são muitos os papéis sociais que nesta noite permeiam a minha fala. Assim, cabe agradecer também ao Grupo Diário Bahia, na pessoa do jornalista Valdenor Ferreira. Há 11 anos e 8 meses, nas publicações desse veículo, onde predomina a notícia local, que escrevo artigos e reportagens. Sei o quanto este trabalho me respaldou para ser escolhida entre os novos membros da ALITA. Ao mesmo tempo em que confesso ser fascinante o conceito de imortalidade das ideias a partir da literatura, aumenta a carga de responsabilidade como jornalista, papel social que a Universidade e a prática me levaram a ocupar.

Agradeço, ainda, à presença da minha mãe Dina, companheira de todas as horas, dos amigos, incansáveis incentivadores e dos leitores que conquistei ao longo desses anos.

Por fim, quero dizer aos meus confrades e confreiras que chego lisonjeada, honrada e emocionada à Academia de Letras de Itabuna. Sentar-me-ei à cadeira nº 24 levando ideais em que acredito profundamente. Entre eles, justiça social, igualdade entre homens e mulheres e defesa da educação como único caminho para nos conduzir a um futuro mais digno.

Dedico este momento, afinal, à memória do meu pai, Abelino José dos Santos, que me ensinou as primeiras letras na zona rural de Maracás, sudoeste da Bahia. Muito obrigada!

1 – DISCURSO DA PRESIDENTE SÔNIA MARON 

2 – EDVALDO BRITO

http://www.direitodoestado.com.br/depoimentos-magistrais/edvaldo-brito

3 – NAOMAR MONTEIRO DE ALMEIDA FILHO

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